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Concepções das professoras sobre a importância da leitura proficiente para o bom desempenho do educando na disciplina que atua

III - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

1. CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO DOS GRUPOS

2.1. CONCEPÇÕES DAS PROFESSORAS CONCERNENTES A SUA PROFISSÃO, A LEITURA E O ATO DE LER

2.1.3 Concepções das professoras sobre a importância da leitura proficiente para o bom desempenho do educando na disciplina que atua

Para compreender melhor as concepções que as professoras têm sobre a importância da leitura proficiente para o bom desempenho dos educandos, propomos a questão 8, que exige, além da resposta fechada, a justificativa na escolha.

QUADRO 3: Índice das respostas à questão sobre a importância da leitura proficiente dos educandos na disciplina que as professoras atuam.

G1 G2 TOTAL

SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO N % N % N % N % N % N % Você considera a leitura proficiente

(leitura hábil, competente) importante para o bom desempenho do educando na disciplina que você

ministra? 20 100 0 - 16 80 4 20 36 90 4 10

G1 G2 Total Importância da leitura proficiente do

educando na disciplina que a educadora

ministra: f % f % f %

- Relação entre a leitura proficiente com a compreensão e interpretação de conceitos, idéias, de

textos. 04 23,5 13 61,9 17 44,7

- Aprofundar os conhecimentos, os conteúdos

trabalhados. 04 23,5 02 9,5 06 15,7

- Relação entre a leitura proficiente com o vocabulário, com as estruturas gramaticais, e com as normas ortográficas.

As professoras do grupo 1 (100%) acreditam que a leitura proficiente seja importante para o bom desempenho do educando na disciplina que ministram. Já no grupo 2, podemos perceber que esse número cai para 80%, representando também a maioria das professoras, enquanto quatro professoras (20%) não consideram a leitura proficiente importante para o bom desempenho do aluno em sua disciplina específica.

A justificativa das professoras não condiz com a realidade apresentada pela resposta objetiva, uma vez que o grupo 2 apresentou maior número de argumentações que relacionam a leitura proficiente com o bom desempenho dos educandos (quadro 4).

Inferimos que essas respostas possivelmente tenha decorrido da dificuldade que professores setem em relacionar a leitura com disciplinas como educação física, matemática, química, como foi comentado por professores desse grupo no momento da coleta de dados.

QUADRO 4: Índice das respostas à questão sobre a importância da leitura proficiente dos educandos na disciplina que as professoras atuam.

Considerando-se a amostra como um todo, quase a metade das professoras (44,7%) consideram a leitura proficiente dos educandos importante porque propicia a compreensão de textos, de idéias, de conceitos, auxiliando na interpretação de mundo.

No grupo 2, os argumentos que comprovam essa evidência estão presentes em 61,9%

das falas das professoras. No grupo 1 essa categoria apresenta-se em segundo lugar, empatada com a categoria que representa a importância da leitura proficiente como um instrumento que auxilia o educando a aprofundar os conhecimentos e conteúdos trabalhados (ambos com 23,5% no grupo 1).

O grupo 1 considera, em primeiro lugar, a importância da leitura proficiente para a aquisição de novos conhecimentos e informações, por promover novas descobertas e proporcionar atualizações. Essa categoria aparece em segundo lugar para o Grupo 2 (14,2%)

O quadro apresentado nos possibilita entender e inferir que as concepções que essas professoras têm sobre a importância da leitura proficiente de seus educandos estão relacionadas com a compreensão, aquisição e aprofundamento nos conhecimentos adquiridos, e enquanto suporte para melhorar o conhecimento na língua portuguesa e colaborar com o desenvolvimento na escrita. As três categorias, que se evidenciam por seus percentuais, se relacionam entre si e se complementam, nos possibilitando verificar que, na visão dessas professoras, a leitura na educação formal é um instrumento que viabiliza o conhecimento.

Alguns exemplos caracterizam melhor as respostas:

“É praticamente impossível ocorrer a compreensão e interpretação de um texto se não ocorrer uma leitura hábil. Um dos maiores problemas para que ocorra a aprendizagem é a leitura proficiente… ela é de fundamental importância”. (G2-LBM)

“O aluno que tem o hábito de ler, conseqüentemente terá facilidade para interpretar diversas situações exigidas pelas disciplinas abordadas no currículo escolar”. (G2-CBO)

“Complementa o conteúdo ministrado em sala, diversifica, cria maior interesse”. (G1-SAP)

“A leitura amplia o conhecimento, traz novas informações, melhora o vocabulário”. (G1-ECN)

As professoras também relacionaram a leitura proficiente de seus educandos com a melhoria no vocabulário, e para ajudá-los a entender melhor as regras gramaticais e as normas ortográficas, aparecendo em 10,5% das justificativas:

“O aluno que lê com certeza seu vocabulário melhora e seu aprendizado muito mais, terá mais facilidade para entender as coisas”. (G1-ECSF)

“Quem lê, e lê com competência e habilidade, dispõe de um vocabulário mais rico e compreende melhor a estrutura gramatical e as normas ortográficas da Língua Portuguesa”.

(G2-LCFS)

As professoras relacionam a leitura proficiente ao desenvolvimento da escrita (7,8% das justificativas), como se pode verificar no seguinte relato:

“Acho a leitura muito importante para o educando desenvolver sua vida intelectual, e desenvolver bem a escrita”. (G1-AGM)

Ler e escrever são atividades que se complementam. Os bons leitores têm grandes chances de escrever bem, já que a leitura fornece a matéria-prima para a escrita”. (G2-LCFS)

A partir do quadro e dos relatos acima, podemos perceber que a relação que os professores fazem da leitura proficiente de seus alunos com a disciplina que ministram é caracterizada por um valor altamente instrumental.

Por outro lado, encontramos uma justificativa demonstrando que a concepção da professora sobre a leitura está acima da condição pedagógica de ver a leitura restrita a um instrumento de aprendizagem específico.

“Ler é construir sentido para o que se está lendo. Se ele já tem esta competência, será mais fácil para o educando entender que existem diferentes maneiras de "ler" (ou diferentes níveis de leitura). Que além de coletar informações, estará considerando a validade de tais informações, comparando-as ao seu conjunto de referências específico...” (G2-ESB)

Esse relato nos possibilita entender a função da leitura proficiente na disciplina específica como uma atividade que conduz o educando a um estado de introspecção sobre o seu conhecimento, as suas dúvidas, as suas certezas, os seus desconhecimentos. Nessa perspectiva, essa atividade não se restringe ao seu uso instrumental e mecânico enquanto promotora da leitura de idéias alheias, que serve principalmente para a aquisição de informações, para a compreensão de textos e de conceitos. Mas sim, como uma atividade que viabiliza construções e desconstruções de pensamentos, numa relação dialética entre o leitor e a leitura, assim a leitura do mundo encontra-se dinamicamente unida com a leitura da palavra, como afirma FREIRE (2006).

Na justificativa das professoras é possível encontrar também dados que nos permitem refletir sobre a formação profissional que essas estão recebendo no que diz respeito às dimensões da leitura no âmbito educacional:

“Embora minha disciplina seja a Matemática, acho muito importante que o professor incentive a leitura, pois faz com que o aluno fique mais esperto; a sua escrita, a sua fala, imaginação fica muito mais rica”. (G1-FC)

A concepção que essa professora demonstra ter sobre o uso da leitura proficiente por seus educandos nos propicia refletir sobre a prática dessa disciplina e sua relação com o ato de ler. Apesar de considerar a leitura importante, a professora parece estabelecer um distanciamento entre a Matemática e a leitura colocando-as em vias díspares. Essa ruptura nos possibilita inferir sobre uma possível prática tecnicista e conteudista, onde a matemática é baseada exclusivamente em cálculos. Assim, a leitura

proficiente parece não fazer parte da compreensão lógico-matemática do educando, parece não ser necessária para o entendimento da lógica dessa disciplina.

No que diz respeito a essa realidade, concordamos com KLEIMAN (2004a) que aponta o fracasso geral dos educandos nas diferentes disciplinas como uma conseqüência do fracasso da escola na formação de leitores. Portanto, se não formarmos leitores proficientes, o comprometimento não ficará restrito a área de Língua Portuguesa.

A leitura passa a ser entendida como a base estrutural que sustenta e subsidia toda a educação formal.

Contudo, é importante salientar que quase todas as professoras, independente da dimensão através da qual vê a leitura, demonstram conceber a sua proficiência importante para o educando nas disciplinas que ministram, apesar de restringi-la à sua funcionalidade prático-pedagógica. Para SILVA (2005, p. 47), “as nossas concepções dos fenômenos, dos processos, dos objetivos existentes no mundo afetam diretamente as nossas práticas sociais. Assim, aquilo que sei, ou penso que sei sobre o ato de ler ou, ainda, a forma pelo qual eu concebo ou leio a leitura, enriquece ou empobrece, dinamiza ou paralisa, dirige ou serve, conscientiza ou serve para alienar as ações relacionadas com a formação de leitores”.

Nessa perspectiva, BETENCOURT (2000, p. 25) afirma que “a leitura, no âmbito escolar, é geralmente vista como algo imprescindível à vida do estudante, contudo, ela é tema de discussão somente quando surgem os problemas, ou seja, quando se encontram alunos distanciados da leitura, incapazes de compreender um texto”.

Por tais motivos, acreditamos que é de suma importância rever as nossas práticas pedagógicas sobre a leitura, uma vez que temos a consciência de seu valor social e educacional, analisando minuciosamente as formas de encaminhamentos da leitura em nossas escolas e propondo mudanças significativas. Faz-se necessário que a compreensão do texto através de uma leitura crítica promova as relações entre o texto e o contexto, fazendo com que a “linguagem e a realidade se prendam dinamicamente”, como sugere FREIRE (2006, p.11). Para esse autor (2001), “a experiência da compreensão será tão mais profunda quanto sejamos nela capazes de associar, jamais dicotomizar, os conceitos emergentes da experiência escolar aos que resultam do mundo da cotidianidade”.

A partir desses pressupostos, o ensino da leitura precisa ir além da sua funcionalidade enquanto instrumento de aquisição de informações e conhecimentos. A leitura no âmbito escolar precisa estar condizente com o contexto social em que a compreensão das palavras promovam a compreensão das realidades em que os educandos estão submetidos e lhes possibilitem análises críticas e reflexivas.

Com base nos dados, concluímos que as professoras reconhecem na leitura um meio para o conhecimento e a informação capaz de possibilitar ao educando aprofundamento nos conteúdos trabalhados. Elas entendem que a leitura proficiente também colabora para a aprendizagem das normas gramaticais e ajuda no desenvolvimento da escrita.

2.1.4 Concepções das professoras sobre o significado da leitura na sua

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