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ASPECTOS CENTRAIS DA EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA

5.2.8. Comunidade / Pais

A comunidade e os pais são aspetos centrais e fulcrais no trabalho de um educador de infância. Normalmente estão bem patentes nos trabalhos de projecto, na sala de atividades e no trabalho em geral.

84 As visitas de estudo são atividades do trabalho de projeto desenvolvido com as crianças. Sempre que possível são planeadas visitas ao exterior que complementam o trabalho de sala. Os pais são convidados a participar nos projetos através de participações na elaboração do material para o projeto e mesmo no desenvolvimento de temáticas interessantes. Para além desta participação também são convocados para reuniões, formações e festas. De uma forma geral, são convidados a participar sempre que possível porque são elementos essenciais no processo de aprendizagem. Os pais porque trazem para a escola aspetos importantes e que são a ligação entre a escola e as famílias, e a comunidade porque precisamos de a conhecer para nos identificarmos melhor.

Os estagiários do 2º ano e do 3º ano vivem este aspeto mais em contexto de trabalho de sala porque o tempo de estágio não permite muito mais. Sendo assim, participam em atividades de projeto, como visitas de estudo, em reuniões de pais e festas da instituição. No entanto, nas reuniões e festas só participam os estagiários que manifestarem interesse, pois são momentos facultativos (“Após a festa os pais vieram conhecer a sala das crianças e mostraram interesse pelo meu trabalho e em falar dos seus filhos, não senti nenhuma dificuldade em comunicar com os pais.”, Estagiária Ana, 3º ano, 15/12/2004). Normalmente, gostam de observar estes momentos e guardá – los como futura referência. Participam para observarem comportamentos quer dos pais e comunidade, quer do educador supervisor. São momentos de aprendizagem.

O estagiário do 4º ano, como é finalista e tem uma presença diária na instituição, participa em todos os momentos que apelem à participação da comunidade e dos pais (“Nesta semana tivemos a reunião de pais, que foi uma nova experiência, pois nunca tinha assistido a nenhuma.”; Estagiária Filipa, 4º ano, 18 a 27/10/2004; “Esta semana tivemos um aspecto novo que foi a reunião de pais. A Filipa manteve-se sobretudo atenta e observadora, procurando de certa maneira interagir.” Supervisora / Investigadora referindo-se à Estagiária Filipa do 4º ano, 18 a 27/10/2004).

Como é possível observar no quadro 8 de análise dos diários (em anexo), o supervisor tem a função de ensinar e motivar o estagiário para o apelo à comunidade e, concretamente, às famílias (“Falamos sobre a participação dos pais na vida do projecto. Achamos boa ideia convidar uma mãe, que é médica de profissão, para fazer uma exposição aos meninos.”, Supervisora / Investigadora, 03 a 14/01/2005). Através dos projetos de sala, visitas de estudo, prendas para os pais, festas e reuniões, o estagiário é convidado a interagir e a fazer a ponte entre o interior (instituição) e o exterior (comunidade).

85 O supervisor tem que ser um modelo exemplar quando se dirige aos pais e à comunidade porque o estagiário, pela observação, procura aprender com ele a interagir. E este aspeto nem sempre é fácil, pelas reflexões do educador, podemos perceber que o estagiário tem algumas dificuldades, que são mais sentidas no início da prática pedagógica: em relacionar – se, em saber o que dizer, em aproximar – se dos pais (“Na reunião de Pais a Filipa teve participações pouco oportunas. Tomou a iniciativa de falar de casos individuais, referindo a sua opinião sobre o judo, actividade que acha pouco educativa. Evidente que tive que intervir e procurar apaziguar a situação.”, Supervisora / Investigadora, 01 a 18/03/2005). Muitas vezes ele quer estabelecer esta ligação mas é impedido pelo receio de dizer algo de errado, algo que seja contrário ao que o educador pensa e pode transmitir aos pais. Daí, mais uma vez, ser extremamente importante o facto de o supervisor dar a conhecer as famílias e o meio em que a instituição se insere, antes do estágio iniciar e, progressivamente, ao longo da prática pedagógica. Às vezes podemos ferir susceptibilidades e sentimentos e é necessário termos cuidado na abordagem que fazemos aos pais (Quadro 8, em anexo).

O estagiário passa de mero observador a participante, fazendo parte deste triângulo essencial para o desenvolvimento saudável das crianças: instituição – famílias – comunidade. 5.2.9. Cultura

A cultura também está bem presente no trabalho do educador de infância. Podemos dizer que cada criança tem uma cultura própria e, ao mesmo tempo, está inserido nela.

Todo o trabalho visa desenvolver aspetos culturais e sensibilizar as crianças para a cultura desde a sua definição mais geral para a mais específica. Todos nós temos algo para dar, de diferente, como tal, temos que ser respeitados pelo que somos. Quando programamos trabalhos com as crianças pensamos na importância da cultura e procuramos vivê – la mas, também, respeitá – la.

Os estagiários são sensibilizados para aspetos importantes como a multiculturalidade, pelo trabalho programado mas, e, principalmente, pelos materiais que temos na sala de atividades (exemplos; bonecos de várias raças, fotografias e crianças de diferentes raças, fotografias de aspetos culturais importantes, como danças, artefactos, …), a sala de aula deve transparecer a importância da cultura. Nós podemos observar, no diário da estagiária do 2º ano, que essa sensibilidade foi despertada pelo que encontrou na sala logo no primeiro dia de estágio (“Deparei – me com um menino venezuelano e achei interessante que ele integrasse uma turma

86 de crianças portuguesas.” (16/09/2004), “Notei que neste colégio se apela, na prática, à ideia de multiculturalidade e que esse convívio será muito positivo para todas as crianças.” (16/09/2004), “Um boneco de cor negra deitado na cama das bonecas apela igualmente à ideia de multiculturalidade.” (16/09/2004, Estagiária Maria, 2º ano).

Nos diários das estagiárias, podemos verificar que a cultura é vivida em pleno, pelos materiais, atividades e projetos de sala, visitas de estudo e nos dias e festas programados (exemplo: projeto do Outono, Natal, …, festas do Magusto, Carnaval, Páscoa, …) (“Na festa de Carnaval as crianças estavam muito contentes com as suas fantasias e penso que também se divertiram muito pois a dramatização colectiva que realizamos estava muito engraçada.”, Estagiária Filipa, 4º ano, 31/01 a 11/02/2005).

A sensibilidade para este aspeto fulcral da educação começa na educação da pessoa e é desenvolvido, mais tarde, na escola de formação e vivenciado na escola cooperante (“… a dança tradicional foi um momento muito bom, em que revivemos um pouco da nossa cultura como portugueses, para marcar este momento, a Ana, fez questão de trazer vestuário muito parecido com o usado pelos tradicionais ranchos folclóricos.”, supervisora / investigadora referindo-se à Estagiária Ana do 2º ano, 10/11/2004).

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