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5.4 Atuação do líder no desenvolvimento de Competências Coletivas

5.4.2 Composição da equipe

Uma equipe é caracterizada pela complementaridade das habilidades de seus membros, pelas experiências coletivas de trabalho e pelas responsabilidades compartilhadas. Para completar as tarefas que são designadas à equipe, é preciso haver a participação de todos seus integrantes, porque nenhuma pessoa sozinha poderá atingir plenamente o que foi definido como meta coletiva (Puente-Palacios & Borba, 2009).

As competências individuais são necessárias para formação das competências coletivas (Retour & Krohmer, 2011). No comportamento individual encontram-se explicações para os processos construídos pelas equipes, uma vez que as competências individuais e coletivas são mutuamente constitutivas (Boreham, 2004a). É preciso haver diferentes bases de conhecimento para gerar a complementaridade de competências (Le Boterf, 2003), pois quanto maior o potencial dos colaboradores, maiores serão as oportunidades de desenvolvimento das competências coletivas (Retour & Krohmer, 2011).

A competência coletiva é distribuída por uma rede de pessoas de múltiplos comportamentos interconectados (Lingard, 2012). Nesse sentido, a importância da formação adequada do quadro de pessoal favorece o desenvolvimento das competências coletivas (Lima & Silva, 2015). Quando as equipes se tornam maiores, a quantidade de problemas que os líderes precisam gerenciar também aumenta. Líderes de grandes equipes devem criar uma boa estrutura dentro da equipe e gerenciar a coordenação das tarefas (Ceri-Booms, 2020). Assim, é importante para que uma equipe funcione bem, que ela seja formada com o “melhor possível” e possua uma interação social saudável entre seus membros (Einola & Alvesson, 2019).

O desenvolvimento das competências coletivas pode ser favorecido pela forma que o líder compõe o quadro de pessoal de sua equipe, estando relacionado com as competências individuais de seus integrantes, a quantidade de pessoas alocadas e a combinação de diferentes perfis profissionais. O líder pode manter a diversidade na equipe, essa diversidade se refere as características das pessoas que fazem o trabalho, logo, uma estrutura de trabalho que incentiva a exposição à uma variedade de pessoas e ideias tende a promover a criatividade (Mumford et al., 2002). Decisões tomadas por equipes heterogêneas, tendem a resultados de maior qualidade. Membros da equipe com pontos de vista e experiências diferentes interpretam situações de maneiras diferentes. Ouvir e compreender essas visões, proporciona o aprimoramento das decisões (Angeloni, 2003).

No Núcleo de Criação os líderes apontam a necessidade de haver nas equipes um equilíbrio entre pessoas que pensam diferente e pessoas que pensam parecido. E2-3L1 observa “eu gosto das pessoas que pensam diferente, por provocação, adoro ser provocado, rolar discussões, me fazer voltar no outro dia e dizer que estou errado, mas ter pessoas que entendem é muito bom, então acho que o equilíbrio das coisas é o melhor”. O líder E1L1 ressalta que sua equipe possui diferentes perfis de personalidade, “se a gente tiver todo mundo igual, vai ficar a coleção sempre igual, se todo mundo for tudo doido, a gente vai viver se brigando e não concordando com nada, então a gente tem que sempre ter um equilíbrio de pessoas”.

O líder E4L1 considera “se você tiver uma pessoa que pensa totalmente diferente dos propósitos da organização e os particulares seus, você vai ter dificuldade de entrosamento, porque é um coletivo, então ela pode te propor inovações, novas ideias e formatos, mas tem que convergir com alguma coisa”. Com os crescentes níveis de diversidade nas organizações, é necessário encontrar formas de impedir que as diferenças entre os colaboradores prejudiquem a comunicação e a coordenação das atividades (Liang, Shih, & Chiang, 2015).

A diversidade na equipe colabora para a criatividade e ideação coletiva, porque as diferentes formas de pensar e criar, proporcionam a diversidade dos produtos em uma coleção de moda. Este fato observado, pode ser exemplificado nas seguintes opiniões:

“Na hora de uma imersão, por exemplo de uma ideia, ele (líder) gosta de construir com ideias diferentes, para que a gente consiga contribuir um pouquinho de cada, porque as vezes vem uma ideia solta de uma pessoa que tu não estás imaginando, que largou aquilo ali, e faz sentido para o que a gente estava querendo construir” (E2M4). “Tem momentos que a divergência é bacana, um exemplo dessa mulher moderna, romântica e tradicional, então quando tem essa mistura, eu acho que o negócio anda, por exemplo, a estilista 1 é mais prática, gosta de uma roupa mais prática, a estilista 2, ela faz uma roupa um pouco mais diferenciada, a estilista 3 já é mais ousada, então é até bom” (E6L1).

No contexto do Núcleo, observou-se que a diversidade de perfis e competências individuais nas equipes permite maior troca de informações entre seus integrantes e colabora para o aprendizado, que pode ser observado na fala do entrevistado E1M7 a respeito do seu líder, “quanto mais diferente for a pessoa mais ele gosta, porque ele enxerga que a pessoa mais tende a contribuir, a ensinar. Porque se as pessoas são iguais, automaticamente a gente não vai aprender tanto, quanto mais diferentes são as pessoas, mais aprendizado ela consegue passar”. Para aumentar a eficácia coletiva e a criatividade das equipes, líderes podem se beneficiar com a composição de pessoas com alto nível de afeto positivo. A seleção de indivíduos com disposição afetiva, pode ajudar a equipe a manter um elevado nível de afeto positivo entre seus membros (Kim & Shin, 2015). Comportamentos de extroversão também podem ajudar em condições desafiadoras, como um ambiente mais diversificado. Pessoas extrovertidas podem aprender mais sobre o outro e familiarizar-se por meio de interações sociais, minimizando a categorização social, o favoritismo e os estereótipos (Liang, Shih, & Chiang, 2015).

Nas equipes todos papéis são importantes, pois representam padrões de comportamento que estão inter-relacionados com as atividades de outros integrantes em busca de um objetivo comum (Driskell, Driskell, Burke & Salas, 2017). O líder pode implementar

estruturas de geometria variável, onde os indivíduos ocupam diferentes papéis na execução

das tarefas, facilitando o aprendizado, o conhecimento mútuo e a cooperação (Le Boterf, 2003). Percebeu-se nas atividades laborais, que a ocupação por parte dos integrantes da equipe em diferentes papéis, permite que eles possam aperfeiçoar suas tarefas em razão de acompanhar as várias fases de um processo. E1M1 explica, “ele (líder) troca bastante entre nós para estarmos conhecendo como um todo a coleção. Não apenas cada um fica com sua parte”.

Em complemento E1M2 diz que seu líder prefere “que todo mundo faça tudo na equipe, pois traz a união e também o desenvolvimento pessoal de cada um”. O líder E5L1 percebe, “eu acredito que as pessoas fazendo mais coisas elas vão ter a possibilidade de aprender muito mais, e trazer muito mais ideias para o produto, para a fábrica, para o todo”.

O entrevistado E1M7 expressa que a forma de trabalho na equipe era um pouco individualista, sendo cada estilista responsável por um segmento. Depois que o líder entrou na equipe, ele implementou a dinâmica de todos os estilistas fazerem todas as linhas de vestuário da marca, “quando ele entrou aqui, ele entrou com uma ideia, porque eu acho sensacional, porque dá experiência para gente em todos os ramos, que todas as estilistas fazem tudo [...] hoje ele faz questão que a gente saiba fazer de tudo”. E1M6 reforça “trazer essa troca e ter essa experiência entre as outras meninas eu achei legal, até por elas se sentirem dentro disso, então assim, todas já passaram por todos tipos de construção de produto, o que eu acho muito bom [...] a gente consegue ir colaborando junto”.

O entrevistado E4M3 retrata a questão da oportunidade de aprendizado, “a gente faz bastante troca, eu por exemplo, já fiz todas as marcas, ele (líder) vai fazendo testes [...] hoje está bem redondo o cada um faz, mas já chegamos a fazer rodízio, já fizemos de tudo dentro do núcleo, então é legal que a gente aprende sobre vários nichos”. Os entrevistados ainda ressaltam que seus líderes possibilitam que seus membros ocupem vários papéis para que tenham conhecimento de várias funções, visto que auxilia a execução das atividades na ausência de algum colaborador e no melhor desempenho da equipe.

Observou-se que a implementação de estruturas de geometria variável possibilita que o aprendizado da equipe seja aprimorado. Para Kozlowski e Bell (2020) o aprendizado da equipe tem por base os processos individuais de aprendizagem, incorporando mecanismos sociais como colaboração, integração e troca de informações. A aprendizagem surge de indivíduos interagindo com seus colegas de equipe para coordenar ou compartilhar informações. Essas interações moldam o aprendizado individual e coletivo dentro da equipe, que surgem ao longo do tempo como resultado da compilação de conhecimentos.

A Tabela 16 apresenta as diretrizes utilizadas pelos líderes referentes a composição da equipe que colaboraram no desenvolvimento de competências coletivas.

Tabela 16

Diretrizes do líder na composição da equipe

A escolha dos membros para formação da equipe e sua alocação em determinadas funções, precisa ser realizada buscando uma combinação de perfis que possibilite a melhor interação e colaboração entre estes profissionais. Um quadro de pessoal adequado, com diferentes bases de conhecimento e uma interação social saudável, propicia que a equipe obtenha a complementariedade das competências individuais de seus integrantes e desenvolva suas competências coletivas. O líder precisa conhecer o potencial individual de cada colaborador, com o objetivo de compor uma equipe que trabalhe de maneira suficiente para o alcance de tarefas propostas.

Com base no exposto, algumas diretrizes na composição da equipe podem ser utilizadas pelos líderes visando desenvolver as competências coletivas: 1) manter a diversidade na equipe, diferentes tipos de pessoas e ideias viabilizam diferentes pontos de vista e experiências para a equipe, promovendo a inovação, o aprendizado, a criatividade e maior diversidade de produtos; 2) implementar estruturas de geometria variável, permite aos indivíduos da equipe aperfeiçoar a execução das tarefas, um melhor conhecimento sobre atividades, vivenciar experiências profissionais e aumentar a cooperação coletiva.