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Discutir sobre formação profissional, nos dias de hoje, não é tarefa fácil, tendo em vista a multiplicidade de discursos sobre o assunto, conduzindo o leitor a compreendê-lo apenas parcialmente. Ouve-se, com frequência, falar em Educação básica, Educação profissional, formação profissional, qualificação para o trabalho, aquisição de competências e habilidades, nomenclaturas que têm gerado distorção e confusão. Percebe-se que são temas tratados pelos leitores como sendo similares, muitas vezes por não ser do interesse deles aprofundá-los e, deste modo, vão sendo disseminados descompromissadamente, como sendo equivalentes, de forma aleatória.

De acordo com Lucio e Sochaczewski (1999), a Educação profissional, requerida, hoje, pelas novas formas de trabalho, caracteriza-se por ter como eixo central uma Educação básica de boa qualidade, por ser flexível em relação ao conteúdo específico, por necessitar de constante reciclagem ou substituição, inaugurando o conceito atual de formação contínua, por incluir, de forma explícita, elementos comportamentais como iniciativa, participação, discernimento, envolvimento e compromisso.

Percebe-se que a diminuição de postos de trabalho, em função das transformações no mundo do trabalho, conduz a uma crescente desregulamentação, no que se refere à contratação e à dispensa. Na concepção de Lucio e Sochaczewski (1999), cada vez mais aumentam os empregos temporários e o trabalho infantil; há um grande incentivo à informalização; a jornada de trabalho é maior e a remuneração precária; ocorre diminuição do poder e da representatividade sindical; a solidariedade entre trabalhadores diminui. Hoje, com menos horas de trabalho e menos trabalhadores, produz-se uma quantidade igual e ou superior de bens e serviços, o que restringe o poder de barganha da classe trabalhadora.

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Essa situação leva à exclusão social, a segregação de grupos e à perda da condição de cidadania. As mudanças afetam os trabalhadores, independente de sexo, idade e escolarização; atingem, no entanto, com maior intensidade, “os jovens em busca do primeiro emprego, as mulheres e aqueles de maior idade, menos qualificados e escolarizados, condenados ao desemprego permanente ou de longa duração” (MORAES; LOPES NETO, 2005, p. 7).

Pode-se dizer que a Educação e a formação profissional são alternativas primordiais no combate às desigualdades entre empresas (produzidas pela competitividade econômica) e no atendimento aos trabalhadores ameaçados pela desqualificação profissional e pelo desemprego.

Nesse contexto, discute-se a questão da formação profissional, que “designa todos os processos educativos que permitem ao indivíduo adquirir e desenvolver conhecimentos teóricos, técnicos e operacionais, relacionados à produção de bens e serviços, cujos processos sejam desenvolvidos nas escolas, universidades ou nas empresas” (CATTANI, 2002, p. 128).

Torna-se necessário, então, refletir sobre a relação necessária e unívoca entre Educação Profissional, de um lado, e Trabalho e Emprego de outro. “Não tem sentido refletir sobre a formação sem que, ao mesmo tempo, seja analisada a atividade produtiva e o mercado de trabalho. Enquanto houver trabalho, é necessária uma preparação para sua execução e, no limite, uma sociedade que não trabalha não conhece formação profissional” (LUCIO; SOCHACZEWSKI, 1999, p. 2).

Do ponto de vista dos trabalhadores, a formação profissional deve ser formulada a partir de uma análise mais ampla, que englobe questões como educação básica, geração de emprego e renda, discussão acerca do trabalho e pensar como reduzir o consumo supérfluo da sociedade, aspectos considerados críticos no país. A formação profissional, portanto, pode ser considerada como sendo

patrimônio social e deve ser colocada sob a responsabilidade do trabalhador e estar integrada ao sistema regular de ensino na luta mais geral por uma escola pública, gratuita, laica e unitária, em contraposição à histórica dualidade escolar do sistema educacional brasileiro. Pública e gratuita com o Estado assumindo suas responsabilidades, porém com a efetiva participação da sociedade na sua gestão pedagógica e administrativa (CUT, 1994, p. 52).

Com o intuito de refletir sobre em como tem sido a formação dos profissionais, em geral, algumas questões primordiais são formuladas. Há preocupação em formar o profissional, para que ele tenha senso crítico e exerça suas funções com competência e habilidade? Afinal, que significa formação, competência e habilidade, termos por demais pronunciados nos meios educacionais e empresariais? Será que educadores, pesquisadores e

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estudantes estão interessados em ter essa resposta de forma clara ou para eles isto significa perda de tempo?

Esperando que a resposta seja positiva, ou seja, que todos estejam curiosos em ter acesso a esse esclarecimento, inicialmente deve-se questionar o tipo de formação que está sendo introduzido nas escolas; parece estar havendo um consenso de que os estudantes precisam apenas de uma habilitação rápida, direcionada a colocá-los no mercado de trabalho.

Sobre o processo da formação, Chauí (2003, p. 12) enfatiza:

há formação quando há obra do pensamento e há obra do pensamento quando o presente é apreendido como aquilo que exige de nós o trabalho da interrogação, da reflexão e da crítica, de tal maneira que nos tornamos capazes de elevar ao plano do conceito o que foi experimentado como questão, pergunta, problema, dificuldade.

Podem ser encontrados, no meio social, três sentidos para o termo “formação”, na visão de Beillerot (2006). O primeiro sentido, desde o século XIX, tem sido associado à formação prática, formação de operários e formação profissional; o segundo, conhecido a partir do século XVIII, desde os jesuítas, está relacionado à formação do espírito; o último está associado à formação de uma vida, no sentido experiencial. Na visão do autor, o termo “formação” designa momentos distintos da aprendizagem e a formação inicial se opõe à formação permanente. Esta última “implica incluir todos os ciclos de formação que um indivíduo pode ter: jovem, adulto e da terceira idade, mas também incluir a formação pessoal e não só a técnicoprofissional, como a formação cultural ou a formação de cidadãos” (p. 23).

Gramsci, ao expor seu pensamento a respeito da formação profissional, entende que não deveria haver uma escola destinada aos filhos do trabalhador e outra aos filhos da elite. Na visão do autor,

a crise terá uma solução que, racionalmente, deveria seguir esta linha: escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa, que equilibre equanimemente o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual (GRAMSCI, 1995, p. 118).

Defender a posição de Gramsci significa valorizar a política da Educação, incluindo, na visão de Neves (1997), uma dimensão cidadã com direito a uma qualificação para o trabalho, compatível com a natureza técnicopolítica do trabalho no mundo contemporâneo.

O conceito de formação também deve ser pensado juntamente com o de competência e habilidade. Desse modo, a formação escolar deve prover as pessoas de competências básicas, aqui apresentadas por Machado (2002, p. 151):

a capacidade de expressão, de compreensão do que se lê, de interpretação de representações; a capacidade de mobilização de esquemas da ação progressivamente mais complexos e significativos nos mais diferentes

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contextos; a capacidade de construção de mapas de relevância das informações disponíveis, tendo em vista a tomada de decisões, a solução de problemas ou o alcance de objetivos previamente traçados; a capacidade de colaborar, de trabalhar em equipe e, sobretudo, a capacidade de projetar o novo, de criar em um cenário de problemas, valores e circunstâncias no qual somos lançados e no qual devemos agir solidariamente.

Neste trabalho, entende-se por “formação” todo conhecimento adquirido pelo secretário executivo formado na UFC, durante o percurso iniciado com a graduação, passando pelo saber da experiência e continuando com a realização de cursos de especialização e de mestrado. No caso deste estudo, tem-se um profissional ainda sem curso de doutorado. Pretende-se verificar se a formação do referido profissional foi pautada pela prática da reflexão, da crítica, da tomada de decisões e no agir solidário.

Por entender que é de fundamental importância ter a compreensão do que seja competência profissional, a seguir é feita uma explanação acerca do assunto, sem, entretanto, a veleidade de querer esgotá-lo.