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ASPECTOS CENTRAIS DA EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA

5.2.1. Integração / Adaptação

Neste ponto vamos analisar excertos dos diários das estagiárias e supervisora onde estão implícitas as dimensões Integração / Adaptação, e onde podemos verificar diferentes opiniões e sentimentos partilhados pelos atores que estão relacionados com a bagagem teórica e experiência que ambos já tiveram no percurso efetuado.

De uma forma concreta, na adaptação do estagiário, a supervisora tem funções e competências importantes, que visam ajudar o estagiário a entrar no mundo da experiência profissional da melhor forma possível. Ao supervisor cabe a função integradora, em que tem que dar a conhecer a instituição no seu todo, crianças, equipa de trabalho, espaço e materiais (“Procurei falar com ela, mostrar – lhe os espaços do Colégio, dei – lhe algumas indicações fundamentais sobre o bom funcionamento dos espaços e de alguns momentos.” (Supervisora / Investigadora, 16/09/2004). Se este início for feito de uma forma correta, o estagiário vai sentir – se como que fazendo parte da instituição, facilitando assim a sua adaptação e consequente experiência (“Este primeiro dia no centro de estágio correu bem, gostei muito de lá estar e senti- me bem em todos os momentos porque a instituição e os seus educadores foram muito receptivos à minha presença.” (Estagiária Ana, 3º ano, 15/09/2004). Ao supervisor cabe também, nesta primeira fase, a função orientadora. Tudo é novo, o estagiário precisa de orientação, de alguém que o ajude a identificar o que pode fazer, como deve fazer, onde fazer e quando fazer. Numa situação inicial sentimentos como nervosismo e o medo, são constantes (“Senti – me muito ansiosa e receosa por não saber como iria ser recebida.” (Estagiária Maria, 2º ano, 16/09/2004), nestas situações o supervisor tem uma função apaziguadora, é fundamental transparecer uma imagem calma, que inspire segurança, confiança e amizade, para que o estagiário sinta que não é motivo para se sentir mal e muito menos só (“Em alguns momentos procurei integrá – la.” (Supervisora / Investigadora, 16/09/2004).

73 O estagiário, nesta fase, experimenta não só a prática pedagógica em si como também põe à prova os seus medos, receios e segurança. Estes medos estão associados ao receio de não serem bem aceites pela instituição (crianças e adultos), de não cativarem, de não conseguirem pôr em prática o que aprenderam, receio de constatarem que não conseguem fazer um bom trabalho, receio de não conseguirem acompanhar o ritmo da educadora (“”…estava com receio de não me adaptar ao ritmo da educadora e da estagiária finalista, mas hoje senti que estava com mais agilidade do que na semana anterior.” (Estagiária Maria, 2º ano, 23/09/2004). Enfrentam não só estes medos como também a pressão de se sentirem constantemente observados e avaliados (“…no momento em que apresentei a surpresa estava bastante nervosa por estar a ser observada sob vários ângulos.”, Estagiária Maria, 2º ano, 30/09/2004). Como podemos observar no quadro 1 de análise dos diários, em anexo, estes medos e receios vão diminuindo com o passar dos anos, à medida que o estagiário ganha experiência e adquire mais aprendizagens na vertente teórica do curso (“No recreio tentei aproveitar para conhecer melhor as crianças da minha sala e das outras e também para me dar a conhecer, pois as crianças manifestaram várias vezes curiosidade por mim.”, Estagiária Ana, 3º ano, 15/09/2004). A confiança vai aumentando e tornando esta fase cada vez menos significativa (“Penso que o grupo se está a adaptar com facilidade à minha presença.”, Estagiária Filipa, 4º ano, 15 a 30/09/2004; “Gostei imenso, quando voltei ao serviço, de observar que a relação da Filipa com o grupo, estava efectivamente melhor e era francamente visível. A Filipa estava mais meiga, exige moderadamente e tenta corresponder às necessidades de todas as crianças. O grupo já “grita” o seu nome não só em situações de conflito como também em situações normais de trabalho.”, Supervisora / Investigadora, 18 a 27/10/2004).

5.2.2. Interação

Neste ponto iremos analisar as perceções dos diferentes atores, a partir de excertos dos seus diários, tendo por base a dimensão da Interação.

Na fase da interação a supervisora tem um papel muito importante: deve ser observadora e sempre que necessário intervir (“Procurei ajudá-la preparando o grupo para a sua actividade.”, Supervisora / Investigadora, 06/01/2005).

É importante que o estagiário desenvolva por si técnicas de interação e formas de resolução de problemas e conflitos (“Também não fiquei indiferente a uma menina que se mostrou reservada toda a manhã…Tentei falar com ela mas pouco se expressou.”, Estagiária Maria, 2º ano, 16/09/2004). Inicialmente, a supervisora deve facilitar as situações em que o estagiário procure

74 interagir, dando – o a conhecer às crianças e equipa de trabalho, integrando – o em situações do dia – a – dia, como brincadeiras e momentos de conversa e de rotina com o grupo, como por exemplo: acolhimento, recreio, almoço, lanche e higiene (“… foi muito prestável, procurou ajudar, sempre que necessário, brincou com as crianças, tentou acalmá-los, visto que era visível a euforia das crianças face à festa… Durante a festa esteve sempre atenta auxiliando sempre que necessário (vestir e despir as crianças, levar e trazer material, …).”, Estagiária Ana, 15/12/2004). O supervisor não deve resolver as situações, nem facilitar demais a interação porque o estagiário também tem que pôr em prática o que aprendeu, procurando, em cada situação, a melhor alternativa comunicativa. Estamos a falar de uma função mediadora ou mesmo reguladora (“… a relação com a equipa de trabalho é muito boa, a educadora dá-me muita autonomia deixando-me muitas vezes sozinha com o grupo e isso torna-me mais segura, sinto que já estou mesmo bem integrada nas rotinas, com as crianças, e com todas as pessoas.”; “Esta autonomia faz com que eu já conheça o grupo permitindo-me saber qual a melhor forma de agir… Tentei participar em todas as actividades e rotinas e tentei ser prestável com todos.” (24/11/2004)

Para o estagiário a interação nem sempre é, inicialmente, fácil mas pode – se tornar num processo mais simples se o supervisor preparar previamente o terreno, ou seja, se der a conhecer o estagiário às crianças e a toda a equipa de trabalho antes de ele iniciar a prática e se der a conhecer ao estagiário as crianças e equipa, assim como algumas técnicas, para se tornar melhor sucedido (“…a educadora e a finalista ajudaram-me…”, Estagiária Maria, 2º ano, 21/10/2004). Esta preparação deve acontecer quer se trate de um estagiário com menos ou mais experiência porque é uma situação nova para todos, o que difere é a experiência e conhecimentos que já adquiriram no seu curso de Licenciatura em Educação de Infância. Evidentemente que ao falarmos de um estagiário do 2º ano do curso falamos de receio, ansiedade e até mesmo medo; se falamos de um estagiário de 4º ano do mesmo curso falamos de alguma ansiedade mas nada de especial porque ele sabe que é uma fase passageira e os seus conhecimentos alargados dão – lhe alguma segurança face ao que vai enfrentar (“A minha relação com o grupo continua muito boa e de grande cumplicidade, onde há momentos de grande diversão e variedade de propostas. Com a equipa de trabalho, posso dizer que está excelente, sinto-me muito mais apoiada e motivada.”, Estagiária Filipa, 4º ano, 14 a 25/02/2005). Quando falamos do que vai enfrentar estamos a referir – nos principalmente à relação com as crianças. Uma relação que vai ser construída tendo por base o carinho, afeto,

75 amizade, mas que até chegar a este ponto tem inevitavelmente que passar por situações de abertura mas também de rejeição, situações em que as crianças testam o adulto para o conhecerem melhor. É um cativar progressivo, uma constante conquista que acaba quase sempre numa relação bem sucedida e inesquecível (“A minha relação com as crianças está muito próxima, tento ao máximo favorecer a segurança afectiva e a autonomia de cada uma. Não posso deixar de salientar que quando uma criança do grupo esteve doente ligou para o colégio para que eu falasse com ela, para se sentir melhor. Outras crianças fazem desenhos para me oferecerem.”, Estagiária Filipa, 4º ano, avaliação 2º trimestre do ano letivo).