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PARTICIPAÇÃO GUIADA

3.1. O Portfólio de Investigação

3.1.1. Importância dos Portfólios / Diários de Aula

Segundo Zabalza (1994) os diários levam os professores a viverem pessoalmente a experiência de contar o que fizeram e a falarem da própria experiência deles, levando – os a refletirem sobre a sua prática. Esta experiência narrativa tornará possível uma nova experiência. Ao ler sobre si, o professor desenvolverá uma atitude crítica, tendo assim a possibilidade de reconstruir a atividade passada e a forma pessoal de a viver.

Quer o escrever sobre o que fazemos, quer o ler sobre o que fizemos permite – nos alcançar alguma distância da ação e ver as coisas e a nós mesmos com perspetiva.

51 O diário conduz – nos à reflexão porque nos faz pensar e reviver o que fizemos podendo assim planificar de uma outra forma as atividades a realizar no futuro. A reflexão é a palavra – chave de qualquer análise das competências profissionais. A actividade profissional requer reflexão.

A prática por si só não gera conhecimento, permite, apenas, estabilizar e fixar certas rotinas. Se queremos evoluir no desempenho profissional temos que ter uma prática reflexiva que nos faça ponderar, pensar sobre a ação passada. Só assim é possível seguir em frente e vencer os obstáculos que nos possam aparecer.

Escrever um diário implica esforço, o esforço de escrever, de pensar. Mas é um processo interessante de recolha de informação, que nos servirá de muito quando pensarmos em usá – la para planear novos trabalhos e fazer novos ajustes em atitudes e comportamentos que tivemos.

Zabalza (1994) diz – nos que qualquer oportunidade é boa para escrever um diário. Este pode ser, como já foi referido anteriormente, um instrumento muito valioso, de caráter formativo, nas seguintes situações:

 Quando queremos ou necessitamos de ter alguma distância das coisas que estamos a fazer ou das situações que estamos a viver;

 Quando estamos a realizar um trabalho que exige uma forte implicação pessoal;

 Quando se quer clarificar o próprio estilo de trabalho;

 Quando sentimos que estamos a receber muita pressão e tensão interna;

 Quando estamos a participar em alguma investigação, ou processo, no qual seja importante documentar os passos que se vão dando e como vão evoluindo as várias dimensões do trabalho em curso.

É importante escrever o diário quando o pretendermos e quando acharmos conveniente a recolha de dados ou impressões sobre os momentos que estamos a viver e sobre o nosso trabalho, para que assim o possamos rever e analisar com tranquilidade, sozinhos ou acompanhados de alguém que nos ajude a construir uma imagem mais completa da situação a partir da narração.

Os diários são tão importantes para os professores como para os estudantes, na medida em que os ajudam a racionalizar a experiência, levando – o a reconstruir o seu próprio estilo de trabalho, pela organização, planificação e criação de estratégias de estudo.

52 Mas, quando fazemos um diário, não nos podemos esquecer que estes têm uma estrutura muito narrativa, muito flexível. Inicialmente, pode ser escrito conforme apeteça ao autor mas depois é importante seguirmos algumas condições:

 Orientar a narração, o que e como contar;

 Definir o número de vezes que iremos registar;

 Ver a quantidade de informação que vamos escrever no diário, procurando extrair o que, de facto, é importante;

 Ter em atenção o conteúdo, tornando – o suscetível de aparecer no diário;

 Limitar a duração do diário em função das caraterísticas da situação a documentar.

Depois de escrevermos o nosso diário temos que ter em atenção que é necessário analisá – lo. Zabalza (1994) fala – nos de níveis distintos na análise dos diários:

 Nível básico: pode ser realizado pelo próprio ou em companhia de algum colega.

 Nível médio: requer um certo conhecimento das técnicas de análise do conteúdo, no entanto com uma adequada preparação pode ser levado a cabo pelos próprios autores do diário.

 Nível complexo de análise: requer conhecimentos avançados na análise do conteúdo e, também, no tipo de situações que se abordam no diário.

Temos que ter em conta que os diários são instrumentos que serão utilizados e, os quais, irão fornecer vários tipos de informações: uma impressão generalizada sobre tema do diário (nível de dificuldade básico); análise dos padrões e redundâncias (nível de dificuldade básico); pontos temáticos e leitura transversal sobre os mesmos (nível de dificuldade médio); análise qualitativa dos elementos explícitos e implícitos da informação do diário (nível de dificuldade médio) e dilemas profissionais e pessoais (nível de dificuldade elevado).

Assim sendo, os diários podem fornecer – nos um valioso e interessante material que nos poderá ser muito útil no processo de auto conhecimento e formação.

Segundo Zabalza (1994), para analisarmos o nosso diário ou para ajudarmos alguém a analisar o seu próprio diário devemos evitar análises superficiais e descontextualizadas, apoiar o que dizemos com textos e documentos que revalidem as nossas informações. E, por último, devemos ter em conta a parte ética, não podemos esquecer que são documentos pessoais.

53 3.1.2. Caraterísticas e Organização dos Portfólios / Diários

Segundo Zabalza (1994) podemos dizer que as caraterísticas formais dos portfólios são: 1. Cinge – se a trabalhos de abordagem e metodologia de tipo qualitativo;

2. Utiliza como instrumentos básicos: os diários, as entrevistas e a observação de aulas; 3. Aborda prioritariamente os seguintes temas:

-o pensamento e as propostas didácticas que os professores apresentam;

-os dilemas práticos com que os professores se confrontam no desenvolvimento das aulas e o modo como os encaram;

-a comunicação didáctica na aula;

-a formação prática dos futuros professores: as práticas pedagógicas; -a utilização que os professores fazem dos recursos didácticos; -os dilemas pessoais e profissionais dos professores principiantes. Zabalza (1994) apresenta – nos um modelo de investigação com diários Ideia Geral

 O ensino é uma actividade profissional reflexiva.

 A perspectiva que os professores têm do seu trabalho auto – esclarece – se na sua própria verbalização (oral e escrita).

 Escrever o diário de aula pode ser um instrumento adequado para conhecer o professor e os seus problemas.

Objectivos

 Situar os diários num contexto conceptual e metodológico que os relacione com a investigação qualitativa, com o paradigma do pensamento do professor e com as actividades que este exerce. Situá – los, além disso, no contexto dos documentos pessoais enquanto instrumento para se ter acesso ao pensamento e à acção dos seus autores.

 Os diários são instrumentos adequados para veicular o pensamento dos professores. Através deles, o professor auto – explora a sua actuação profissional, autoproporciona – se feedback e estímulos de melhoria. É através do diário que uma pessoa desenvolve a consciência individual da sua própria experiência (Berk, 1980).

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 Através dos diários, pode explorar – se o pensamento do professor e as suas relações com a acção. Este estudo faz – se a partir da perspectiva do professor. Estudar o ensino tal como o professor o vive e experimenta (Butt, 1986).

 Através dos diários, podem explorar – se os dilemas dos professores, tanto no que diz respeito à sua elaboração mental, como no que diz respeito ao seu discurso sobre a prática.

Método de Trabalho

 Análise de diários de professores em serviço e que simultaneamente frequentam cursos de Pedagogia.

 Análise em profundidade do diário de um professor.

Na primeira análise o objetivo é o de realizar uma aproximação à capacidade que os diários têm para reflectir o pensamento do professor e os seus dilemas principais e analisar o sentido que o diário tem para os professores. Na segunda análise o objectivo é o de estudar a configuração e a evolução dos seus dilemas.

Procura – se fazer a análise hermenêutica dos diários, para assim garantir a sua validade. Para tal tem que se explicitar o ponto teórico de partida, incluir descrições densas e evidências numerosas e fazer a triangulação das inferências.

Este tipo de trabalho terá uma estrutura concêntrica: primeiro os contextos do trabalho com diários (contexto metodológico: investigação qualitativa, contexto teórico: o paradigma do pensamento dos professores, contexto pragmático: o professor como profissional da acção didáctica), depois os dilemas práticos na acção dos professores e, por fim, o próprio instrumento de investigação, neste caso, os diários dos professores.

Ao abordar o tema dos diários com uma metodologia qualitativa vai surgir um contexto de incerteza. Uma incerteza pragmática porque as abordagens qualitativas têm falta de cânones de procedimento e, também, de regras estritas para a recolha e análise de informação.

O trabalho sobre os diários e a análise dos dilemas que neles se delimitam integram um processo de observação e gravação de aulas de professores, havendo assim processos de negociação e desenvolvimento de alternativas.

Os diários são também considerados novidade, despertando assim interesse. Trata – se de um recurso reflexivo. Têm uma grande importância na medida em que nos ajudam a compreender a “vida real” das situações e das personagens que se encontram em estudo. Os

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