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CAPÍTULO I: A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL E NO MUNDO

1.3 A Assistência Social no Atual Cenário Brasileiro

1.3.1 Conceito de Assistência Social

Como preconiza o art. 203 da Constituição Federal de 1988, a assistência social será prestada àquelas pessoas que não reúnam condições de manutenção própria, mesmo que não tenham contribuído para a previdência social. Nesse caso, a condição básica é simplesmente a necessidade do assistido. A Lei nº. 8.742/93 assim define a assistência social, importante segmento da seguridade social:

15 PEREIRA, Potyara Amazoneida. A assistência social na perspectiva dos direitos – crítica aos padrões dominantes de proteção aos pobres no Brasil. Brasília: Thesaurus, 1996.

A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política da Seguridade Social não-contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada través de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.

Os serviços de assistência social de responsabilidade do Estado caracterizam-se pela maneira de intervir na vida social, sempre buscando meios de mudar a realidade cotidiana do cidadão brasileiro e criar perspectivas de melhoria do padrão de vida. Devido à globalização, acentuada desde meados da década de 1980, houve maior flexibilidade e desregulamentação das relações de trabalho e, assim, muitos trabalhadores ficaram desempregados, ampliando um processo histórico de exclusão social.

A retirada da segurança reprodutiva da esfera contratual dos direitos civis levou a uma maior participação do Estado da regulação dos direitos humanos, em decorrência do princípio da cidadania consagrado pelo texto da Constituição de 1988. Assim, os direitos civis compreendem a igualdade formal de todos perante a lei e podem ser garantidos por meio das instituições legais, independentemente das condições de cada indivíduo.

Entretanto, o Estado precisa de uma estrutura administrativa e um modelo de gestão social para a prestação de serviços sociais, o que aumenta os custos financeiros dos direitos sociais. A efetivação, ampliação e extensão dos direitos sociais dependem, portanto, da dimensão dos recursos nacionais que estão condicionados às prioridades do governo. Essas prioridades podem ser alteradas, no entanto, de acordo com o direcionamento das políticas públicas.

Os objetivos da assistência social são: a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho, a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária e a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portador de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios para garantir sua subsistência ou de tê-la provida por sua família (art. 2º da Lei 8.742/93).

Para uma melhor compreensão do conceito de assistência, é interessante observar que alguns autores a definem pelo seu caráter de atendimento, classificando as ações como assistenciais (mediatas) e assistencialistas (imediatas), dando uma idéia de ações momentâneas. Desse modo, a assistência pode ser vista de duas maneiras: como outorga e como conquista.

Como outorga, nada mais é que a dação de recursos à população mais carente, sendo utilizada como meio de manipulação das massas, fortemente associada ao paternalismo e ao clientelismo. Essa é característica do Estado autoritário.

A assistência como conquista representa uma resposta às lutas sociais, e, segundo alguns autores, pode refletir-se em ações do Estado em momentos de crise e organização popular, quando então a própria população exige que o Estado lhe faça concessões no que se refere à garantia de seus direitos sociais.16

Entretanto, essa face paternalista da assistência torna-se um problema justamente quando se acrescenta o termo “social”, que habitualmente constrange e estigmatiza os mantenedores e beneficiários dos benefícios e serviços assistenciais, gerando preconceito quando se fala de medidas assistenciais. Levando-se em conta sua própria natureza, a assistência social está ligada fundamentalmente à noção de pobreza, miséria e exclusão.

Deixando de lado o conceito de pobreza absoluta, o destinatário da assistência social deixa de ser o miserável para ser o relativamente pobre, com renda e padrão de vida menos favoráveis do que aqueles que se encontram na parte de cima da pirâmide social. Para ser efetiva, a assistência social deve estruturar-se em torno das necessidades humanas, criadas pelas desigualdades sócio- econômicas, e não em torno de uma clientela-limite que, a rigor, não deveria existir. Para tanto, é necessário, conforme Schons (1999):

16 SCHONS, Selma Maria. Assistência social entre a ordem e a “des-ordem”: mistificação dos direitos sociais e da cidadania. São Paulo: Cortez, 1999.

a) permanente esforço de aproximação da assistência social com as demais políticas sócio-econômicas, de acordo com um projeto articulado de atenção às necessidades humanas que, como o próprio nome indica, difere das necessidades animais, que são naturais e constantes (Baran e Sweezy, 1974);

b) problematização da questão fundamental da redistribuição relativa de recursos entre ricos e pobres, com vistas a uma política mais equitativa de proteção social;

c) construção, no campo da assistência social, de um conhecimento mais sofisticado acerca dos problemas sócio-econômicos, que afetam o país e o mundo, e dos processos de tomada de decisão política, referentes a esses problemas;

d) sistematicidade, continuidade e previsibilidade das ações e dos recursos para assistência social;

e) garantias legais ao direito à assistência social;

f) pessoal qualificado para realizar tarefas bem mais complexas que a simples mitigação de sintomas de carências severas, tais como: pesquisas e diagnósticos, com vistas à definição de prioridades políticas compatíveis com a complexidade da pobreza relativa ou da desigualdade e da exclusão social.

Dessa maneira, será possível identificar-se a assistência social como uma política social que: seja realmente genérica na atenção do problema e específica nos destinatários; tenha por prioridade o real atendimento das necessidades sociais básicas; seja isenta do senso de oportunidade de mercado e do populismo; seja inclusiva, porque prioriza políticas, serviços e direitos de grupos específicos setoriais, conforme suas reais necessidades sociais.