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4.4 Exemplos de iniciativas em prol do trabalho do idoso e resgate de sua

4.4.1 Projeto “Encanto da Praça”

O Projeto “Encanto da Praça” foi um projeto realizado na cidade de Fortaleza, no Estado do Ceará, desenvolvido em parceria com a SDE – Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Fortaleza e a ACEDEC – Associação Cearense para o Desenvolvimento da Educação e da Cultura e que durou de fevereiro de 2006 até junho de 2007.

A ACEDEC é uma associação (pessoa jurídica de direito privado) fundada em 1997, sem fins lucrativos e que presta serviços no campo da educação e da cultura. A SDE é um órgão da Prefeitura Municipal de Fortaleza responsável pela execução de ações estratégicas de promoção de desenvolvimento econômico auto-sustentado no Município de Fortaleza e que desenvolve ações de

56 PIOVESAN apud VEIGA JÚNIOR, Celso Leal. PEREIRA, Marcelo Henrique. Comentários ao Estatuto do

empregabilidade (qualificação profissional) e fomento ao trabalho (geração de emprego e renda).

As entidades parceiras desse projeto foram as Secretarias Municipais de Educação e Assistência Social (SEDAS) e de Meio Ambiente e Controle Urbano (SEMAM), a Fundação de Cultura, Esporte e Turismo (FUNCET), o Corpo de Bombeiros, a Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (EMLURB), a Guarda Municipal de Fortaleza, as seis secretarias executivas regionais (SERs), e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

A justificativa desse projeto foi a necessidade em se atender ao Programa Municipal de Inclusão Social e a preservação dos espaços públicos do Município de Fortaleza, gerando ocupação e renda para os idosos, que com seu trabalho, visavam transformar as praças de Fortaleza em um local de lazer e boa convivência.

O projeto contemplou a inclusão social dos idosos acima de sessenta anos de idade sem nenhum tipo de renda ou daqueles com baixa renda (que recebiam até um salário mínimo por mês). Eles trabalhavam como agentes transformadores e mobilizadores das comunidades localizadas próximas às praças e ganhavam uma ajuda de custo mensal no valor de R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais) com o seu trabalho. Dessa forma o projeto tinha como objetivos principais promover e estimular a integração dos idosos na comunidade em que viviam propiciando-lhes o convívio com outras pessoas e o reconhecimento e a valorização de seu trabalho, resgatando-lhes a auto-estima e a cidadania, bem como tornar os espaços públicos do município mais atrativos coibindo depredações do equipamento público.

Os idosos participantes do projeto eram chamados de “amigos da praça” e para participarem tinham que se inscrever junto a Assistência Social da Secretaria Executiva Regional (SER) de seu bairro. Os idosos cadastrados passavam por treinamentos onde aprendiam sobre os aspectos históricos e culturais da cidade de Fortaleza, sobre a importância da preservação do meio ambiente e do patrimônio histórico e da manutenção das vias, equipamentos e logradouros

públicos. Além dos treinamentos havia festas de confraternizações, oficinas de aprendizagem, programações de lazer e palestras.

Eles trabalhavam 20 horas semanais nas praças que se localizavam próximo a sua residência. Eram 4 idosos por praça, sendo que dois trabalhavam pela manhã e dois no período da tarde, totalizando a quantia de 360 idosos e 90 praças atendidas por este projeto.

O trabalho deles era verificar a condição das praças, averiguando como elas estavam sendo utilizadas, qual a condição dos equipamentos públicos que nelas se localizam e a ocorrência de depredações para comunicar as autoridades competentes além de passarem as informações que aprendiam com os treinamentos para as pessoas freqüentadoras das praças. Alguns deles sentiam-se tão entusiasmados com o seu trabalho que queriam fazer mais e ir além de suas responsabilidades e tomavam para si trabalhos que eram da responsabilidade das instituições parceiras do projeto como, por exemplo, consertar bancos, brinquedos, calçadas, pintar paredes, plantar mudas, varrer, capinar etc. Muitos deles quiseram até mesmo participar ativamente da organização de eventos como feiras e na elaboração de campanhas educacionais.

Os idosos e a realização de seus trabalhos eram acompanhados e avaliados por uma equipe especializada de seis educadores associados à ACEDEC, estes acompanhavam o desempenho dos idosos, verificando as suas freqüências e as condições de uso das praças elaborando relatórios que eram encaminhados mensalmente à ACEDEC.

Os supervisores eram habilitados e passavam por capacitações sobre vários temas ligados aos idosos, como por exemplo:

 Como aprender a conviver com a melhor idade;  Proteção e inclusão do idoso;

 O idoso e sua realidade biopsicosocial;  A humanização na convivência do idoso;

 Convivendo e fortalecendo o vínculo com idosos;  Valorização e promoção humana do idoso;

 Uma nova consciência do processo de envelhecimento;

 Oportunidades de autonomia, independência e inclusão social dos idosos;

 Dimensão humana da melhor idade;  A importância de cuidar dos idosos;  O idoso e seus limites;

 O idoso e o mercado de trabalho atual.

A avaliação do projeto permitiu que se percebesse uma melhora nas praças onde havia idosos trabalhando. Nessas praças reduziram-se as depredações e o lixo espalhado, ocasionando uma melhora no aproveitamento pela comunidade para que as pessoas pudessem fazer caminhadas, realizar programas de atividades físicas e utilizar o local como lugar de encontro com os amigos.

Quanto aos idosos participantes do projeto, estes se sentiram mais realizados por não estarem confinados em casa como ficavam antes, ampliaram seu grupo de convivência e tiveram uma maior socialização além de perceberem a importância de seu trabalho e sentirem-se orgulhosos por o terem realizado, tendo tal fato influência bastante positiva na sua auto-estima. Além de todos esses benefícios a ajuda de custo que recebiam foi para eles de suma importância, pois ajudou bastante na compra de remédios, alimentos, roupas e outros utensílios que eles necessitavam.

O projeto “Encanto da Praça” representou para os idosos que dele tiveram oportunidade de participar, uma chance valiosa para o renascimento da alegria de viver e para o fortalecimento de valores fundamentais para uma vida mais feliz, pois eles tiveram a oportunidade de mostrarem-se úteis e produtivos, contribuindo para a comunidade com o seu trabalho. Houve uma verdadeira troca, onde de um lado os idosos contribuíam para a comunidade em que viviam com o trabalho que realizaram e de outro recebiam além da ajuda de custo que para eles foi muito importante, uma oportunidade de ver resgatada a sua auto-estima e

reconhecida a sua dignidade, dando para eles a possibilidade de se enxergarem úteis e produtivos e não como peso para a família e para a sociedade.

Mediante os resultados benéficos para a comunidade e para os idosos participantes, as entidades que atuaram na realização do projeto já estão estudando uma possibilidade de renovação do mesmo com a intenção de abranger um número maior de comunidades e de idosos.

Projetos como esses deveriam ser uma constante na nossa sociedade, pois eles são uma forma de se combater o preconceito que os idosos enfrentam no mundo do trabalho. Através desses projetos que dão oportunidade de trabalho aos idosos eles podem mostrar para a sociedade que são pessoas úteis e capazes de contribuir com a comunidade e que apesar da idade o trabalho pode ser adaptado à eles colaborando na realização de sua dignidade como seres humanos que são e portanto merecedores de respeito e valorização.