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6. Discussão

6.5. Ocorrência em Amostras de Água Natural do Rio Atibaia

Quando analisada a aplicabilidade destas metodologias para as amostras naturais, na rotina, ambos os métodos de concentração foram capazes de recuperar os protozoários presentes naturalmente nas amostras da água do Rio Atibaia, pois 93,7 % das amostras foram positivas em um total de 16 amostras analisadas.

A observação de diferentes números destes organismos por litro de amostra caracteriza mais uma vez a variabilidade dos métodos, bem como a contaminação natural deste manancial em densidades variadas e intermitentes (KRUSHE et al., 2002). Fontes de contaminação tais como a drenagem hídrica das fezes de animais, o uso de fertilizantes orgânicos e o lançamento de esgotos parcialmente tratados ou não, favorecem a contaminação dos mananciais (MEINHARDT et al., 1996; FAYER et al., 2000) que, muitas vezes, são utilizados também para a captação nos sistemas públicos de abastecimento, com vários estudos comprovando tal situação (MACPHERSON, 2005; OTTOSON et al., 2006), e é justamente isso que ocorre no rio Atibaia (KRUSHE et al., 2002).

Nas amostras de água natural, com valores de turbidez variados, cistos de Giardia spp. foram detectados em 93,7 % das amostras avaliadas (n=15), independente da etapa de purificação ser aplicada ou não e, oocistos de Cryptosporidium spp. estiveram presentes em 75,0 % das amostras (n=12). Em duas ocasiões, no entanto, a concentração de organismos apresentou-se elevada, quando comparados entre si os dados das diversas coletas. Uma densidade de 1.550 cistos e 100 oocistos/L (Tabelas 19 e 20) foi observada durante a

aumento da concentração em função do início das chuvas. Em outra ocasião, no inverno, um grande número de organismos foi detectado: 2.403 cistos/L e 108 oocistos/L (Tabelas 11 e12). Esta alta concentração ocorreu devido a uma descarga in natura de esgoto doméstico a montante do ponto de coleta (SANASA, 2006).

Na América Latina, o protozoário Cryptosporidium, parece apresentar um padrão de ocorrência bimodal, ou seja, durante as estações do verão e outono, enquanto que na Europa, é mais freqüente durante a estação da primavera (CACCIÓ et al., 2005).

No Brasil, a positividade para Cryptosporidium spp. em pacientes aidéticos e crianças, associada à transmissão hídrica, mostrou uma distinta sazonalidade e associação com a pluviosidade (ROSE et al., 2002).

Oocistos de Cryptosporidium spp. foram detectados no rio Atibaia, uma única vez, numa concentração de 20 oocistos/L. Este achado ocorreu no início do verão depois de pesadas chuvas que caíram anteriormente ao dia da coleta (OLIVEIRA, 2005; HACHICH et al., 2004). Tal fato pode ser explicado pelas chuvas contribuírem para o revolvimento de sedimentos no leito do rio, e assim aumentar a concentração de cistos e oocistos possivelmente agregados ao material particulado (ATHERHOLT et al., 1998).

Situações semelhantes, nas quais cistos e oocistos foram detectados após forte precipitação também foram relatadas por outros autores (SKERRETT e HOLOLAND, 2000; CANTUSIO NETO e FRANCO; 2004)

Neste estudo, em amostras com turbidez abaixo de 50 NTU, a FM apresentou um melhor desempenho na recuperação dos protozoários comparado com a metodologia de FCC. Exceção foi observada na recuperação dos cistos de Giardia spp. quando sem a etapa de purificação pelo IMS, porém, uma visível melhora nestes valores para ambos os

protozoários, foi observada quando a etapa de purificação por IMS foi adicionada, independente da metodologia de concentração (Tabelas 13 a 16). Estas variabilidades são inerentes e comuns aos vários métodos existentes para análise de protozoários em água e inclusive tem limitado a aplicação do Método 1623 (HU et al., 2004).

Quando avaliada amostras com turbidez acima de 50 NTU, a metodologia de FCC sem a purificação por IMS mostrou-se melhor para recuperar ambos os protozoários (Tabela 17 a 20). Quando iniciada a etapa de purificação por IMS, foi observada uma queda no valor de recuperação de cistos de Giardia spp, independente do método de concentração utilizado. Isso só não ocorreu para a recuperação de oocistos de Cryptosporidium spp. onde um aumento de 35,0 % para 55,0 % foi observado após a etapa de purificação por IMS e a concentração realizada com FM.

Independente do método de concentração empregado, os valores de recuperação obtidos neste estudo, com o uso do controle interno Color Seed estão no geral, dentro dos padrões estabelecidos pela USEPA para a detecção destes protozoários em amostras hídricas que considera aceitável de 13,0 % a 111 % para Cryptosporidium spp. e de 15,0 % a 118 % para Giardia spp. Ressalte-se que a Austrália possui seu próprio requerimento mínimo de acreditação e aceitabilidade (recuperação mínima de 10,0 %) pela Associação Nacional de Autoridades de Testes (WOHLSEN et al., 2004).

Registros na literatura indicam baixos valores de recuperação do método ICR: <1 a 30,0 % (ONGERTH e STIBBS, 1987), enquanto que o valor médio de recuperação dos organismos é de 70,5 % quando utilizada a FM, sendo que este valor depende do método de eluição empregado. O Método 1623 gera valores de recuperação dos organismos de

19,5 % a 54,5 % e, a eficiência de recuperação quando a técnica utilizada é a FCC proposta por Vesey et al. (1993) está entre 30,0% a 40,0%.

Mesmo com o uso de tecnologias sofisticadas, como as cápsulas de filtração e esferas paramagnéticas recobertas com anticorpos específicos, não resultam em aumento dos valores de recuperação dos organismos, mantendo ainda alta variabilidade dos resultados (FRANCO, 2004).

A escolha do método de detecção de Cryptosporidium spp. e Giardia spp. em amostras hídricas depende de fatores como: a distância do local de coleta e do laboratório e, da quantidade e qualidade da água a ser analisada, porém, a variabilidade dos resultados obtidos, mesmo intralaboratorial são freqüentes ((FRICKER e CRAB, 1998).

A pesquisa da ocorrência de protozoários patogênicos em águas superficiais tem sido realizada em vários países, em diferentes ambientes líminicos, investigando a interação dos parasitos com o meio, correlacionando-os à sazonalidade, temperatura, hidrologia, parâmetros físico-químicos e microbiológicos da água (CROCKETT e HAAS, 1997; LECHEVALLIER et al., 1997; STATES et al., 1997). Estas pesquisas visam um melhor conhecimento das densidades destes organismos, em função de impacto na Saúde Pública.