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clarificação de conceitos

S. Pedro de Rates │ Fachada norte, antes e depois do restauro Fontes:

- TOMÉ, Miguel (2002) p40.

Figura I.15

S. Pedro de Rates │ Cabeceira destruída, fase de obras (durante o restauro) Fontes:

- TOMÉ, Miguel (2002) p41.

Figura I.16

S. Pedro de Rates │ Marcação da capela-mor, fase de obras (durante o restauro) Fontes:

- TOMÉ, Miguel (2002) p41.

Figura I.17 / Figura I.18

S. Pedro de Rates │ Fachada norte, antes e depois do restauro Fontes:

Um outro exemplo de intervenção, a igreja de Paço de Sousa onde prevalece “o princípio da unidade de estilo, a prevalência da Idade Moderna na parte conventual e o facto de, na época, só a igreja estar classificada, conduziram à demolição da torre sineira setecentista que unia a igreja ao mosteiro e da ala do claustro encostada à parede sul do templo. Deste modo, pôs-se a descoberto o portal sul, românico, e, como era então corrente, libertou-se a igreja dos elementos que prejudicavam a unidade de leitura externa.”122

Figura I.19

Paço de Sousa │ Antes do restauro Fontes:

- TOMÉ, Miguel (2002) p131.

Figura I.20

Paço de Sousa │ Despois do restauro Fontes:

- TOMÉ, Miguel (2002) p131.

Figura I.21

Paço de Sousa │ Trabalhos dos populares durante as obras

Duarte Pacheco, Comissariado do Desemprego: “ Não se dão esmolas; procura dar-se trabalho”!

A DGEMN (tb. a JAE, DGSFlorestas etc.) fornecia esse trabalho manual.

Fontes:

- NETO, Maria João Baptista (2001) p.344.

O monumento e o contexto urbano

A salvaguarda da envolvente dos monumentos estava prevista por decreto desde 1924,123 onde se definia uma zona de proteção num raio de 50 metros a partir do edifício,

permitindo, desta forma, regular a construção ou transformação das edificações no interior dessas zonas.

Igualmente, estava previsto o mecanismo de atuação face ao objetivo de concretização dos projetos das envolventes aos monumentos124, nomeadamente, o uso da expropriação.

Desta forma, verifica-se que a filosofia de intervenção urbana da DGEMN centrava-se numa postura ditatorial que se refletia em propostas de “destruição” e “renovação” onde importava a conservação do monumento e a destruição do tecido envolvente.

A acentuada conceção monumentalista relegava para um segundo plano a intervenção na cidade antiga. A abordagem sobre tecidos urbanos consolidados centrava-se na “tendência generalizada de os considerar difíceis de resolver na sua dimensão social e de os encerrar ou reduzir a fetiches, a abstractas reservas da memória colectiva, esvaziados de grande parte dos seus valores.”125

Um exemplo do uso da expropriação para qualificação da zona envolvente é a intervenção efetuada no edifício do Paço dos Duques de Bragança126, onde para a qualificação

da área adjacente ao edifício se procedeu a uma “limpeza” de edificações próximas destacando, desta forma, os edifícios monumentais.

“A construção do Parque do Castelo, em Guimarães, resultou da vontade de associar, num espaço comum, os três monumentos classificados da zona da alta da cidade: o Paço dos Duques de Bragança, o Castelo e a Igreja de S. Miguel.”127

123 De acordo com Lei nº1.700, 18 de dezembro de 1924.

124 “A problemática da envolvente do edificado estava já contida num livro de R. Baumeister sobre

desenho urbano, editado no final do século XIX, que recomendava o isolamento dos monumentos relativamente à envolvente, critério reafirmado por alguns dos principais autores da época, como Viollet-le-Duc, e que conduziram às demolições massivas de quarteirões nas proximidades de algumas das principais catedrais góticas francesas, como Reims, Chartres e Paris.

Em Portugal não eram frequentes, no século XIX, intervenções de grande porte para redefinição do espaço público em torno dos monumentos. Foram, no entanto, significativas as propostas para a envolvente do Mosteiro da Batalha, formuladas por Mouzinho de Albuquerque em 1954, o desafrontamento da Igreja de S. Pedro de Rates, em 1905, e os múltiplos projectos da zona da Sé do Porto, realizados desde 1913.” In TOMÉ, Miguel, cit.117, p.93.

125

Idem, p.90.

126

As intervenções em Guimarães estavam incluídas num programa de intervenção nacional. Conforme refere o autor Miguel Tomé: “O plano para as Comemorações Centenárias, estabelecido em 1938,

apresentou, em simplificados conceitos-chave de significação político-ideológica, cinco lugares simbólicos da lusitanidade, síntese de importantes factos históricos e articuladores de um “programa total” que serviriam como cenários de algumas das principais manifestações festivas: Guimarães, berço da nacionalidade; Porto, núcleo de formação; Braga, centro religioso; Lisboa, capital do império; Vila Viçosa, símbolo da restauração da independência.” Idem, p.94.

Figura I.22

Estado Novo │ Cidade de Guimarães – área envolvente ao Paço dos Duques de Bragança (planta de localização com indicação das expropriações – 1953)

Fontes:

- AA.VV. – Caminhos do Património. 1929-1999. (1999) p.55.

Figura I.23

Estado Novo │ Cidade de Guimarães – área envolvente ao Paço dos Duques de Bragança (vista aérea antes dos arranjos exteriores)

Fontes:

- AA.VV. – Caminhos do Património. 1929-1999. (1999) p.55.

A conservação do tecido urbano enquanto representação figurativa, entendida como organismo unitário, “limitava-se a uma operação de «cosmética» ou de cenografia urbana onde a vocação turística se revela determinante para a renovação.”128

Não se tratava, portanto, de entender a organicidade destes conjuntos, nem de compreender a sua dinâmica, mas sim a sua imagem enquanto conjunto unitário representativo.129

A cidade de Évora é também testemunho desta abordagem.

Em Évora importava conservar a “cidade-monumento”, numa política de controlo urbanístico centrada no conjunto dos monumentos históricos, onde os restantes edifícios serviam de pano de fundo.130

128

Ibidem, p.90.

129 Sobre este tema da “imagem da cidade” importa a referência vários textos do Arq.to José Aguiar e

mais especificamente ao seu livro: Cf. AGUIAR, José (2002), cit.5.

130

“No início do Estado Novo, para seu controlo estético, Évora copiou parágrafo a parágrafo o

regulamento de Lisboa de 1930 (por sua vez fundamentado no anterior Código de Posturas da Câmara Municipal de Lisboa de 1869) transcrevendo-o para o Regulamento da Construção Urbana para a cidade de Évora, imposto a partir de 1937. A partir desse momento ficou estabelecido em Évora um zonamento cromático que obrigava, nas áreas históricas intra-muros, ao “(…) branco, como é tradicional, não podendo adoptar-se qualquer outra [cor] sem autorização expressa da Câmara.” Estas condições foram ulteriormente agravadas pelas Deliberações Municipais de 1942 que imporão a necessidade, para caso a caso de pintura em fachadas de edifícios do tecido histórico, de um parecer da delegação regional da DGEMN, entretanto criada.” In AGUIAR, José – Conservação de revestimentos e imagem urbana. Notas

em torno do Projecto integrado para a salvaguarda dos acabamentos tradicionais do Centro Histórico de Évora. In JORNADAS LUSO-BRASILEIRAS DE ARQUITECTURA, ILARTEC, Porto: Universidade Lusíada, 2003, p.5.

Figura I.24 / Figura I.25

Évora │ Praça do Giraldo antes e depois da restituição cromática

- Objeto de análise integrada na visita técnica do 3º ENCORE, LNEC, maio 2003.

– Intervenções integradas no “Programa integrado de Salvaguarda dos Acabamentos Tradicionais no Centro Histórico de Évora” (2001)

Desta forma, e respondendo aos objetivos do programa foi feita uma restituição cromática na generalidade dos edifícios do centro histórico).

Fontes:

- AGUIAR, José (2003) p.14.

Figura I.26 / Figura I.27

Évora │ Edifício na Rua Cinco de Outubro: antes e depois da renovação do restauro urbano

- Objeto de análise integrada na visita técnica do 3º ENCORE, LNEC, maio 2003.

– Intervenções integradas no “Programa integrado de Salvaguarda dos Acabamentos Tradicionais no Centro Histórico de Évora” (2001)

Desta forma, e respondendo aos objetivos do programa foi feita uma restituição cromática na generalidade dos edifícios do centro histórico).

Fontes:

- AGUIAR, José (2003) p.15.

A aproximação aos princípios da Carta de Veneza

Na década de 60, com a abertura ao debate internacional, consciencializa-se a importância da conservação de todos os estratos: o monumento e a sua envolvente.131

Um importante passo para essa consciencialização, foi o início de uma interpretação crítica do contexto e da sua especificidade, em sequência do “Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal”, realizado entre 1955 e 1960, e apresentado pelo então Sindicado Nacional dos Arquitetos, em 1961.

O Estado Novo viu nesta proposta a preservação de uma essência regional, assumindo como um manifesto da arquitetura popular contra a universalização da cultura estrangeira.

Esta preservação baseava-se numa ideia de “síntese orgânica entre povo, região e arte, segundo uma catalogação linear, que é invocada através da imitação das suas formas.”132

Desta forma, projetar significava um processo de “densificação do desenho, repleto de momentos formais arbitrários com sentido de citação estilística revivalista.”133

Figura I.28

Estado Novo │ A lição de Salazar: “Deus, Pátria, Família” Fontes:

- AGUIAR, José, Apresentação “O PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO E A PROBLEMÁTICA DA SUA CONSERVAÇÃO.”, Formação “Reabilitação Urbana”, Ordem dos Arquitetos SRS, fevereiro 2009.

Figura I.29

Estado Novo │ Portugal dos Pequeninos – “retrato vivo da portugalidade” Fontes:

- AGUIAR, José, Apresentação “O PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO E A PROBLEMÁTICA DA SUA CONSERVAÇÃO.”, Formação “Reabilitação Urbana”, Ordem dos Arquitetos SRS, fevereiro 2009.

131

“Portugal, não muito dado a participação nos encontros posteriores ao Congresso de Roma de 1956,

fez-se representar, nos trabalhos científicos, por sete arquitectos e técnicos, um dos quais participou na redacção final da Carta de Veneza. Era o início de uma nova fase da história do movimento português da salvaguarda do património cultural, aberto pela primeira vez, segundo julgamos, à internacionalização, à troca de experiências, à cooperação científica e à interdisciplinaridade das ciências e técnicas de restauro.

A noção de monumento encontrava-se em mudança. Não era só a criação arquitectónica isolada que deveria merecer a acção legisladora, mas o conjunto urbano e o rural.” In CUSTÓDIO, Jorge –

Salvaguarda do Património – antecedentes históricos: de Alexandre Herculano à Carta de Veneza (1837- 1964). In Dar Futuro ao Passado. Lisboa: IPPAR / SEC, 1993, p.60.

132

TOMÉ, Miguel, cit117, pp.153-154.

A iniciativa de lançamento do Inquérito ganhou apoio do Estado Novo na figura do então Ministro das Obras Públicas, o engenheiro Arantes e Oliveira.

O trabalho de campo foi desenvolvido por equipas de arquitetos organizados por grupos autónomos segundo zonas do país. Estes grupos estruturavam diferentes orientações conceptuais e metodológicas da investigação, formulando abordagens diferenciadas de zona para zona.

Figura I.30

Estado Novo │ “Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal”

(Arq.to Fernando Távora na apresentação dos trabalhos ao Presidente do Conselho de Ministros, Dr. António Oliveira Salazar – 1958)

Fontes:

- TRIGUEIROS, Luiz (1998) p.34.

Este trabalho desempenhou um papel fundamental, não só no conhecimento, registo e difusão das soluções construtivas e espaciais da arquitetura popular portuguesa como também no reconhecimento das qualidades específicas dos lugares nas várias dimensões de identificação.134

“Afirmava-se o valor da arquitectura vernácula como fundamento da identidade cultural de um povo, como suporte de formas de habitar e como fonte de conhecimento (…). O estudo e reconhecimento das qualidades específicas dos lugares, apoiadas na leitura das tradições locais vivas e dos quadros físicos de ocupação territorial, permitiram o abandono de soluções imediatistas de contextualismo ou ambientalismo superficial.”135

134 “A consciência da fragilidade teórica da ideia da “Casa Portuguesa” e do regionalismo imposto (e

pacificamente aceite por parte significativa dos arquitectos) como reportório formal acentuou-se na segunda metade da década. Fernando Távora denunciava-a como uma forma camuflada de academismo sistematizado em modelos rígidos: “A história vale quando resolve os problemas do presente e não quando se torna obsessão.” Reconhece ainda que “o estudo da arquitectura portuguesa ou da construção em Portugal não está feito (…) a casa portuguesa fornece-nos grandes lições quando devidamente estudada pois ela é a mais funcional e a menos fantasiosa.” Lançava então o repto: “Tudo há que refazer, começando pelo princípio. (TÁVORA, Fernando – O problema da casa portuguesa. Lisboa, 1947)

Keil do Amaral desenvolveu programaticamente no artigo “Uma Iniciativa Necessária” esta ideia de um estudo aprofundado da arquitectura portuguesa que pusesse em causa o conceito vigente de arquitectura regional, acentuando que esta “não pode ser um apinocar de fachadas e de interiores com elementos decorativos típicos” e acusando os projectistas de serem apenas “regionalistas de fachada”. O Congresso Nacional de Arquitectura, realizado em 1948, vincou a postura destes dois autores, dando a necessária dimensão colectiva e o fundamental apoio da classe.” Ibidem, p.155.

A matriz conceptual e prática da arquitetura procurou construir-se no reencontro com as formas e as técnicas populares de construção e de ocupação do território, procurando estruturar novos instrumentos de atuação, assimilando os seus valores como suporte operativo integrando a influência da arquitetura internacional.

Desta forma, demonstrou-se a inexistência de um “modelo de casa portuguesa” enunciando e interpretando as diversas soluções funcionais, formais e estruturais de habitação, onde existia uma lógica interna de organização e distribuição funcional e uma lógica de implantação e articulação externa dos objetos arquitetónicos.

Igualmente, na década de 60, inicia-se uma abordagem às questões relativas ao planeamento, numa perspetiva de integração do tema do território e da arquitetura popular.

Mário Laginha, técnico da Direção Geral dos Serviços de Urbanização (DGSU), “reconhecia na condição especial do país, com baixa densidade de urbanização e crescimento lento, a possibilidade de assegurar certa continuidade dos processos de transformação da paisagem, reiterando a necessidade de planeamento integral do território.”136

Num Colóquio sobre Urbanismo, organizado pelo Ministério das Obras Públicas e pela Direção Geral dos Serviços de Urbanização, realizado no LNEC em 1961, Mário Laginha apresentou uma conferência intitulada “Renovação Urbana”.137

O conceito de “renovação urbana”, apresentado por Mário Laginha, não se assume como substituição mas antes, e numa postura inédita para a época, como proposta onde são enquadrados “os valores existentes, tanto físicos (qualidade dos imóveis em si próprios e em relação ao conjunto em que se integram), como económicos, como ainda históricos e estéticos.”138

Desta forma, apresenta “uma perspectiva inovadora do conceito de renovação urbana que começa aqui a aproximar-se do que posteriormente se veio a denominar de Reabilitação Urbana.”139

Joaquim Cabeça Padrão140, técnico da Direção Geral dos Serviços de Urbanização,

alertou para a defesa da paisagem de qualidade e dos “ambientes e coisas que recordam tempos melhores, nas quais a vida não era alienada.” 141

136

Ibidem, p.157.

137 LAGINHA, Mário – Renovação Urbana. In MOP-DGSU – Colóquio sobre Urbanismo. Apud PAIVA, José

Vasconcelos; AGUIAR, José; PINHO, Ana (coord.), cit.7, p.38.

138

Idem, p.38.

139

Idem, p.38.

140 “Outro evento realizado na mesma década foi o Colóquio de Urbanismo, realizado no Funchal em

1969. Neste colóquio Joaquim Cabeça Padrão, técnico da DGSU e um dos principais protagonistas da luta pela defesa da paisagem urbana em Portugal, nas década de 60 e 70 do século XX, apresentou uma comunicação intitulada «Defesa e recuperação da paisagem urbana de qualidade».

Nesta comunicação, o autor alude à evolução do conceito de património e faz uma crítica à cidade moderna, apelando ao retomar da escala humana no tecido urbano, ao retorno do homem-máquina ao homem-cultural, e à salvaguarda do património urbano das áreas mais qualificadas das cidades, não de

No âmbito da sua atividade profissional, na chefia da Secção de Defesa e Recuperação da Paisagem Urbana (SDRPU), da DGSU142, Cabeça Padrão inicia um estudo de classificação e regulamentação de todos os aglomerados urbanos de interesse do Algarve, com a denominação “Estudo de prospecção e defesa da paisagem urbana do Algarve.”143

“O estudo de Cabeça Padrão (influenciado pelas teorias que Gordon Cullen divulgou na sua tese Townsacpe) foi um estudo precursor pelo valor que atribuiu aos espaços públicos, ao tecido urbano não-monumental e à arquitectura vernacular e doméstica. Foi precursor também, quer a nível de metodologia, permitindo ensaiar instrumentos que viriam posteriormente servir de base aos planos de salvaguarda de centros históricos, quer na visão integradora do património urbano no ordenamento do território.”144

Figura I.31

Cabeça Padrão │ Publicação de divulgação do “Estudo de prospecção e defesa da paisagem urbana do Algarve” (1969)

Fontes:

- PAIVA, José Vasconcelos; AGUIAR, José; PINHO, Ana (coord.) (2006) Vol.1, 40.

Figura I.32

Cabeça Padrão │ “Estudo de prospecção e defesa da paisagem urbana do Algarve” – ficha de prospeção do espaço envolvente à Igreja Matriz de Pera (Silves).

Fontes:

- PAIVA, José Vasconcelos; AGUIAR, José; PINHO, Ana (coord.) (2006) Vol.1, 40.

uma forma museológica, mas através do seu ordenamento, uso e integração na cidade alargada.”

Ibidem, p.39.

141 PADRÃO, J. Cabeça – “Defesa e recuperação da paisagem urbana de qualidade. Arquitectura: Lisboa,

1969. Apud TOMÉ, Miguel, cit.117, p.157.

142

“É ainda nos anos 60 do século XX que a Administração Central dá mostras de reconhecer o interesse

estratégico de integrar políticas de defesa e recuperação do património arquitectónico construído no ordenamento do território, com a criação no âmbito da DGSU da Secção de Defesa e Recuperação da Paisagem Urbana (SDRPU). Esta secção virá dar origem à Divisão de Estudos de Renovação Urbana, da Direcção Geral do Planeamento Urbanístico (DGPU).” In PAIVA, José Vasconcelos; AGUIAR, José; PINHO,

Ana (coord.), cit.7, p.40.

143

“Esta iniciativa surgiu como resposta à crescente actividade construtiva que estava a ser realizada

de forma verdadeiramente caótica em consequência da descoberta do “turismo do Sol”, comprometendo o futuro daquela região. Por outro lado, o Plano Regional do Algarve, que tinha sido encomendado pela DGSU ao Arq.to Dodi, estava ainda por aprovar (aliás, nunca o veio a ser), pelo que se impunham medidas preventivas de salvaguarda.” Idem, p.40

Desta forma, a década de 60 apresentou uma evolução conceptual de intervenção na cidade existente contudo, não se verificou uma operacionalização enquanto aplicação prática mantendo-se inalterada a política de intervenção que, até então, tinha vindo a ser aplicada pelo Estado Novo.

Já no final da década de 60, é apresentado um estudo elaborado sob encomenda da Câmara Municipal do Porto145 para a área do Barredo, coordenado pelo Arq.to Fernando Távora.

Este estudo apresenta uma visão inovadora do que deveria ser uma intervenção num tecido urbano consolidado “além de ser reconhecido o valor histórico e patrimonial do conjunto Ribeira-Barredo, considera-se que a dimensão social é parte integrante da área e deve ser também preservada e “reabilitada”, já que o tecido social de uma área é o garante da sua identidade, do seu carácter e do seu significado.”146

Este estudo vê mais tarde a sua aplicação enquanto fundamento da intervenção do CRUARB, criado no período pós revolução de 1974.

Figura I.33

Fernando Távora │ “Estudo de renovação urbana do Barredo” (1969) – capa do estudo Fontes:

- Cópia do estudo disponibilizada pelo Professor Manuel Correia Fernandes.

Pós revolução de 1974

Em Portugal, com o 25 de Abril e os acontecimentos que imediatamente se lhe sucederam na consequente democratização do país, deu-se uma desregulação do território, motivada pela incontrolável vontade das populações em progredir para um nível de vida mais favorável, sustentado pela noção de posse de casa própria, o que esteve na origem da explosão dos bairros clandestinos e no consumo do território sem planificação.

145

“Estudo de renovação urbana do Barredo” (1969).

Igualmente, num momento de abertura ao contexto internacional, e muito sob influência das cartas internacionais produzidas ao longo das décadas de 60 e de 70, a filosofia de abordagem concentrava-se no processo de valorização do espaço urbano e arquitetónico existente, em consequência da falta de confiança sentida na prática da arquitetura e do urbanismo moderno internacional, sentida por toda a Europa.

Nesta época, o programa “Pousadas de Portugal” foi um promotor da intervenção tanto em contexto urbano como em edificado.147

Das intervenções da época destaca-se a Pousada de Santa Marinha da Costa (1976- 1985), do Arq.to Fernando Távora, pela singularidade nos critérios de intervenção assumidos, impulsionadores de uma filosofia de intervenção que se iria refletir em intervenções posteriores.

Figura I.34

Pousada de Santa Marinha da Costa │ Vista de sul antes das obras Fontes:

- AA.VV. – Caminhos do Património. 1929-1999. (1999) p.185.

Figura I.35

Pousada de Santa Marinha da Costa │ Vista de sul depois das obras Fontes:

- AA.VV. – Caminhos do Património. 1929-1999. (1999) p.171.

147 “Outro aspecto inovador e que de facto contribuiu para alargar o campo da concepção espacial das

pousadas de Portugal, foi o da nova dimensão urbana que algumas das novas realizações conseguiram impor. Associadas aos “Centros Históricos” – outra noção que a temática patrimonial impôs como referência internacional, consagrada de seguida pelas classificações da UNESCO como Património Mundial – as novas pousadas ganharam dimensão à escala do burgo onde se inseriram, quer pela maior participação na vivência urbana que assim era possível, quer pela maior dimensão física e diversidade