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6. Discussão

6.4. Comportamento dos Métodos

Entre os vários fatores que interferem nos métodos de detecção dos protozoários, a turbidez é o principal deles e seu aumento está relacionado com as precipitações, mas sem correlação confirmada com a presença dos protozoários Giardia spp. e Cryptosporidium spp. (HASHIMOTO et al., 2001). Porém, devido à facilidade de aderência das formas parasitárias a compostos orgânicos e inorgânicos, a presença destes tem sido associada ao grau de turbidez da amostra (ATHERHOLT et al, 1998; MEDEMA et al., 1998).

Thurman et al. (1998) analisaram águas oriundas de regiões pantanosas e alagadiças na Austrália, incluindo fontes intocadas no interior de florestas, pelo método FCC para concentração destas amostras. Os valores de turbidez encontrados variaram de 1,4 a 32,8 NTU. O número de cistos de Giardia spp. encontrada foi de 0 a 7/L e 0 a 6/L para oocistos de Cryptosporidium spp. Ressalte-se que, embora não havia despejo de esgotos ou efluentes, esta concentração de cistos e oocistos pode refletir a prevalência destes protozoários em animais silvestres.

Amostras de rios e lagos em Israel foram analisadas pelos métodos de concentração por FCC para pequenos volumes e, FM para grandes volumes. A porcentagem de recuperação de cistos e oocistos inoculados em amostras em águas brutas, com o método de FM foi de 26,5 % para cistos de Giardia spp e de 1,83 % para oocistos de Cryptosporium spp. Com o método de FCC, a recuperação encontrada para oocistos de Cryptosporidium spp. foi de 64,7 % não sendo detectado cistos de Giardia spp., sendo que um evento de floração algal causou o aumento da turbidez (ZUCKERMAN et al., 1997). Já em experimentos controle realizado com água bruta concentrada por FCC, ambos os

protozoários foram recuperados em 40,0 % (variação de 10,0 % a 90,0 %) (HO e TAM, 1998).

Hsu et al. (1999) analisaram amostras de água do rio Kau-Ping, fortemente impactado por efluentes domésticos, efluentes de estábulos, criadouros e, industriais. Foi usado o método FM para concentração das amostras, e volumes variáveis (15 a 80 litros) sendo os níveis de turbidez de 5,2 a 80, 0 NTU. As concentrações de cistos de Giardia spp. relatadas foram de 49 a 6.978 cistos/100L e, de 237 a 12.516 oocistos/100L de Cryptosporidium spp. Ressalte-se que as médias da eficiência de recuperação foram de 22,8 % a 26,5 % para cistos de Giardia spp. e recuperação de 8,9 % a 8,9 % para oocistos de Cryptosporidium spp.

Cantusio e Franco, 2004, utilizando o método de concentração por FM, encontraram uma positividade de 90,0 % e 100% de cistos de Giardia spp. na água bruta do rio Atibaia, na cidade de Campinas, não sendo detectados oocistos de Cryptosporidium spp. A turbidez da água bruta durante o estudo apresentou grande variação: de 9,6 a 70 NTU. Em outro estudo conduzido em mananciais do Estado de São Paulo, quando amostras de águas superficiais foram examinadas por FCC Giardia spp. e Cryptosporidium spp. foram observados em 27,0 % e 2,50 % das amostras, respectivamente (HACHICH et al., 2004), com concentração de 521 cistos/L e 20 oocistos/L.

Atherholt et al. (1998) também relacionam o aumento da turbidez das amostras com o aumento das concentrações de cistos de Giardia spp. e oocistos de Cryptosporidium spp. devido à ressuspensão de sedimentos que ocorre durante as chuvas. Resultados semelhantes foram observados por Rouquet et al. (2001).

Outra etapa de recuperação de cistos e oocistos afetada por este parâmetro é a da purificação pelo IMS, sendo que esta interação ainda não é bem compreendida e, tão pouco se tem observado um acordo comum entre os pesquisadores. Alguns estudos indicam que amostras com altos níveis de turbidez, resultam em baixos valores de recuperação de oocistos (ROCHELLE et al., 1999; STANFIELD et al., 2000). Já outros estudos realizados, indicam que os níveis de recuperação aumentam quando as matrizes avaliadas apresentam certo nível de turbidez. Por exemplo, amostras com > 100 NTU apresentaram recuperação menor que 20,0 %; aquelas com turbidez variando de 10 a 100 NTU apresentaram 56,0 % de recuperação; e com valores de turbidez menores que 10,0 NTU, a recuperação foi de 48,0 %. É sugerido por vários pesquisadores que a presença de partículas até certa quantidade na matriz, promove uma melhora na recuperação dos protozoários em função da agregação dos organismos às partículas da amostra, sendo assim melhor capturados (FRANCY et al., 2004).

Amostras com água de torneira acrescida de sílica e filtradas em cápsulas filtrantes Envirocheck® apresentaram melhor recuperação de cistos e oocistos, porém, a adição de 2g ou mais de partículas de sílica (5 a 40 µm), reduziu muito a taxa de recuperação para oocistos, não sendo variável para cistos (HU et al., 2004). Assim, é consenso que variações de recuperação em amostras de água bruta diferem significativamente em função da qualidade da matriz avaliada (FERGUSON et al., 2004).

Pesquisas com amostras de água apresentando variação de turbidez (0,03 a 30,1 NTU) também indicaram uma melhor performance para FM quando comparada com a FCC, na detecção de oocistos de T. gondii, Cryptosporidium spp. e cistos de Giardia (VILLENA et al., 2004).

No Brasil, visando a detecção de Giardia spp. e Cryptosporidium spp., Dias Júnior (1999) utilizou as técnicas de FCC e dissolução de membrana filtrante para a concentração de 5 amostras de águas superficiais na cidade de Araras/SP, com turbidez variando entre 8,6 a 58,3 NTU. Ambos os protozoários foram detectados em todas as amostras, embora o autor não tenha encontrado diferença no desempenho para nenhuma das metodologias; quando aplicado o método de dissolução membrana filtrante em apenas uma delas foi possível a contagem dos organismos (1/5). Já, quando utilizado o método de FCC, a enumeração dos organismos foi possível em 4 das cinco amostras analisadas.

Franco et al. (2001b) investigaram a ocorrência desses protozoários no ponto de captação de água do rio Atibaia, na cidade de Campinas/SP, e concentradas por filtração em membranas e dissolução de membranas por acetona. Todas as amostras colhidas foram positivas para a presença de ambos os protozoários, mesmo com a alta turbidez das amostras, que, variou entre 32 e 48 NTU durante este estudo. A metodologia de filtração em membrana apresentou melhor recuperação quando comparada com a dissolução da membrana com acetona, devido a permanência de partículas sólidas não dissolvidas junto com o sedimento resultante, onde se encontram os cistos e oocistos presentes na amostra, dificultando a visualização dos organismos.

A etapa de purificação com o IMS pode ser afetada também, pelos níveis de carbono orgânico e ferro presentes na matriz (DIGIORGIO et al., 2002). Yakub e Stadterman-Knauer (2000) sugerem que a presença de ferro na água teria um efeito inibitório na recuperação destes protozoários, por interferir na etapa de formação dos complexos microesferas-anticorpos e epítopos dos cistos/oocistos durante o procedimento

cistos e oocistos. Cabe ressaltar que a concentração de ferro presente no manancial avaliado neste estudo é alta, sendo mais significativo nos períodos de chuvas (SANASA, 2007).

Neste estudo, embora a compactação das membranas tenha ocorrido mais rapidamente com as amostras de maior turbidez, isso não inviabilizou seu uso e, um número máximo de 4 membranas por amostra foi utilizado para os ensaios onde a turbidez das amostras era significativa.

É importante discutir que o pH da amostra de água, em dependência da região geográfica e características geoquímicas das bacias hidrográficas, é um fator que interfere durante o procedimento de separação imunomagnética, pois o pH de 7,0 deve ser mantido durante todo o processo. Consequentemente, a estabilidade dos tampões dos kits de IMS pode variar de acordo com a marca comercial dos mesmos, e pode ser drasticamente alterada. Desta forma, é imprescindível que a cada etapa, seja feita a mensuração do pH e caso necessário, correções (KUHN et al., 2002).

O parâmetro cor é influenciado pela turbidez; se aumentada, eleva a cor; porém, não interfere diretamente no desempenho do método de concentração, e sim, o parâmetro turbidez (sólidos totais especificamente suspensos).