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Competência é uma palavra já endossada pelo senso comum, utilizada no sentido de afirmar que alguém encontra-se qualificado para realizar determinada atividade. Trata-se de um tema que tem sido abordado indiscriminadamente, de forma generalizada, sem que haja preocupação com o sentido do que realmente traduz.

Para Therrien e Loiola (2001), as definições a propósito da noção de competência podem representar perspectivas teóricas divergentes, sendo este um conceito muito requisitado e discutido.

No mundo do trabalho, percebe-se que existem diversos significados para este termo. Afinal, que vem a ser competência? Para responder a esta pergunta com propriedade, faz-se necessário estar familiarizado com a visão de alguns estudiosos da área.

O significado original de competência vem do Latim, competentia, que significa proporção, simetria. De acordo com Ferreira (1999, p. 512), é a “qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade”.

Surgida na França, a pedagogia das competências teve como base as discussões sobre a qualificação dos trabalhadores, na tentativa de superar o modelo industrial. O sentido de competência e habilidade, na visão de Campos (2007), prioriza a formação humana, a partir da prática que valoriza o aprender a fazer.

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A elaboração do saber-fazer constitui o conteúdo da categoria competência. Assim, não é suficiente ter conhecimento, “é preciso saber aplicá-lo nas mais diferenciadas situações inusitadas da vida” (CAMPOS, 2007, p. 87). O autor vai além, ao afirmar que o conceito de competência não se restringe à competência material, entendida como capacidade restrita à prática de algo para a solução de problemas. Para ele, ocorreu uma renovação do conceito; atualmente entende-se por competência a mobilização de um certo saber-fazer, integrado a uma situação de interação prática, que orienta ação com discernimento.

Debates recentes sobre as novas competências, no trabalho e na vida, demonstram, na visão de Markert (2002), grande incerteza no que tange à sua fundamentação teóricometodológica e práticopedagógica, o que repercute diretamente sobre o entendimento de seus objetivos. Daí a necessidade de se realizar reflexão continuada sobre o assunto.

Competência é, realmente, na visão de Zarifian (2001), a competência do indivíduo. Manifesta-se e é avaliada quando de sua utilização em situação profissional (na relação prática do indivíduo com a situação profissional). Entretanto, a competência se revela, também, nas ações agilizadas sob seu comando. A competência, portanto, só se manifesta na atividade prática e é dessa atividade que poderá decorrer a avaliação das competências nela utilizadas.

Uma definição integralizante das várias dimensões, reunindo várias formulações, é proposta por Zarifian (2001, p. 68): “a competência é o tomar iniciativa e o assumir responsabilidade do indivíduo diante de situações profissionais com as quais se depara”.

Falar em competência significa, na visão de Rios (2004, p. 46), falar em saber fazer bem. Entretanto, é preciso esclarecer o que se quer dizer com a referida afirmação, pois esse é o discurso dos educadores. Na opinião da autora, esse saber fazer bem, como sinônimo de competência, aproxima-se da posição dos educadores que o apresentam numa dupla dimensão: técnica e política.

Uma definição que não pode deixar de ser considerada é a de Perrenoud (2000, p. 15): “competência é a capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação”. O autor enfatiza quatro aspectos:

a) as competências não são elas mesmas saberes ou atitudes, mas mobilizam, integram e orquestram tais recursos;

b) essa mobilização só é pertinente em situação, sendo cada situação singular, mesmo que se possa tratá-la em analogia com outras, já encontradas;

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c) o exercício da competência passa por operações mentais complexas, subentendidas por esquemas de pensamento, que permitem (mais ou menos consciente e rapidamente) realizar (de modo mais ou menos eficaz) uma ação relativamente adaptada à situação;

d) as competências profissionais constroem-se em formação, mas também ao sabor da navegação diária de um professor, de uma situação de trabalho a outra.

O reconhecimento de uma competência também passa pela explicitação dos saberes, das capacidades, dos esquemas de pensamento e das orientações éticas necessárias. De acordo com Perrenoud (2002), atualmente, define-se competência como a aptidão para enfrentar situações análogas, mobilizando, de forma correta, rápida, pertinente e criativa, múltiplos recursos cognitivos: saberes, capacidades, microcompetências, informações, valores, atitudes, esquemas de percepção, avaliação e raciocínio.

Apoiando-se em Perrenoud (2000), Macedo (2002) propõe a caracterização da competência segundo três características: tomada de decisão, mobilização de recursos e saber agir. Tomar decisão é mais do que resolver problema, tendo em vista que implica mobilizar valores, estabelecer raciocínios, enfrentar dilemas e decidir pelo que se julga o mais justo para o sujeito e para a sociedade. Competência também significa mobilizar recursos afetivos, cognitivos. Saber agir é saber dizer, saber comunicar, saber fazer, saber explicar, saber compreender, saber encontrar a razão.

Merece destaque a frequência com que aparece o verbo mobilizar, indicando que competência está relacionada com a capacidade de alguém utilizar recursos dos tipos mais variados quando assim se fizer necessário, de forma criativa, para atingir um ou mais objetivos. Contrapõe-se, portanto, ao uso de regras que são seguidas automaticamente. Embora Perrenoud (2002) mencione que a competência também está relacionada a “esquemas de pensamento” ou a “esquemas de percepção”, os quais dizem respeito à estrutura invariante de uma ação, a repetição pode sofrer acomodações.

Procurando esclarecer o que seja competência, Fleury e Fleury (2004, p.30) consideram que está “associada a verbos como saber, agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber se engajar, assumir responsabilidades, ter visão estratégica”.

Mello (1982, p. 43-44) entende a competência profissional mediante várias características. Uma delas é “o domínio adequado do saber escolar a ser transmitido, juntamente com a habilidade de organizar e transmitir esse saber, de modo a garantir seja ele efetivamente apropriado pelo aluno”. A autora complementa afirmando que a competência só

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pode ser construída na prática, ou seja, não é só o saber, mas o fazer. Aprende-se fazendo, numa situação que requeira esse fazer determinado.

As virtudes pessoais, cada vez mais requeridas, têm suas raízes na socialização familiar. A partir dela, Paiva (1995) concorda que a escola consolida atitudes, valores, habilidades que incidirão sobre os dois aspectos fundamentais das competências contemporâneas: as relações interpessoais e a motivação para o trabalho e a iniciativa.

Outro conceito, bastante utilizado em todas as áreas do conhecimento, é o de habilidade que, assim como o da competência, varia de autor para autor. Portanto, objetiva-se apresentar, a seguir, as visões similares dos estudiosos a respeito do assunto, adequadas a este estudo.