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Concepções das professoras sobre as questões políticas envolvidas no ensino da leitura

III - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

1. CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO DOS GRUPOS

2.2 CONCEPÇÕES DAS PROFESSORAS CONCERNENTES ÀS QUESTÕES POLÍTICAS ENVOLVIDAS NO ENSINO DA

2.2.1 Concepções das professoras sobre as questões políticas envolvidas no ensino da leitura

FREIRE (2006) e SILVA (2005; 1997) defendem que a leitura é uma prática libertadora que possibilita melhores condições sociais de igualdade e justiça. Ambos a consideram um instrumento democrático capaz de viabilizar processos de crescimento e de transformações, tanto no âmbito individual quanto na sociedade. Esses autores também revelam o perigo que uma sociedade de leitores representa para as estruturas governamentais, uma vez que um povo esclarecido não se contenta com práticas políticas inadequadas e injustas. Portanto, os governantes apresentam motivos e

“manobras políticas”, nas palavras de SILVA (2005, p.15), que tornam a função social da leitura “uma questão de privilégio e não de direito de toda a população”, fazendo com que suas práticas se restrinjam, ao máximo, às classes dominantes.

As professoras, conduzidas a refletirem sobre alguns dos temas que revelam as suas concepções sobre a função sócio-política da leitura e algumas das práticas governamentais de incentivo e difusão da leitura, responderam:

QUADRO 6: Grau de concordância das professoras com as afirmações que abordam questões políticas envolvidas no ensino e no desenvolvimento da leitura.

Instigadas a responder sobre a necessidade de democratizar a leitura para torná-la acessível a todos, 72% do total de professoras assumiram estar “totalmente de acordo”. Nessa alternativa, temos o resultado parcial de 60% de professoras no grupo 1, e 85% de professoras no grupo 2. Ainda nesse quesito, temos oito professoras do grupo 1 (40%) e duas professoras do grupo 2 (10%) que estão “de acordo” com essa afirmativa.

Com esse resultado, apontando que a maioria das professoras concordam com a necessidade de democratizar a leitura, podemos inferir que elas consideram-na algo importante para a vida sócio-política, e, por isso, deve ser entendida como um bem comum, algo que seja difundido a todos os integrantes da sociedade. SILVA (2005) defende a importância de democratizar a leitura, ao mesmo tempo declara a ausência de políticas governamentais concretas, que tornem possível essa democratização em nosso país.

Conduzidas a refletir se os problemas sociais relativos à leitura (analfabetismo funcional, e outros) dependem de uma política de estado e de cidadãos, 35% do total de professoras responderam que estão “totalmente de acordo”, e 62,5% estão de “acordo”. Somando o resultado dessas duas alternativas de resposta, perfazemos um total de 97,5% de professoras, o que nos leva a inferir que elas concordam e reforçam os argumentos de SILVA (1997) quando esse autor defende a necessidade de se estabelecer uma política que envolva tanto as ações governamentais quanto as ações dos cidadãos para, juntos, transformarem a realidade social do nosso país.

Quando pensaram sobre a realização de ações políticas, como as criações de bibliotecas públicas e a difusão de material didático adequado, para viabilizar a

leitura com o objetivo de melhorar as práticas leitoras houve também semelhança entre as respostas dos grupos chegando a números muito próximos ou iguais. Assim, o percentual total entre as professoras que estão “totalmente de acordo” é de 52,5%, e o percentual total das professoras que estão “de acordo” é de 45%.

Com o total de 97,5% de respostas, entre as professoras que estão “totalmente de acordo” e as professoras que estão “de acordo”, entendemos que elas acreditam na importância de ações políticas que possam não somente tornar mais acessível o livro, como também difundir material didático adequado à realidade dos educandos, dentre outras ações políticas, para que haja uma melhoria nas práticas leitoras dos educandos.

SILVA (2005, p. 15-16) afirma que “a classe dirigente, através de diferentes manobras políticas, não só bloqueia o acesso aos livros como também distorce e fragmenta o conteúdo das obras de modo que a gênese dos fatos do real não seja descoberta através da leitura”. Para esse autor, “o que o senso comum denomina de crise da leitura, falta de capacidade do povo de ler, etc… é um aspecto da ideologia disseminada no seio da sociedade, que reproduz os efeitos esperados na manutenção da organização social vigente”.

Essas idéias de SILVA (2005) parecem ser compartilhadas pela maioria das professoras, pois 80% delas reconhecem nas práticas governamentais o interesse em dificultar a formação de homens-leitores.

Quanto às organizações e interesses políticos dificultarem a formação de homens-leitores, 30% do total das professoras declaram está “totalmente de acordo”, dado cujos resultados foram equivalentes nos dois grupos. Na alternativa “de acordo”

encontramos 40% de respostas no grupo 1, e 60% de respostas no grupo 2, perfazendo no total geral 50% das respostas. “Em desacordo” temos 30% das professoras do grupo 1, e 5% das professoras do grupo 2.

Esses resultados nos levam a inferir que esse quesito possibilitou às professoras refletirem sobre as condições profissionais a que estão submetidas, no âmbito estadual ou municipal, e de acordo com as realidades políticas que vivenciam. As diferentes políticas governamentais entre os dois Estados parecem refletir nas respostas das professoras, pois é notório que os programas de governos para estimular a leitura ou promover o acesso ao livro, sejam em nível estadual ou a municipal, divergem nesses Estados.

Na Bahia, de modo geral, os projetos e programas de grande porte para estimular a leitura estão vinculados às medidas do governo federal. As propostas dirigidas a um público mais restrito são realizadas em escolas, ou em universidades, ou por algumas secretarias municipais, atingindo um público mais específico. Os reflexos das políticas locais, aqui sugeridos, podem ser evidenciados também no quesito a seguir.

Como podemos observar, as professoras do grupo 1 dividem suas opiniões sobre a afirmativa de que não existem práticas políticas governamentais para solucionar os problemas de leitura dos educados brasileiros. Somando as professoras que estão

“totalmente de acordo” (5,0%) com as professoras que estão “de acordo” (45%), temos no grupo 1, o total de 50%. O mesmo ocorre na soma entre as professoras desse grupo que estão “em desacordo” (45%), com aquelas que estão “totalmente em desacordo”

(5,0%), alcançando também o índice de 50%. No grupo 2, encontramos um resultado diferente, temos 15% de professoras que estão “totalmente de acordo” e 60% de professoras que estão “de acordo”, num total de 75%. O índice percentual de professoras desse grupo que não concordam com essa afirmativa totaliza 25%.

Inferimos que esse resultado demonstra a análise crítica das professoras a partir das suas realidades particulares. Quando comparamos esse resultado com as características sócio-políticas de cada estado, supomos que essa análise tenha sido feita com base nas realidades microestruturais dessas professoras, das condições sócio-políticas apresentadas pelas sócio-políticas estaduais ou municipais a que estão submetidas, e não das dimensões macroestruturais brasileiras. Segundo FREIRE (2007c, p. 21), “é transformando a totalidade que se transformam as partes, e não o contrário”. Contudo, transcender a própria realidade e refletir para além de suas próprias vivências não parece ser uma tarefa fácil, é o que nos parece retratar essas respostas.

No último quesito dessa questão, as professoras emitiram sua opinião sobre a possibilidade de se atribuir os problemas de leitura dos educandos brasileiros a interesses políticos governamentais. Aqui, as respostas entre os grupos voltam a se aproximar, sendo que na primeira alternativa (totalmente de acordo) temos 10% das professoras do grupo 1, e 15% das professoras do grupo 2. Na alternativa “de acordo”, temos 65% de professoras do grupo 1 e 55% de professoras do grupo 2. Somando esses resultados, alcançamos um percentual de 75% de professoras do grupo 1, e 70% do grupo 2 que demonstram estar em concordância com essa afirmativa. Discordando dessas argumentações, temos 25% de professoras do grupo 1 e 30% de professoras do grupo 2, o que no total geral representa 27,5%.

Para SILVA (2005), os problemas de leitura dos educandos brasileiros são consequências de políticas governamentais, cujas práticas se estendem no Brasil desde o período colonial até os dias de hoje, com a finalidade de manipulação da massa e manutenção das estruturas de poder que determina a hierarquia entre as classes sociais.

Para esse autor, “o ato de ler se constitui num instrumento de luta contra a dominação”

(p.49).

As concepções que as professoras deixam transparecer em suas opções de resposta nos permitem inferir que a consciência crítico-política das mesmas as capacitam

a analisar as práticas governamentais como um conjunto de fatores capaz de interferir e influenciar no ensino da leitura. Entretanto, essas concepções emanam das análises que fazem das realidades em que atuam, não parecendo trascender a dimensões macroestruturais.

2.2.1 Concepções das professoras sobre a importância da leitura na vida

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