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EVOLUÇÃO HISTÓRICA E FUNÇÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO

3 ASPECTOS DESTACADOS SOBRE O TÍTULO DE CRÉDITO

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E FUNÇÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO

O termo crédito deriva do latim creditum, que tem como fundamento a confiança. O crédito dispõe um certo poder de compraa quem não dispõe de recursos, é a troca da presente prestação pela futura. É uma maneira de permitir que o pagamento seja efetuado depois da realização da operação. Com isso, o título de crédito constitui o instrumento mais adequado ao desenvolvimento do crédito e na realização das trocas econômicas (FAZZIO JUNIOR, 2004; DAMIAN, 2015).

Durante a Idade Média, não era aceitável a circulação dos direitos de crédito, pelo fato da obrigação do devedor constituir um vínculo pessoal e não patrimonial, uma submissão do devedor ao credor. Eram grandes dificultadores, a falta de proteção do terceiro adquirente do crédito e as regras do direito comum. Somente em 428 a.C, Alex PoeteliaPapiriaatribuiu natureza pratrimonial à obrigação, proibindo os direitos do credor sobre a pessoa do devedor, substituindo a execução da pessoa do devedor pela execução dos seus bens (ROSA JÚNIOR, 2007).

O Direito Cambiário que se originou na Idade Médiaera constituído pelas normas que regulam os títulos de crédito. Até então, existiam apenas regras de Direito comum, utilizadas para disciplinar a circulação de bens. De forma indireta, o Direito Romano chegou à ideia de cessão de crédito, por meio de poderes em causa própria. No Direito Cambiário, pode-se dividir a evolução da história em quatro fases: período italiano, francês, germânico, e do Direito uniforme, como explica Damian (2015).

Operíodo italiano, que se estendeu até 1650, destacou-se pela influência dos mercadores italianos na evolução dos títulos de crédito, pois os centros mercantis estavam localizados nas cidades da Itália. Nesses centros mercantis, eram realizadas as operações de câmbio que deram origem à nota promissória e à letra de câmbio. Jáo período francês, que durou aproximadamente até 1848, teve

como destaque o surgimento da cláusula à ordem e do endosso, que vieram para facilitar a circulação e o desenvolvimento dos títulos de crédito. Esses elementos possibilitaram aletra de câmbiocircular dentro dos limites de uma cidade, deixando de ser emitida somente para facilitar a condução do dinheiro entre os locaispara se tornar instrumento de crédito.

Operíodo alemão, que se estendeu entre 1848 e 1930, teve como característica o nascimento da Ordenação Geral do Direito Cambiário na Alemanha, que concretizou a função da letra de câmbio e do próprio título como instrumento de crédito capaz de realizar a circulação de direitos. Pela consagração da abstração cambiária, a letra de câmbio desvinculou-se de sua causae o título de crédito passou a satisfazero documento constitutivo de Direito Cartular, deixando de ser simples documento probatório. O título passou a ser regido e sujeito pelo princípio que atua na circulação de bens e também a ser considerado como bem móvel na relação causal.

A fase do Direito uniforme caracterizou-se pela padronização da legislação cambiária, com a aprovação da Lei Uniforme de Genebra (LUG), sobre a letra de câmbio e a nota promissória, em 1930, e sobre o cheque, em 1931. Essa Lei decorreu das Convenções de Genebra, realizadas entre 13 de maio e 7 de junho de 1930, com 31 países, inclusive o Brasil, que unificaram a legislação relativa à letra de câmbio e à nota promissória, marcandoum novo período na evolução histórica dos títulos de crédito.

A LUG disciplina a letra de câmbio, a nota promissória e o cheque por serem títulos de crédito mais utilizados nas operações internacionais de crédito, aplicando de forma acessóriaa duplicata e a triplicata dos dispositivos sobre emissão, circulação e pagamento da letra de câmbio, que tem a mesma estrutura. A partir da Convenção de Genebra, os títulos de crédito, especialmentea letra de câmbio, a nota promissória e o cheque, passaram de forma uniforme a serem regulados, sendo que o Brasilparticipou da Convenção e manifestou sua adesão, introduzindo as normas estabelecidas pela LUG no direito interno brasileiroem 1966, através dos Decretos: 57.663/1966 (sobre letra de câmbio e nota promissória) e 57.995/1966 (sobre cheque), esse último, posteriormente, revogado pela Lei 7.357/1985 (DAMIAN, 2015).

Na circulação de riquezas, os títulos de crédito assumem papel primordial, porque simplificam a circulação e dão segurança aos eventuais aquirentes do crédito que terão interesse nessa circulação. Representando o próprio direito, os títulos de crédito aceitam que a simples transferência do documento transfira o direito ali representado, assegurando à circulação dos direitos de crédito o máximo de simplicidade e segurança. Mesmo sem a circulação do mesmo, é certo que é constante em todos os títulos de créditoa intenção de se criar um título circulatório (TOMAZETTE, 2012).

Segundo Rosa Júnior (2007), a função primordial dos títulos de crédito é a de facilitar e agilizar a circulação de riquezas, permitindo o melhor desempenho das atividades econômicas. Eles destinam-se a tornar a circulação mais fácil e simples para ambas as partes.Facilitam para o consumidor, pelas vezes que o mesmo, em um determinado momento, em que não possua dinheiro em espécie, possa adquirir bens ou prestações de serviço, através da adesão ao crédito disponibilizado pela fornecedora, com prazo a ser designado pelo vendedor. No entanto, ele não precisa esperar o prazo para fazer com que a riqueza circule e chegue a suas mãos.O fornecedor pode obter a representação desse crédito, em uma duplicata, por exemplo, ao conceder o crédito ao consumidor. Com este título, o fornecedor faz com que o mesmo circule para um banco, fazendo com que o dinheiro que iria receber somente após o prazo, com a apresentação do título ao banco, receba-o no mesmo instante. E assimvárias operações e negociações são realizadas de forma simples e bastante facilitada, num círculo virtuoso do crédito.

Segundo Bonfanti (1976, p. 6), há três exigências para essa circulação de riquezas na economia moderna: a simplificação das formalidades, a certeza do direito que se adquiree a segurança na circulação. Sem isso, a circulação dificilmente ocorreria, ou não ocorreria de forma tão eficaz.Há entre as partes uma certa necessidade de realizar as operações de maneira fácil e rápida do crédito concedido. Os fornecedores que concedem o créditoquerem ter a possibilidade de satisfazer o devido crédito, o que se dará, basicamente, pela circulação dos títulos de crédito, que sãoprontamenteeficientes e cabíveis a este papel que desempenham.