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ASPECTOS CENTRAIS DA EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA

5.2.6 Projetos e Atividades

Esta é uma dimensão à qual os estagiários dão muita importância, isto porque normalmente, e quando falamos de atividades, são momentos dirigidos quase na totalidade por eles. É neste momento que põem à prova os conhecimentos adquiridos e o seu próprio desempenho. Inicialmente, não são momentos fáceis porque estão ainda numa fase de experimentação, principalmente o 2º ano e o 3º ano, em que tudo é novo e, apesar de planificado anteriormente com o educador supervisor, muitas vezes não sabem bem como reagir e, pior do que esta sensação, é a de não saberem como as crianças vão reagir, se vão ou não gostar, se vão ou não participar (“Para realizar a actividade desta manhã contei uma história…Conversei um pouco com as crianças com o intuito de as motivar…”, Estagiária Maria, 2º ano, 07/10/2004).

Pelas narrativas dos diários, podemos ver que existem várias preocupações: a de tentarem adaptar as atividades ao grupo e às suas caraterísticas, a de tentarem seguir o planificado com o educador e, principalmente, a de não conseguirem prever a reação das crianças. Para muitos estagiários, o facto de terem seguido a planificação significa que a atividade correu bem, para outros o facto de as crianças terem estado motivadas e terem participado tem o mesmo significado, ainda que a atividade não se adequasse de todo às caraterísticas do grupo (“Em relação à actividade de expressão plástica correu da forma planeada, pois segui todos os passos que tinha pensado e esteve adequada à faixa etária visto que era uma técnica um pouco perigosa mas muito orientada pelo adulto, e assim o grupo pode experimentar uma nova técnica… Os objectivos foram conseguidos…”, Estagiária Ana, 3º ano, 20/10/2004). O contrário

82 também é visível. Ou seja, tudo está relacionado com o fator experiência. À medida que têm mais experiência começam a perceber exatamente o que esteve bem e o que esteve menos bem mas, inicialmente, isto é muito confuso e eles nem sabem o que pensar, daí terem uma necessidade enorme de ter o “feedback” por parte do educador supervisor. E é este caminho que cabe ao educador elucidar. Estes obstáculos vão passando à medida que ganhamos mais experiência. Não significa que desapareçam porque há preocupações que teremos sempre mas, a “bagagem” que vamos recolhendo com o passar dos anos, vai – nos dar segurança e conhecimentos, nós vamos ganhar defesas que em muito nos irão ajudar pela vida fora. Este aspeto já é visível no 4º ano do curso, os estagiários finalistas estão conscientes destas preocupações mas já sabem como atuar em muitas situações inesperadas. Neste ano também já têm um papel ativo na construção de projetos com as crianças (“Em relação às actividades realizadas durante o projecto, foram as previstas na planificação e outras que surgiram com o interesse que o grupo demonstrou neste projecto, como por exemplo, o facto de fazermos um teatro onde cada criança propôs desempenhar um papel diferente no âmbito dos meios de comunicação.”, Estagiária Filipa, 4º ano, 01 a 18/03/2005). Projetos que surgem dos interesses e caraterísticas das crianças. Projetos que surgem pela observação, atenção e significado que damos a cada gesto de cada criança.

Tudo pode ser pensado e programado mas não há nada que nos garanta que tudo vai acontecer exatamente como esperávamos. O trabalho do educador de infância não é uma rotina, esta palavra em nada se adapta ao que aprendemos na escola de formação e muito menos ao que vemos no dia – a – dia. E isto significa que respeitamos os interesses das crianças e que construímos pedagogia (“Relativamente à sala, montou com as crianças um excelente canto, que podemos dizer que se intitula as férias. Foi trabalhado, com o grupo, muitos aspectos relativos à temática referida, assim como um levantamento e aprofundamento de aspectos relacionados com o meio urbano e o citadino. Este projecto está, sem dúvida, a ser bem trabalhado e explorado com as crianças. É visível a alegria e motivação do grupo neste projecto.”, Supervisora / Investigadora, referente à estagiária Filipa do 4º ano, 01 a 14/06/2005).

5.2.7 Tempo

O Tempo é uma dimensão importante e que reflete e condiciona o trabalho direto com as crianças. Pensar em “tempo” significa pensar em oportunidade, saber quando começar ou

83 terminar algo, saber como mediar uma situação, saber agir e interagir … nas atividades, no dia- a-dia das crianças.

Quando falamos em tempo falamos, de uma maneira geral, em preocupação para os estagiários (“Neste dia as dificuldades sentidas em relação à rotina diária foram poucas, tenho ainda um poço de dificuldades em saber a que horas terminar/começar algumas actividades…”, Estagiária Ana, 3º ano, 13/10/2004). Inicialmente têm uma preocupação exagerada em torno desta dimensão. Querem muito cumprir o tempo estipulado na planificação independentemente se isso prejudica ou não o grupo (“A primeira semana de estágio penso que correu bem, embora sinta dificuldades na gestão do tempo.”, Estagiária Filipa, 4º ano, 15 a 30/09/2004).

É muito visível, principalmente no diário da estagiária do 2º ano, que tem uma preocupação exagerada em não ultrapassar o tempo previsto, achando que está a agir corretamente se respeitar o fator tempo (“A “apresentação” no polivalente durou cerca de cinco minutos, e na sala, cerca de dez minutos. O tempo previsto para a “apresentação” foi cumprido.”, Estagiária Maria, 2º ano, 25/11/2004). O não saber gerir o tempo leva, por vezes, a atitudes incorretas com as crianças. Podem acontecer algumas situações como estas: o tempo previsto é demasiado sendo necessário dar por terminada a atividade, ou o tempo previsto é pouco tendo em conta o interesse das crianças (“Em relação ao tempo este foi um pouco curto, pois as crianças por elas fariam mais uma vez o teatro e exploravam mais os fantoches e a história, mas como era já hora do lanche não deu para continuar.”, Estagiária Ana, 3º ano, (13/10/2004).

Como é evidente, numa fase inicial de estágio, cabe ao educador supervisor a função de gerir o tempo não só das suas atividades como também das atividades dos estagiários. Esta função vai sendo menos acentuada com o passar do tempo, pois os estagiários vão percebendo, passo a passo, a reação que devem ter face a uma ou outra situação que apareça. Também é possível observar nos diários que a preocupação é maior em estagiários do 2º ano e que depois, não deixa de ser importante mas, vai diminuindo, com o acumular de experiências na prática pedagógica (Quadro 7, em anexo).