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PARTE I – O TRABALHO, A INOVAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL

2.1 O PRIMADO DO TRABALHO COMO BASE DA ORDEM SOCIAL

A distribuição dos dispositivos constitucionais em cada Carta Magna, seja no Brasil ou no exterior, depende de uma decisão política dos membros do parlamento com objetivos claros. Isto é, a colocação dos diversos dispositivos em locais específicos ao longo da Constituição busca dar ênfase a certas temáticas elegidas como relevantes e, também, construir um todo normativo harmônico em estrutura e com sistematização lógica.

É o que se verifica a partir da análise da sequência dos nove Títulos da Constituição Federal do Brasil de 1988. Apresentada a Carta Política pelo seu Preâmbulo, na qual se indica o objetivo de se assegurar o exercício dos direitos sociais como primeiro aspecto e, na sequência, quais são os valores supremos de uma sociedade fraterna, a CF/88 traz os princípios fundamentais da República brasileira em seu primeiro Título. Na sequência, o Título II aborda os Direitos e Garantias Fundamentais, espraiando gama ampla de direitos aos brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil.

Vale a recordação, por oportuno, de que nem sempre existiu esta topografia dos temas nas normas constitucionais. A Constituição Federal do Brasil de 1967, por exemplo, trazia, em seus primeiros dispositivos, a estrutura da organização estatal, com as regras de funcionamento e competência dos poderes e o Estado e suas esferas municipal, estadual e federal. Toda essa estruturação do Estado e suas competências tomava a Constituição de 1967 até o artigo 139. Apenas no Título II, já no artigo 140, a declaração de direitos dos cidadãos era apresentada. Depreende-se dessa topografia constitucional de 1967 o pensamento dominante à época da elaboração do texto normativo, com o Estado fortalecido em posição central no sistema constitucional.

Assim, torna-se muito evidente que o Congresso Nacional brasileiro, em 1987 e 1988, na Constituinte, tomou uma decisão política diametralmente oposta àquela que dominava o cenário em 1967. Houve, em 1988, um claro fortalecimento dos princípios constitucionais e dos direitos e garantias fundamentais. O cidadão e seus direitos foram inseridos em lugar de destaque, direcionando o texto constitucional para atender uma necessidade da realidade brasileira da época. É notável a clareza com que o professor José Afonso da Silva consignou a diferença entre a CF/88 e as Constituições anteriores brasileiras, ao redigir o Prefácio da obra de João Alberto de Oliveira Lima, o que fez nos seguintes termos:

33. Ela assume a condição de instrumento de realização dos direitos fundamentais do homem. Albergam suas normas as fontes essenciais do novo constitucionalismo. Feita com alguma influência das Constituições portuguesa de 1976 e espanhola de 1978, fecundou-se no clima da alma do povo, por isso não se tornou, como outras, uma mera constituição emprestada ou outorgada. Não tem cheiro de Constituição estrangeira como tinham as de 1891 e 1934. Não nasceu de costa virada para o futuro, como a de 1946, nem fundada em ideologia plasmada no interesse de outros povos como foi a doutrina de segurança nacional, princípio basilar das Constituições de 1967- 1969. Algumas das Cartas Políticas anteriores só têm nome de constituição por simples torção semântica, pois não merecem essa denominação, só de si, rica de conteúdo éticovalorativo. Não é constituição, como repositório dos valores políticos de um povo, documento que não provenha do fundo da consciência popular, fecundadora de uma autêntica ordem jurídica nacional.33

33 E segue José Afonso da Silva tratando da Constituição de 1988 como instrumento de aproximação da realidade

efetivamente brasileira à ordem jurídica constitucional, o que faz nas seguintes palavras: “34. Aí está a grande diferença da Constituição de 1988 no constitucionalismo pátrio que fora sempre dominado por uma elite intelectual que sempre ignorou profundamente o povo brasileiro. Como já dizia Oliveira Vianna em 1948, o ‘animal político’ que esses intelectuais tomavam para base dos seus raciocínios e das suas construções políticas não era o brasileiro de verdade, o brasileiro tangível, sanguíneo, vivo, mas uma entidade abstrata, um ‘ente de razão’, o Cidadão-tipo, e sobre essa abstração, sobre essa criação irreal é que esses idealistas formularam as suas doutrinas constitucionais e outorgaram ao Brasil Constituições modelares. Idealistas quase sem nenhum contato com as realidades do nosso meio, ainda segundo Oliveira Vianna, de nenhum deles se poderia dizer o que alguém já dissera dos ideais de Lenine – de que ‘tinham cheiro da terra da Rússia’; pois, segundo ele ainda, nenhum dos ideais de nossos idealistas recendia o doce perfume da nossa terra natal porque traziam sempre à nossa lembrança uma evocação de estranhas terras, de outros climas, de outros sóis, de outras pátrias. Essa seiva estranha não poderia fecundar Constituições com cheiro de povo, abertas para a realização das aspirações populares e modificações do eixo do ordenamento jurídico nacional (SILVA, José Afonso da Silva. Prefácio. In: LIMA, João Alberto de Oliveira Lima; PASSOS, Edilenice; NICOLA, João Rafael. A gênese do texto da Constituição de 1988. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2013, p. xxvi. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/publicacoes/GeneseConstituicao/pdf/genese-cf-1988-1.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2017).”

Com esse destaque, já no artigo 1º da CF/88 são consignados os fundamentos da República Federativa do Brasil, quais sejam a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, sendo certo que a República brasileira foi erigida como um Estado Democrático de Direito.

Dado o objeto delimitado nesta Tese, importa destacar inicialmente a importância do princípio da soberania, na faceta da soberania nacional econômica, como bem definiu Eros Roberto Grau ao estabelecer que as sociedades em desenvolvimento carecem de uma modernização da economia, de forma a viabilizar uma ruptura, no tocante à dependência econômica dos países desenvolvidos.34

A cidadania como promotor e instrumento de concretização de todos os demais princípios, porque toca o aspecto de conscientização coletiva dos cidadãos acerca da importância da proteção da dignidade da pessoa humana, por exemplo, dentre outros elementos fundamentais do Estado de Democrático de Direito, como a liberdade e a segurança jurídica.35

Nesse sentido, a dignidade da pessoa humana foi alçada ao patamar de superprincípio, operando efeitos em todos os ramos do direito e na exegese de qualquer regra jurídica, ganhando relevância ímpar no sistema normativo. Aliás, o primeiro parágrafo do preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 (DUDH) destaca que “o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”.

34 Segue referido doutrinador asseverando um ponto importante exatamente no aspecto da tecnologia, afirmando

que “talvez um dos sintomas mais pronunciados dessa dependência se encontre, nos nossos dias, como anotei em outra oportunidade, na dissociação entre tecnologia usada e a pobreza da tecnologia concebida ou concebível pelas sociedades dependentes. No nosso caso, o processo de industrialização que nos legou um capitalismo tardio... produziu, entre outras sequelas, a da institucionalização de nossos agentes econômicos como meros intermediários entre produtores industriais estrangeiros e o mercado. Deles se fez agentes comerciais de repasse de tecnologia importada ao consumidor – cuida-se não de produtores industriais, mas de fabricantes. Os anos sessenta, com a consolidação das corporações multinacionais no mercado internacional, definiram, nitidamente, o nosso papel de consumidores de tecnologia externa (GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 230.).”

35 “35. É alentador reconhecer, e é justo proclamar, que a Constituição tem propiciado enorme desenvolvimento

da cidadania. Essa consciência cidadã, conforme já escrevi em outra oportunidade, é a melhor garantia de que os direitos humanos passaram a ter consideração popular, a fazer parte do cotidiano das pessoas, o que é o melhor instrumento de sua eficácia, com repulsa consequente do arbítrio e do autoritarismo. Nenhuma Constituição anterior teve consideração popular como a atual. Nenhuma foi tão estudada e difundida, graças especialmente aos jovens constitucionalistas que vêm se formando sob a sua égide, fazendo-a conhecida nas Escolas de Direito das capitais e do interior. É a primeira vez que o Direito Constitucional é efetivamente o ápice e fundamento efetivo do ordenamento jurídico nacional, porque, instituindo o Estado Democrático de Direito, impõe nova concepção da lei de que aquele se nutre (SILVA, José. In: LIMA; PASSOS; NICOLA. A gênese do texto da Constituição de

Colocada a dignidade humana nesse lugar de destaque, outra conclusão não se pode extrair senão aquela que determina a obrigação das empresas na proteção dessa dignidade, ou, melhor dizendo, na proteção dos Direitos Humanos também pelas empresas, nos termos do Pacto Global das Nações Unidas (PGNU) (United Nations Global Compact – UNGC). O primeiro princípio do PGNU aduz justamente que “as empresas devem apoiar e respeitar a proteção dos direitos humanos reconhecidos internacionalmente”.36

Segundo Tese defendida por João Carlos Azuma, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a proteção dos Direitos Humanos pelas empresas é salutar porque,

[...] sob o prisma jurídico de que os direitos humanos são um amálgama indissolúvel, as empresas não podem negar a concretização das demais dimensões desses direitos, pois a proteção de uns acarreta a proteção dos outros e, por conseguinte, a mesma lógica se aplica à violação de quaisquer deles. Nesse sentido a responsabilidade empresarial quanto aos direitos humanos afigura-se um mister.37

Assim, não se pode olvidar que o Trabalho tenha sido protegido pela DUDH de forma ampla, inclusive no tocante a uma remuneração justa e satisfatória, o que impacta diretamente na forma com que as empresas devem respeitar, proteger e promover os Direitos Humanos. O inciso XXIII da DUDH aduz que:

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.38

36 Disponível em: <https://www.unglobalcompact.org/what-is-gc/mission/principles>. Acesso em: 15 jan. 2017. 37 AZUMA, João Carlos. O pacto global das Nações Unidas: uma via para a responsabilidade das empresas pela concretização dos direitos humanos. Tese (Doutorado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, São Paulo, 2014, p. 145.

38 Disponível em: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 20 maio 2017. É digno de nota

também o disposto no art. XXVIII da DUDH, que preceitua ter todo ser humano direito “a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados”, tão relevante que Fabio Konder Comparato consignou que “é de se assinalar, finalmente, o reconhecimento, no artigo XXVIII, do primeiro e mais fundamental dos chamados direitos da humanidade, aquele que tem por objetivo a constituição de uma ordem internacional respeitadora da dignidade humana. É nisto que consiste hoje, em última análise, o direito à busca da felicidade, que a Declaração de Independência dos Estados

Estabelecidos o direito ao trabalho e à remuneração justa e satisfatória como Direitos Humanos desde 1948, não por outro motivo o valor social do trabalho foi também veiculado como fundamento da República Federativa do Brasil, no inciso IV do artigo 1º da CF/88. A importância do valor social do trabalho como fundamento da República pode ser medida pela abrangência e amplitude dos direitos sociais estabelecidos nos artigos 6 e 7 da CF/88. A gama de direitos dos trabalhadores protegidos constitucionalmente demonstra o papel fundamental do trabalho na construção de uma sociedade fraterna, nos termos do Preâmbulo da CF/88.

E, acompanhando o valor social do trabalho, a norma constitucional veiculou o valor social da livre iniciativa no mesmo inciso. De há muito já se vem consignando que a literalidade do inciso IV, ao indicar o valor social no plural e acrescentar a locução “da” antes de livre iniciativa, apresenta duas relevantes facetas do valor social, merecendo ambas absoluto respeito como fundamentos da República, ou seja, tanto o valor social do trabalho quanto o valor social da livre iniciativa.

Já se afigura muito evidente que a construção de uma sociedade fraterna e que faculte oportunidades a todos depende da exploração da atividade econômica, no exercício da livre iniciativa, com respeito ao valor também relevante do trabalho humano, beneficiando empreendedores e empregados. Há empresas, atualmente, que levam essa questão ao extremo e impõem um altíssimo nível de transparência no tocante às remunerações dos empregados e gestores, justamente para demonstrar esse equilíbrio.39

Unidos considerou como inato em todo ser humano (COMPARATO, Fabio Konder. A afirmação histórica dos

direitos humanos. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 246).”

39 Segundo o trabalho de John Mackey e Raj Sisodia, o primeiro como cofundador e CEO da empresa Whole

Foods Market, eleita como a melhor empresa para trabalhar nos EUA por 16 anos consecutivos, e o segundo como professor da Universidade de Boston, destacam que “At Whole Foods Market, we have adopted certain compensation policies that have been quite effective. Perhaps the most radical one has been to have total transparency on compensation; everyone who works at the company ca know what everyone else is paid. This transparency is an essential part of our culture, and it ensures that the compensation system is fair. Because it is transparent, tem members can give feedback on what the find to be unfair, giving the company an opportunity to change and evolve it. Some type of team compensation is helpful to reinforce the nature and cohesion of the teams. At Whole Foods Market, we use a protocol called gain-sharing. When a team increases its labor productivity, everyone on the team shares in the bonuses, which are paid in proportion to the individual’s hours worked. This reinforces solidarity within the team by aligning the interests of individuals together. In our experience, this type of team compensation doesn’t undermine intrinsic motivation, because it is intrinsically rewarding to be part of a successful and winning team. Everyone in our executive leadership team (the seven top executive) is paid exactly the same salary, bonus, and stock options. There is great solidarity and a high degree of trust within the group, and we want that to continue. You could make the case that some leaders are a little more valuable than others. But small differences in compensation can, over the years, stoke envy and erode trust in people. Our leaders also have a strong sense of calling, which supersedes the need to have their relative self-worth validated by money (MACKEY, John; SISODIA, Raj. Conscious Capitalism: Liberating the heroic spirit of business. Boston: Harvard Bussiness Review Press, 2014, p. 92; 93).

A assunção pelas empresas de responsabilidade social é, além do mais, praticamente um consenso nos dias de hoje. Conforme bem delineado por Amartya Sen e Bernardo Kliksberg, o papel das empresas na sociedade moderna alterou-se sensivelmente, passando a ser exigido das empresas seis principais características: 1) políticas empresariais que permitam o favorecimento e desenvolvimento dos empregados; 2) transparência na administração da empresa e políticas de governança; 3) atuação transparente e honesta com os consumidores; 4) proteção do meio ambiente; 5) participação dos temas que influenciem no bem-estar geral da população; 6) atuação coerente entre as políticas institucionais e a prática cotidiana da empresa. 40

Com essa base principiológica trazida pela Constituição Federal e esse papel exigido das empresas hoje, a Ordem Social é tratada, a partir do artigo 193 da CF/88, sob a seguinte redação: “Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.”

A Ordem Social, portanto, é estruturada na primazia, prioridade, preferência, excelência e superioridade do trabalho, segundo as definições do verbete “primado” apresentado por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.41

Desde os fundamentos da República Federativa do Brasil até a inserção no Capítulo I do Título VIII – Da Ordem Social, a forma pela qual se veiculou o trabalho humano na Constituição Federal demonstra inequivocamente que ele representa o elemento central de todo o sistema social brasileiro, devendo assumir uma posição de primazia e prioridade.42

40 Segundo referidos autores, “as ideias predominantes sobre o papel da empresa na sociedade se modificaram de

forma acelerada nos últimos anos. Durante décadas, a visão preponderante era aquela que defendia que a única responsabilidade da empresa privada era gerar lucros para seus proprietários e que só a eles deveria prestar contas. Ela foi legitimada, doutrinariamente, por Milton Friedman (1962), em um artigo em que o economista defendia que pedir outra coisa a esse setor significaria prejudicar o seu trabalho. Era a época da <<empresa narcisista>>. Tal visão foi destronada pela própria realidade. Forças sociais cada vez mais amplas exigiram uma perspectiva menos estreita. Em economias cada vez mais concentradas, os impactos das decisões e ações das empresas líderes nos mercados recaíam sobre toda a sociedade. Em cidades e regiões inteiras, umas poucas empresas são determinantes na vida dessas regiões (SEN, Amartya; KLIKSBERG, Bernardo. As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 363).”

41 PRIMADO. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio

de Janeiro: Nova Fronteira, 1981, p. 1146.

42 Não se negligencia, entretanto, que a diversidade de temas tratados no Título VIII Da Ordem Social, acaba por

superar a dimensão do próprio trabalho humano, como já alertava Celso Ribeiro Bastos, ao aduzir que “como vimos, a matéria é encabeçada por um princípio que unifica toda a ordem social: o primado do trabalho. Sucede, no entanto, que nesse Título são tratadas diversas facetas da vida social que transcendem aos aspectos trabalhistas e, consequentemente, ao próprio princípio reitor do primado do trabalho (BASTOS, Celso Ribeiro Bastos (Curso

Exatamente por essa posição de destaque do trabalho, que a Seguridade Social, inserida como Capítulo II da Ordem Social, será financiada por toda a sociedade, inclusive por recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em prestígio aos princípios da solidariedade e da responsabilidade.43 E, quando a Constituição tratou do financiamento da seguridade social pelos entes não estatais, o pagamento de salários e rendimentos pagos pelo trabalho humano foi utilizado como base de cálculo das respectivas contribuições tanto das empresas quanto dos próprios empregados.

Não se negligencia a existência de contribuição social sobre o lucro, a receita e o faturamento, além da receita dos concursos de prognósticos e do importador de bens ou serviços do exterior, mas isso não reduz, de forma alguma, a importância central do trabalho humano na estruturação e, claro, no financiamento da Seguridade Social, conforme artigos 194 e 195 da CF/88.

A concessão dos benefícios previdenciários, ademais, está intimamente relacionada ao trabalho humano, seja no tocante às aposentadorias após anos de trabalho e contribuição à previdência social; no tocante aos períodos de afastamentos por doença ou acidente do trabalho; e, ainda mais emblemático, na reabilitação profissional dirigida ao retorno da pessoa ao trabalho eficaz e à proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário, conforme disposto nos artigos 201 e seguintes da CF/88 e na Lei Federal n. 8.213/1991.

A educação também está inserida na Ordem Social, a partir do artigo 205 da CF/88. O plano nacional de educação, conforme previsto no art. 214 da CF/88, deve conduzir a erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, melhoria da qualidade do ensino, promoção humanística, científica e tecnológica do País e formação para o trabalho. No intuito de atingir esses objetivos, destacou-se o papel das Universidades públicas, tendo tais entes públicos adquirido autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, segundo o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, conforme disposto no art. 207 da CF/88.

Ademais, segundo o disposto no § 2º do mesmo artigo 207, as ICT’s também gozam desses benefícios. Verifica-se, assim, a colocação do trabalho em posições fundamentais nas diversas facetas da Ordem Social, o que se repetiu (como será demonstrado no capítulo que