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Quando bem tivermos compreendido e assimilado os pontos acima expostos, suscetíveis de aplicação em qualquer religião, visto que possuem um significado universal, racional e, poder-se-ia dizer também, biológico e científico, podere- mos entrar em uma fase mais profunda, fase mística e intuitiva, em que não se procede à luz da razão, mas da fé, fase de atuação dos referidos pontos no seio do cristianismo, que é a mais elevada religião que o homem conhece. Deus, na Sua verdadeira essência, está tão acima de nossa capacidade intelectiva e afeti- va, que permanece inacessível à nossa natureza humana. Não somos capazes de amar e proclamar tal suprema abstração, em face da qual o coração e a mente se perdem. Devemos, por conseguinte, contentar-nos em nos aproximar de Cristo, mais acessível a nós porque é também forma, e forma humana.

Cristo, materialmente desaparecido da Terra e aos nossos sentidos com a Sua morte física, fica entre nós sempre presente em espírito e, de um modo particular, na Eucaristia. Ele quis, com esta Sua instituição, deixar um canal aberto para que nós pudéssemos nos comunicar com Ele. Este é o maior dom da Sua paixão. Nós nos propomos aqui utilizar justamente este canal para con- seguir a união com Cristo em uma forma que, de resto, não é nova, mas que, se já é admitida, não foi muito praticada e sentida; uma forma que, se pode pare- cer materialmente mais livre, exige em compensação uma disciplina espiritu- almente mais rígida, pelo menos se quisermos obter os resultados que lhe pe- dimos. As almas pias poderão recorrer a ela para integrar a forma material, renovando-a nesta forma espiritual, que pode ser praticada mesmo quando a outra não seja possível, quer pela hora, pelo lugar ou por outras incontáveis circunstâncias. A comunhão espiritual pode efetivamente ser praticada não só nos momentos e circunstâncias mais próprios, nos instantes de maior urgência e fervor, mas em qualquer hora e lugar, sem necessidade de jejum, todas as vezes que a alma sinta necessidade, com uma frequência que, de outra forma, seria impossível, até que se consiga assim, mesmo em meio às nossas ocupa- ções, uma contínua e completa união em Cristo.

Esta forma de comunhão, sendo espiritual, não pode deixar de assumir, por esta sua própria natureza, uma forma mais individual e espontânea, relativa à natureza de cada alma. É difícil assim traçar-se normas gerais, porque cada um irá adaptá-la a si mesmo, e não se pode, nem como guia, configurar preces com palavras e formas. Cada alma dirá, com plena sinceridade e efusão, o que

ela mesma é, expondo de acordo com as suas necessidades, mas, sobretudo, ouvirá consoante a própria capacidade de ouvir. Nenhum constrangimento lhe é imposto, nenhuma linha lhe é traçada, senão os princípios gerais acima ex- postos, porque ela deve dizer as coisas que verdadeiramente sente, que brotam de si mesma, jamais abandonando-se a repetições mecânicas no trabalho de lábios, e não de espírito. É justamente esta realidade interior que pode faltar mesmo na mais perfeita execução das formas materiais de comunhão; é esta realidade interior que deve, de maneira absoluta, ser posta em primeiro plano e tudo reger; é ela que, quando tudo o mais tenha caído, deve subsistir em toda plenitude. Não é, pois, possível conseguir a comunhão espiritual com o espíri- to ausente, com a alma errante, sem a mais completa e vibrante adesão de nós mesmos.

É lógico que, tratando-se de um puro ato de amor, presume-se como prepa- ração, de modo absoluto, um perfeito ato de dor com respeito às próprias fal- tas, isto é, uma dor verdadeiramente sentida por haver violado a lei de Deus e desobedecido à Sua vontade. Seria verdadeiramente ofensivo, em um ato de amor tão puro, introduzir, justamente no momento de cumpri-lo diante de Deus, cálculos de interesse referentes ao próprio prejuízo pelo inferno mereci- do e pelo paraíso perdido. Ao menos neste supremo momento de união com Cristo, deve-se banir completamente todo o egoísmo humano. Para alguns, isto será difícil, e só quem for capaz poderá consegui-lo. Mas, se quisermos obter resultados verdadeiros nesta comunhão, não há outro caminho a seguir. Quem não estiver amadurecido não pode compreender e deve ocupar-se com outra coisa. Para estes, a Eucaristia é verdadeiramente um “mysterium fidei”8, algo incompreensível, de que só pode avizinhar-se com: “credo quia absurdum”9. É questão de evolução e relativa sensibilização. Mas quem atingiu a maturidade biológica e, com ela, a necessária sensibilidade nervosa e espiritual, quem con- seguiu, contrariamente ao comum, ser mais vivo no espírito que no corpo, po- derá então “sentir”na Eucaristia a real presença de Cristo; e “sentir” a tal pon- to, que poderá estabelecer o colóquio. Esta é a evidência máxima que supera qualquer demonstração ou esforço de fé.

É justamente na prática da comunhão espiritual que a alma procura educar- se ainda melhor para esta sensibilização, estabelecer a comunicação, aprofun-

8 “Mistério da fé” (N. do T.)

dar a sensação, progredindo sempre para Deus. Esta prática pode ser, pois, para as almas eleitas, um grande meio de elevação espiritual. É certo que Deus, do centro, faz pressão para alcançar as Suas criaturas, mas, frequente- mente, as forças do bem não podem passar, porque os canais estão obstruídos por mil detritos e atravancamentos espirituais. É certo também que as forças do mal, que personificamos em Satanás, tudo fazem para manter esses canais fechados e, cada vez mais, acumular obstáculos à passagem das correntes be- néficas. Mas é igualmente verdade que, simplesmente pela vontade humana, um e outro canal abre-se ao fluxo livre das radiações divinas, podendo se for- mar assim um bom condutor para a corrente espiritual, através do qual ela po- de passar. Então, as forças do bem precipitam-se álacres e abundantes por essa via, que lhes permite a expansão, porque assim é a Lei. E a vida, que fala no coração dos homens, constringe-os instintivamente a sentir e reconhecer, nes- ses seres que servem de conduto à vontade divina, o mais alto e precioso valor biológico, ao qual está cometida a incumbência de alimentar-nos e salvar-nos. Estas atividades espirituais aqui expostas são, pois, preciosas não só para o indivíduo em sua ascensão, mas também para o bem de todos.

Começamos, desta maneira, a nos aproximar do ponto culminante da co- munhão espiritual, que é a sensação do contato e da união com Cristo, recons- truindo em nós, isto é, revivendo espiritualmente, como conceito e como sen- timento, a sublime cena da Última Ceia. Quem não a tiver presente, já impres- sa na alma, pode recorrer à leitura dos evangelhos. Estes contém um imenso material para meditação. Pode-se chegar, assim, a atingir a formação em nós e em derredor de nós de uma atmosfera espiritual onde vibra como que um eco daqueles sentimentos que, de um lado, foram sublimes em Cristo e, de outro, comoventes nos discípulos; sentimentos de alta paixão espiritual, como os que se agitaram no cenáculo, naquela hora suprema de amor e de dor. Deve-se procurar alcançar um estado de identificação espiritual; em outros termos, al- cançar a presença em espírito de todo o drama vivido, gradativamente come- çando da representação da cena material e, aos poucos, ascendendo através dela, penetrar sempre mais na sua íntima compreensão, cada vez mais profun- da, até à efusão espiritual. Começa-se por concentrar a própria atenção na figu- ra de Cristo, observando o pensamento, o amor, a paixão d'Ele naquele mo- mento, procurando penetrar o sentido do Seu supremo sacrifício. Aproximar- nos-emos, assim, paulatinamente, da visão da Eucaristia, da percepção do seu

verdadeiro conteúdo e significado. Abriremos, desta forma, pouco a pouco, as vias à comunhão espiritual com Cristo, que se dá então a nós nesse momento.

Inicialmente, nesta ascensão, a nossa gradual elevação de tensão será difi- cultosa e lenta. Tudo depende da nossa pureza. É necessário, como primeira condição, que a alma, antes de entregar-se a estes atos espirituais, que consti- tuem uma verdadeira realidade e atividade no imponderável, se haja destacado de todas as coisas terrenas, pela compreensão de tudo quanto foi acima expos- to, encontrando-se já distanciada e bem acima delas. É indispensável, para isso, estar habituado à concentração, saber isolar-se do ambiente na meditação. Nisto pode ajudar-nos a solidão, quer ao ar livre, quer em casa, como também em uma igreja que seja silenciosa, pouco frequentada por perturbadores, reco- lhida e, sobretudo, pobre. Tudo quanto é luxo humano profana esses contatos de espírito. Não importa tanto o lugar, mas sim a atmosfera espiritual de que ele se constitui, as radiações de que está saturado, pois que a base de tais fe- nômenos é a sintonização de vibrações. Há ambientes que parecem esplêndi- dos, no entanto são espiritualmente surdos, e há ambientes paupérrimos, como por exemplo São Damião, em Assis, mas riquíssimos de sonoridade e resso- nâncias espirituais. Cada um deve escolher, de acordo com a sua natureza, todos os meios que sentir serem no seu caso coadjuvantes do processo de sin- tonização com o centro, para o qual se dirige e em torno do qual gravita. A alma pode seguir nisto as suas simpatias e atrações, mas deve lembrar-se de que aquilo que sobretudo forma a sintonia é a natureza dos seus pensamentos habituais, pensamentos de cada instante de sua vida, mesmo os que estejam fora do mundo; é o seu caráter e tipo; é a natureza das obras de que ele vive; é a sua afinidade conseguida com o Alto. Comunhão quer dizer de fato adesão, contato de espírito, ensimesmamento, fusão, identificação. Ela se baseia na afinidade. É necessário, pois, que procuremos avizinhar-nos o mais possível de Cristo desta maneira, tendo antes já nos avizinhado d'Ele em todas as manifes- tações de nossa vida. Pode-se alcançar tudo isto, mas é necessário uma disci- plina que nos transforme radicalmente. O objetivo é exatamente uma matura- ção e ascensão de todo o nosso ser. O exercício e o hábito abreviarão e facilita- rão essas fases iniciais.

Façamos, pois, o que saibamos e possamos para abrir a nossa alma e escan- cará-la às radiações divinas, deixando-nos inundar por elas, recebendo-as e tornando-as nossas, vibrando com elas em todo o nosso ser. Quando tivermos, de nossa parte, tudo feito para sintonizar-nos; quando tivermos sabido tornar-

nos receptivos, mais por abandono do que por esforço; quando, subindo em espírito, tivermos conseguido abrir o canal e estabelecer assim uma corrente entre emissor e receptor, então basta: a nossa parte está feita e a nossa tarefa executada. Abertas as portas, a luz entra por si. Aqueles que não estejam habi- tuados ao trato com coisas espirituais de tal profundidade, não se amedrontem. Deus, que, no outro extremo, deseja a união muito mais do que a próprio cria- tura e pode muito mais do que esta, virá em seu auxílio, porque tudo isto está na linha da ascensão, que é o ponto mais vital e central da lei divina. A alma nada mais tem a fazer, senão secundá-la, permitindo-lhe a atuação. Sem dúvi- da, quanto mais se é evoluído, tanto mais fácil é percorrer rapidamente e com mais sucesso esse caminho. As almas preguiçosas, gélidas, egoístas, fechadas em si mesmas e incapazes de um grande impulso de paixão, ainda que religio- sas, ainda que carregadas de uma montanha de práticas formalísticas e mecâ- nicas, são as mais distanciadas dessas realizações espirituais e as que mais necessitam de maturar-se. Mas tenhamos fé, porque Deus está presente em toda a parte e também a elas auxiliará.

Continuemos. Uma vez estabelecida a comunicação por meio do desejo e da prece, a comunhão é espontânea, calma, profundamente vibrante e sem choques. É como que um deslizamento pelo ar. As sacudidelas do desprendi- mento da terra cessaram, e tudo se acalma, parecendo imóvel. Nem sempre conseguimos estabilizar-nos na alta velocidade do voo e nele manter-nos em equilíbrio. Como quem sobe a vertente de um monte, em terreno irregular, escorregaremos às vezes para trás, nos deteremos às vezes, ora baixamos ora subimos, mas continuamos sempre, cada vez mais alto, até atingirmos o cume desejado. Assim, quando tivermos chegado a obter o estágio colimado, estabi- lizando a passagem do fluxo espiritual, por haver eliminado todo o material obstrutor, então sentiremos a radiação divina descer em amplas ondas, en- chendo-nos a mente de pensamento, o coração de sentimento, saciando-nos de potência, nutrindo-nos de energia, iluminando, confortando e alimentando todo o nosso ser. Nessa altura, tudo se harmoniza e se potencializa dentro de nós. As mesmas energias, em vez de divergirem e se atritarem reciprocamente em lutas e conflitos, agora convergem e colaboram entre si para produzir um rendimento máximo. Adquiriremos, então, a potência que é própria dos siste- mas de forças equilibradas. Uma nova harmonia, que tem sabor de paraíso, começará a invadir o nosso ser, penetrando-o gradativamente; primeiro, no plano espiritual; a seguir, nervoso; depois, orgânico, até atingir a medula dos

nossos ossos, imprimindo no indivíduo todo um ritmo de vida mais elevado e benéfico. Isto permanecerá em nós como um eco doce e poderoso e se estabili- zará, emprestando-nos uma vitalidade nova, que cicatrizará primeiro as nossas feridas morais, depois materiais, começando por nós e invadindo a seguir o nosso ambiente. Uma nova força nos fará superar as dificuldades das provas e as angústias da vida. No mundo orgânico, não é tudo regido, ainda que através de inúmeras passagens graduais, pela energia que desce do Sol para a Terra? Assim também, no mundo das forças espirituais, tudo é regido pela potência que de Deus desce às almas. Quando estes mais elevados planos do espírito são atingidos, a oração se torna audição e a alma não mais fala, mas ouve e recebe. Então, ela nada mais tem a dizer e não faz senão ouvir à voz de Deus, nutrir-se de Sua potência e deixar-se conduzir pela Sua vontade.

Quando a ciência define como alucinatórias semelhantes sensações, rele- gando-as em massa, sem discriminação, para o domínio do patológico, não sabe o que diz nem o que faz. Trata-se, como já dissemos, de realidades expe- rimentais e objetivas, se bem que de realidades sobrenaturais, que escapam a quem não tem os sentidos para percebê-las e, por conseguinte, as nega. Mas o homem, com o tempo, evoluirá e então compreenderá. Hoje, faltando a sensi- bilidade necessária para a percepção, para a admissão de um fato que está além da razão, como seja a presença de Cristo na Eucaristia, não há outra via senão a da fé.

Dado que este escrito se dirige ao ser humano atual, é necessário insistir sobre o que, para ele, constitui a parte mais difícil a percorrer, isto é, a que prepara a sintonização. Para isto, aconselhamos a reconstrução interior do am- biente espiritual da Última Ceia no momento da instituição da Eucaristia, mo- mento que seria de uma grandeza terrificante, se tudo nele não fosse feito de amor, em que Cristo se sacrifica e tudo dá, esquecido da própria grandeza, de tal maneira que desce até ao nível da natureza humana. Ora, em nada encontra- remos tão poderosamente reconstruída, atual e presente, em sua sensação mais vívida e profunda, a substância espiritual desse momento como no sacrifício da missa. Basta apenas seguir-lhe o desenvolvimento em espírito, ainda quan- do, materialmente, não se possa estar presente. As próprias fórmulas do rito, pelo menos as mais importantes, repetidas com todo fervor, poderão ser um ótimo guia para o preparo da Comunhão Espiritual.

Sigamos, pois, o sacrifício da missa e concentremos a nossa atenção no momento culminante da elevação, repetindo as mesmas palavras do sacerdote,

as mais vitais, aquelas que ele realmente pronuncia em voz baixa, como que para subtraí-las à profanação do público distraído. Repitamo-las, meditando, procurando senti-las em profundidade, em um crescendo de paixão e aproxi- mação:

“Accepit panen in sanctas manus suas et elevatis oculis in coelum, gratias agens benedixit, fregit, deditque discipulis suis dicens10:

“Accipite et manducate ex hoc omnes: hoc est enim corpus meum11.

“Accipit et bibite ex eo omnes: Hic est enim calix sanguinis mei, novi et ae- terni testamenti, mysterium fidei: qui pro vobis et pro multis effundetur in re- missionem peccatorum”12.

“Haec quotiescumque feceritis, in mei memoram facietis”.13

Cada qual procure “sentir” estas palavras na máxima profundeza possível que a sua natureza permita. Depois disto, a alma sensível começa a perceber a real presença de Cristo tornar-se cada vez mais vizinha e perceptível, em um lento crescendo de sensações, cada vez mais claras e evidentes. Cada palavra, naturalmente, não deve ser dita com a boca, como habitualmente se faz, mas com a alma, sentida como a própria paixão, profundamente. Extraordinaria- mente poderosa é a palavra que corresponde a um real estado de alma, a pala- vra que não é apenas som, mas força viva da alma.

Eis que se avizinha o momento culminante em que Cristo, tendo-se pouco a pouco aproximado como nossa sensação, pode comunicar-se com a alma que lhe soube abrir as portas. Saudemos esta aproximação com as palavras do sa- cerdote:

“Agnus dei qui tollis peccata mundi: miserere nobis. “Agnus dei qui 'tollis peccata mundi: miserere nobis. “Agnus dei qui tollis peccata mundi: dona nobis pacem”14.

A esta palavra “paz”, deixemos a nossa alma repousar tranquila, longe de todas as tempestades e preocupações humanas, plácida como um lago límpido

10 “Tomou um pão em Suas santas mãos e, levantando os olhos para o céu, deu graças,

abençoou-o, partiu-o e o deu aos Seus discípulos, dizendo”:

11 “Tomai-o e comei dele todos: isto é o meu corpo”.

12 “Tomai e bebei dele todos: este é o cálice do meu sangue, do novo e eterno testamento,

mistério da fé, que por vós e por muitos é derramado em remissão dos pecados”.

13 “Todas as vezes que fizerdes estas coisas, fazei-o em lembrança de mim”. (N. do T.) 14 “Cordeiro de Deus, que tiras os pecados do mundo; tem compaixão de nós.

“Cordeiro de Deus, que tiras os pecados do mundo; tem compaixão de nós. “Cordeiro de Deus, que tiras os pecados do mundo; dá-nos a paz”. (N. do T.)

em cuja superfície o sol pode agora espelhar-se em toda a sua pureza, sem ofuscamento ou deformação.

Atingindo esse estado de calma e limpidez, abandonemo-nos agora a Cris- to, deixando que Ele venha a nós e complete o restante. Mas, antes que Ele chegue, ofereçamo-nos a Ele completamente, em perfeita fusão com a Sua Lei e vontade, ofereçamo-Lhe tudo o que sejamos como dor e como miséria, já que nada mais possuímos. Repitamo-Lhe as grandes palavras.

“Domine, non sun dignus, ut intres sub tectum meum: sed tantum dic verbo et sanabitur anima mea”15.

Após este último impulso de humildade e consagração, a alma que, em graus sucessivos, conseguiu subir até aqui está pronta. Ouvirá então uma voz atrás de si anunciando-lhe:

“Corpus domini nostri Jesu Cristi custodiat animam tuam in vitam aeter- nam. Amen”16.

A alma deve seguir este pensamento três vezes. Na terceira, ela terá a sen- sação da presença de Cristo, não mais apenas vizinho, mas dentro de si mes- ma. Se ela estiver amadurecida e pronta, frequentemente Sua presença em si, para tornar-se sentida, não esperará a terceira vez, mas será notada desde a primeira, porque o espírito arde no desejo de unir-se ao espírito. Dentro de si não significa penetração material de corpos, mas, como sempre acontece no mundo espiritual, fusão de centros de forças vibratórias e isto pela via da sin- tonização, que é vibração em uníssono, semelhante ao que sucede no campo acústico, pela qual duas notas distintas tornam-se uma nota só. Esta fusão é a mística união com Cristo, isto é, a perda da própria personalidade egocêntrica distinta, que se abstraiu assim e se introverteu na de Cristo, com a qual, daí em diante, saberá pensar e agir.

Se a alma souber atingir este ponto, qualquer guia será para sempre supér-