• Nenhum resultado encontrado

O objetivo geral dessa monografia é analisar a natureza jurídica do cartão de crédito em comparação ao título de crédito e a função dos institutos na circulação do crédito. Para tanto, foram traçados alguns objetivos específicos sobre os quais passam-se a discorrer a respeito das considerações principais destacadas do estudo.

Na primeira parte desse estudo, foram apresentadas as noções gerais acerca do cartão de crédito, destacando-se os antecedentes históricos, alguns conceitos de cartão de crédito, suas bandeiras, administradoras e suas modalidades. Foram abordados os elementos e a relação jurídica dos cartões de crédito, bem como os contratos que são pactuados entre as partes. Tambémabordou-se acerca da emissão do cartão de crédito, assim comodestacaram-se alguns acontecimentos, como a perda, o roubo, o furto, a clonagem e o extravio do cartão; e, ainda, como podem ser definidos os juros, as multas e encargos. E, no final deste capítulo, a cobrança do saldo devedor do cartão de crédito.

Assim sendo, para Luz (1996), o cartão de crédito é um sistema operacional de credenciamento dirigido ao consumo, que reúne clientes do emitente, constituídos por comerciantes e consumidores. Visa manter uma clientela cativa, fortalecendo o conglomerado financeiro ao qual é filiado, oferecendo em troca qualificado serviço de segurança e desregulamentação do crédito. As principais modalidades de cartão de crédito são: credenciamento, stricto sensu, bancário, não bancário e internacional, dentre outros, com suas diversas bandeiras. O sistema de cartão de crédito conta com os seguintes elementos: o organismo emissor, o titular do cartão e o fornecedor ou vendedor. O contrato usado no sistema de cartões de crédito é o contrato de adesão, que estabelece relação entre a emissora do cartão de crédito e o estabelecimento que fornece produtos ou serviços e cria obrigações para ambas as partes. O titular obriga-se a informarimediatamenteà administradora o extravio, perda, furto ou roubo do cartão, por intermédio da Central de Atendimento da Administradora, devendo encaminhar comunicação por escrito e, na hipótese de furto e roubo, o respectivo boletim de ocorrência.

Os débitos lançados na fatura mensal do consumidor correspondem aos juros e à multa moratória, em decorrência de possível atraso ou de pagamento

inferior ao valor mínimo na data do vencimento. Jáo financiamento do saldo devedor corresponde aos encargos contratuais, os quais são compostos pelo custo do financiamento e pela remuneração da garantia efetuada pela emissora do cartão. A cobrança de crédito pode ser realizada de forma extrajudicial ou judicial. Acobrança judicial pode se dar através da ação de conhecimento, e, extrajudicialmente, pode ser cobrado através de renegociação da dívida.

No terceiro capítulo, foram destacados aspectos sobre o título de crédito, como sua evolução histórica e suas funções; alguns conceitos e características do direito cambiário; a classificação dos títulos, como também os institutos cambiários de constituições e exigibilidade; e as figuras jurídicas do direito cambiário.

Sendo assim, o conceito mais clássico acerca dos títulos de crédito é o de Cesare Vivante (1924, p.123), pelo qual “o título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo, nele mencionado”. Dentre os princípios fundamentais dos títulos de crédito, destacam-se: o princípio da autonomia abstração, literalidade e da cartularidade. O princípio da autonomia denota que o título de crédito é documento constitutivo de direito novo, independente, originário e sem vínculo da relação causal; o princípio da abstração significa o desligamento da relação original quando o título está em circulação; o princípio da literalidade significa que o direito cambiário só pode ser exercido com fundamento nos elementos presentes no título de crédito; e o princípio da cartularidade representa a exigência da posse do documento original que é indispensável para o exercício do direito ao crédito. Os títulos de crédito podem ser classificados quanto ao conteúdo da declaração cartular: em próprios ou impróprios; quanto à causa da emissão: em abstratos ou causais; quanto à circulação: em títulos ao portador, títulos normativos, títulos com cláusula à ordem ou títulos com cláusula não à ordem; quanto à pessoa do emitente: em públicos e privados. Os institutos cambiários permitem a constituição e a exigibilidade do crédito cambiário, sendo os seguintes: saque, aceite, endosso, aval, vencimento, pagamento e ação cambial.

Por fim, na última parte do trabalho foi feita uma análise da natureza jurídica do cartão de crédito em comparação ao título de crédito e a função dos dois instituitos na circulação do crédito, destacando-se conceito, características, modalidades, formas de constituição, partes envolvidas, perda e roubo, juros, forma de cobrança e princípios.

Dessa forma, constatou-se que o título de crédito é o documento formal, definido pela lei processual como título executivo extrajudicial, possui executividade, o que quer dizer que dá ao credor o direito de promover o seu direito através da ação de execução judicial. Nem todos os documentos escritos que apresentam obrigações creditícias dispõemdessa característica, como é o caso do cartão de crédito. Se o credor não dispuser de documento a que a lei processual imponha natureza executória, a cobrança do crédito representado deverá ser feita através de ação de conhecimento (ou monitória), normalmentemais lentaque a execução, como ocorre no caso do cartão de crédito.

O cartão de crédito, que tem como sua principal função estimular as vendas e a prestação de serviços, estáintimamenteligado à evolução da sociedade e da intensificação das relações de consumo. A possibilidade de se obter bens e serviços por meio do cartão, sem a necessidade de desembolsar dinheiro vivo, aumenta a liquidez do público, o que permite comprar hoje com recursos que só se terá no futuro. Referido institutopode ser considerado um negócio jurídico complexo, pois contempla alguns tipos de contratos que envolvem no mínimo três relações. Atualmente, a teoria que procura explicar a natureza jurídica do cartão de crédito centraliza-se em suas propriedades, ou seja, o fato de o mesmo tratar-se não de um contrato comum, tipificado e regulamentado, e sim de um sistema contratual no qual há uma interdependência de vários contratos.

Ao final, confirma-se a hipótese desse trabalho, de que o cartão de crédito tem natureza contratual em comparação ao título de crédito, que é documento representativo de obrigação pecuniária, configurando um título executivo extrajudicial. Entretando, apesar das diferenças, ambos desempenham função relevante na circulação do crédito e permitem aumentar a liquidez do público.

REFERÊNCIAS

ABRÃO, Nelson. Direito bancário. São Paulo: Revista dos Tribunais. 1966. ALBUQUERQUE, Lorena Barros. Noções Introdutórias sobre títulos de crédito. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,nocoes-introdutorias-sobre- titulos-de-credito,55521.html Acesso em 23 Mai. 2018.

ALQUIER, Valdeleni Aparecida Mendes; CASTRO, Marco Antonio de. OLIVEIRA, Ariane Fernandes de. Executividade dos títulos de crédito. Santa Cruz, I Jornada de IIniciação Científica e de Extensão Universitária (I JICEX), v. 1, n. 1 (2013).

Disponível em: 3http://www.santacruz.br/ojs/index.php/JICEX/article/view/152/428. Acesso em 23 Mai. 2018.

ANDRADE, Paulo Gustavo. Cartões de crédito. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518- 4862, Teresina, ano 3, n. 23, 27 jan. 1998. Disponível

em: <https://jus.com.br/artigos/621>. Acesso em: 23 maio 2018. ASQUINI, Alberto. Os títulos de crédito. Padova: Cedam, 1966.

AVELAR, Daniel Duarte Costa de. As peculiaridades do contrato de cartão de crédito. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/34862/as-peculiaridades-do- contrato-de-cartao-de-credito Acesso em 23 Mai. 2018.

BENEVIDES, Marcello. O que é cobrança judicial e extrajudicial? 01/2017. Jus.com.br. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/55256/o-que-e-cobranca- judicial-e-extrajudicial. Acesso em: 29 Mar 2018.

BRANCO, Gerson Luiz Carlos. O Sistema Contratual do Cartão de Crédito. São Paulo, Saraiva, 1998.

BONFANTI, Mario Alberto; GARRONE, José Alberto. Os títulos de crédito. 2. ed. Buenos Aires: 1976.

BRASIL, Lei n. 10.406/2002. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 15 Abr 2018. ______, Lei n. 8.078/1990. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em: 28 Mar 2018. ______, Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Apelação n.

10145084733099001. Relator: Maurílio Gabriel. Julgado em: 30/04/2014. Publicado

em: 09/05/2014. Disponível em: https://tj-

mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/120558325/apelacao-civel-ac- 10145084733099001-mg. Acesso em: 28 Mar 2018.

_______, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação n.

70056902638. Apelante: Banco Santander Brasil S.A. Apelado: Renan Adaime

Duarte. Relatora: Ana Paula Dalbosco. Julgado em: 29/04/2014b. Publicado em: 07/05/2014b. Disponível em: https://tj-

rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/118796854/apelacao-civel-ac-70056902638- rs?ref=juris-tabs. Acesso em: 28 Mar 2018.

_______, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Agravo de

Instrumento n. 70061828604. Agravante: Stara S.A Industria de Implementos

Agrícolas. Agravado: Comercial Bortolan Maquinas Ltda. Relator: Antônio Maria Rodrigues de Freitas Iserhard. Julgado em: 30/09/2014c. Publicado em: 16/10/2014. Disponível em: https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/151206893/agravo-de-

instrumento-ai-70061828604-rs/inteiro-teor-151206898?ref=juris-tabs Acesso em: 23 Mai 2018.

_______, Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso. Apelação n.

00007904520078110005 151833/2013. Apelante: Valderi Gouveia Barbosa.

Apelado: Valdemir Teodoro Silva. Relatora: Desa. Cleuci Terezinha Chagas Pereira da Silva. Julgado em: 28/05/2014d. Publicado em: 04/06/2014. Disponível em: https://tj-mt.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/364187170/apelacao-apl-

7904520078110005-151833-2013/inteiro-teor-364187196?ref=juris-tabs Acesso em: 23 Mai 2018.

_______, Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Apelação n. 587458 SC

2008. 058745-8. Apelante: Casa Boso Materiais de Construção Ltda Apelado: Mini

Mercado Campeche Ltda. Relator: Rodrigo Antônio. Julgado em: 09/03/2009. Disponível em: https://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6524186/apelacao-civel- ac-587458-sc-2008058745-8?ref=juris-tabs Acesso em: 23 Mai 2018.

CASTRO, Moema Augusta Soares de. Cartão de crédito: a monética, o cartão de crédito e o documento eletrônico. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

DAMIAN, Terezinha. Direito de Empresa: Fundamentos Jurídicos para

estudantes, administradores, advogados, contadores e empresários. Jundiaí:

Paco Editorial, 2015.

DE SEMO, Giorgio. Tratado de direito cambiário. 3. Ed. Padova: Cedam, 1963. FAZZIO Junior. Waldo. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2004.

FEITOZA, Katyúscia Kelly Pereira de Sousa. Operações de Créditos Atuais: o cartão de crédito como substituto dos clássicos documentos de crédito. Disponível em: https://unieducar.org.br/artigos/artigos%20operacoes%20creditos%20atuais.pdf. Acesso em 23 Mai. 2018.

FIGUEIREDO, Alcio Manoel de Sousa. Cartão de Crédito: questões controvertidas. 2 ed, 4 tir./Curitiba: Juruá, 2006.

LUZ, Aramy Dornelles da. Negócios Jurídicos Bancários: O banco múltiplo e

seus contratos. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1996.

LUZ, Aramy Dornelles da. Negócios Jurídicos Bancários. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999.

MAMEDE, Gladston. Títulos de crédito. São Paulo: Ed. Atlas, 2008. MARTINS, Fran. Títulos de crédito. Rio de Janeiro. Forense, 2010.

MARTINS, Fran. Contratos e Obrigações Comerciais, ed. rev. e aum. Rio de Janeiro, Forense, 2010.

MARTINS, Fran - Letra de Câmbio e Nota Promissória Segundo a Lei Uniforme, 1a ed., Rio de Janeiro: Forense, 1972.

MARTORANO, Federico.Os títulos de crédito. Napoli: Morano, 1970.

MIRANDA, Maria Bernadete. Aspectos Jurídicos do Contrato de Crédito. Revista

Virtual Direito Brasil. vol. 4, n 1, 2010. Disponível em:

<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/aspectos_juridicos_do_contrato_de _cartao_de_credito.pdf >. Acesso em: 03 set. 2017.

MORAES, J.C.Título Executivo – Natureza Jurídica. Disponível em:

https://jcmoraes.com/2012/08/22/titulo-executivo-natureza-juridica/ Acesso em 23 Mai. 2018.

MORAES,Rosélia Pereira. Cartão de Crédito e alguns aspectos polêmicos.

Disponível em: http://www.goncalvesadvogados.com.br/artigos/MonografiaCartao.pdf Acesso em 23 Mai. 2018.

MOTTA, Alexandre de Medeiros et al. Universidade e Ciência: livro didático. Palhoça: Unisul Virtual, 2013.

RACHEL, Andréa Russar. Quais são os traços que diferenciam os títulos de crédito dos demais documentos representativos de direitos e obrigações? Publicado por Rede de Ensino Flávio Gomes, 2009. Disponível em:

https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1339516/quais-sao-os-tracos-que-diferenciam-os- titulos-de-credito-dos-demais-documentos-representativos-de-direitos-e-obrigacoes- andrea-russar-rachel Acesso em 23 Mai. 2018.

ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.

SOUZA, Leonam Machado de. Contrato de cartão de crédito: Relação entre

oestabelecimento e credenciadora; in, Revista, Rio de Janeiro, v. 16, n. 62, p. 165

– 200, abr – set, 2013.

TOLEDO, Alejandro Melo. Tutela jurídica do crédito: A convivência dos títulos de crédito e valores mobiliários no mercado de capitais brasileiro. Disponível em: http://www.mcampos.br/u/201503/alejandromelotoledoatutelajuridicadecredito.pdf Acesso em 23 Mai. 2018.

TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: títulos de crédito, volume 2 – 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

VIVANTE, Cesare. Tratado de direito comercial. 5. Ed. Milano: Casa editricedottorfrancescovallardi, 1924, v. 3.

ANEXO A – APELAÇÃO CÍVEL Nº 10145084733099001, JUIZ DE FORA, MG

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - CARTÃO DE CRÉDITO - EXTRAVIO, FURTO OU ROUBO - SENHA PESSOAL E INTRANSFERÍVEL - RESPONSABILIDADE DO TITULAR ATÉ A COMUNICAÇÃO DO FATO À ADMINISTRADORA. Ao constatar o extravio, furto ou roubo de cartão de crédito que se encontra vinculado à senha eletrônica pessoal e intransferível, cabe ao seu titular comunicar imediatamente à administradora sobre o ocorrido, sob pena de se responsabilizar pelas transações realizadas até a comunicação.

APELAÇÃO CÍVEL No 1.0145.08.473309-9/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - APELANTE(S): BANCO DO BRASIL S/A - APTE(S) ADESIV: ANDRE LUIZ PINTO DA SILVA - APELADO(A)(S): BANCO DO BRASIL S/A, ANDRE LUIZ PINTO DA SILVA

A C Ó R D ÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 15a CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, à unanimidade, em REJEITAR PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA, DAR PROVIMENTO AO RECURSO PRINCIPAL E JULGAR PREJUDICADO O RECURSO ADESIVO. DES.MAURÍLIOGABRIEL

RELATOR.

DES. MAURÍLIO GABRIEL (RELATOR) VO T O

Cuida-se de ação "declaratória de inexistência de dívida c/c ação indenizatória" ajuizada por André Luiz Pinto da Silva contra Banco do Brasil S/A e Ourocard Platinum Estilo Mastercard.

Durante a tramitação, foi homologada "a desistência da ação em relação à ré Ourocard Platinum Estilo Mastercard".

A sentença prolatada julgou "parcialmente procedente os pedidos iniciais", "tão somente para: 1) Declarar inexistente o débito originado do cartão de crédito no 5549 XX 2419, no que se refere aos valores discutidos na presente demanda, conforme demonstrado nas faturas de f. 16/18; 2) Condenar o requerido Bando do Brasil S/A a restituir, em dobro, todos os valores pagos indevidamente pelo autor André Luiz Pinto da Silva, decorrentes de compras e saques efetuadas com o cartão de crédito no 5549 XX 2419"; estipulando ainda que "tais importânciasdeverão ser corrigidas até o efetivo pagamento, pela Tabela da Egrégia Corregedoria de Justiça, devendo também incidir juros de mora de 1% ao mês, tudo a partir da citação". Por consequência, "diante da sucumbênciarecíproca", as partes foram condenadas "a pagar, cada uma, 50% (cinquenta por cento) das despesas do processo e dos honoráriosadvocatícios, que deverão ser compensados", estes fixados "em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação", "suspensa a exigibilidade da condenação em relação ao autor", "em função da gratuidade de justiçajá deferida anteriormente".

Inconformado, o Banco do Brasil S/A interpôs recurso de apelação suscitando, ainda que de forma não destacada, preliminar de ilegitimidade passiva, aduzindo que, "em tese, foi o terceiro que furtou o cartão de crédito do Apelado e veio a induzir a erro todas as partes".

No mérito, argumenta que "não pode ser responsabilizado pelo suposto evento danoso causado à Apelada, uma vez que de acordo com o que a própria parte informa, todas as consequências notadas decorrem única e exclusivamente da atuação de um terceiro".

Alega que "se o Apelado passou a qualquer pessoa a senha pessoal de acesso à conta, temos que foi ele quem deu condições à atuação do terceiro meliante, e não o banco ou qualquer de seus prepostos".

Ao final, o Banco do Brasil S/A pugna pelo provimento do recurso, julgando-se improcedentes os pedidos exordiais.

Em alternativa, argumenta que a "condenação não deve incluir a repetição em dobro das quantias já pagas requerida pelo Apelado, primeiramente porque as compras foram realizadas com o cartão do autor e com sua senha" "e segundo porque ainda que se tivesse que se falar em repetição, a mesma em hipótese alguma deveria ser em dobro porque a cobrança não é ilegal, ou indevida".

Parcialmente inconformado, André Luiz Pinto da Silva interpôs recurso adesivo afirmando que "foi coagido a pagar a dívida sob o argumento de encerramento e indisponibilidade de sua conta pessoal", sendo devido, portanto, o pedido de indenização por dano imaterial.

Requer, ainda, seja reconhecida "a impossibilidade de compensação dos honorários, face a patente diferença da natureza da verba".

Em contrarrazões, os interessados batem-se pelo não provimento do recurso interposto pela parte adversa.

Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço dos recursos.

Em seu Curso de Direito Processual Civil (Editora Forense, 18a edição, vol. I, p. 57), Humberto Theodoro Júnior observa que, "se a lide tem existênciaprópria e é uma situação que justifica o processo, ainda que injurídica seja a pretensão do contendor, e que pode existir em situações que visam mesmo a negar in totum a existência de qualquer relaçãojurídica material, é melhor caracterizar a legitimação para o processo com base nos elementos da lide do que nos do direito debatido em juízo". Por isto, arremata o mesmo processualista: "Destarte, legitimados ao processo são os sujeitos da lide, isto é, os titulares dos interesses em conflito. A legitimação ativa caberá ao titular do interesse afirmado na pretensão, e a passiva ao titular do interesse que se opõe ou resiste à pretensão".

Na espécie em julgamento, o autor aponta o Banco do Brasil S/A como responsável pela cobrança da fatura do cartão de crédito, que entende indevida.

Por isto, requer a condenação da instituiçãobancária no pagamento dos danos morais e na repetição em dobro da quantia cobrada.

Em conseqüência, patente é a legitimidade do Banco do Brasil S/A para figurar no pólo passivo da ação.

Rejeito, portanto, a preliminar de ilegitimidade passiva, suscitada pelo recorrente principal.

DES. TIAGO PINTO (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. PAULO MENDES ÁLVARES - De acordo com o(a) Relator(a). DES. MAURÍLIO GABRIEL Afirma o autor na exordial que "se surpreendeu com uma cobrança de uma fatura, de um produto,... do seguinte Cartão

Ourocard Platinum Estilo Mastercard, sob o no 5549 ... ... 2401, desconhecendo por completo a contratação deste produto".

Esclarece ainda que as partes "foram vítimas de uma fraude, e de um roubo; sendo certo que uma pessoa abusando da confiança, obteve certas informações e as utilizaram contra as partes envolvidas, tendo furtado também este cartão", pretendendo seja declarada a inexigibilidade do referido débito, a restituição em dobro daquilo que pagou indevidamente, bem como, indenização por danos morais. Na contestação que ofertou, a requerida busca eximir-se de sua responsabilidade civil alegando que: 1o) "a partir do momento que o cliente recebe o cartão, torna-se

responsável pela sua utilização ou não"; e 2o) "o responsável pelas compras efetuadas com o cartão de crédito é o autor que o possuía com senha e não tomou o devido cuidado deixando, inclusive, que terceiros tivessem conhecimento de sua senha".

Para comprovar suas alegações, trouxe a ré para os autos os documentos anexados às f. 41/49, dentre os quais o "termo de recebimento do cartãoOurocard e declaração de responsabilidade" (cf. f. 42), cartão no 5549 0620 0404 2419, devidamente assinado pela esposa do autor.

Ao impugnar a contestação, o autor não nega que sua esposa teria recebido o cartão, bem como não nega que ele era vinculado a uma senha eletrônica definida por seu titular.

O Código de Defesa do Consumidor, aplicável ao caso, determina que "o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços" (caput do artigo 14), considerando-se que "o serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar" (§1o do mesmo artigo).

Esta responsabilidade só não será imputada ao prestador dos serviços se comprovar que "o defeito inexiste" ou que houve "a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro" (incisos I e II do § 3o do mesmo artigo 14).

No presente caso, a falha na prestação do serviço não restou devidamente demonstrada.

Conforme o próprio autor confessou na inicial, "em 09.06.2008 através de um ofício", "solicitou e informou à Gerente do Banco do Brasil, os fatos descritos no BO no 58.257, requerendo para tanto que os requeridos não efetuassem o débitoautomático da fatura deste serviço, com a intenção de apurar os fatos