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Sociabilidades juvenis online

3. Redes de Sociabilidades

Afinidades activas, sintonias grupais, acordos implícitos, objectivos comuns, comuns experiências, tudo contribuirá para a incorporação de sistemas de dispo- sições. Sociabilidade é socialização e contágio. (Firmino da Costa et al., 1990:200)

Os novos media conduzem à recontextualização comunicacional pela subver- são das noções de espaço e tempo e a revolução dos procedimentos societais. O

COMUNIDADES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM E IDENTIDADES NO ENSINO SUPERIOR

advento das redes telemáticas configura um novo universo comunicacional onde se processa a circulação do saber, com implicações no reforço das competências e dos laços comunitários estabelecidos entre os agentes sociais. Segundo Castells, o

espaço de fluxos e o tempo intemporal constituem “as bases principais de uma nova

cultura, que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação his- toricamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o faz-de-conta vai-se tornando realidade” (2000:397-398).

Algumas das questões sociológicas sobre a vivência do indivíduo nas comuni- dades “virtuais” remetem para a inauguração de novas formas de sociabilidade e de novas formas de interacção entre os agentes sociais que partilham o ciberes- paço. Recuperando a noção de sociabilidade, a vida em sociedade desenvolve-se dentro de um espaço reticular no qual os diversos agentes sociais estabelecem entre si, de uma forma deliberada, um conjunto de laços. Baechler referencia a sociabilidade como “a capacidade humana de estabelecer redes através das quais as unidades de actividades, individuais ou colectivas, fazem circular as informa- ções que exprimem os seus interesses, gostos, paixões, opiniões…” (1995:57).

A era digital parece desafiar a forma como os indivíduos interagem no quoti- diano e a criação de novas formas de sociabilidade. Neste contexto, as relações sociais ganham novos contornos, uma vez que os indivíduos podem assumir iden- tidades diferentes, não estando sujeitos a representarem determinados papéis sociais nem a posicionarem-se em determinado nível das estruturas hierárquicas rígidas e formais das sociedades designadas tradicionais; e a noção de espaço sub- verte-se num espaço não físico, sem fronteiras, instável, percorrido livremente por todos os que “navegam” nas redes (Marcelo, 2000: 69).

As solidariedades são transferidas dos limites geográficos das comunidades tradicionais para se desenvolverem, em função da conexão aos dispositivos infor- máticos e da mediação das redes tecnológicas, num outro espaço muito distinto do “espaço tradicional” – o ciberespaço. O ciberespaço constitui um espaço pro- piciador de dinâmica social e as formas de interacção mediada pelos dispositivos tecnológicos informáticos coexistem com as interacções face-a-face. Apesar de não partilharem o mesmo espaço físico e da interacção ser mediada, do anoni- mato e da natureza efémera das comunicações, os indivíduos estabelecem laços de afinidade que resultam em relações sólidas, como as de amizade. Neste novo contexto relacional, o indivíduo está enraizado num espaço físico, no âmbito do qual estabelece relações sociais e partilha informação com outros indivíduos e, em paralelo, está suspenso num outro espaço, o virtual, ao qual tem acesso mediante a ligação à rede. Ou seja, um conjunto de redes de computadores que permitem aceder a informação muito diversa, mas que pontuam também como um lugar de encontro.

Segundo Firmino da Costa et al. (1990:198), a par da noção de rede pontua a de sociabilidade referente a contactos não anónimos, repetidos e duradouros, que

se estabelecem no quadro de distintas referências, como as familiares, as de ami- zade, as profissionais, as de vizinhanças, as de associação”. Bidart alude também à sociabilidade como “o conjunto das relações sociais efectivas, vividas, que ligam o individuo a outros indivíduos através de laços interpessoais e/ou de grupo (1988:622-623). A autora aponta, ainda, as propostas de tipologias/antinomias sociológicas que referem a distinção entre sociabilidades formais/informais ou organizadas/espontâneas, entre sociabilidades colectivas/individuais, assim como dos aspectos relativos à intensidade das relações e reitera a variável idade, pois independentemente dos tipos e dos laços de sociabilidades, os jovens são generi- camente mais sociáveis.

De facto, as relações interpessoais assistiram, nos últimos tempos, a profun- das transformações passando do contexto face-a-face para a extensão do nosso mundo social à escala global (Sotomayor, 2006). No que respeita a socialização no ciberespaço, a Internet para além de meio de comunicação constitui-se também como um meio de produção e de interacção nas esferas pública e privada. Qual a natureza das relações criadas no ciberespaço? Castells (2000) advoga que as redes constituem suportes para os laços débeis uma vez que as pessoas se ligam e des- ligam, mudam de companheiros, de interesses, sem revelar necessariamente a sua identidade. Mas, por outro lado, a Internet pode contribuir para a sedimenta- ção de laços fortes a distância e as redes são criadas em conformidade com as afi- nidades electivas e estratégicas dos actores sociais. Pelo que as interacções que ocorrem no ciberespaço organizam-se segundo o modelo das “comunidades elec- tivas” ou de interesse e a interacção individualizada, quase sempre baseada nas relações sociais da vida real.

Para Miller (1995), é necessário compreender como a CMC difere da interacção face-a-face. Neste sentido, argumenta que estamos perante um sistema interactivo que, por exemplo, no caso da construção de páginas Web, parece oferecer um locus

para o self electrónico com mais potencialidades de ‘embodiment’ do que de interac- ção. Contudo, a CMC constitui um novo meio de nos apresentarmos, mas numa lógica que requer a interpretação do que os indivíduos dizem sobre si próprios.