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Existiam muitos homens em uma certa terra, e cada um deles, segundo a própria natureza, elaborou um plano de vida. Um se propôs a triunfar no mais baixo e primitivo plano da vida, tornando-se rei segundo a lei da fome e da egoísta conservação individual, isto é, vitorioso no mundo econômico dos bens e na posse da riqueza. Para isto, tudo sacrificou. Não viu outra coisa, na- da mais quis e de nada mais se ocupou. E nesse campo venceu. Trabalhou de corpo e alma, sem tréguas, em prol dessa única meta. Casou-se pelo dinheiro, subordinando-lhe o amor. Não teve filhos. Como fruto do seu esforço, obteve extraordinário bem-estar. Chegou a ser mesmo estimado e respeitado, mas porque era rico e poderoso, e só por isto. Como reflexo, ganhou igualmente autoridade honrarias e louvores. Mas foi pouco amado e, na realidade, foi ape- nas invejado. Durante a vida, muitos lhe invejaram as riquezas e procuraram arrebatá-las. Na velhice, muitos desejaram seu fim, para apoderar-se dos seus bens e desfrutá-los. Ele morreu sem filhos, rico e só, nem amado nem prantea- do, e, mercê do fruto dos seus sacrifícios, outros gozaram. Tal foi a sua vida. Mas ele não tinha possibilidade de escolha, porque era esse o seu tipo biológi- co, e não podia explicar-se porque era assim.

Um segundo se propôs a triunfar em um mais elevado plano da vida, tor- nando-se rei segundo a lei do amor físico e da conservação da raça, isto é, o vitorioso no mundo biológico da multiplicação da carne. A proteção dos filhos e da família o compeliu ao mesmo trabalho e argúcia do primeiro homem, mas com uma finalidade que transcendia a sua própria pessoa, dado que esta se dilatara a ponto de compreender em si todo o grupo família, do qual ele era o centro. Casou-se por amor, teve muitos filhos, lutou, sacrificou-se por eles, trabalhou de corpo e alma, sem descanso, por essa sua única meta. E nesse campo venceu. Foi por eles amado, mas o seu patrimônio e o seu trabalho não bastaram para tanta gente, e a pobreza dominou em seu lar. Teve grandes afe- tos mas pouca estima, e nenhuma honraria, porque não era rico e poderoso. Durante a vida não foi muito invejado. Na velhice, ninguém desejava a sua morte, porque nada havia a herdar. Morreu pobre, mas amado e pranteado. Tal foi a sua vida, mas ele não tinha possibilidade de escolha, porque esse era o seu tipo biológico, e não podia explicar-se porque era assim.

Um terceiro homem se propôs a triunfar em um plano ainda mais elevado da vida, tornando-se rei não segundo as leis da fome e do amor, mas segundo a

lei da evolução, isto é, de conservação e criação dos valores morais que regem a vida. Quis ser o vitorioso no mundo espiritual, do amor fraterno, do bem e da justiça. Tudo sacrificou para isto. Nada mais viu, outra coisa não quis e só disso se ocupou. Não cuidou de bens materiais e não se casou. Lutou, traba- lhou de corpo e alma, sem quartel, em prol dessa única meta. E neste campo venceu. Porém ele foi espoliado por todos e empobreceu. Não teve filhos nem afetos e vagou solitário e triste. Não desfrutou de estima ou honrarias, porque era humilde e pobre. Durante a vida foi desprezado, quando muito deplorado. Mas ele lutou pelo bem do próximo e sacrificou-se pela justiça e pela verdade. Por toda a parte, difundiu luz e amor em derredor de si. A gente que em públi- co o desprezava, intimamente o admirava. Por ocasião de sua morte, não dei- xou mais que as próprias dores, mas acabou amado e pranteado por todos. Foi compreendido e venerado após a morte, e reviveu no amor de uma grande fa- mília, a família dos seus filhos espirituais. Tal foi a sua vida. Mas ele não tinha possibilidade de escolha, porque tal era o seu tipo biológico, e não podia ex- plicar-se porque era assim.

Esses três homens haviam trabalhado em três níveis diferentes, cada qual segundo uma das três leis biológicas fundamentais, que alicerçam o funciona- mento da vida e se exprimem pelos três instintos: 1) a fome; 2) o amor; 3) a evolução. Essas três leis, assim expressas, são os três planos ascensionais do edifício biológico do nosso mundo, onde cada um dos três tipos situa-se se- gundo sua natureza e com uma correspondente e diferente função. O homem da primeira lei pensa na conservação individual, com o egoísmo. O da segunda lei pensa na conservação coletiva, com a reprodução. Mas nem um nem outro cuida do progresso, de que só se ocupa o homem da terceira lei. Nós os vemos agir desorganicamente, como é o caso do mundo de hoje. São rivais e mantém- se separados. Cada qual possui a sua personalidade, o seu instinto, a sua fun- ção, a sua recompensa, cada um agindo por sua própria conta. As atividades ainda não estão coordenadas. Cada um dos três tipos se acredita tudo e é leva- do a operar com espírito de exclusivismo e domínio, ainda que, à medida que o homem evolui, passe da primeira à segunda e desta à terceira posição, supe- rando assim a posição precedente inferior. Por isso cada um, permanecendo no próprio plano, encontra aí a recompensa que lhe cabe. O separatismo não im- pede a justiça. No primeiro caso, a recompensa foi medida e restrita ao usufru- to pessoal dos bens; no segundo caso, dilata-se mais, polarizando-se na vida dos filhos; no terceiro caso, ampliou-se ainda mais e foi além, alcançando a

vida espiritual da coletividade. Porém, quanto menos imediato e restrito for o resultado, tanto mais se expande e dura. Cada um obteve segundo o critério de seu tipo, plano evolutivo de ação e função biológica. As leis da vida são sem- pre justas, mas, no estado de separatismo que oferece o mundo humano egoísta e involuído, elas não podem funcionar senão isoladamente.

Esses três homens morreram e passaram. Depois de vários milênios, retor- naram ao mundo, que, entrementes, havia progredido de modo a conduzir a mente humana ao ponto de compreender o evangelho e aplicá-lo seriamente, como prática individual e cooperação social, realizando aquela coordenação fraterna de toda atividade, somente com a qual se pode realizar na Terra um bem-aventurado reino dos céus. Cada um dos três homens voltou ao mundo com as qualidades do seu tipo biológico e, dado que não podia manifestar-se senão como era, tornou a agir como antes, isto é, procedendo de acordo com a natureza da sua função. Porém, encontrando-se em um mundo mais evoluído, agora podiam funcionar organicamente.

Então o primeiro homem, utilizando a sua qualidade de trabalhador e a sua capacidade técnica, tornou-se um produtor útil, não apenas para si, mas tam- bém para a sociedade. As condições mais conscientes da vida do novo mundo não mais o constringiram a sacrificar tudo para poder alcançar a realização de sua personalidade; o rendimento das suas qualidades no cumprimento de sua função pôde realizar-se plenamente em benefício de si próprio e dos outros. Ele se tornou assim o rei do mundo econômico dos bens e extraiu dele benefí- cio para si e para todos. Foi também estimado e honrado, não porque era rico e poderoso, mas sim porque era capaz de poder formar e conservar a riqueza que possui valor coletivo. Ele pôde assim desfrutar também o amor dos outros, porque a riqueza que antes dedicara a si, agora a dedicou também aos outros. A sua morte não foi esperada para que se apossassem dos bens, que agora já eram de todos. Ele representava um valor útil à sociedade e era verdadeira- mente estimado, não pelo que possuía, mas pelo que valia e produzia, por isso morreu amado e pranteado.

O segundo homem tornou-se o rei do amor terreno, utilizando o espírito ad- quirido de sacrifício e de dedicação à família, a sua capacidade de economia, de parcimônia e de trabalho fecundo, não no campo diretivo, mas no executi- vo. Ele representou a carne honesta e pacífica, que, animada do espírito de bondade ativa, fez frutificar a terra e as fabricas, multiplicando as coisas com a sua atividade abençoada por Deus. Assim, a carne, ávida de multiplicar-se,

como quer a vida, não foi constrangida a maldizê-la e a resvalar para o vício e para o mal. Então reproduzir-se e multiplicar-se não constituiu mais um delito ou um perigo, e sim alegria de viver. Mas tudo isto foi possível porque quem possuía a capacidade diretora, organizadora e economicamente genética, não mais monopolizou apenas para si o fruto das próprias qualidades, reservando o seu rendimento em vantagem da coletividade. Então, o amor são e fecundo não se tornou uma couraça ou dissimulação; a família não representou mais um peso insuportável, qual agrupamento de lobos esfaimados, prestes a destruir os vizinhos; a classe operária não mais se arvorou em uma dinamite pronta a ex- plodir em revoluções. Assim também esse tipo de homem pôde, recebendo o que lhe faltava, dar o que possuía. Morreu tranquilo, sabendo que o futuro dos filhos estava assegurado.

O terceiro homem, segundo o seu tipo e capacidade, tornou-se ainda esta vez, o rei do mundo espiritual, o vencedor segundo a lei da evolução. Atingiu assim, com as suas qualidades, um maior rendimento para o progresso coleti- vo, podendo manifestá-las em um mundo então fraternalmente compreensivo! Quantos atritos, mal-entendidos e dores profundas evitados; quanto auxílio na mais facilitada possibilidade de multiplicar, por meios técnicos e econômicos, a expressão de si mesmo, para que a luz e o conselho, o amor e a bondade chegassem a todas as partes. Quanto tempo e energias ganhos e, por conse- guinte, quanto maior rendimento espiritual, ao poder libertar-se do inadequado e ingrato trabalho de ter de se ocupar de bens materiais. A negligência pela riqueza não produziu mais as desastrosas consequências de antes. Ele não foi roubado nem se empobreceu; pelo contrário, não lhe faltou o necessário, que considerou mesmo demasiado, ele que era a negação personificada da avidez. Naturalmente era já tão rico em um nível superior, que não sentiu necessidade, na Terra, de tomar do fruto do trabalho alheio mais que o mínimo indispensá- vel. Quem é do espírito já possui a medida das coisas. Ele não foi desprezado e aviltado, porque negligenciava a posse. O estado de mais elevada consciência do mundo estava finalmente em grau de apreciar um homem pelos valores espirituais, e não mais pelo critério da força ou da riqueza. Desta maneira, ele foi compreendido e estimado. Não aceitou honrarias, que não lhe serviam, mas, com infinita alegria, viveu essa nova atmosfera de simpatia, que afetuo- samente o aquecia e lhe enchia a triste solidão de antanho. O desenvolvimento da gratidão, a concreta manifestação da resposta da vida ao seu impulso na for- ma de confraternização com as suas criaturas espirituais, a confirmação exterior

da consciência íntima da própria utilidade coletiva, proveniente de um consenso amplo, não só multiplicaram, para o bem dos outros, os recursos e rendimentos dele, mas também o transformaram num homem satisfeito, feliz de ser um traba- lhador do espírito, em plena eficiência, e não mais num peregrino ou mártir, operário da dor. Ele não foi assim obrigado a esperar pela morte, para atingir nos outros a realização de si mesmo e dos seus ideais de bem.

O que é que tivera tanto poder para alterar a posição desses três homens? Apenas uma atitude da alma, um fraternal espírito de compreensão e colabora- ção. Essa é a chave da felicidade que está no reino dos céus. E este espera ape- nas uma forma de boa vontade dos homens para descer à Terra. No fundo, cada um, segundo o seu tipo biológico, não pede senão para realizar-se a si mesmo. Trata-se de uma sã e fecunda lei biológica. Mas, hoje, essa realização, para poder efetuar-se, deve assumir formas involuídas, violentas e caóticas. Desse modo, a utilidade fornecida pelo rendimento da própria personalidade não pode ser conseguida senão à custa de sacrifícios e danos individuais e co- letivos. Assim, portanto, na terra está o inferno, e o reino dos céus está longe. E os homens de boa vontade são raros e esmagados. Bastaria muito pouca coi- sa para tudo melhorar: ao invés de combaterem-se, os homens deveriam auxi- liar-se reciprocamente!

Por esta parábola se vê como estes três tipos biológicos, segundo os quais é possível agrupar os homens, podem, somente com a mudança da sua conduta recíproca, sem modificar sua capacidade e atividade, transformar-se de modo a obter-se um maior rendimento para cada um e para todos. Isto significa criar a alegria e eliminar a dor. A evolução só pode levar-nos à felicidade. E tudo isto está explicado pela presente parábola.