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Construção de novos espaços de comunicação em educação – cons tituição e dinamização da Comunidade de Prática @rcaComum

Reflexão em torno da cultura da internet e das novas formas de comunicação

3. Construção de novos espaços de comunicação em educação – cons tituição e dinamização da Comunidade de Prática @rcaComum

A reflexão anterior sobre as Tecnologias, a Internet e a Sociedade em Rede foram impulsionadoras para o que tencionamos realçar, sobre os novos espaços de comunicação em educação e para a idealização e constituição de um projecto em desenvolvimento, de uma Comunidade de Prática (CoP) Online ibero-americana de educadores de infância, que foi designada por @rcaComum.

Sem as tecnologias e a Internet talvez não existissem novos espaços de comu- nicação em educação. Apesar das reformas educativas a que vimos assistindo em Portugal e no mundo, parece que as metodologias e estratégias no processo de ensino-aprendizagem se mantêm quase inalteradas. Até que ponto podemos afir- mar que o simples facto de um computador estar na sala de aula é efectivamente a integração das tecnologias de informação e comunicação (TIC) na educação e no processo de ensino-aprendizagem? Qual o papel dos alunos e dos professores na integração das TIC na educação? De que forma existe interacção com as tec- nologias por parte de alunos-professores? E mais, de que forma as tecnologias se constituem como elemento chave no processo de cooperação e colaboração entre os próprios professores? Estas e outras inquietações surgem no nosso pensa- mento ao tentarmos levar a cabo o nosso projecto. Como refere Cabero, “Las nue- vas tecnologías se diferencian de las tradicionales, no en lo que se refiere a su aplicación como medio de enseñanza, sino en las posibilidades de creación de nuevos entornos comunicativos y expresivos que facilitan a los receptores la posi- bilidad de desarrollar nuevas experiencias formativas, expresivas y educativas” (Cabero, 2000:17).

Partimos à procura de fazer emergir um novo contexto de colaboração entre profissionais da educação de infância acreditando que “los ordenadores pueden utilizarse para apoyar el aprendizaje de diversas formas. Una de ellas supone su utilización y la de las redes como herramienta de comunicación entre personas que están colaborando para lograr un objetivo común que no requiere la presen- cia física y que puede proporcionar un foro para la comunicación continua sin limitaciones de tiempo y del espacio” (Cabero, 2000:199).

Apesar do conceito de Comunidades Virtuais ter sido alvo de muitas aprecia- ções, por autores de grande referência como o do seu próprio mentor Howard Rheingold, o nosso interesse centraliza-se num outro conceito mais especifico, designado por Comunidade de Prática (CoP), cuja revelação surgiu de Etienne Wenger em 1991 e sobre qual alguns autores, também, se têm debruçado. Um dos autores que realça o conceito da CoP diz-nos que, “las Comunidades de Práctica pueden ser presenciales o virtuales. Cualquiera de los dos modelos, presencial o

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virtual, es igualmente válido, pero es fácil intuir que las tecnologías de la infor- mación y de la comunicación (TIC) pueden contribuir de manera positiva a la implantación y el desarrollo de las CP” (Sanz, 2005:27-28).

Este conceito pode ser alargado com um outro pensamento que o completa que diz que, “La organización de un nuevo espacio de comunicación, que se conoce como ciberespacio, permite nuevas esferas de relación social que a través del trabajo colaborativo promuevan el aprendizaje” (Cabero, 2000:201) e, assim, resulta o que realmente pretendemos com o concretizar do nosso projecto.

Aquando da idealização, na procura de informação e na revisão da literatura, deparamo-nos com concepções diversificadas e que influenciaram as nossas opções metodológicas e a planificação das actividades a desenvolver numa comu- nidade de prática. Encontramos ao longo desta caminhada autores que nos impul- sionaram e levaram a acreditar que seria possível, que a nossa comunidade fosse além fronteiras do ciberespaço de Portugal, arriscando desta forma a implemen- tação em países da América Latina e no nosso país vizinho Espanha. Como refere Turkle, “correspondemo-nos através do correio electrónico, contribuímos para painéis de notícias electrónicos e subscrevemos listas de endereços electrónicos; entramos em grupos de discussão cujos participantes incluem pessoas de todas as partes do mundo. O nosso enraizamento a um determinado lugar atenuou-se. Estas mudanças suscitam numerosas interrogações: Quais serão os efeitos da comunicação mediada por computador sobre os compromissos que estabelece- mos com outras pessoas? Este novo tipo de comunicação satisfará as nossas neces- sidades de ligação aos outros e de participação social, ou, pelo contrário, virá minar ainda mais uma teia de relações já fragilizada? Que tipo de responsabilidades esta- remos nós dispostos a assumir pelas nossas acções virtuais?” (Turkle, 1997:262). Para além das afirmações apresentadas por Turkle, partilhamos as mesmas inquietações mas tentamos no dia-a-dia dar lugar a uma comunidade com carac- terísticas e identidade própria que deixe marcas e influencie significativamente a vida dos seus intervenientes.

A Comunidade de Prática @rcaComum é um projecto que se tem vindo a desenvolver desde Setembro de 2005, mas que assumiu um lugar no ciberespaço desde Setembro de 2006 como uma comunidade efectiva e um lugar onde se esta- belecem interacções em torno da educação de infância. Desde o projecto, passando pelo desenho, concepção e implementação da comunidade foram inúmeras as dúvidas e receios quanto à sua possível concretização. A comunidade é sustentada pela plataforma Moodle, cujo endereço na Web é http://www.nonio.uminho.pt/ arcacomum. Esta plataforma foi escolhida dentro de um leque variado de ambien- tes virtuais propícios para implementação deste tipo de comunidades, mas que se tornou a escolhida por razões como: ser a eleita pelo Ministério de Educação em

Portugal e a Equipa de Missão CRIE (Computadores, Redes e Internet na Escola) a implementar nas escolas em Portugal. Outro factor prende-se com o seu carác- ter de livre utilização e por ser uma plataforma acessível e quase intuitiva, do ponto de vista do utilizador.

No final de Janeiro de 2007, encontramo-nos no quarto mês desde o seu início como comunidade, contamos com 164 pessoas registadas dos diversos países Ibero-Americanos, das quais 50 nunca completaram o seu registo, dado que este prevê a obrigatoriedade de resposta a algumas questões. Consideramos esta infor- mação pertinente pelo facto de esta comunidade ser restrita a educadores de infância, investigadores, docentes do ensino superior ou outros que desempe- nhem funções ligadas à educação pré-escolar e formação de educadores. Preten- demos desta forma, salvaguardar os interesses dos participantes, bem como, a integridade e respeito das informações partilhadas que em muitos casos se refe- rem às próprias crianças e identidade das instituições onde se exerce funções. Todavia, é difícil garantir que esta seja uma estratégia segura, mas existem regras de funcionamento da comunidade e caso algum dos participantes revele compor- tamentos menos próprios os investigadores responsáveis pela @rcaComum deter- minarão o rumo destas situações.

De uma forma geral a comunidade conta com ferramentas de comunicação síncrona (chat) e assíncronas (fóruns de discussão e mensagens internas), nas quais os participantes estabelecem a comunicação e a partilha de experiências. Existem bases de dados que foram designadas por álbuns de fotos, por países, onde se pode partilhar através da imagem experiências, acompanhadas de um pequeno texto explicativo. Para a partilha de conteúdos existe um Portefólio onde é possível a disponibilização, por qualquer membro da comunidade, de ficheiros dos mais diversificados (texto, imagem, som, vídeo, entre outros). Ainda, existem actividades pontuais e regulares que determinam a dinâmica da comunidade, que estão relacionadas com a época do ano em que nos encontramos e, também, outras actividades como entrevistas a especialistas na área da educação pré-escolar dos diversos países ibero-americanos.

A nossa reflexão depois destes quatro meses de interacções, sejam elas de uma forma activa ou mais passiva como meros observadores, tem-se revelado numa surpresa constante e no acreditar que é possível existirem comunidades de prática e a partilha de interesses comuns. Contudo, ainda há muito a concretizar neste sentido. Diríamos que falta disponibilidade, vontade de arriscar e superar os receios de utilizar as tecnologias e todavia, encarar a comunidade no ciberespaço como algo real, concreto e que pode realmente influenciar a nossa acção no nosso espaço físico. Existem alguns momentos de interacção com algumas pessoas da comunidade, em que de ambas as partes surge o sentimento de pensar e experi-

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mentar a sensação de se conhecerem há muito tempo, porque na verdade conse- guem transpor o real para o virtual. Espelhamos a nossa experiência nesta CoP, no que Ponte nos diz, de que “(…) não devemos ver o ciberespaço como um mero repositório de informação. (…) ele é um lugar propiciador da dinâmica social, em que a própria informação perde o seu carácter estático e adquire uma dinâmica de mudança constante, alterando-se, crescendo e permitindo aos seus criadores a sua apropriação de forma transformadora. Ou seja, as TIC são tecnologias tanto cog- nitivas como sociais. Uma tecnologia social permite que indivíduos com interes- ses convergentes se encontrem, falem, ouçam ou desenvolvam uma interacção com algum grau de durabilidade” (Ponte, 2000:70).

Talvez este tema permita a reflexão conjunta de novas estratégias de interacção e dinâmica numa CoP online, de forma a garantir a sustentabilidade e durabili- dade no tempo. Para concluir a nossa percepção sobre as comunidades de prática, ficamos desde já, comprometidos a revelar mais pormenores deste estudo quando os dados analisados e apresentados assim o permitam.

4. Reflexões do papel de Líder numa CoP, o caso prático da Comunidade