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PARTE I – O TRABALHO, A INOVAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL

1.3 AS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO DO SER HUMANO NO PROCESSO DE

1.3.1 Como pesquisador público

A pesquisa científica básica ou aplicada pode ser realizada diretamente por entidades públicas, em especial nas Instituições de Ensino Superior (IES) públicas. A importância da pesquisa realizada no seio das IES públicas é inquestionável. No Brasil, é preponderante a pesquisa realizada nessas entidades, inclusive sobre as pesquisas desenvolvidas na própria iniciativa privada.

Comprova-se essa afirmação a simples análise dos números de patentes solicitadas perante o Indicadores de Propriedade Industrial (INPI), divulgados em outubro de 2017, nos quais restou consignado que “chama atenção a forte presença de universidades entre os principais depositantes, que ocuparam as nove primeiras posições”29, conforme a Tabela:

29 INDICADORES de Propriedade Industrial (Brasil). Diretoria Executiva. Assessoria de Assuntos Econômicos.

Rio de Janeiro: INPI, outubro de 2017. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/sobre/estatisticas/arquivos/indicadores_pi/indicadores-de-propriedade-industrial- 2017.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2017.

Tabela 1 – Ranking dos depositantes residentes de patente de invenção 2016

Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v4.0.

A partir da comprovação indubitável de que os principais centros de pesquisas no Brasil estão inseridos nas Universidades Públicas, o papel do pesquisador público no processo de inovação no Brasil é crucial para o nível de produção na área. A Lei Federal n. 10.973/2004, com a alteração da Lei Federal n. 13.243/2016, conceituou o pesquisador público como o “[...]ocupante de cargo público efetivo, civil ou militar, ou detentor de função ou emprego público que realize, como atribuição funcional, atividade de pesquisa, desenvolvimento e inovação.”

Logo, pela Lei, o pesquisador pode ser ocupante de cargo público efetivo ou detentor de função ou emprego público. O art. 37 da CF/88 estabelece as disposições gerais acerca da administração pública, indicando no inciso I que os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros e aos estrangeiros, nos termos da lei. Especificamente, o inciso II do mesmo art. 37 preceitua a obrigatoriedade de concurso público de prova ou de provas e títulos para a investidura em cargo ou emprego público.30

30 CF/88 – Art. 37, inc. II: “a investidura em cargo ou emprego público depende da aprovação prévia em concurso

público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.” Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15 mar. 2017.

No âmbito federal, os Servidores Públicos Civis da União possuem regime jurídico próprio estabelecido pela Lei Federal n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que preceitua cargo público como “conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor.” A nomeação para cargo público de provimento efetivo depende “de prévia habilitação em concurso público de provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo de sua validade.”, conforme art. 10 da Lei Federal n. 8.112/90.

Por fim, o pesquisador público pode ser detentor de função ou emprego público. Por sua vez, os militares respeitam regime próprio por integrarem as Forças Armadas, cujas bases principais estão erigidas nos artigos 142 e seguintes da CF/1988. De qualquer forma, o aspecto comum a todos os pesquisadores públicos, sejam civis ocupantes de cargo efetivo, detentor de função ou emprego ou, ainda, militares, dá-se no sentido de que a atribuição funcional representa a própria atividade de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Dessa feita, as situações mais comuns de inserção do pesquisador público em suas atividades funcionais de pesquisa ocorrem mediante a lotação em Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) ou em Instituições Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT’s). As primeiras são as já mencionadas Universidades públicas brasileiras espalhadas pelo território nacional, cuja importância na produção de inovação restou comprovada pelos números do último relatório do INPI a respeito do tema acima indicado. As segundas, conceituadas pelo inciso V do art. 2 da Lei Federal n. 10.974/2004, alterada pela Lei Federal n. 13.243/2016, como:

[...] órgão ou entidade da administração pública direta ou indireta ou pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos legalmente constituída sob as leis brasileiras, com sede e foro no País, que inclua em sua missão institucional ou em seu objetivo social ou estatutário a pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico ou o desenvolvimento de novos produtos, serviços ou processos [...].

Por este conceito, verifica-se que as ICT’s podem ser públicas ou privadas, sendo estas últimas constituídas como pessoas jurídicas sem fins lucrativos e que tenham a pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico como sua missão estatutária. Não comporta, então, no conceito de ICT’s as empresas privadas com fins lucrativos.

O aspecto relevante à presente pesquisa, entretanto, é atinente ao fato de que o pesquisador público poderá estar vinculado à prestação de serviços técnicos especializados em atividades de inovação e pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, ou seja, realizar atuação especializada em favor de empresas para aumentar a competividade destas, nos termos do caput do art. 8 da Lei Federal n. 10.973/2004.

Para essa atuação específica, poderá o pesquisador público receber retribuição pecuniária, “sempre sob a forma de adicional variável e desde que custeado exclusivamente com recursos arrecadados no âmbito da atividade contratada”, conforme disposto no art. 8, § 2º da Lei Federal n. 10.973/2004. A natureza desta retribuição pecuniária adicional será de ganho eventual, para fins de não incidência de contribuição social sobre tais valores e não haverá incorporação desses valores nos vencimentos ou proventos do pesquisador público.

Afigura-se, evidentemente, como uma remuneração adicional auferida pelo pesquisador público por participar da prestação de serviços técnicos necessários ao estímulo da inovação em empresas, a partir da aproximação das entidades públicas com as particulares nessa área.

Além disso, o pesquisador público poderá receber “bolsa de estímulo à inovação”, em caso de celebração de acordos de parceria entre ICT’s e instituições públicas ou privadas com objetivo de realização de atuação conjunta na área, nos termos do art. 9 da Lei Federal n. 10.973/2004. Nesse caso, a própria Lei estipula que a bolsa caracterizar-se-á como doação, não sendo considerada contraprestação de serviços e não será objeto de incidência de contribuição social.

Mas a previsão legal mais relevante para a questão abordada é a seguinte:

Art. 13. É assegurada ao criador participação mínima de 5% (cinco por cento) e máxima de 1/3 (um terço) nos ganhos econômicos, auferidos pela ICT, resultantes de contratos de transferência de tecnologia e de licenciamento para outorga de direito de uso ou de exploração de criação protegida da qual tenha sido o inventor, obtentor ou autor, aplicando-se, no que couber, o disposto no parágrafo único do art. 93 da Lei n. 9.279, de 1996.

O parágrafo único do art. 93 da Lei n. 9.279/96, referido expressamente no art. 13 acima transcrito, assegura ao inventor vinculado às entidades da Administração Pública, direta, indireta e fundacional, federal, estadual ou municipal, o recebimento de “premiação de parcela

no valor das vantagens auferidas com o pedido ou com a patente, a título de incentivo”31. Referido parágrafo único indica expressamente o art. 88 da mesma Lei, que é justamente o dispositivo a consignar que a invenção ou modelo de utilidade desenvolvido por empregado pertence exclusivamente ao empregador, quando o objeto do contrato de trabalho abarca a pesquisa, ou atividade inventiva, ou a própria natureza dos serviços acarrete a inovação patenteável.

É essencial perceber que a lei estabeleceu uma forma de “premiação” ao pesquisador público, como forma de incentivo em razão da produtividade de seu trabalho de pesquisa na entidade pública à qual esteja vinculado. O § 2º do artigo 13 acima transcrito preceitua que este ganho econômico em cima do qual o pesquisador público terá calculada a sua premiação será “toda forma de royalty ou de remuneração ou quaisquer benefícios financeiros resultantes da exploração direta ou por terceiros da criação protegida [...]”.

Fica evidente que a premiação do pesquisador público estará atrelada aos resultados econômicos advindos da exploração da criação realizada com a participação – espírito inventivo deste – do pesquisador público. É a partilha dos frutos da exploração da atividade inventiva consubstanciada em criação protegida com o ser humano que deu origem, com suas ideias e capacidade de trabalho, a esta própria criação.

Há previsão de dedução dos custos de produção da ICT, em caso de exploração direta da criação, e dos custos com obrigações legais à proteção da propriedade intelectual. Também é importante consignar que, por referência legal expressa, essa participação do pesquisador público, paga como prêmio, não será incorporada em vencimentos e terá natureza de ganho eventual para fins de não incidência de contribuição social ao INSS.

Na regulamentação desse dispositivo, o Decreto n. 2.553, de 16 de abril de 1998, estabelece em seu art. 3 que o servidor receberá esse prêmio de parcela do valor das vantagens auferidas pelo órgão da Administração Pública durante toda a vigência da patente ou do registro. A participação do pesquisador público é perene e vinculada ao resultado de sua atividade inventiva, ou seja, vinculada à vigência da patente, por exemplo.

O § 2º do art. 3 dispõe que a premiação não poderá exceder a 1/3 do valor das vantagens auferidas pela Administração Pública, ratificando a regra do art. 13 da Lei Federal n.

10.973/2004, acima transcrito. Por fim, o § 4º reafirma que essa premiação não incorpora aos salários dos empregados ou, tampouco, aos vencimentos dos servidores.

Resta muito claro que o pesquisador público possui regramento específico sobre a sua participação nos ganhos econômicos decorrentes de sua atividade inventiva, cuja vantagem é expressamente desvinculada do salário, em caso de emprego público, ou dos vencimentos, em caso de cargo público efetivo, paga como premiação.