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CAPÍTULO II: A SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 19

2.2 Direitos protegidos pela Seguridade Social

2.2.1 Saúde

A saúde é um direito de todos os cidadãos e um dever do Estado, direito esse que independe de contribuição, conforme assegura a Constituição Federal de 1988 em seu art. 196. Portanto, não se admite que qualquer pessoa que precise de atendimento médico deixe de ser atendido sempre que procurar auxílio junto a qualquer das instituições públicas que compõem o Sistema Único de Saúde – SUS.29

A saúde é, destarte, considerada um segmento autônomo da seguridade social, sendo um direito garantido por meio das políticas sociais e econômicas, com o objetivo de reduzir o risco de doenças e proporcionar o acesso universal e igualitário a ações e serviços oferecidos no sentido de promoção, proteção e recuperação, sendo a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis objeto de regulamentação pela Lei nº. 8.080/90, a qual deixa encarregadas por sua execução tanto entidades públicas como algumas entidades de iniciativa privada que eventualmente prestem serviços ao SUS.

29 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 12ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008.

A partir da Constituição de 1988, todos têm direito à saúde, não se admitindo que qualquer sujeito seja excluído do sistema. A sociedade como um todo participa da gestão, por meio do Conselho Nacional de Saúde – CNS, criado pelo Decreto nº. 5.839, de 2006, órgão colegiado de caráter permanente e deliberativo, integrante da estrutura do Ministério da Saúde e composto por representantes do governo, prestadores de serviços, profissionais da saúde e usuários. O Sistema Único de Saúde é organizado de modo descentralizado para o atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas e sem prejuízo das ações assistenciais.

O SUS é financiado com recursos provenientes do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções a instituições privadas com objetivo de lucro, e apenas é permitido o reembolso de despesas da prestação de serviços por entidade privada nos casos em que o SUS não possua condições de oferecê-los.

A Emenda Constitucional nº. 51, de 2006, prevê que os gestores locais do Sistema Único de Saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, conforme a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos à sua atuação. Tais agentes são responsáveis por orientar a população, informando-a e incentivando a correta utilização de medidas preventivas e o uso correto de medicação, de acordo com a Lei nº. 11.350/06.

Cabem ainda ao Sistema Único de Saúde as seguintes atribuições (Ibrahim, 2008, p. 11):

• controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse da saúde, além de participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemo-derivados e outros insumos;

• executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica bem como as de saúde do trabalhador;

• ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;

• participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;

• incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico;

• fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; • participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e

utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

• colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Além disso, prevê também a Constituição de 1988 que a lei deve dispor sobre as condições e requisitos necessários na remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, assim como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado qualquer tipo de comercialização desses materiais.

2.2.2 A Assistência Social como Política de Seguridade Social

Como preconiza o art. 203 da CRFB, de 1988, a assistência social será prestada àquelas pessoas que não reúnam condições de manutenção própria, mesmo que não tenham contribuído para a previdência social. Nesse caso, a condição básica é simplesmente a necessidade do assistido. A Lei nº. 8.742/93 assim define a assistência social, importante segmento da seguridade social:

A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é política da seguridade social não-contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.

Os objetivos da assistência social são: a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes;

a promoção da integração ao mercado de trabalho, a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios para garantir sua subsistência ou de tê-la provida por sua família (art. 2º da Lei 8.742/93).

2.2.3 Previdência Social

O direito à previdência social é composto por um conjunto de normas previdenciárias, confeccionadas à luz da legalidade, segundo o art 1º. e o art. 3º. da Constituição Federal de 1988, assim como o art. 60º, inciso IV. Entretanto, o elemento peculiar dessa técnica de proteção social – a qual difere substancialmente dos demais preceitos prestacionais – decorre do caráter contributivo da previdência social, que prevê a obrigatoriedade do recolhimento de contribuições para que seja prestado o serviço social.

Justamente por isso, a ampliação desse direito à previdência originou um direito mais amplo, qual seja o regime geral que concede aposentadorias sem a contraprestação correspondente, utilizando-se da capacidade dos que podem contribuir e da solidariedade social para amparar os beneficiários nos momentos de suas necessidades.

Atualmente, a Previdência Social é, sobretudo, uma instituição que visa prover as necessidades vitais de todos os que exercem formalmente atividade remunerada e de seus dependentes, nos eventos previsíveis de suas vidas, por meio de um sistema de seguro obrigatório custeado por toda a sociedade direta e indiretamente.30

As medidas de proteção social coletivas nasceram naturalmente da solidariedade, uma vez que a previdência social, inicialmente, era mutualista e

30 ROCHA, Daniel Machado da. O Direito fundamental à previdência Social na perspectiva dos

princípios constitucionais protetivos do Sistema Previdenciário brasileiro. Porto Alegre: Livraria

visava à tutela dos grupos que exerciam uma mesma atividade, identificando-se num destino comum. Com o advento da Revolução Industrial, que proporcionou o aumento da produtividade e da mais-valia, os trabalhadores passaram a ser considerados responsáveis pelo seu próprio destino, sem a necessidade de intervenção estatal.

No final do século XIX, a questão da responsabilidade civil, nos casos de acidentes de trabalho, derrubou a concepção do individualismo e da exclusão social, fazendo com que surgisse um sistema de solidariedade, em princípio na Alemanha de Bismarck, que, por sua vez, fez com que emergisse um novo sentimento: o da responsabilidade social.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a sociedade passou a exigir do Estado a criação de mecanismos capazes de amenizar as dificuldades, por meio de uma intervenção mais efetiva, que fez nascer o Estado Social de Direito, doravante responsável pela tutela da dignidade econômica da pessoa humana. A solidariedade torna-se, então, voluntária ou imposta pelo Direito.

A previdência social possui um arcabouço de normas que são expressão de princípios basilares. Um deles é o da solidariedade, pela qual todos são responsáveis pela vida, liberdade e dignidade dos demais. Outro princípio é o da universalidade, que contém a ideia de inclusão, significando que a previdência social deve ser acessível a todos, tanto aos que contribuem como aos que não o fazem.

O art. 194, inciso I, da Constituição Federal trata da “universalidade da cobertura e do atendimento”. Entretanto, se é verdade que o direito à saúde deve ser assegurado a todos de forma gratuita, por outro lado, muitos trabalhadores estão excluídos do seguro social, em razão de desemprego, terceirização, cooperativismo etc.