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2.4 A Organização e a Cultura Organizacional

2.6.1 Conceituação e a Importância da Inovação

Os processos de inovação ao longo da história da humanidade sempre requereram a inteligência humana para transformação de um conhecimento prévio sobre materiais ou outros aspectos da natureza, objetivando a satisfação de determinadas necessidades do homem.

Tofler (1980), em sua trilogia das ondas, que revolucionaram a civilização, reconhece três grandes momentos na trajetória do homem sobre a Terra. O primeiro, foi quando descobriu que podia adquirir alimento não somente por meio da caça incerta e perigosa ou da extração de alguns vegetais, mas também por meio de plantação, que lhe fornecia vegetais completos, podendo ser preparados novos alimentos. O segundo momento demorou em torno de quarenta séculos para efetivar-se. A Revolução Industrial chegava e introduzia um novo sistema de produção, com a introdução de máquinas em substituição ao trabalho artesanal. O terceiro momento levou apenas cem anos para surgir, tendo como marco fundamental a invenção do transistor, que revolucionou todo o mundo da eletrônica e da informática, bem como o computador que levou a humanidade a profundas transformações.

Contemporaneamente vivencia-se a era do conhecimento, em que a velocidade das informações que circulam pelo mundo está cada vez maior exigindo que as empresas invistam cada vez mais em inovações tecnológicas. A capacidade de gerar um volume cada vez maior de inovações está diretamente relacionada à capacidade de obter ou produzir conhecimento, constituindo-se num fator de competitividade.

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Em sua teoria do Desenvolvimento Econômico, Schumpeter (apud Fiates, 1997, p.27) afirma que,

num modelo de economia estacionário, onde todas as atividades se apresentam de maneira idêntica, repetindo-se continuamente, a figura do empresário inovador torna-se fundamental para o desenvolvimento da economia. Ele é o agente econômico que, por meio das mais eficientes combinações traz novos produtos para o mercado, quer pela aplicação prática de alguma invenção, quer por uma aplicação tecnológica, e os consumidores deverão ser educados para desejar novos produtos. Contudo, a figura do empresário, isoladamente, não é suficiente para criar todas as condições de desenvolvimento econômico. É preciso também que haja um crédito, baixa taxa de juros e capital abundante. Sob essas condições, a produção poderá aumentar no futuro ao mesmo nível que aumentou no passado, e todos os sonhos dos reformadores sociais serão realizados.

Complementando , Castells (1999, p. 55), posiciona que a inovação tecnológica não é um processo isolado,

Ela reflete um determinado estágio de conhecimento; um ambiente institucional e industrial específico; uma certa disponibilidade de talentos para definir um problema técnico e resolvê-lo; uma mentalidade econômica para dar a essa aplicação uma boa relação custo/benefício; e uma rede de fabricantes e usuários capazes de comunicar suas experiências de modo cumulativo e aprender usando e fazendo. As elites aprendem fazendo e com isso modificam as aplicações da tecnologia, enquanto a maior parte das pessoas aprende usando e, assim, permanecem dentro dos limites do pacote da tecnologia.

Convém, ressaltar, conforme Kruglianskas (1996), que há uma distinção entre o conceito de invenção e inovação, já que muitas vezes são erroneamente confundidos como sinônimos. Invenção está associada à livre geração de idéias, ao conhecimento, podendo transformar-se num produto e/ou serviço ou não. A inovação está relacionada à capacidade de gerar produtos e/ou serviços a partir do conhecimento, seja ele científico ou empírico. Sendo assim, a invenção é considerada como uma idéia, limitando-se apenas ao campo do conhecimento, já a inovação caracteriza-se pela utilização desse conhecimento na prática.

A inovação, segundo Porter (1996, p. 167) pode permitir que a empresa atenda novas necessidades, pode melhorar a sua posição em relação aos substitutos e pode eliminar ou reduzir a necessidade de produtos complementares escassos ou dispendiosos. Portanto, a inovação pode melhorar as condições de uma empresa com relação às causas externas de crescimento e, dessa maneira, aumentar o seu índice de crescimento.

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Essa inovação pode apresentar conotações diversificadas. Ela não se restringe ao lançamento de produtos, pois também abrange o aperfeiçoamento de produtos ou mesmo a identificação de novas funções para produtos já existentes.

Como bem demonstram Quandt (1998) e Cassiolato e Lastres (1998), os investimentos em P&D e capacitação técnica para estimular a inovação e a difusão de tecnologias, além de inovações organizacionais e institucionais, podem conduzir a economia para um crescimento contínuo. Assim, cabe aos países criaram ambiente institucional capaz de propiciar a capacitação técnica, a inovação, a difusão e a incorporação de novas tecnologias. Para a formação deste ambiente, o arranjo institucional deverá favorecer: o relacionamento, ou melhor, a interdependência entre pesquisa básica e pesquisa aplicada, entre os pesquisadores e empresários; a inovação, a difusão e a incorporação das novas tecnologias dentro e fora dos limites regionais; e a crescente qualificação da mão-de-obra. Os arranjos que contemplam estes elementos são denominados de Sistemas Nacionais de Inovação (SNI).

A importância do SNI é foco de grandes discussões fora e dentro da academia, pois se questiona a sua real contribuição ao crescimento em face de globalização, quer dizer, em face da existência de um Sistema Global de Inovação (SGI). O chamado SGI é um arranjo institucional mundial que visa acelerar e difundir a inovação tecnológica.

O SGI é amplamente defendido pelos países desenvolvidos (centrais) por temerem uma legislação protecionista nos países periféricos e para ratificar, assim, sua supremacia e posição hegemônica. Porém, o SGI é incipiente, posto que quando se analisam as evidências empíricas percebe-se que a maior parte das inovações ocorridas no mundo acontece no âmbito nacional, ou seja, são desencadeadas pelo SNI de cada país.

Conforme Cassiolato e Lastres (1998), observando alguns países desenvolvidos como os Estados Unidos da América e Japão, por exemplo, nota-se que, respectivamente, apenas 3,1% e 1,3% das inovações se deram em SGI, o restante (96,9% e 98,7%, respectivamente) ocorreu em seus SNIs. Na Europa, a situação é semelhante, pois na maioria dos países a inovação é concentrada em SNIs e o pouco das inovações internacionais ocorre principalmente dentro das fronteiras da União Européia.

Como aponta Quandt (1998), a questão da territorialidade, em que as firmas interagem limitadas ao espaço físico, é um fator importante na busca da inovação tecnológica. Os SNIs devem compreender características qualitativas e quantitativas, como as relações entre usuários e produtores, redes de fornecedores, redes de informações científicas e tecnológicas, vínculos entre P&D e produção, capacidade de adaptar tecnologias, sistemas de consultoria

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técnica e a existência de trabalhadores qualificados e profissionais de alto nível técnico. As diferenças em configurações institucionais em diferentes locais, suas capacitações, vínculos e interações com o sistema produtivo traduzem-se em diferenças na capacidade de inovar e promover a difusão de tecnologia.