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Sociabilidades juvenis online

2. Comunidades Virtuais

Mais do que prever o futuro revolucionário da Internet, releva o estudo dos modos de utilização e de incorporação das TIC no quotidiano dos agentes sociais (Hine, 2004) e, em particular, dos jovens. Deste modo, destaca-se a criação de comunidades ou de redes sociais através da Internet. Entendemos a comunidade virtual como “um grupo social não sujeito a padrões de dimensões específicas, em cuja base de formação se encontra a partilha de interesses comuns, de tipo social, profissional, ocupacional ou religioso no qual não se procura apenas informação, mas também pertença, apoio e afirmação” (Cardoso, 1998:115).

Partimos da premissa de que as comunidades online constituem autênticas

comunidades que contribuem, também, para a estruturação e sedimentação das comunidades face-a-face. Sem retomar a querela entre real e virtual, Valiente (2005:138) refere a aparente contradição dos termos comunidade e virtual, na medida em que “o substantivo comunidade fala de consistência, de existência real,

de um tipo de relação concreta entre pessoas e um determinado espaço físico. O adjectivo virtual, por sua vez, pode-se tomar como oposto ao real, e entende-se

como falso e ilusório, como não existente.” Retomamos, ainda, o contributo de Afonso (2006:145) que afere uma comunidade virtual como “um grupo circuns- crito de pessoas que agem e interagem no ciberespaço num contexto partilhado, com significado, e negociado, por um período de tempo estável, dirigido por objec- tivos comuns e orientado por normas e valores comuns”.

A este propósito, apresentamos de seguida um quadro sintetizador de alguns dos elementos que enformam o conceito de comunidade.

COMUNIDADES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM E IDENTIDADES NO ENSINO SUPERIOR

Advogamos que o estudo dos tipos de comunidades online em que se inserem os jovens permite aferir o modo a estruturação e funcionamento destas comuni- dades, os tipos de comunicação, o estabelecimento de trocas sociais, o sentido de pertença e solidariedade, a negociação de compromissos e normas de reciproci- dade. Este universo de interrogações integra o contributo de estudos previamente conduzidos indagando se as comunidades online constituem comunidades “reais”

e se integram as demais comunidades dos indivíduos; como é que os grupos sociais no ciberespaço se estendem para o mundo “real” (e vice-versa); e se as rela- ções sociais criadas e ancoradas no ciberespaço influenciam as comunidades físicas (Wellman e Gulia, 1999).

SOCIABILIDADES JUVENIS ONLINE

Elementos Descrição

Pertença Significa enculturação, partilha de valores. Inclui: laços, afeição, imagem de “nós”, história comum, rituais, símbolos, visão, orientação para o futuro.

Compromisso Refere-se ao acordo, obrigações e responsabilidades. Envolve tempo e esforço na acção e requer apoio e igual participação nas actividades sociais.

Relação Refere-se ao nosso interesse por outras pessoas, determina a nossa acei- tação das normas sociais e o desenvolvimento da consciência social. Inclui: associação, alianças e relações.

História Significa a criação de uma história colectiva através da colecção de even- tos que ligam os membros da comunidade a uma cultura comum. Identidade Representa um fenómeno quer público, quer relacional. Uma identi-

dade partilhada representa um conjunto de valores subjectivos que criam uma identidade colectiva à volta de um projecto comum. Integração Significa a interdependência de práticas, envolve a reciprocidade de prá-

ticas ou a participação total na comunidade.

Envolvimento Refere-se à responsabilidade e compromisso nas actividades que pros- seguem os interesses da comunidade.

Interacção Baseada nos significados partilhados e negociados, envolve a troca refle- xiva de ideias, recursos e sistemas de influência.

Pluralidade Refere-se à diversidade e multiplicidade de conhecimento, recursos, ideias e relações no grupo. Significa unidade na diversidade.

Rituais Envolve sistemas de organização, cultos, iniciação, passagem e padrões. Partilha Significa ter o mesmo entendimento e significado, e/ou, igual uso de e

participação nos recursos e conhecimento. Tempo Significa a longevidade das relações.

Valores Refere-se aos princípios, regras, axiomas e sistemas.

Quadro 1 Elementos das comunidades

Segundo Sotomayor (2006), as características estruturais, dinâmicas e evolu- tivas das comunidades virtuais não se diferenciam em grande medida das comu- nidades do mundo físico. O ser humano transfere para o ciberespaço os seus modos de vida na sociedade e a sua cultura e configura esse espaço para que melhor responda às suas necessidades. Na Internet encontramos um espaço novo para a partilha e a difusão de informação mas também, aqui, como em qualquer outro dos espaços sociais, culturais e/ou tecnológicos, espelham-se e recriam-se as discrepâncias e as desigualdades que existem noutras esferas da actividade humana. Daí que seja necessário considerar a nossa disposição natural de raízes filogenéticas para a formação de grupos, a estrutura motivacional da associação em que se baseia o estabelecimento do contacto interpessoal, entre outros, que são pontos-chave para a compreensão do desenvolvimento das comunidades virtuais e que estão articulados com o tema da nossa identidade como seres humanos.

A pesquisa realizada por Wellman et al. (2006), no contexto da sociedade

norte-americana, partiu do questionamento sobre o impacto da Internet nas redes de amizade, familiares, vizinhança, trabalho e capital social dos indivíduos. Reto- mando o dualismo "nem apocalípticos nem integrados", pretendia-se saber se, por um lado, a utilização da Internet potenciava as relações nas suas valências social e geográfica ou, se por outro, alienava os indivíduos das redes de interacção autên- ticas. Também aqui, seria necessário reflectir sobre a acepção de "autenticidade". O estudo empírico evidenciou que a Internet fomenta a construção do capital social; a Internet e o uso do e-mail desempenham um papel relevante na manu- tenção das redes sociais, complementando as interacções estabelecidas ao nível presencial e por telefone, entre outras; os contactos presenciais e telefónicos aumentam o recurso à Internet; a Internet promove uma espécie de "individua- lismo em rede", na medida em que os indivíduos procuram, de forma activa, uma multiplicidade de pessoas e de recursos, em função dos contextos. Pelo que, às interacções estabelecidas na rede, para além da dimensão socializante, acrescem a procura de informação, aconselhamento e tomada de decisões.