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5.1 Elementos Constitutivos das Competências Coletivas

5.1.1 Sensemaking

O sensemaking é visto como um processo significativo que compreende o desenvolvimento retrospectivo de imagens que racionalizam o que as pessoas estão fazendo (Weick, Sutcliffe, & Obstfeld, 2005). É o fazer sentido, podendo ser compreendido como as equipes constroem e descontroem o ambiente em que trabalham no que se refere à eventos anteriores (Allen, Reiter-Palmon, Crowe, & Scott, 2018). Corresponde a capacidade de estabelecer significados compartilhados e uma maneira de entender como uma equipe é processada, ou seja, toda equipe é como um processo, algo que as pessoas podem fazer e não como uma coisa ou entidade formal, mas sim, como uma construção social em andamento (Einola & Alvesson, 2019).

A produção do sentido está associada aos sistemas, estruturas, rotinas e papéis (Weick, 1993) e construída por meio da linguagem (Boreham, 2004a; Hansson, 2003; Weick, Sutcliffe,

& Obstfeld, 2005). Nesta perspectiva, Klein e Bittencourt (2012) estabelecerem três elementos que envolvem o sensemaking no que se refere a constituição das competências coletivas: contexto, papéis e comunicação.

O processo de sensemaking é favorecido por um contexto ou estrutura que propicie um ambiente positivo para as ações realizadas pelas equipes (Frohm, 2002; Hansson, 2003; Klein & Bittencourt, 2012; Le Boterf, 2003; Weick, 1993). Para compreender o contexto das atividades do Núcleo de Criação torna-se necessário abordar os aspectos que interferem no processo de construção de sentido para o desenvolvimento das coleções. Encontram-se como aspectos relacionados: os valores da empresa, o cronograma e as metas.

Os valores do Grupo (entusiasmo, simplicidade e obsessão por resultados) fazem-se presentes nas equipes e contribuem para o sentido ao trabalho coletivo, E1M7 relata que “uma das coisas que eu mais gosto do Grupo Lunelli são os valores da empresa, eles estão caracterizados em 90% dos funcionários. Eu já trabalhei em outras duas empresas que eu nem sabia os valores, porque isso não era presente no dia a dia de todo mundo”. Em complemento, E1M6 exemplifica:

“Os valores da Lunelli até eu já vejo muito forte identificado dentro da equipe, porque assim, tem um entusiasmo, que isso eu acho que é o que mais tem, principalmente vindo do líder, ele tem bastante energia, então ele contagia todo mundo [...]. Tem também, a obsessão por resultados. Acho que a gente tem muito, nessa questão de ambição, de querer chegar longe [...]. E a simplicidade também, porque a gente tem muito, essa coisa assim de, ter um diálogo aberto, entre todos assim, ter essa simplicidade”.

A união e a dedicação também foram valores percebidos nas equipes. O entrevistado E2M4 afirma que mesmo com divergência de opiniões entre os membros, a equipe procura de forma conjunta atingir um bom resultado, sendo a união responsável por colaborar na construção deste resultado. E a dedicação, por independente das dificuldades, as pessoas se dedicam e fazem o melhor pela marca.

Observou-se no trabalho diário que os cronogramas e as metas diárias são aspectos que fornecem sentido ao contexto das atividades para todas as equipes do Núcleo de Criação. O entrevistado E1M1 diz que “a gente, na verdade, se programa tudo através de metas e cronogramas”. Os relatos a seguir abordam esse aspecto:

“A gente recebe um cronograma [...] e dentro daquilo a gente tem algumas metas de entrega, entrega de estampa, entrega de desenho, apresentação da própria coleção inteira, então dentro daquilo a gente vai programando as atividades”. (E5M2).

“O líder passa para gente a cada coleção um cronograma, então ele programa tudo o que vai acontecer durante a coleção, se vai ter viagem, se vai ter férias, se vai ter que visitar representante [...] a gente recebe um cronograma para gente se planejar”. (E4M4).

Desta forma, a definição dos papéis é fundamental para o cumprimento das metas e cronogramas nas equipes, conferindo sentido às suas ações. O processo de sensemaking social é uma parte essencial da formação de equipes (Einola & Alvesson, 2019), pois tem fundamento na estrutura social de interação por intermédio de um sistema de papéis definidos e interconectados (Frohm, 2002; Hansson, 2003; Klein & Bittencourt, 2012; Sandberg, 1996; Weick, 1993).

O líder E1L1 reconhece que os colaboradores possuem papéis definidos na equipe por meio de atividades interconectadas, sendo que na manifestação de algum imprevisto, a equipe considera o coletivo, e através da colaboração, as atividades são cumpridas no prazo definido. E3M1 complementa afirmando que os papéis são interdependentes, em que os indivíduos necessitam realizar trocas para que ocorra a complementação de seus papéis.

Na Equipe 4 o papel de cada membro é fundamental para o resultado final seja alcançado, “eu acho que tudo praticamente a gente precisa de todas as pecinhas para funcionar, é uma engrenagem, e cada um tem um papel muito importante” (E4M3). O entrevistado E4M2 considera que “cada um fazendo a sua parte, sua função, faz o conjunto todo, que é a coleção final” (E4M2). Na Equipe 6 alguns papéis são definidos com base nas metas e cronograma, e outros, definidos conjuntamente pela equipe com a condução e direcionamento do líder, conforme apontando por E6M8.

Na criação do sentido coletivo é destacado a importância da comunicação como um componente central (Weick, Sutcliffe, & Obstfeld, 2005). Portanto, a linguagem é considerada de suma importância para construção de sentido do trabalho (Boreham, 2004a; Hansson, 2003), evidenciada por uma linguagem compartilhada, pelo qual se desenvolve um vocabulário comum entre os membros da equipe (Le Boterf, 2003; Retour & Krohmer, 2011).

No Núcleo de Criação a utilização de termos técnicos e uma linguagem compartilhada nas equipes foi percebido como comum no processo de comunicação diário. E2M4 reconhece que algumas palavras técnicas são criadas e acabam sendo incorporadas pela equipe, “eu tenho uma estampa que dá um “efeito couro”, daí eu vou lá e crio, a “estampa efeito couro” na minha cabeça, daí eu compartilho [...] porque eu acabei dizendo que era “efeito couro”, e agora a gente já sabe qual é a estampa “efeito couro””. Essa linguagem compartilhada própria, reforça o sentido coletivo do trabalho, como exemplificado:

“Uma coisa que eu criei, que a gente acaba usando muito, é por exemplo “chubis” – Ai que “chubis”! – que é uma peça quando ela é muito fofinha, muito bonitinha, as vezes eu tô lá com os desenhistas – Ai, tá “chubis”! – ele já entendeu que tá ok sabe?, então assim, a gente vai criando [...] a gente fala muito questão da “senti cheiro de dinheiro”, “tô escutando barulhinho de dinheiro caindo do céu”, uma peça que é sucesso, a gente já tá vendo que vai vender muito, aí é – Cheiro de dinheiro aqui –, sabe” (E1M6).

A utilização de uma linguagem comum é percebida pelos desenhistas que se utilizam de algumas palavras para expressar técnicas de desenho e agilizar o processo de comunicação, como exemplificado pelos entrevistados: “utilizamos “dá um plin” ou “põe um ponto de luz”, por um ponto de luz significa colocar uma cor diferente da cor que a gente já tem, e dar um plin, é fazer um ajuste fino no teu layout” (E1M3) ou “a gente utiliza “bota um gelzinho”, que é fazer um efeito diferente” (E3M2).

Nas equipes também ocorre o uso de linguagem ligada a identificação da equipe com a marca. E2-3L1 retrata que sua equipe utiliza o slogan da marca “born to fly”, relacionado à aviação, para se intitular como uma equipe que “nasceu para voar”. E2M1 explica: “Equipe “born to fly”, a gente sempre fala isso [...] que na marca é nascer para voar. É algo que está ligado à marca e a gente fala, [...] quando a gente atinge a meta de vendas, a gente fala a equipe “born to fly”. Outros termos de identificação são utilizados como por exemplo, “denim lovers”, “coração azul” e “sangue azul”, que remetem a relação da equipe com o universo do jeans, aponta E4M4.

O termo “sala branca” é muito utilizado por todas as equipes do Núcleo, pois representa o local em que acontece as aprovações de coleção. Sua origem é explicada pelo líder E5L1:

“A gente tinha uma necessidade [...] um ambiente que a gente conseguisse fazer aprovações de coleção, e nós aprovávamos as nossas coleções no auditório do Grupo Lunelli. É uma sala que tem carpe, uma sala mais intimista, uma sala mais escura, mais fechada e a gente entendia que o produto precisava aparecer mais. A gente precisava ter um ambiente maior, que a gente conseguisse pendurar a coleção inteira, todas as peças [...] Então nós juntos com a diretoria, a gente precisava de um ambiente mais clean, mais aberto, e grande, que a gente conseguisse pendurar todas as peças, e ai surgiu a sala branca, e ficou a sala branca porque ela foi pintada toda de branca, pras peças se destacarem”.

Na Equipe 5 os entrevistados relatam que as nomenclaturas das estações nas coleções são abreviadas. A coleção “prima” se refere a primavera-verão, a coleção “alto” se refere ao alto verão e a coleção “trop” se refere a tropical. Estes termos muitas vezes precisam ser adaptados para comunicação com outros departamentos do Grupo, conforme relatado:

“A gente abrevia, e também a gente chama assim pelo habito né, “prima”, “alto” e na nossa cabeça a gente já sabe qual coleção está falando, que é sempre a mais atual. Mas se eu estivesse falando com marketing, pode ter uma confusão, porque o marketing vai estar trabalhando com uma estação anterior. Então assim, se eu falei “alto”, ele pode achar que é “alto” 19-20, e eu já estou trabalhando no “alto” 20-21. Também tem a questão de que a gente fala comercialmente pros representantes, a gente não chama mais primavera, alto-verão ou inverno, a gente chama pelo nome fantasia da coleção, a coleção natural, solar, destinos”. (E5M3).

Na Equipe 6 as coleções são chamadas pelo nome temático da coleção, inspiradas no local em que a equipe realizou sua viagem de pesquisa, “a gente não trata mais alto verão, primavera, mas sim, o nome da coleção, isso foi uma coisa que a gente foi desenvolvendo com DNA de marca, para deixar de seguir tanto tendência e sermos mais essência [...] a gente não vende uma coleção, a gente vende uma história” (E6L1). Nesse sentido E6M5 exemplifica, “daí eu paro de chamar a coleção de primavera 20, e começo a chamar a coleção de Viva La Vida, é meio automático assim”.

Conforme observou-se no ambiente de trabalho, os elementos (contexto, papéis e comunicação) que envolvem o processo de sensemaking, contribuem para a formação de sentido de trabalho nas equipes. O contexto das atividades propicia um ambiente que forneça sentido às atividades laborais, como os valores, cronogramas e metas. Os papéis definidos e interconectados permitem tornar significativa a execução das tarefas. E a comunicação, por meio de uma linguagem compartilhada entre os membros, possibilita a criação de sentido as experiências da equipe.