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5.4 Atuação do líder no desenvolvimento de Competências Coletivas

5.4.4 Integração da equipe

O desenvolvimento da competência coletiva provém da socialização, que desenvolve a compreensão do processo de trabalho e o compartilhamento de conhecimentos pelos membros da equipe (Sandberg, 2000). As práticas de relacionamento mobilizam a configuração das competências coletivas, combinando eventos e ações voltadas para integração e cooperação no trabalho individual (Silva e Ruas, 2014).

Líderes devem incentivar sua equipe promovendo a integração das atividades (Mumford et al, 2002). O processo de integração da equipe é um esforço contínuo e precisa ser nutrido por meio de relacionamentos com uma cultura certa e comportamentos adequados (Ibrahim, Costello, & Wilkinson, 2013). As interações afetivas possuem relação com a elevação da produtividade, pois as pessoas passam a fazer mais do que foi exigido. Relações afetivas podem ser vistas como mecanismos que possibilitam o bom andamento das atividades e maior integração entre os membros da equipe (Lima & Silva, 2015).

O líder é capaz de promover a identidade da equipe por meio de atividades internas, ajudando seus membros de diferentes cargos e funções a terem uma melhor consciência dos outros integrantes e de suas responsabilidades. Com foco interno, líderes podem permitir que as pessoas trabalhem em conjunto de maneira eficaz, aumentando o compromisso da equipe na realização dos objetivos (Benoliel & Somech, 2015). Assim, o líder pode usar cerimônias e

rituais para desenvolver a identificação coletiva, ou seja, buscar formas de reconhecimento

por meio de integrações de conquistas ou acolhimento, para que as pessoas se sintam parte da equipe e tenham o desejo de trabalhar em conjunto (Yukl, 2013).

Observou-se nas equipes a realização de cerimônias de comemoração referentes a finalização de coleção e o alcance das metas de vendas. O líder E1L1 comenta que costuma realizar comemorações, “já fizemos festa na minha casa, quando a gente fechou a coleção de inverno, então fizemos a noite da pizza na minha casa, eu contratei karaokê, então comemoramos quando fechamos uma coleção”, o entrevistado E1M2 reconhece o benefício dessas comemorações “ajuda a equipe a ter mais interação entre nós”.

Com relação ao alcance de metas das equipes, percebeu-se os líderes realizam pequenas comemorações com seus integrantes para comemorar o sucesso da coleção e agradecer o empenho de cada colaborador nesta conquista. O entrevistado E6M6 manifesta “quando bate metas, essas coisinhas, ele (líder) faz nem que seja no setor um balãozinho, esses tempos tinha meta batida, balões dourados, coisinhas assim ele sempre tenta motivar nesse sentido”, em complemento o entrevistado E5M3 reforça:

“Quando a gente bate a meta, ele (líder) reúne a equipe inteira, até chora, fala e agradece, e aí todo mundo se emociona junto, [...] as vezes até tem umas pessoas que dão seu depoimento [...] ele faz questão de realmente agradecer e fazer sentir parte daquela conquista, não é algo a empresa bateu a meta [...]. Porque eu ajudei na criação, o desenhista ajudou na arte e outro ajudou na modelagem”.

As equipes também costumam comemorar em conjunto quando todas as marcas do Grupo atingem a meta de vendas, “teve o café depois da viagem, em comemoração as metas do ano. Partiu dos líderes, os líderes em conjunto se juntaram e fizeram o café [...] eu acho que é uma empresa bem humana, que se preocupa com as pessoas no geral” (E6M9).

A realização de rituais para receber ou se despedir de membros da equipe é realizada por alguns líderes do Núcleo de Criação. Quando entra algum integrante de fora ou que já faz parte do Grupo, os líderes costumam fazer um ritual de apresentação, “sempre fazemos um ritual, a gente sempre chama, explica quem é, como que vai ser, a gente apresenta, a equipe sempre dá um abraço – Seja bem-vinda – e quando entra alguém novo, até nos setores a gente leva” (E6L1). Os líderes também enfatizam a importância do acolhimento do novo membro, para que ele possa se sentir parte da equipe, “ele (líder) pede para gente acolher a pessoa, toda vez que a gente recebe alguém [...] então é uma maneira de você quando está de fora, você se sentir tipo assim – Quero estar nessa equipe, porque eles são muito queridos –” (E4M4).

Nos rituais de despedida o líder E6L1 questiona ao colaborador que foi desligado da equipe, se ele quer se despedir sozinho ou que seja acompanhado pelo líder, “quem é desligado prefere ir sozinho, ou as vezes não ir, eu deixo bem livre, mas quando a pessoa vai buscar outros caminhos e oportunidades, a gente sempre pega a pessoa, vamos em uma sala, reúne todo

mundo, explica a situação, a pessoa se despede, abraça todo mundo”. Com a promoção e o aprimoramento da construção de um relacionamento entre os membros de uma equipe, o líder pode contribuir para desenvolver uma identidade comum e melhorar a cooperação dentro da equipe. Um senso aprimorado de identificação da equipe pode levar um nível mais alto de sua eficácia (Benoliel & Somech, 2015).

A identificação coletiva representa o significado emocional que os integrantes de uma equipe atribuem à sua participação nessa equipe, ou seja, a sua sensação de pertencimento (Van Der Vegt & Bunderson, 2005). Essa identificação ilustra como os integrantes se definem em termos de valores, objetivos, atitudes e comportamentos que compartilham com outros (Tse & Chiu, 2014), possibilitando indivíduos mais comprometidos com a equipe e seus objetivos, e mais capazes de trocar informações e aprender (Van Der Vegt & Bunderson, 2005). É importante que líderes promovam a identificação coletiva, criando uma combinação certa de interdependência de tarefas e objetivos entre os integrantes da equipe, e mostrem apoio e reconhecimento, para que desenvolvam juntos um histórico compartilhado (Van Der Vegt & Bunderson, 2005).

Líderes podem criar oportunidades para que os membros de sua equipe obtenham novos conhecimento e debatam novas perspectivas essenciais para a inovação da equipe. A integração da equipe em seu ambiente externo pode permitir que o líder ajude a equipe para que seus membros cumpram seus papéis de maneira eficaz (Benoliel & Somech, 2015). Percebeu-se então, que o líder pode incentivar e facilitar a interação social na equipe, buscando aproximar seus integrantes para aprimorar as relações de trabalho (Yukl, 2013).

A interação social foi percebida na maioria das equipes, os líderes propõem momentos de integração visando aproximar e criar vínculos entre seus integrantes. Algumas falas podem ser destacadas: “fora do trabalho, a questão de reunir as pessoas, apesar de ser uma coisa que não tem nada a ver com trabalho, ele acaba unindo a gente para trabalhar melhor” (E1M5), “quando a gente fala de outras coisas que não são de trabalho, a gente acaba entendendo mais como que é a outra pessoa, porque ela age assim, e fica mais leve o dia a dia, mais fácil trabalhar” (E5M3).

“A gente tem que ter um momento fora da empresa para reforçar nossos vínculos, talvez ele (líder) não deixe tão claro esse sentido, mas eu sinto que ele busca isso de alguma forma, que a gente tenha uma convivência extra para que aqui dentro fique mais leve, a gente foi pra Florianópolis agora, para fazer uma imersão, ele levou a gente com a estrutura da empresa, para um lugar bem bacana, olhar para as plantas, para ter uma nova visão, então isso fortalece o vínculo da equipe. A gente querendo ou não, tem o trânsito que é chato, mas é tão legal estar junto com a galera, a equipe, trocar né” (E1M3).

Na Equipe 5 o líder procura incentivar a interação e participação dos membros da equipe, não excluindo um integrante de alguma atividade ou passando informações para apenas uma pessoa, “ele (líder) quer que a gente realmente fique sempre muito juntos, unidos, integrados, que todos participem, é difícil ter exclusão. Ela sempre propõe que a gente esteja junto nas reuniões, o que tem para falar ela leva todos, é difícil ir um só, eu acho que isso é bem importante” (E5M4).

Verificou-se no dia a dia do Núcleo, que o líder também pode facilitar a interação social da equipe propiciando pequenos momentos de integração no dia a dia para promover um ambiente de trabalho em que seja possível se comunicar abertamente. O entrevistado E2M4 expressa “também na parte do carisma, rola uma comidinha, uma piada, acho que isso que faz a gente ficar mais junto, esses momentos de interação durante o dia”. E3M1 considera:

“Ele (líder) é super brincalhão, brinca com todo mundo, é tipo um parceiro, então isso querendo ou não, acaba unindo bastante, porque uma coisa é você ter um líder meio carrasco, que você fica criando uma barreira de querer falar com ele, e ele dá uma abertura nesse lado meio palhaço dele de ser, de você conseguir se comunicar bastante com ele”.

A interação da equipe promove o aprendizado, a inovação, o relacionamento (Drach- Zahavy & Somech, 2001) e principalmente, a confiança na equipe (Schabram, Robinson, & Cruz, 2018). A confiança é um fator importante para explicar por que os membros da equipe estão dispostos a concluir seus trabalhos juntos em uma configuração coletiva. A confiança cognitiva da equipe diz respeito a confiança cognitiva no líder da equipe e a confiança cognitiva entres os integrantes da equipe, ou seja, um construto bidimensional. Ela pode emergir na interação entre os membros da equipe e líderes ou também durante um processo de trabalho em equipe. Líderes devem trabalhar para ajudar a promover essa confiança cognitiva bidimensional, possibilitando facilitar o desenvolvimento da eficácia coletiva e a performance da equipe (Chou, Lin, Chang, & Chuang, 2013).

A Tabela 18 apresenta as diretrizes utilizadas pelos líderes referentes a integração da equipe que colaboraram no desenvolvimento de competências coletivas.

Tabela 18

Diretrizes do líder na integração da equipe

Fator Diretrizes

Integração da equipe: forma como o líder estabelece a interação e

relação entre os membros da equipe

Usar cerimônias e rituais para desenvolver a identificação coletiva: utilizar cerimônias para celebrar conquistas da equipe e rituais para acolher novos membros Incentivar e facilitar a interação social: estimular e possibilitar momentos para que os membros da equipe interajam socialmente

As competências coletivas envolvem uma ação conjunta em prol de objetivos comuns, sendo imprescindível que ocorra a integração dos membros da equipe para o alcance destes objetivos. As interações e o compartilhamento de saberes permitem que as equipes estabeleçam relações sociais para que a integração aconteça. O líder pode ser o responsável por criar um ambiente favorável que proporcione maior integração entre os colaboradores e oportunize relacionamentos amigáveis e afetivos. Por meio da socialização se verifica uma melhor compreensão das atividades de trabalho e do compartilhamento de conhecimento.

Destaca-se as diretrizes percebidas referentes a integração da equipe podem ser utilizadas pelos líderes visando desenvolver as competências coletivas: 1) usar cerimônias e rituais para desenvolver a identificação coletiva, possibilita que os integrantes se sintam parte da equipe, aumente o compromisso para alcançar os objetivos, enfatize valores e tradições e acolhimento de novos integrantes de forma afetiva; 2) incentivar e facilitar a interação social, propicia a aproximação e fortalecimento dos vínculos entre os membros da equipe, comunicação aberta e assertiva, e a união da para trabalhar em conjunto.