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Conceito de sócio, administrador, procurador da sociedade empresária e de sócio

5 OS LIMITES ENTRE O EXERCÍCIO DA AUTONOMIA PRIVADA E A

5.1 O USO DE INTERPOSTAS PESSOAS (“LARANJAS”) COMO FORMA DE

5.1.1 Conceito de sócio, administrador, procurador da sociedade empresária e de sócio

Sócio é aquela pessoa, natural ou jurídica, que compõe o quadro societário, tendo personalidade jurídica e patrimônio distintos daqueles da correspondente sociedade. Os direitos e obrigações do sócio estão elencados no Código Civil de 2002 e a partir deles é possível compreender os elementos básicos para o seu conceito.

Será sócio todo aquele que tenha a obrigação de contribuir com a constituição do capital social, conforme prescreve o artigo 1.004, do supramencionado diploma legal. É ainda sócio aquele que tem o direito de participar dos resultados sociais, de modo que será nula qualquer estipulação contratual em sentido contrário, de acordo com o seu artigo 1.008.

O statu socii representa os “direitos, deveres e obrigações atribuídos a um sócio ao firmar um contrato plurilateral associativo”455. É, portanto, uma situação subjetiva adquirida

por aquele que expressa a sua vontade no sentido de ser sócio, celebrando um negócio jurídico livre de vícios.

O administrador da sociedade empresária pode ser sócio ou não e, portanto, a sua definição é diversa da desta figura ora apresentada. Administrador é determinada pessoa ou pessoas:

[...] escolhida(s) pelos sócios para com exclusividade fazer(em) uso da firma ou denominação da sociedade, a fim de desempenhar zelosa e proativamente as funções que, internamente e perante terceiros, favoreçam no mundo jurídico o exercício da empresa e a consecução dos objetivos sociais456.

O administrador pode, então, fazer uso da firma ou denominação de determinada sociedade empresária com o fim de maximizar o exercício desta empresa, do seu objeto social457. Para tanto, tem o dever de empregar o zelo necessário, expressamente posto no artigo 1.011, do Código Civil de 2002, ao consignar que agir com “o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios”.

A figura do administrador não-sócio foi introduzida no ordenamento jurídico pátrio com a edição do Código Civil de 2002, em seu artigo 1.061, que prevê como quórum para a aprovação da nomeação a unanimidade, se o capital social não estiver integralizado, e de 2/3 (dois terços), caso já integralizado. Esta nomeação poderá ser feita no próprio contrato social

455 SILVA, 2016, p. 220.

456 GONÇALVES, Júlio Cesar Pogorzelksi. O administrador não sócio nas sociedades limitadas: deveres

jurídicos e responsabilização. Belo Horizonte: Arraes, 2016, p. 45.

ou em ato apartado, registrado na Junta Comercial, e é figura distinta do gerente-delegado da Lei Civil de 1916, posto que este representava sócio em específico instituído para tal função458. Por fim, importa apresentar que o administrador não é equivalente ao procurador ou mandatário da sociedade459, posto que aquele assume função com pluralidade de direitos e deveres inerentes ao órgão que compõe, a administração460. Já o procurador ou mandatário é posição que advém do contrato de mandato, através do instrumento de procuração, regulado pelos artigos 653 a 666, do Código Civil vigente.

O mandatário recebe poderes conferidos pelo mandante para que, em nome próprio, pratique atos ou administre os interesses deste. Não são inerentes ao mandato todos os deveres que assume o administrador e, até 2014, tampouco havia a necessidade de informar à Junta Comercial aquelas procurações lavradas por instrumento público, conforme se passará a expor. O sócio “laranja” é aquele fictício, que figura aparentemente nos contratos plurilaterais constitutivos de sociedades empresárias, quando se pretenda esconder alguma determinada situação. Sempre que houver um “laranja”, haverá a prática de uma simulação subjetiva, que pode ser absoluta ou relativa.

No que tange ao conceito de sócio, é possível concluir que o “laranja” não apresenta quaisquer dos seus elementos configuradores. O “laranja” não deve ter jamais contribuído com a constituição do capital social e tampouco deve participar dos resultados sociais. Fazê-lo por um ato dissimulado não tem validade para tanto, pois se sabe que há um sócio dissimulado que em verdade é quem quita a participação societária e participa dos lucros e das perdas.

É necessário que se analise cada caso em concreto para se concluir qual o tipo de simulação está sendo empregado. Por exemplo, o sócio real que não quer ingressar e figurar em determinada sociedade por ter algum impedimento de participar de uma licitação e indica um “laranja” pratica uma simulação relativa subjetiva.

Nesta situação delineada, é possível que se conclua pela simulação ao se constatar, por exemplo, que o sócio simulado não promoveu qualquer investimento na sociedade. Todos os aportes financeiros advinham do patrimônio ou da conta bancária do sócio dissimulado.

É simulação porque, conforme o quanto elucidado nos capítulos anteriores, as partes fingem uma determinada situação, um dado negócio jurídico, enquanto que em verdade são produzidos os efeitos de outro negócio que está escondido, o qual fora dissimulado pelas partes.

458 GONÇALVES, 2016, p. 51. 459 Ibidem, p. 43-44.

As motivações para indicar um “laranja” no quadro societário são diversas e é possível tentar elencar outros exemplos. Condições especiais daquela pessoa em específico que, caso figurasse como sócio, poderiam impedir a celebração de determinados contratos, seja com o poder público ou ainda com outros particulares.

Outra seria evitar a incidência de determinadas normas jurídicas, a exemplo da tentativa de inserir no conceito de microempresas ou empresas de pequeno porte diversas sociedades que tenham um mesmo sócio e, por isso, não poderiam usufruir dos benefícios do Simples Nacional, por expressa previsão do artigo 3º e parágrafos da Lei Complementar nº 123, de 2006461. Ademais, é interessante observar que esta mesma Lei Complementar indica, em seu artigo 29, inciso IV, que a presença de interpostas pessoas no quadro societário é causa para a exclusão

461 “Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte,

a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). § 1º Considera-se receita bruta, para fins do disposto no caput deste artigo, o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos. § 2º No caso de início de atividade no próprio ano-calendário, o limite a que se refere o caput deste artigo será proporcional ao número de meses em que a microempresa ou a empresa de pequeno porte houver exercido atividade, inclusive as frações de meses. § 3º O enquadramento do empresário ou da sociedade simples ou empresária como microempresa ou empresa de pequeno porte bem como o seu desenquadramento não implicarão alteração, denúncia ou qualquer restrição em relação a contratos por elas anteriormente firmados. § 4º Não poderá se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado previsto nesta Lei Complementar, incluído o regime de que trata o art. 12 desta Lei Complementar, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica: I - de cujo capital participe outra pessoa jurídica; II - que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica com sede no exterior; III - de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; IV - cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; V - cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; VI - constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo; VII - que participe do capital de outra pessoa jurídica; VIII - que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capitalização ou de previdência complementar; IX - resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-calendário anteriores; X - constituída sob a forma de sociedade por ações. XI - cujos titulares ou sócios guardem, cumulativamente, com o contratante do serviço, relação de pessoalidade, subordinação e habitualidade.” Cf. BRASIL. Lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no8.212 e 8.213,

ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452,

de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro

de 1990; e revoga as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Disponível em:

de ofício do Simples Nacional, o que independe da constatação de quaisquer outros elementos, tendo em vista que há expressa previsão legal.

Portanto, concluímos que o sócio real ou de fato que esteja dissimulado é aquele que não quer aparecer ou figurar nos atos societários. Passa-se à análise de como este poderá figurar ou não como administrador não-sócio da sociedade ou como mandatário da sociedade ou do sócio fictício e, por isso, a importância em apresentar tais conceitos.