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Estar ciente do histórico da formação do Secretário no Brasil é fundamental para o propósito maior deste trabalho. Assim, pode-se conhecer que enfoque era dado à época, qual a tendência e a concepção desta modalidade de trabalho e se houve preocupação em se formar um profissional realmente crítico e conscientizado.

A partir dos anos 50, com a chegada das multinacionais da indústria automobilística, a mulher começou sua atuação nas empresas. Entretanto, foi somente na década de 60 que o movimento intensificou-se, por meio dos pacotes de treinamento importados dos Estados Unidos. Conforme aponta Natalense (1998), na década de 70, surgiu o movimento das associações de classe e nos anos 80 ocorreu a regulamentação da profissão, com a criação dos

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sindicatos das secretárias. Na década de 90, observa-se a luta pela extinção das secretárias “serventes”, que adquiriram vida própria.

Com a constante persistência das secretárias, finalmente a profissão de Secretário foi criada, por meio de ato do Poder Legislativo, Lei n. 6.556, de 6 de setembro de 1978, na gestão do Presidente Geisel, que dispôs sobre o exercício da “atividade” de secretário, permitida ao portador de certificado de conclusão do curso regular de Secretariado, em nível de 2º grau (BRASIL, 1978).

Posteriormente, a profissão foi regulamentada pela Lei n.7.377, sancionada pelo então presidente da República, José Sarney, em 30 de setembro de 1985, que estabeleceu critérios para o enquadramento profissional, tanto de Secretário Executivo (nível superior) como de Técnico em Secretariado (nível de 2º grau).

Em 1996, o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sancionou a Lei n. 9.261, que alterou a redação da supracitada Lei (7.377), nos incisos I e II do Art. 2º e o caput do Art. 3º, o inciso VI do Art. 4º e o parágrafo único do Art. 6º. Assim, ambas as Leis estão reunidas em um só texto (BRASIL, 1996). De acordo com o Art. 2º, é considerado:

I – Secretário Executivo

a) o profissional diplomado no Brasil por Curso Superior de Secretariado, reconhecido, ou diplomado no exterior por Curso Superior de Secretariado, cujo diploma seja revalidado no Brasil, na forma da Lei;

b) o portador de qualquer diploma de nível superior que, na data de início da vigência desta Lei, houver comprovado, através de declarações de empregadores, o exercício efetivo, durante pelo menos trinta e seis meses, das atribuições mencionadas no Art. 4o desta Lei.

II – Técnico em Secretariado

a) o profissional portador de certificado de conclusão de Curso de Secretariado em nível de 2º Grau;

b) portador de certificado de conclusão do 2º grau, que, na data de início da vigência desta Lei, houver comprovado, através de declarações de empregadores, o exercício efetivo, durante pelo menos trinta e seis meses, das atribuições mencionadas no Art. 5º desta Lei.

São atribuições do Secretário Executivo, conforme consta na Lei 7. 377, de 30 de setembro de 1985, art. 4o:

Planejamento, organização e direção de serviços de secretaria; assistência e assessoramento direto a executivos; coleta de informações para consecução de objetivos e metas das empresas; redação de textos

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profissionais especializados, inclusive em idioma estrangeiro; interpretação e sintetização de textos e documentos; taquigrafia de ditados, discursos, conferências e palestras de explanações, inclusive em idioma estrangeiro; versão e tradução em idioma estrangeiro, para atender às necessidades de comunicação de empresa; registro e distribuição de expediente e outras tarefas correlatas; orientação da avaliação e seleção da correspondência para fins de encaminhamento à chefia; conhecimentos protocolares (BRASIL, 1985, p. 1).

Com base, portanto, na referida Lei, observa-se o uso de duas nomenclaturas, quando da referência ao profissional. O cargo de Técnico em Secretariado é exercido pelos profissionais portadores de diplomas de Ensino Médio, que corresponde ao antigo 2º grau, enquanto a terminologia Secretário Executivo é utilizada para os portadores de diploma de nível superior. Entretanto, existem cursos que se autodenominam cursos de Secretariado Executivo, para que não se tenha dúvidas de que o estudante faz parte de um curso de nível superior.

Também é importante esclarecer que a Lei 7.377 utiliza a nomenclatura Curso Superior de Secretariado e as Diretrizes específicas do referido curso usam a terminologia Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Graduação em Secretariado Executivo; daí a dúbia denominação utilizada pelos diversos cursos no país. Consta, nas referidas Diretrizes, conforme Resolução n. 3/06/2005, em seu Art. 3º e no Parágrafo Único, respectivamente, o seguinte:

O curso de graduação em Secretariado Executivo deve ensejar, como perfil desejado no formando, capacitação e aptidão para compreender as questões que envolvam sólidos domínios científicos, acadêmicos, tecnológicos e estratégicos, específicos de seu campo de atuação, assegurando eficaz desempenho de múltiplas funções de acordo com as especificidades de cada organização, gerenciando com sensibilidade, competência e discrição o fluxo de informações e comunicações internas e externas (BRASIL, 2005, p. 2) O bacharel em Secretariado Executivo deve apresentar sólida formação geral e humanística, com capacidade de análise, interpretação e articulação de conceitos e realidades inerentes à administração pública e privada, ser apto para o domínio em outros ramos do saber, desenvolvendo postura reflexiva e crítica que fomente a capacidade de gerir e administrar processos e pessoas, com observância dos níveis graduais de tomada de decisão, bem como capaz para atuar nos níveis de comportamento microorganizacional, mesoorganizacioanal e macroorganizacional (BRASIL, 2005, p. 2).

Em relação aos conteúdos curriculares, os cursos de Secretariado Executivo deverão contemplar em seus projetos pedagógicos os seguintes conteúdos interligados:

I - Conteúdos Básicos: estudos relacionados com as ciências sociais, com as ciências jurídicas, com as ciências econômicas e com as ciências da comunicação e da informação;

II – Conteúdos Específicos: estudos das técnicas secretariais, da gestão secretarial, da administração e planejamento estratégico nas organizações

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públicas e privadas, de organização e métodos, de psicologia empresarial, de ética geral e profissional, além do domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e do aprofundamento da língua nacional;

III – Conteúdos Teórico-Práticos: laboratórios informatizados, com as diversas interligações em rede, estágio curricular supervisionado e atividades complementares, especialmente a abordagem teórico e prática dos sistemas de comunicação, com ênfase em softwares e aplicativos (BRASIL, 2005, p.3).

Salienta-se que consta, no Parecer do Relator sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação de Secretariado Executivo, que as referidas Diretrizes devem refletir uma dinâmica que atenda aos diferentes perfis de desempenho, exigindo contínuas revisões do Projeto Político Pedagógico de um curso, para que “ele se constitua a caixa de ressonância dessas efetivas demandas, através de um profissional adaptável e com suficiente autonomia intelectual e de conhecimento, para que se ajuste sempre às necessidades emergentes” (BRASIL, 2004, p. 2).

Ainda de acordo com o Relator, as instituições de ensino superior responderão pelo padrão de qualidade do curso, comprometendo-se a preparar profissionais aptos para a sua “inserção no campo do desenvolvimento social, segundo as peculiaridades da graduação, resultando, não propriamente um profissional “preparado”, mas um profissional apto às mudanças e, portanto, adaptável” (BRASIL, 2004, p. 2).

Analisando o conteúdo dos dois parágrafos anteriores, constata-se facilmente o discurso em defesa de um profissional “adaptável”, isto é, o que pode transmitir, dependendo do ponto de vista do leitor, a idéia de profissional conformado com o status quo, que deve sempre aceitar o que lhe é determinado por aqueles detentores do poder. Incoerentemente, por outro lado, incentiva a que o profissional procure ter suficiente autonomia intelectual e de conhecimento. Além disso, na Resolução n. 3/6/2005 consta, em seu Parágrafo Único, que o “bacharel em secretariado executivo deve desenvolver postura reflexiva e crítica” (BRASIL, 2005, p.2).

Verifica-se, porém, que na Resolução citada anteriormente, ao contrário do Parecer sobre as Diretrizes Curriculares para o curso de Graduação em Secretariado Executivo e das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação, nada se comenta sobre o fato de que o estudante deva ter autonomia intelectual. A título de exemplo, o mesmo acontece com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Ciências Contábeis (BRASIL, 2004b) e de Administração (BRASIL, 2005b), analisadas pela pesquisadora.

No Brasil, existem, ainda, Cursos Superiores de Graduação de Tecnologia em Secretariado, com duração de dois a dois anos e meio. O profissional é denominado de Tecnólogo em Secretariado. Os referidos cursos são regidos pelas Diretrizes Curriculares

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Nacionais Gerais para a organização e o funcionamento dos Cursos Superiores de Tecnologia, conforme Resolução n. 3, CES/CNE, de 18 de dezembro de 2002. No Art. 1º consta o seguinte objetivo:

a educação profissional de nível tecnológico, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, objetiva garantir aos cidadãos o direito à aquisição de competências profissionais que os tornem aptos para inserção em setores profissionais nos quais haja utilização de tecnologia (BRASIL, 2002, p. 1).

Figueiredo (1987, p. 27), há mais de 20 anos, afirmou que a classe dos secretários não havia atingido ainda a plena maturidade, devido “a entraves por parte dos próprios profissionais [...]. Cultivam eles determinados comportamentos que comprometem a solidez e o bom nível da estrutura secretarial, agindo como polos de estagnação e atraso dos nossos ideais”. Hoje, pode-se dizer que ainda se aplica plenamente o que foi dito no passado, fato considerado lamentável.

Frequentemente, em eventos da área secretarial, ouve-se falar a respeito da importância da mulher nas assessorias, no sentido de que é ela “quem cuida do ambiente físico do escritório do patrão, verificando cinzeiros, organizando a mesa do chefe e decidindo quando devem ser trocadas as cortinas. Esta visão reforça uma idéia doméstica das assessorias, reproduzindo tudo que se deseja superar!” (NONATO JÚNIOR, 2009, p. 143).

Estas questões devem ser combatidas pelos próprios profissionais da área, pois, para realizar atividades conhecidas como “serviços gerais”, não há necessidade de realizar curso de nível superior. Também é comum a empregada doméstica ser denominada por sua “patroa” de “minha secretária”. Percebe-se que a própria doméstica se sente marginalizada por considerar a profissão que exerce menos importante. Por isso, muitas “patroas” pensam que tratá-la utilizando a terminologia “secretária” contribui para a melhoria de sua autoestima, dado que o título de “secretária” lhe confere ascensão social perante a sociedade.

A seguir, é apresentado o processo de criação do Curso de Graduação em Secretariado da UFC, destacando a visão da academia e da sociedade acerca do referido Curso.