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Tecnologia, Internet e Sociedade em Rede – O reflectir sobre novas formas de interacção

Reflexão em torno da cultura da internet e das novas formas de comunicação

2. Tecnologia, Internet e Sociedade em Rede – O reflectir sobre novas formas de interacção

Estamos perante um ponto de análise que tem sido alvo de inúmeras inter- pretações, adaptações e utilizações quando queremos falar de Tecnologias, Inter- net e Sociedade em Rede. Todavia, consideramos que é sempre relevante com- preender o panorama da situação e fazer uma reflexão sobre concepções que mar- caram e marcam presentemente.

É interessante imaginar que existem nos nossos dias indivíduos que se recu- sam a lidar com as tecnologias. Não é uma questão de dramatizar a situação, nem de os considerar info-excluídos1 à partida, mas antes torna-se um problema que deve ser analisado e percebido em todas as suas dimensões. Mesmo sem querere- mos, pertencer à sociedade da informação é algo que não podemos evitar porque estamos de tal forma submergidos nesta realidade, que o que importa é saber resistir neste novo contexto de sociedade actual. É necessário que se estabeleçam

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Castells, M. (2004). A Galáxia Internet – Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

estratégias para minimizar o receio de lidar com as tecnologias, por parte daque- les que se recusam a aceitá-las de forma natural nas suas vidas.

A forma como esta sensibilização deve ser feita passa pela consciencialização de tudo o que rodeia o indivíduo dado que, por vezes, são indivíduos que utilizam diariamente as tecnologias sem muitas vezes se aperceberem. O passo seguinte é cautelosamente analisar os prós e contras da sua utilização, com o intuito de melhorar a sua actuação perante as tecnologias e não deixar que estas tomem conta da sua vida. Sabemos que as “novas tecnologias alteram a estrutura dos nos- sos interesses: as coisas em que pensamos; alteram o carácter dos nossos símbo- los: as coisas com que pensamos; e modificam a natureza da comunidade: a arena em que se desenvolvem os pensamentos” (Postman, 1994:25), mas ignorá-las pode também tornar-se um problema.

As tecnologias estão presentes de diversas formas nos nossos contextos de vida e não só alteram os nossos costumes, como também influenciam a forma como projectamos a nossa vida futura. Cada vez mais as tecnologias exigem uma for- mação extra e individual que passa pela auto-aprendizagem. Esta formação irá per- mitir aos indivíduos entrar no mundo tecnológico, usufruir das suas vantagens para a realização das tarefas do dia-a-dia e saber aplicar cada uma delas à situação indicada. Como referem alguns autores, as tecnologias fazem parte da nossa cul- tura e influenciam a nossa sociedade. Ponte, refere que, “mais do que um simples domínio instrumental, torna-se necessário uma identificação cultural. De que modo pode esta tecnologia servir ao meu trabalho? De que modo pode ela trans- formar a minha actividade, criando novos objectivos, novos processos de trabalho, novos modos de interacção com os meus semelhantes? O uso crítico de uma téc- nica exige o conhecimento do seu modo de operação (comandos, funções, etc.) e das suas limitações. Exige também uma profunda interiorização das suas poten- cialidades, em relação com os nossos objectivos e desejos. E exige, finalmente, uma apreensão das suas possíveis consequências nos nossos modos de pensar, ser e sentir” (Ponte, 2000:74).

Perante tais argumentações é necessário consciencializar a sociedade em geral das potencialidades das tecnologias e em particular das TIC, para não sermos con- siderados info-excluídos quando, de facto, temos ao nosso dispor as tecnologias e o único problema é a recusa ou o não saber utilizar. É importante reflectir sobre a afirmação de Ponte, quando diz que, “criticar as TIC sem as compreender ou con- dicionado pelo receio será sempre inconsequente e ineficaz. A capacidade crítica em relação às tecnologias pressupõe intimidade com as próprias tecnologias. O desafio é usar plenamente a tecnologia sem se deixar deslumbrar. Consumir cri- ticamente. Produzir criticamente. Interagir criticamente. Estimular a crítica das tecnologias e dos seus produtos” (Ponte, 2000:88). A verdade é que existem inú-

meras teorias que sustentam esta e outras concepções; o que falta é a efectiva apli- cação e interiorização destas.

Com o surgimento da Internet há quase 30 décadas em contextos ainda muito restritos, como em instituições universitárias e instituições do Estado, deu-se início ao que hoje parece revolucionar a sociedade convertendo-a no que muitos autores designam como: Era da Informação; Galáxia Internet ou Sociedade da Informa- ção. Como Castells refere, “a Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos para muitos em tempo escolhido e a uma escala global. Do mesmo modo que a difusão da imprensa no Ocidente deu lugar ao que McLuhan denominou de «Galáxia Gutenberg», encontramos agora um novo mundo de comunicação: a Galáxia Internet” (Castells, 2004:16).

A Internet é uma tecnologia que foi desenvolvida para fins talvez pouco dirigi- dos para a sociedade em geral, mas rapidamente o seu rumo mudou e invadiu pro- gressivamente inúmeros contextos, inclusive o contexto educacional. Como afirma Terceiro, a “Internet (a Net) é um dos fenómenos de maior popularidade no mundo da informática que, pela sua explosiva aceitação e a sua evolução previ- sível, pode comparar-se nos seus efeitos com o aparecimento, na década de oitenta, do computador pessoal. Hoje a Net é um meio universal de comunicação e procura de informação a muito baixo custo” (Terceiro, 1997:99). Tais afirmações por este autor foram feitas há dez anos atrás e podemos, ainda, acrescentar que se em tempos o acesso à Internet era escasso e limitado às grandes elites, hoje em dia existem inúmeras empresas que fornecem o acesso à Internet, a um custo acessível para a sociedade em geral.

É importante não esquecer o que referimos anteriormente, sobre o contexto onde surgiu a Internet e que tal concepção e estrutura foi desenvolvida para ligar em rede computadores, que estariam a ser utilizados em contextos universitários e que foram alargados a outras universidades, ligando estas redes entre si. Ponte refere que, “não se pode falar da sociedade da informação sem considerar a liga- ção em rede de computadores e redes, à escala global, possibilitando o acesso ime- diato a todo o tipo de informações e serviços. O conceito de rede, no entanto, não é novo. Os seres humanos, como seres sociais, estão permanentemente envolvi- dos numa teia de relações que desempenham um papel estruturante nos campos cognitivo e social. O que assistimos, nos anos recentes, foi a um salto qualitativo, passando essas teias de relações a incluir as redes telemáticas que põem cada um de nós em contacto com pessoas e entidades dos quatro cantos do planeta” (Ponte, 2000:68). Podemos considerar que estamos perante a Sociedade em Rede, tor- nando-se difícil ignorar ou pôr de parte das nossas vidas.

A sociedade em rede traz consigo um outro conceito muito conhecido, reflec- tido e, por vezes, difícil de definir, que é o de globalização. Podemos sustentar esta

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afirmação com o que Giddens refere, “a globalização tem algo a ver com a tese de que agora vivemos todos num único mundo. (…) Nos debates que irromperam nestes anos mais recentes, o conceito de globalização tem sido definido em termos contraditórios por diversos pensadores. Há quem renegue totalmente o conceito. (…) De acordo com os mais cépticos, toda esta conversa acerca da globalização não passa disso mesmo, de conversa. (…) O mundo continua o mesmo, está assim desde há muitos anos”. Por outro lado, surgem posições que Giddens designou de radicais, “para os radicais a globalização é um facto bem concreto, cujos efeitos se fazem sentir por toda a parte” (Giddens, 2000:20-21). Este autor acrescenta que “é um mito pensar que as tradições são impenetráveis à mudança. As tradições evoluem com a passagem lenta do tempo, mas também podem ser transformadas ou alteradas de maneira bastante rápida. Se assim posso dizer, são inventadas e reinventadas” (Giddens, 2000:48).

A Internet e a sociedade em rede permitiram que os horizontes fossem alar- gados ao nível das relações interpessoais que se estabelecem. Passamos a viver numa sociedade global que é composta por comunidades reais (físicas) e comuni- dades virtuais (ciberespaço). No nosso ponto de vista uma não substitui as outras, mas antes complementam-se dando lugar a novos contextos de interacção. Ponte sustenta que, “os novos nómadas do ciberespaço procuram a informação, mas procuram também a relação, a afirmação e a pertença a grupos. Ou seja, a Inter- net tem uma dimensão social. As tecnologias em rede propiciam a existência de ambientes intermediários entre mim e os outros, que permitem fundar comuni- dades reais, no sentido em que existe interactividade entre os indivíduos, mas também virtuais, na medida em que não existe presença física” (Ponte, 2000:69). Não podemos ignorar que existem verdadeiras comunidades no ciberespaço. Estas comunidades podem ter uma conotação diferente no verdadeiro sentido que o conceito comunidade traduz em si mesmo. Talvez, como sustentam alguns autores seja necessário alterar o significado de comunidade e adaptá-lo à realidade em questão. Para Castells, “as pessoas organizam-se cada vez mais, não só em redes sociais como em redes sociais ligadas por computador. Por conseguinte, não é que a Internet crie um modelo de individualismo em rede como forma domi- nante de sociabilidade. O individualismo em rede constitui um modelo social, não uma colecção de indivíduos isolados. Os indivíduos constroem as suas redes, on-line e off-line, sobre as bases dos seus interesses, valores, afinidades e projec- tos” (Castells, 2004:162).

Consequentemente, sentimos necessidade de tornar realidade um novo espaço de interacção para um conjunto de profissionais com os mesmos interesses. No próximo ponto tentamos focalizar a concepção deste novo ambiente virtual e diver- sas reflexões que dão voz a este novo conceito.

3. Construção de novos espaços de comunicação em educação – cons-