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clarificação de conceitos

I. 1.1.1 | Conceitos e teorias

A história da valorização dos bens históricos e arquitetónicos teve início na Europa de meados do século XVIII, quando o desenvolvimento dos métodos científicos para escavações arqueológicas5 possibilitou a descoberta e o estudo mais rigoroso dos monumentos da Antiguidade.

Dá-se a valorização artística mas também assiste-se a uma primeira visão historicista do património. É neste momento que se produzem importantes teorias de intervenção sobre o preexistente, nomeadamente por intermédio de Leon Battista Alberti (1404-1472).

Surgem intervenções com perspectiva de reutilização que provocam uma diversidade de projectos de reabilitação de edifícios clássicos. Assiste-se a um discurso de conservação, que contemplava medidas de restauro e protecção dos monumentos da antiguidade que, do ponto de vista prático, originou a destruição de muitas antiguidades. As medidas de salvaguarda aplicadas exigiam grandes quantidades de materiais que eram retirados de uns monumentos em prol do restauro de outros, ou na construção de novas obras que embelezassem a cidade;

- “tempo dos antiquários” - A segunda fase dura até à segunda década do século XIX e é marcada pela actividade dos “Antiquários”. O interesse pelo valor histórico dos monumentos continua a ter em conta só o seu valor estético. Deu-se um passo no alargamento da abrangência de monumento histórico e à particularidade de cada país ao proceder à criação de uma iconografia completa;

- “consagração do monumento histórico” - A terceira fase, dos anos de 1820-1830 aos anos 1950-1960, marca a consagração do monumento histórico. É-lhe concedido um nome, um estatuto jurídico e uma disciplina para a sua conservação e restauração.

O monumento histórico assume-se, desde a Revolução Industrial, na ruptura e no confronto que este cria na cidade tradicional, bem como, nas mudanças rápidas que surgem (rápida desvalorização dos métodos tradicionais e emergência de novas técnicas), como valor das criações do passado pré- industrial, surgindo uma necessidade de fixar valores consagrados nos edifícios, já existentes. Ao monumento histórico reconhece-se três valores chave: didáctico – como suporte de conhecimento histórico; artístico e nacionalista – como suporte do sentimento e da propaganda nacionalista, bem como elemento que integra e enriquece o vasto catálogo das formas de arte.

4 Ibidem, pp.22-23. 5

“O classicismo setecentista reintroduz o interesse pela cultura da Antiguidade. As grandes escavações

arqueológicas como as de Pompeia e Herculano, as campanhas na Magna Grécia e a constatação da rude virilidade e simplicidade de Paestum, baseadas num estudo arqueológico que recorre a métodos científicos e a levantamentos rigorosos, permitem sustentar uma nova visão da história da arquitectura, agora com bases factuais e não especulativas.

A par do surgimento da História de Arte, afirma-se a noção de monumento histórico. Importa por isso, e paralelamente, destacar a importância das gravuras de Piranesi (mais tarde tão influente no ruinismo), dos trabalhos teóricos de Milizia, de Winckelman e, ainda, de Quatremère de Quincy, no despertar do mais rigoroso interesse arquitectónico pelo estudo dos monumentos e pela enorme atenção que estes passam a receber através das academias.

A arquitectura histórica passa a ser classificada dentro de estilos cuja cronologia é ensaiada com base em comprovações e demonstrações (de acordo, portanto, com princípios científicos), diferenciando-se metodologicamente os produtos do passado através de uma análise e de uma critica artística que utiliza valores rigorosos.” In AGUIAR, José AGUIAR, José – Cor e Cidade Histórica: estudos cromáticos

Figura I.1

Gravura de Piranesi (1720-1778) – Veduta di Campo Vaccino Fontes:

- PRAZ, Mário (2000).

“O surgimento de uma ideia de restauro mais próxima do seu moderno significado dá- se no século XVIII, justamente quando se adquire uma nova consciência histórica, acompanhada de uma mentalidade crítica e científica que permite estabelecer uma fronteira, ou uma clara distinção, entre o presente e o passado histórico.”6

Esta consciência da História constitui um passo fundamental na evolução do pensamento. Até ao século XVIII, entendia-se por restauro qualquer intervenção visando a reutilização de construções disponíveis, as quais eram recuperadas e renovadas de acordo com os saberes e as normas vigentes.

É no século XIX “que se ampliam de forma verdadeiramente admirável os conceitos de património e da sua conservação após apaixonadas polémicas em torno das metodologias a aplicar na conservação e/ou restauro, destacando-se o contributo de notáveis teorizadores e intelectuais (…).”7

Surgem linhas de atuação, conhecidas como teorias de restauro8, com as quais os

restauradores se foram identificando e, com as quais, aprenderam regras de intervenção. Foi esta transformação que impulsionou a discussão teórica.9

A segunda metade do século XIX, é a época em que o termo restauro não constitui um conjunto homogéneo de ideias e critérios de intervenção. Os vários intervenientes, baseados

6 Ibidem, p.36. 7

PAIVA, José Vasconcelos; AGUIAR, José; PINHO, Ana (coord.) – Guia Técnico de Reabilitação Habitacional. 1.º ed. Lisboa: INH / LNEC, 2006. Vol.1 e 2, p.8.

8 “A emergência de uma nova sensibilidade face ao património histórico está directamente ligada ao

despontar da Revolução Industrial. (…) As tradições são postas em causa pela modernidade mas, no momento em que se anuncia um mundo novo, (re)descobre-se o valor do que se perde. Uma nova consciência histórica que, justamente, não tem nada de objectivo, nem de cientifico, ocorre quando se alteram dramaticamente os ritmos do tempo e da vida. Dessa nova consciência nascerá a necessidade de manter o contacto com os testemunhos culturais do passado. A luta pela salvaguarda patrimonial coexistirá intimamente com o advento da própria modernidade, surgindo a “consagração” de um novo tipo de culto: o dos monumentos. ”In AGUIAR, José, cit.5, pp.37-38.

9

“A procura de aproximações teoricamente mais sólidas conduzirá à gradual definição da nova

disciplina a que os continentais (sobretudo os italianos e os franceses) chamarão de Restauro e os ingleses Conservação. Nessa diferença inaugura-se uma longa disputa conceptual que ultrapassará em muito o tempo da própria vida dos seus primeiros protagonistas: John Ruskin e Viollet-le-Duc.” Idem,

em conceitos próprios, formulam teorias muito diferentes e até contrárias. No entanto, o pressuposto comum é reconhecer o monumento como portador de um valor histórico.

De facto, a consciência do monumento estava incrementada em países como a França e a Grã-Bretanha defendida por duas correntes opostas, a de Viollet-le-Duc e a de John Ruskin. No entanto, essa discussão alargou-se a outros filósofos europeus, Beltrami e Boito (italianos) ou Riegl (austríaco). Todas estas teorias formaram um grande contributo base para a forma contemporânea de intervir.

Viollet-le-Duc foi sem dúvida a personagem do século XIX que, na prática, melhor articulou conceito e metodologia de restauro. Articulou uma teoria de reunião de elementos dispersos, tornando o restauro monumental numa disciplina autónoma da conceção arquitetónica, ficando famoso pelo princípio da “unidade de estilo”.10

Também Camilo Boito ficou conhecido como pioneiro do “restauro científico”, que recorria a técnicas construtivas modernas para a conservação do património, afastando-se da visão da morte inevitável do monumento defendida por John Ruskin.

Com Luca Beltrami surge o “restauro histórico”, pois este reivindica a individualidade de cada intervenção, desenvolvendo a ideia de uma procura documental exaustiva.

Gustavo Giovannoni identificou quatro tipos de restauro, numa continuidade ao já definido por Camilo Boito. As reflexões de Boito e Giovannoni consagraram o princípio de Ruskin em detrimento da “unidade de estilo” de Viollet-le-Duc.

Os teóricos abordaram diferentes aspetos do restauro e da conservação, desde a autenticidade material e formal, até uma vertente mais social, aspetos que ainda hoje servem de base à formulação dos princípios de intervenção. Passou-se de um restauro genérico estilístico para um restauro baseado na avaliação individual de cada monumento.

No ambiente pós Segunda Guerra Mundial, o sentimento era de uma urgência de ver apagados os sinais da guerra em muitos monumentos europeus.

O “restauro científico” mostrou-se ser um processo muito lento para dar resposta a essa necessidade, valorizando-se por sua vez, o valor individual de cada monumento, o espírito crítico e criativo de cada intervenção.

Cesari Brandi foi o protagonista dessa corrente que defendia o “restauro crítico” que influenciou o restauro do início do século XX. A sua teoria reuniu conceitos importantes: o processo criativo e o restauro propriamente dito.

10

Foram as teorias de Viollet-le-Duc que mais influenciaram o restauro dos monumentos um pouco por toda a Europa, incluindo os restauros portugueses do Estado Novo sob a orientação da DGEMN.

Giuseppe Valadier (1762- 1839) e Raffaele Stern (1774-1820) – “restauro arqueológico”

Em Itália, surge uma tendência que se viria a denominar de “restauro arqueológico”, um pouco influenciada pelo que escreveu o Papa Leão XIII (1878-1903) a propósito do restauro que ordena para São Pedro de Roma, alvo de divergências sobre a sua reconstrução na época.

O “restauro arqueológico” partia do entendimento do monumento como uma obra artística unitária, onde o papel da conservação seria o de bater-se pela imutabilidade dessa unidade, eventualmente aceitando-se uma parcial recomposição através da remoção de acrescentos de outras épocas.

Ao monumento eram retirados todos os acrescentos de épocas que não fizessem parte do projeto original até ser encontrado o seu aspeto primitivo.

“As determinações papais apontavam no sentido da exclusão de elementos de épocas posteriores à concepção original do monumento e a uma intervenção sem qualquer inovação.”11

Os principais trabalhos, orientados segundo estes princípios, foram os desenvolvidos por Giuseppe Valadier e Raffaele Stern que definiram critérios de intervenção tendo por base uma exploração arqueológica e uma análise arquitetónica comparativa que permitia recompor o monumento, mediante o emprego de partes originais e de elementos novos mas distinguindo os “autênticos”.

Os monumentos eram estudados e analisados cientificamente, de modo a perceber como seriam na época da sua construção de forma a obter a recomposição dos edifícios mediante, se possível, o emprego de partes originais (anastilosis),12 tornando-os numa

unidade completa.

Desta forma, por “restauro arqueológico” “irá então entender-se o completamento ou a consolidação de monumentos, desenvolvidos com base em rigorosas análises prévias que permitem validar a sua recomposição. Trata-se de um processo no âmbito do qual se empregam elementos originais, através da anastilosis, e se procede ao preenchimento das lacunas por meio de reproduções simplificadas e distinguíveis, sem atingir, portanto, uma

11 NETO, Maria João Baptista – Memória, Propaganda e Poder. O Restauro dos Monumentos Nacionais (1929-1960). 1.ª ed. Porto: FAUP Publicações, 2001, p.26.

12

Terminologia citada por Fernando M. A. Henriques, “”Anastylosis” é um termo de origem grega que

significa remontagem de peças duma dada estrutura que existam num estado de degradação. Em geral aplica-se a ruínas arqueológicas, com várias possibilidades, como, por exemplo, a reconstituição duma coluna de pedra a partir dos seus elementos constituintes que se encontrem dispersos. Este tipo de actuação pode ser efectuado apenas em situações em que existam evidencias indiscutíveis, quer históricas, quer resultantes da observação das várias peças soltas, devendo terminar no ponto em que essas evidencias deixem de existir e se entre no terreno das conjecturas.” In HENRIQUES, Fernando – A

excessiva similitude formal, o que poderia conduzir à falsificação histórica, mas também sem uma excessiva diferenciação, que poderia perturbar a leitura estética do monumento.”13

Dos seus trabalhos destacam-se duas intervenções: o Arco de Tito e o Coliseu de Roma.

Figura I.2

Giuseppe Valadier │ Roma: Arco de Tito (estudos) Fontes:

- ALBA, António Fernández [e tal.] (1997) TOMO 1, p.117.

Figura I.3

Giuseppe Valadier e Raffaele Stern │ Roma: Coliseu (antes do restauro) Fontes:

- ALBA, António Fernández [e tal.] (1997) TOMO 1, p.119.

13 AGUIAR, José, cit.5, p.40.

Figura I.4

Roma: restauro do Coliseu (1807-1826)

Estrutura de madeira idealizada por Valadier para desenvolver as atividades de restauro do anel exterior

Fontes:

- JUSTICIA, Maria José Martínez; MARTÍNEZ, Domingo Sánches-Mesa; MARTÍNEZ, Leonardo Sánches-Mesa, 3ª ed. (2008) anexos.

Figura I.5

Giuseppe Valadier e Raffaele Stern Roma: restauro do Coliseu (1807-1826) Fontes:

Eugène- Emmanuel Viollet-le-Duc (1814-1879) – “restauro estilístico”

É num ambiente técnico e doutrinal, ainda incipiente, que se afirma o arquiteto francês Eugène-Emmanuel Viollte-le-Duc como técnico e teórico do restauro dos monumentos góticos.

Antes de Viollet-le-Duc assistia-se a uma dispersão de métodos na base de critérios de intervenção, sem coerência e justificação teórica.

“No início do segundo quartel do século XIX em França, restaurar um monumento significa proceder à sua reconstrução, ou à reintegração das partes em falta, tendo por referência o (seu?) estilo original. (…)

O objectivo central da política de salvaguarda francesa desse período consistia na preservação dos valores históricos de carácter nacionalista transmitidos pelos monumentos; assim, o maior interesse da conservação seria a garantia da sobrevivência da identidade nacional tal como esta era transmitida em imagem arquitectónica, mesmo que em detrimento da própria matéria ou substância que as formalizava. No quadro desta concepção, uma cópia fiel adquiria um valor similar, ou muito próximo, de um original.”14

Viollet-le-Duc surge neste contexto, assumindo o restauro monumental como uma disciplina autónoma da conceção arquitetónica.15 Articulava coerentemente o seu discurso ao

seu método de restauro dos monumentos, introduzindo o sentido de intervenção balizando a reconstituição de um estilo de referência retirando tudo aquilo que o altera e, com a utilização de novas tecnologias,16 mantinha a legitimidade do “momento histórico” como o “novo velho”.

Segundo os princípios de Violllet-le-Duc, restaurar um monumento não era conservá-lo ou refazê-lo, mas sim reedificar um estado completo. Desta forma, dava ao monumento restaurado um valor histórico mas não a sua historicidade, levando a um conceito subjetivo da sua veracidade.

Viollet-le-Duc nutria uma enorme admiração pelo estilo gótico, que considerava um organismo perfeito, um sistema lógico e total, de tal forma, que fundamentou os seus princípios de restauro na unidade de estilo. É um “arquiteto gótico” pois constrói como tal.

14

Ibidem, p.40.

15

A sua teoria ficou expressa na sua obra de dez volumes “Dictionnaire raisonné de l’architecture

française du XIe au XVIe siècle.” Paris.

16

“As tradições construtivas pré-industriais tinham uma morte anunciada mas, naquele momento

histórico, ainda estavam disponíveis. Essa disponibilidade, conjugada com o interesse de Viollet-le-Duc pela história das técnicas e o seu domínio das antigas tecnologias, a que acrescentou a aplicação de inovadores métodos de análise in situ (será pioneiro no uso de levantamentos fotográficos, por exemplo), transmite-nos uma outra visão sobre a sua prática operacional assim ela estivesse um pouco mais estudada pela história da arquitectura da conservação.” In AGUIAR, José, cit.5, p. 42.

“Procurou “racionalmente” pôr em evidência os valores estruturais e a “perfeição material” da arquitectura gótica.”17

Foi acusado de falsificar o passado, de ser anti-histórico, pois baseava os seus restauros num conhecimento do edifício indutivo e não científico. Defendia que o restauro de um monumento deveria procurar a perfeição formal e não material, eliminando todas as adições posteriores, de modo a devolver ao monumento a sua unidade estilística original.

“O restauro estilístico, enquanto solução de natureza filológica para os problemas de projecto, permitiu a Viollet-le-Duc resolver formalmente uma questão que sempre considerou primordial: a imprescindibilidade da reutilização funcional dos monumentos, atribuindo-lhes utilizações concretas enquanto arquitecturas. Os monumentos deveriam resolver funções de utilidade económica e social, entendimento claramente incompatível com a valorização estética e simbólica da ruína, em estado de ruína, tão defendida e admirada pelos românticos, como Ruskin.”18

Figura I.6

Viollet-le-Duc │ Pierrefonds (antes do restauro) Fontes:

- ALBA, António Fernández [e tal.] (1997) TOMO 1, p.127.

Figura I.7

Viollet-le-Duc │ Pierrefonds (depois do restauro) Fontes:

- ALBA, António Fernández [e tal.] (1997) TOMO 1, p.127.

17

NETO, Maria João Baptista, cit.11, p.42.

John Ruskin (1819-1900) – “o anti restauro”

É num contexto de debate que surge o escritor John Ruskin, crítico de arte, autor de um novo conceito de defesa dos monumentos que recusava a industrialização, defendendo o artesanato e um regresso às formas góticas.19

Ruskin, contrariamente a Viollet-le-Duc, desenvolve o princípio da intocabilidade do monumento como processo histórico numa continuidade e identificação com o passado.

“Os opositores às teorias restauracionistas de Viollet-le-Duc surgiram muito rapidamente. O processo de reconstituição estilística provocava a perda, de forma definitiva, de grande parte do conteúdo documental e afectava a autenticidade testemunhal, assim como o valor evocativo e poético dos monumentos históricos.”20

Ruskin assume o monumento como uma acumulação da memória, entendendo o restauro do monumento com uma deturpação do mesmo, uma deturpação da “realidade”, numa rutura da continuidade histórica, da sua (in)temporalidade.

Defendia a ruína ao restauro do monumento, sendo o restauro uma falsificação que corrompia a memória do mesmo. A autenticidade histórica do monumento era garantida pela ausência de intervenção sendo preferível a ruína, assumindo esta uma proporção pitoresca e simbólica de memorização.

A fase da ruína era o último estado de um monumento, comparado a um ser vivo, que nasce, tem um tempo de vida e morre.

Contudo, reconhece a necessidade de impedir a deterioração dos monumentos para os poder deixar de legado às gerações futuras assumindo, desta forma, que “a necessidade de intervenção se impõe, o anti-intervencionismo de Ruskin, assim como algumas das suas muito propagadas divergências com os restauradores, atenuam-se substancialmente. (…) e ao contrário do que se poderia supor a partir de uma leitura estreita e literal dos seus textos, Ruskin admite a consolidação dos monumentos desde que esta, claro está, não seja visível.”21

Nesta postura evidencia-se uma contradição pois reconhece a necessidade de impedir a degradação dos monumentos como forma de garantir a sua transmissibilidade às gerações vindouras.

19 A sua obra de referência “The Seven Lamps of Architecture” (1849), onde define as bases do seu

conceito de intervenção. Sacrifício, Verdade, Poder, Beleza, Vida, Memória e Obediência são os sete princípios que RusKin usou para “iluminar” a sua definição de entidade arquitectónica. No caminho para alcançar a perfeição do homem e da sociedade, defende que o Belo não se pode sacrificar; afirma a importância da Verdade na construção, define o Poder e o valor da massa, refere que a Beleza tem de exprimir a natureza, que todo o edifício tem Vida, devendo-se edificar uma Memória durável e estabelece a Obediência ou a aceitação universal de um estilo.

Conclui que o estilo universal é a arquitectura gótica pois encerra todos estes princípios.

20

AGUIAR, José, cit.5, p. 43.

Ruskin defendia que a única forma de salvaguardar os monumentos era a sua conservação, de modo a que nunca precisassem de ser restaurados. Os seus princípios baseavam-se na autenticidade material do monumento, cuja glória está na idade.

“A maior e mais profunda contribuição de Ruskin foi a sustentação ideológica da conservação como metodologia de preservação patrimonial alternativa ao restauro. O seu pensamento marcará indelevelmente a história das ideias da salvaguarda do património no século XX, suscitando a acesa polémica sobre a dialéctica Conservação versus Restauro, a qual, passado quase um século e meio, ressurge ciclicamente.”22

A filosofia da conservação viria a ter maior dimensão através de um seu seguidor, William Morris (1834-1896). Morris publica o seu manifesto anti-restauro23 baseado no pensamento de Ruskin onde reafirma a força do monumento enquanto fonte histórica, “aceita que a «devoção» pela Idade Média deva ser abandonada como garante do princípio de equivalência (dos estilos) contraposto à «unidade de estilo».”24

Luca Beltrami (1854-1933) – “o restauro histórico”

Durante anos assistiu-se ao predomínio das teses francesas do “restauro estilístico” que influenciou toda a Europa no entanto, a partir da segunda metade do século XIX, surgem em Itália novas teorias.

Neste contexto, arquiteto italiano Luca Beltrami surge na defesa da individualidade de que cada intervenção devia basear-se no profundo conhecimentos dos documentos, escritos e desenhos do edifício a restaurar e na investigação histórica.