III - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
1. CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO DOS GRUPOS
2.2 CONCEPÇÕES DAS PROFESSORAS CONCERNENTES ÀS QUESTÕES POLÍTICAS ENVOLVIDAS NO ENSINO DA
2.2.1 Concepções das professoras sobre a importância da leitura na vida sócio-política dos educandos
A totalidade das professoras (100%), nos dois grupos, declara que a leitura é importante na via sócio-política dos educandos. Para elas, a leitura contribui para a análise da realidade, promovendo o posicionamento crítico diante de questões políticas e sociais, possibilita transformações na sociedade, e torna possível o exercício da cidadania. O número de freqüência das justificativas é muito similar entre os grupos, se diferenciando mais expressivamente na categoria que expressa a opinião da professoras sobre a leitura tornar possível o exercício da cidadania.
QUADRO 7: Índice de respostas à questão sobre a importância da leitura na vida sócio-política dos educandos.
Como podemos observar no quadro 7, a concepção de que a leitura possibilita a observação, a compreensão crítica sobre a sociedade e amplia a visão de mundo aparece com uma freqüência de 39,6% do total de inferências das professoras. No resultado parcial temos a seguinte freqüência: onze professoras do grupo 1 (45,9%), e dez professoras do grupo 2 (34,4%). Como exemplo, apresentamos alguns relatos na seqüência:
“Penso que o ato de ler amplia as possibilidades de reflexão sobre a vida do indivíduo…” (G1-SAP).
“Ajuda na formação e desenvolvimento do senso crítico, formar opiniões, idéias. O hábito da leitura dá uma visão de mundo de forma abrangente, consistente” (G1-ECN).
Importância da leitura na vida sócio-política dos educandos: G1 G2 Total f % f % F % Possibilita a observação, a compreensão crítica sobre a sociedade / amplia a
visão de mundo. 11 45,9 10 34,4 21 39,6
Promove o posicionamento crítico diante de questões políticas e sociais 09 37,5 09 31,0 18 34,0 Viabiliza transformações na sociedade / no mundo 02 8,3 03 10,3 05 9,4 Torna possível o exercício da cidadania 02 8,3 07 24,2 09 17,0 TOTAL 24 100 29 100 53 100
“A partir do momento que os educandos lêem e criam opiniões diante do que leu, não fazendo apenas uma leitura mecânica, melhor será sua compreensão do mundo” (G2-TBC).
“O hábito de leitura é fundamental para os educandos, pois proporciona uma visão de mundo diferente, mais ampla, rica em informação” (G2-IMRC).
Outra significação que construímos a partir das justificativas de respostas dessas professoras diz respeito à concepção de que a leitura promove no educando o posicionamento crítico diante de questões políticas e sociais. A quantidade de professoras que se referiram a esse motivo como uma de suas justificativas foi igual entre os grupos, cada um deles contendo nove professoras. No total, temos a frequência dessas respostas, representando 34% das inferências citadas. Vejamos nos relatos a seguir:
“Pois, hoje em dia muitas pessoas na vida política não lêem e não se interagem do meio. Não estando a par do que está acontecendo a sua volta”. (G1-ECSF)
“Sim. O educando que aprende a ler com precisão estará apto a desenvolver um bom papel na sociedade que está inserido, uma vez que poderá interferir, contribuir e analisar os aspectos políticos presentes no seu cotidiano”. (G2-CBO)
As professoras que concebem a leitura como um instrumento que viabiliza transformações sociais são poucas, somando cinco (9,4%) no total. Podemos considerar uma freqüência pouco expressiva. No resultado parcial, temos uma pequena diferença entre os grupos, duas professoras (8,3%) do grupo 1, e três professoras (10,3%) do grupo 2. Nessa categoria, as professoras entendem a leitura como um meio capaz de tornar o indivíduo apto a transformar a sociedade e o mundo, como ficou evidenciado em seus relatos:
“Por que por meio da leitura obtém-se uma visão maior (mais ampla) de mundo. E assim alternativas para a transformação, a mudança na sociedade” (G1-AE).
“Para formar um educando capaz de transformar a sociedade é necessário levar a leitura e reflexão” (G1-APAA).
“No espaço em que vivemos, técnico-científico e informacional, quem não adquirir conhecimento, não poderá transformar a realidade de forma consciente e nem tornar a sociedade mais justa”
(G2-LGC).
“A leitura cotidiana seja ela a de textos informativos, literários ou científicos, oferece a possibilidade ao educando (…) de [tornar-se] sujeito ativo, reflexivo, crítico e atuante, bem como transformador da sociedade em que vive” (G2-LCFS).
“Pois a leitura enquanto forma de participação permite que o indivíduo compreenda o mundo, respeitando e transformando-o” (G2-JSC).
Poucas professoras sugeriram que a leitura é importante para os educandos porque torna possível o exercício da cidadania. No resultado parcial temos duas professoras do grupo 1 (8,3%) e sete professoras do grupo 2 (24,2%).
Podemos encontrar, nessas respostas, a concepção de leitura como uma atividade que evita a exclusão social, possibilitando ao educando a condição de um ser atuante e participativo. Assim, a leitura é uma ferramenta que instrumentaliza o educando para exercer seu papel enquanto cidadão.
“Na sociedade em que vivemos (…) a leitura não só de textos, como do mundo é de extrema importância para o desenvolvimento intelectual e profissional do cidadão. O indivíduo que não lê no mundo de hoje, é um forte candidato à exclusão” (G2-LBM).
“A leitura é um instrumento que possibilita ao leitor uma participação e inclusão satisfatória na sociedade” (G2-EFO).
Notamos que, em algumas justificativas, o significado de “cidadão”, ou do termo
“cidadania”, está vinculado a um posicionamento crítico sobre o saber e o fazer políticos, sem os quais parece que a condição de cidadão não é viável. Essas declarações nos permitem inferir que cidadãos são aqueles indivíduos dotados de senso crítico e de conhecimentos adquiridos através dos meios da educação formal:
“Pois o estudante participará ativamente no processo crescendo com mais desenvoltura e espírito crítico, preparando-se para sua autonomia como ser pensante, que sabe discernir e fazer opções, enfim, um pleno cidadão” (G2-ESB)
“A leitura é o objeto social do conhecimento. Dessa forma, se faz muito importante a sua prática para os educandos que aprendem sobre o contexto social em que estão inseridos, cativando-os para o exercício da cidadania, posicionamento crítico e reflexivo diante das situações, das problemáticas sociais e/ou políticas, sobretudo. (G2-MAH)
Em outras palavras, o termo cidadão parece ser entendido a partir de um significado mais abrangente, a leitura viabiliza a condição necessária para que estes, na condição de pessoas com direitos e deveres, se tornem esclarecidos o suficiente para não ser manipulados, e para o bom exercício da cidadania:
“O hábito de leitura é fundamental para os educandos (…) permite maior criticidade, para que estes cidadãos não sejam manipulados” (G2-IMRC).
“Para exercer a cidadania é necessário, compreender interpretar e conhecer (através da leitura)”
(G1-JGA).
“Sim, através da leitura é que teremos bons cidadãos” (G1-DATN).
Verificamos que as concepções das professoras sobre a importância da leitura na vida sócio-política dos educandos alcançam um consenso entre os grupos em quase todas as categorias sugeridas. As professoras consideram a leitura importante porque amplia a visão de mundo dos educandos, aumentando a compreensão e os conhecimentos necessários para um posicionamento crítico diante dos delineamentos político-sociais a que estão submetidos, e assim, possibilitando-lhes realizar ações capazes de transformar a realidade social, enquanto cidadãos críticos, participativos e atuantes.
De maneira geral, as respostas das professoras concernentes às questões políticas envolvidas no ensino e no desenvolvimento da leitura nos levam à suposição de que as suas concepções parecem trazer ideologias concebidas nas vivências profissionais, abrangendo aspectos críticos capazes de interferir na formação leitora do educando. O posicionamento político dos dois grupos se assemelha bastante, apresentando pequenas diferenças que podem ser decorrentes de vários fatores.
As concepções dessas professoras revelam preocupações com a importância sócio-política do ato de ler dos educandos, contudo poucas deixam transparecer a importância do papel da leitura crítica e reflexiva para viabilizar transformações na sociedade.