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Natureza jurídica e função do cartão de crédito em comparação ao título de crédito

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA HELLEN SCHLEE VILLA

NATUREZA JURÍDICA E FUNÇÃO DO CARTÃO DE CRÉDITO EM COMPARAÇÃO AO TÍTULO DE CRÉDITO

Tubarão 2018

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HELLEN SCHLEE VILLA

NATUREZA JURÍDICA E FUNÇÃO DO CARTÃO DE CRÉDITO EM COMPARAÇÃO AO TÍTULO DE CRÉDITO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direitoda Universidade do Sul de Santa Catarinacomo requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Profa. Terezinha Damian Antônio, MSc

Tubarão 2018

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar ao meu amado Jesus, digno de toda honra e toda a glória, que a cada dia se revela a mim com sua doce presença; é Ele que partipa de todos os meus momentos, sejam bons ou ruins; a Sua onipresença é real; é Dele que vem a minha força, pois quando me sinto fracasou forte Nele; obrigadapor vocêsimplesmenteser tão perfeito em tudo o que faz.

Aos meus pais, por serem pessoas que me inspiram a crescer e me incentivam sempre a me capacitar, profissionalmente, com toda dedicação e carinho; honro a vida deles, por confiar em mim e pela oportunidade de cursar essa graduação.

Agradeço a minha irmã, pelo seu jeitinho meigo de ser, pelo apoio, por conselhos, e por estar sempre comigo; Corin, obrigada por sua companhia e amor de todos os dias.

A minha querida orientadora, por sua dedicação e compromisso, pelo suporte, por ser uma pessoa querealmente esteve presente e colaborou em todas as etapas, desde o projeto, para que eu pudesse concluir este trabalho.

Agradeço à Unisul, por me proporcionar um ambiente criativo e amigável para os estudos. Sou grataa cada membro do corpo docente, à direção e à administração dessa instituição de ensino.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que fizeram parte dessa etapa decisiva em minha vida.

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“Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”. Provérbios 4:18

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RESUMO

OBJETIVO: Analisar a natureza jurídica do cartão de crédito em comparação ao título de crédito e a função dos institutos na circulação do crédito. MÉTODO: Quanto à abordagem, trata-se de pesquisa qualitativa; quanto ao nível, a pesquisa é exploratória; quanto ao procedimento de coleta de dados, a pesquisa classifica-se como bibliográfica e documental, realizada por intermédio de pesquisa em doutrinas, leis, dentre outros tipos de fontes bibliográficas, assim comona jurisprudência, permitindo que se compreenda a complexidade e polêmica que há em torno do problema apresentado, estas classificadas como fontes primárias e secundárias. RESULTADOS: O cartão de crédito constituinegócio jurídico que integra partes distintas, possuidoras de obrigações também diversas; já o título de crédito é documento formal, literal e necessário para exercício do direito nele incorporado, representativo de obrigação líquida e certa, revestido de força executiva, que circula desvinculado do negócio que lhe deu origem. Os dois institutos têm a mesma função na circulação do crédito, pois visam facilitar as transações de compra e venda de produtos e serviços no mercado. CONCLUSÃO: O cartão de crédito tem natureza contratual em comparação ao título de crédito, que é documento representativo de obrigação pecuniária, configurando-se um título executivo extrajudicial.

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ABSTRACT

OBJECTIVE: To analyze the legal nature of the credit card in comparison to the title of credit and the function of the institutes in the circulation of credit. METHOD: Regarding the approach, it is qualitative research; As for the level, the research is exploratory; As for the data collection procedure, the research is classified as bibliographical and documentary, carried out through research in doctrines, laws, among other types of bibliographic sources, as well as in jurisprudence, allowing to understand the complexity and controversy that there is around the presented problem, these classified as primary and secondary sources. RESULTS: The credit card constitutes a legal business that integrates different parties, with different obligations; the credit certificate is a formal document, literal and necessary for the exercise of the right embedded in it, representative of a net and certain obligation, with executive force, which circulates unrelated to the business that gave rise to it. The two institutions have the same function in the circulation of credit, since they aim to facilitate transactions in the market for the purchase and sale of products and services. CONCLUSION: The credit card is contractual in nature compared to the credit instrument, which is a document representing a pecuniary obligation, forming an extrajudicial executive title.

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LISTA DE QUADROS

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

1.1 DESCRIÇÃO DO TEMA OU SITUAÇÃO PROBLEMA ... 12

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 15

1.3 HIPÓTESE ... 15

1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ... 16

1.5 JUSTIFICATIVA... 16

1.6 OBJETIVOS ... 17

1.6.1 Objetivo geral ... 17

1.6.2 Objetivos específicos ... 17

1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 18

1.8 ESTRUTURA DO RELATÓRIO FINAL ... 19

2 NOÇÕES GERAIS SOBRE O CARTÃO DE CRÉDITO ... 20

2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS ... 20

2.2 CONCEITOS DE CARTÃO DE CRÉDITO ... 21

2.3 BANDEIRAS, ADMINISTRADORAS E MODALIDADES DE CARTÃO DECRÉDITO ... 22

2.4 ELEMENTOS E RELAÇÃO JURÍDICA CONTRATUAL ... 24

2.5 CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO...25

2.6 EMISSÃO, PERDA, ROUBO, FURTO, CLONAGEM E EXTRAVIO DO CARTÃO ...29

2.7 JUROS, MULTA E ENCARGOS... 31

2.8 COBRANÇA DO SALDO DEVEDOR DO CARTÃO DE CRÉDITO ... 33

3 ASPECTOS DESTACADOS SOBRE O TÍTULO DE CRÉDITO ... 37

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E FUNÇÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO ... 37

3.2 CONCEITO E CARACTERÍSTICASDO DIREITO CAMBIÁRIO ... 40

3.3 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO CAMBIÁRIO... 42

3.4 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO ... 43

3.5 INSTITUTOS CAMBIÁRIOS DE CONSTITUIÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO ...45

3.6 INSTITUTOS CAMBIÁRIOS DE EXIGIBILIDADE DOS TÍTULOS DE CRÉDITO ...46

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4 ANÁLISE DA NATUREZA JURÍDICA DO CARTÃO DE CRÉDITO EM COMPARAÇÃO AO TÍTULO DE CRÉDITO E DA FUNÇÃO DOS DOIS

INSTITUTOS NA CIRCULAÇÃO DO CRÉDITO ... 52

4.1 FUNÇÃO DO TÍTULO E DO CARTÃO NA CIRCULAÇÃO DO CRÉDITO ... 52

4.2 COMPARAÇÃO ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DO CARTÃO E DO TÍTULO DE CRÉDITO ... 56

4.2.1 Conceito ... 56

4.2.2 Características ... 57

4.2.3 Modalidades ... 57

4.2.4 Forma de constituição ... 58

4.2.5 Partes ou figuras jurídicas ... 58

4.2.6 Perda e roubo ... 59

4.2.7 Cobrança de juros ... 59

4.2.8 Forma de cobrança ... 59

4.2.9 Princípios que norteiam os dois institutos ... 60

4.2.10 Quadro comparativo entre o cartão de crédito e o título de crédito ... 61

4.3 NATUREZA JURÍDICA DOS DOIS INSTITUTOS ... 62

4.3.1 Natureza jurídica do cartão de crédito ... 62

4.3.2 Natureza jurídica do título de crédito ... 66

5 CONCLUSÃO ... 70

REFERÊNCIAS ... 73

ANEXOS ... 75

ANEXO A – APELAÇÃO CÍVEL Nº 10145084733099001, JUIZ DE FORA, MG .... 76

ANEXO B – APELAÇÃO CÍVEL Nº 70056902638, PORTO ALEGRE, RS ... 80

ANEXO C – AGRAVO Nº 70061828604, NÃO-ME-TOQUE, RS...83

ANEXO D – APELAÇÃO CÍVEL Nº 00007904520078110005, DIAMANTINO, MT . 86 ANEXO E – APELAÇÃO CÍVEL Nº 587458.2008.058745-8, ITAJAÍ, SC ... 92

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1 INTRODUÇÃO

Essa monografia tem por foco o estudo da natureza jurídica e da função do cartão de crédito em comparação ao título de crédito, como se passa a expor:

1.1 DESCRIÇÃO DO TEMA OU SITUAÇÃO PROBLEMA

O crédito, ou seja, a confiança que uma pessoa inspira a outra de cumprir no futuro, obrigação, atualmente, assumida, tem facilitado as operações comerciais, marcando avanço para o desenvolvimento dessas. Isso significa que com a utilização do crédito, pode alguém, hoje, sem ter determinada importância, empregá-la no seu interesse, fazê-empregá-la produzir em proveito próprio, desde que tenha assumido a obrigação de, em época futura, retornar a quem lhe forneceu a importância de que se utilizou. De fato, no que diz respeito às obrigações de ordem pecuniária, com a utilização do crédito, as transações se tornaram mais rápidas e mais amplas, principalmente, pela possibilidade de uma pessoa gozar, hoje, de dinheiro, cujo pagamento será feito posteriormente (MARTINS, 2010).

“O título de crédito é um documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado, que se apoia nos princípios da literalidade, autonomia e abstração, atrelados à concessão de um lapso temporal para que haja o adimplemento da obrigação nele contida” (VIVANTE apud MARTINS, 2010, p. 5).

O princípio da literalidade que significa que tudo o que está escrito no título tem valor e, consequentemente, o que não está escrito não pode ser exigido, dá segurança a quem o possui, pois, pelo que dele consta pode-se saber, imediatamente, o montante das obrigações assumidas pelos que figuram no documento. Já o princípio da autonomia das obrigações assumidas, é capaz de promover, com segurança, a circulação dos direitos emergentes dos títulos, ou seja, a autonomia se refere ao fato de que o cumprimento das obrigações assumidas por alguém no titulo, não se vincula a outra obrigação qualquer ou ao negócio que deu lugar ao seu nascimento, uma obrigação não fica a depender de outra para ter

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validade. A abstração, outro importante princípio dos títulos de crédito, significa que os direitos decorrentes do título são abstratos, não dependentes do negócio que deu lugar ao nascimento do título, não se relaciona com o negocio original, básico, subjacente, dele se desvinculando o título no momento em que é posto em circulação (MARTINS, 2010).

Além desses princípios, há um outro, bastante importante que marca mais uma das características dos títulos de crédito, que é a cartularidade, através do qual, o crédito somente pode ser exigido mediante a existência material do título, ou seja, o documento original é necessário, para que o credor possa exigir o crédito, é o possuidor do título, o titular do direito de crédito.

Na sociedade em que se vive hoje, vê-se o grande avanço da tecnologia, tornando tudo mais rápido. As pessoas estão em busca da facilidade e da praticidade, a comunicação, através dos meios eletrônicos, vem ganhando ênfase até mesmo nas relações jurídicas. Nesse sentido, segundo Fázzio Junior (2009), o conceito de crédito, antes ligado somente a uma cártula, também busca a inovação, dando espaço a novas operações que se ultimam sem a necessidade de tal meio, como por exemplo, os pagamentos feitos através de cartões de crédito ou débito, de telefones celulares, ou, ainda, por meio de transações bancárias. Essa tendência da desmaterialização do crédito é irreversível, uma vez que é incentivada pela instalação de máquinas de atendimento bancário automático e pela possibilidade de liquidação por meio do sistema de Internet banking. A desmaterialização dos títulos de crédito já é uma realidade, através do princípio da confiança, há a mobilização de riquezas, uma significativa economia que diz respeito a custos com crediário, cobrança e faturamento.

Nessa linha, nota-se que o cartão de crédito é um forte concorrente à substituição dos clássicos títulos de crédito, que é o que se vê nos dias atuais, uma expressão sugestiva do instrumento físico com que se dão as operações de crédito aberta pelos estabelecimentos emissores a favor do usuário, sendo, também, um documento que atesta a existência de um crédito em favor do seu portador.

Fázzio Júnior (2004, p. 531) conceitua cartão de crédito,comosendo “um conjunto de relações jurídicas instrumentais destinadas a otimizar os negócios pela simplificação e segurança que confere às transações: facilita a compra e garante o fornecedor.” E ainda, Abrão (1966), define cartão de crédito, como sendo

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odocumento probatório de que o titular detém crédito perante aquele que o emitiu para realizar compra de bens e utilizar-se de serviços mediante sua apresentação,entretanto, não realiza as funções de legitimação e circulação típicas dos títulos de crédito, sendo, mero documento de identificação, considerado ainda incompleto, pois se trata de um simples cartão sem fotografia, tendo apenas a comprovação de que o titular possui crédito aberto no mercado, estando autorizado a usufruí-lo em suas transações.

Quanto ao princípio da cartularidade, um dos princípios mais importantes dos títulos de crédito, pelo qual, é indispensável a apresentação do documento formal original para o exercício do direito nele contido, o entendimento dos doutrinadores é que este não se perfectibiliza no sistema do cartão de crédito, que, por sua vez, “é o meio comprobatório da celebração de contrato de crédito entre as partes”, mas, que não representa toda complexidade do sistema em si (CASTRO, 1999, p. 81). O referido princípio está vinculado ao direito do titular portador, e somente deste, de exigir o cumprimento de uma obrigação, mediante a apresentação da cártula, no entanto, é diverso no sistema de cartões de crédito, em que a legitimidade fica comprovada pela identificação do solicitante ou titular do cartão. Entretanto, os outros princípios cambiários que disciplinam os títulos de crédito, como, a literalidade, a executividade, a abstração e a autonomia, que os tornam instrumentos perfeitos e eficazes da mobilização da riqueza e da circulação do crédito, precisam ser analisados quanto a sua aplicação nos cartões de crédito.

Entende-se que os cartões de crédito, por sua vez, constituem uma congregação de relações jurídicas complexas, convergentes e integradas para a realização de um fim comum, que é o de facilitar a aquisição de bens ou serviços. Cada vez mais, estão sendo utilizados para efetuar operações financeiras, obter créditos e adquirir bens e serviços sem maiores complicações, não exige provisão de fundos, o financiamento é facilitado e dispensa a necessidade de prévia habilitação do cliente perante uma instituição financeira antes de cada compra, trata-se de um instrumento de adimplemento instantâneo, pois evita os riscos decorrentes da posse de grande quantidade de papel-moeda ou de falsificação de cheques, por exemplo (MIRANDA, 2010).

A evolução do cartão de crédito, não só no Brasil, como em vários países do mundo, mostra como esse instrumento de pagamento tem servido para viabilizar

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e/ou aumentar as operações comerciais. As operadoras apresentam uma infinidade de serviços adicionais ou optativos, ou seja, não oferecem somente crédito aos consumidores, mas também uma série de benefícios e serviços, o que tem feito com que a utilização dos cartões de crédito aumente cada vez mais e se transforme numa das ferramentas financeiras mais importantes das pessoas de forma geral.

Entretanto, o cartão de crédito não realiza as funções de legitimação e circulação típicas dos títulos de crédito, constituindo-se documento de identificação, que comprova que o titular possui créditoaberto no mercado e que pode utilizá-lo para efetuar pagamentos em determinados estabelecimentos. Uma semelhança entre o cartão e determinados títulos, diz respeito a existência da assinatura na nota fiscal da fatura, que tem objetivo de identificação da operação, mesmo que represente uma declaração de vontade, porém, que não é transferível, nem possui autonomia, ou abstração.

Por isso, é necessária uma delimitação dos direitos, deveres e responsabilidades de cada uma das partes envolvidas, a fim de elidir a ocorrência de eventos indesejados, ou mesmo repará-lo com a maior precisão possível, a fim de que o sistema seja seguro e digno da confiança de todos os usuários. No entanto, é preciso estudar acerca da possibilidade de os cartões de créditos serem considerados substitutos dos títulos de crédito, em termos de executividade e como instrumento de circulação do crédito na economia.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Qual a natureza jurídica e a função do cartão de crédito em comparação ao título de crédito?

1.3 HIPÓTESE

O cartão de crédito tem natureza contratual em comparação ao título de crédito que é documento representativo de obrigação pecuniária, configurando um título executivo extrajudicial.

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1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

Consiste em apresentar o significado que os termos do problema assumem na pesquisa. Através das definições, diz Köche (1997, p. 117), ... “é possível estabelecer os indicadores que podem ser utilizados para categorizar as variáveis.” É importante salientar que não será possível estabelecer instrumentos e procedimentos para coleta de dados, se os indicadores das variáveis não estiverem previamente definidos. Segundo Pasold (1999, p. 41), “quando nós estabelecemos ou propomos uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos, estamos fixando um conceito operacional”.

Natureza jurídica do cartão de crédito em comparação ao título de crédito:Trata-se de identificar a afinidade que o cartão de crédito, negócio jurídico

que integra partes distintas possuidoras de obrigações também distintas, tem em diversos pontos, com uma grande categoria jurídica em relação ao título de crédito, documento formal, literal e necessário para exercício do direito nele incorporado, representativo de obrigação líquida e certa, revestido de força executiva, que circula desvinculado do negócio que lhe deu origem.

Função do cartão de crédito e do título de crédito na circulação do crédito:Trata-se de identificar o objetivo da utilização do cartão de crédito e do título

de crédito no mercado de produtos e serviços.

1.5 JUSTIFICATIVA

O interesse da acadêmica por este estudo decorreu do fato de ser um assunto atual, um conteúdo contemporâneo. É de se notar a intensa busca pela inovação, uma vez que a tecnologia como uma ferramenta para tanto está crescendo cada vez mais, e com essas novas operaçõesa utilização dos cartões de crédito ganham ênfase, fazendo com que se comece a analisar novas formas de circulação de crédito como substitutos dos clássicos títulos de crédito.

Esse estudo é relevante para o meio acadêmico por ser um tema que vem suscitando questões no judiciário. Os cartões de crédito têm gerado repercussão pela expansão do crédito e o seu uso tem se intensificado, o que gera necessidade

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de se discutir cada vez mais sobre o assunto, pois ainda há carência de publicações, principalmenteno que tange à comparação com os títulos de créditoem relação aos princípios norteadores do Direito cambiário. Além disso, em muitos casos, a legislação decorre de uma necessidade criada pela sociedade. Dessa forma, discutir esse temapode suscitar outras questões e/ou soluções para o problema que ora se apresenta.

Esse trabalho é importante para o meio empresarial porque os cartões têm sido um instrumento de uso diário, e, com o avanço de sua utilização, é de se reconhecer que a tendência é que passem a substituir os títulos de crédito. Nesse sentido, esse estudo visa esclarecer dúvidas acerca dos meios de circulação do crédito na economiae de como os cartões podem favorecer o desenvolvimento econômico, como tambémos ganhos que os empresários podem auferir com o uso dos cartões e as perdas com o desuso dos títulos de créditos, e vice-versa.

Ainda se justifica a realização dessa pesquisa porque o assunto interessa à sociedade em geral, já que se relaciona com as transformações do mundo contemporâneo, a sociedade busca a inovação e, junto com o que é inovado, é preciso que se compreendam as vantagens e desvantagens do uso dos cartões de crédito e o desuso dos títulos de crédito.

1.6 OBJETIVOS

1.6.1 Objetivo geral

Analisar a natureza jurídica do cartão de crédito em comparação ao título de crédito e a função dos institutos na circulação do crédito.

1.6.2 Objetivos específicos

Descrever as noções gerais sobre o cartão de crédito, antecedentes históricos, função, conceito e modalidades, elementos da relação jurídica, demais aspectos controvertidos do instituto.

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Apresentar os principais termos do contrato de cartão de crédito.

Destacar os principais aspectos relativos aos clássicos títulos de crédito, evolução histórica, função, conceito, classificação, características e princípios.

Comparar a natureza jurídica do cartão de crédito em relação ao título de crédito.

Demonstrar a função do cartão de crédito e do título de crédito na circulação do crédito, comparando os dois institutos.

Apresentar os aspectos controversos do cartão de crédito e do título de crédito e os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais acerca do assunto.

1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA

O delineamento da pesquisa, segundo Gil (1995, p. 70), “refere-se ao planejamento da mesma em sua dimensão mais ampla”, ou seja, neste momento, o investigador estabelece os meios técnicos da investigação, prevendoos instrumentos e os procedimentos necessários utilizados para a coleta de dados.

Quanto à abordagem, trata-se de pesquisa qualitativa. Foi realizada uma análise subjetiva, através de palavras, em que “o principal objetivo da pesquisa qualitativa é o de conhecer as percepções dos sujeitos pesquisados acerca da situação-problema, objeto da investigação” (MOTTA et al., 2013, p. 112).

Quanto ao nível, a pesquisa é exploratória, uma vez que se busca ter maior conhecimento relacionado ao problema. Sendo assim, é flexível, possibilitando diversas considerações sobre o tema estudado.

Quanto ao procedimento de coleta de dados, a pesquisa classifica-se como bibliográfica e documental, realizada por intermédio de pesquisa em doutrinas, leis, dentre outros tipos de fontes bibliográficas, assim como na jurisprudência, permitindo que se compreenda a complexidade e polêmica que há em torno do problema apresentado.

A coleta de dados foi realizada por meio de técnica de fichamento bibliográfico, com foco na leitura e retirada de conceitos e teses de livros, artigos e jurisprudência.

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1.8 ESTRUTURA DO RELATÓRIO FINAL

Este trabalho apresenta cinco capítulos.

O primeiro capitúlo trata da introdução, onde se expõe o tema, a descrição da situação problema, formulação do problema, hipótese, definição dos conceitos operacionais, justificativa, objetivo geral e específicos e o delineamento da pesquisa.

O segundo capítulo apresenta noções acerca do cartão de crédito, destacando-se os antecedentes históricos, conceito, modalidades e elementos, relação jurídica contratual, contratos e cobrança do cartão.

O terceiro capítulo trata de aspectos destacados sobre o título de crédito, a evolução histórica e função do título, conceito e características do direito cambiário, princípios gerais, classificação dos títulos, institutos cambiários de constituição e de exigibilidade dos títulos de crédito e as figuras jurídicas.

O quarto capítulo expõe uma análise da natureza jurídica do cartão de crédito em comparação ao título de crédito, sua função na circulação do crédito, a natureza jurídica dos institutos e os aspectos controversos destacados na doutrina e na jurisprudência.

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2 NOÇÕES GERAIS SOBRE O CARTÃO DE CRÉDITO

Esse capítulo apresenta noções gerais acerca do cartão de crédito, destacando-se os antecedentes históricos, conceito, modalidades e elementos, dentre outras características do instituto, como se passam a expor:

2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS

As novas modalidades de comercializartêm crescido com muita facilidade nas operações dos dias atuais, criando novas técnicas pela frequente utilizaçãoe moldando-se em procedimentos comuns, com características próprias. É o que acontece com os cartões de crédito, hojeamplamenteutilizados nas transações, o que facilitaas operaçõespara a realização de transações de natureza comercial, principalmentecompra, venda e prestação de serviços.

O cartão de crédito tem a natureza de um documento de identificação, não é, na realidade, um título de crédito, pois está desprovido das características de abstração e livre circulação, não tendoigualmentevalor por si mesmo.

Como cartão de identificação, pode-se fazer o uso mediante sua simples apresentação, com a singularidade de que o pagamento será realizado em uma data posterior e a uma pessoa diversa do vendedor. A finalidade é justamente tornar mais fácil as compras por parte do seu titular.

O cartão de crédito surgiu nos Estados Unidos por volta de 1950, criado por FranckMcNamara, Ralph Schneider e Alfred Bloomingdale. No início, os cartões de crédito eram aceitos somente em alguns restaurantes. Posteriormente, começaram a ser utilizados em hotéis. E, com um bom resultado, algumas empresas também passaram a emitir cartões de crédito, para aquisição de bens e prestações de serviços.

Com o grande crescimento e desenvolvimento rápido dos cartões, os bancos logo passaram a emiti-los; com essa experiência, houve certos prejuízos, que os levaram a aperfeiçoar cada vez mais o sistema. Em 1953, foi transportada a ideia para a Europa, inicialmente pelo Diner’s, em 1953, que se instalou na

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Inglaterra, eem 1954na França. Houve, depois, grande desenvolvimento no Japão, onde os principais bancos começaram a emiti-los. Da Europa, os cartões de crédito passaram a ser usados em quase todas as partes do mundo.

No Brasil, acentuou-se o uso do cartãoem 1960, sendopioneiro o cartão de crédito Diner’s Club. Depois, grande número de cartões foi emitido, quase sempre com a participação bancária, sendoaté hojea característica maior dos cartões de crédito.

Segundo Branco (1998), o “nascimento do cartão de crédito tem como causa fatores econômicos e sociaisque, igualmente, deram origem à moeda, à letra de câmbio e ao cheque: as necessidades ligadas à troca, ao consumo de bens, à circulação e acumulação de riquezas”.

Nos dias atuais,está em crescimento e surgem cada vez mais diversos tipos de cartões de crédito, que se consolidaram no mercado e tornaram-se uma realidade na vida das pessoas.

2.2 CONCEITOS DE CARTÃO DE CRÉDITO

Segundo Figueiredo (2006), o cartão de crédito consiste em um cartão de plástico brilhante, colorido, retangular, padronizado, medindo 85mm por 54mm, com tarja magnética e identificação do usuário.É expedido por uma fornecedora de cartões de crédito ou instituição financeira ao titular do cartão, sendoutilizado para pagamentos em estabelecimentos comercias credenciados e para aquisiçãode produtos e serviços.

Para Luz (1996), o cartão de crédito é um sistema operacional de credenciamento dirigido ao consumoque reúne clientes do emitente, constituídos por comerciantes e consumidores. Visa manter uma clientela cativa, fortalecendo o conglomerado financeiro ao qual é filiado, oferecendo em troca qualificado serviço de segurança e desregulamentação do crédito.

Por derradeiro, Bulgarelli(1975) apud Figueiredo (2006)diz que o cartão de crédito é um negócio jurídico com várias facetas, integrado por vários contratos que se desdobram entre os componentes do negócio, unifica-se pela finalidade

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proposta: permitir que o consumidor adquira de imediato, em determinados estabelecimentos empresariais, bens e serviços que necessita.

2.3 BANDEIRAS, ADMINISTRADORAS E MODALIDADES DE CARTÃO DE CRÉDITO

Existem várias bandeiras, administradoras e modalidades de cartões de crédito, como se passa a expor.

As bandeiras de cartão de créditosão titulares das marcas e responsáveis por todo o sistema de organização, estrutura e normas operacionais necessárias ao funcionamento do sistema de cartão, licenciando o uso de sua marca para cada um dos emissores e credenciadores, o que possibilita que os cartões emitidos no Brasilpossam ser usados no exterior. De acordo com Fazzio Junior (2011, p.7), as bandeiras:

[...] são pessoas jurídicas transnacionais que estabelecem as regras gerais de organização e funcionamento do sistema de cartões de pagamento. Nessa direção, exigem que credenciadores e emissores ofereçam garantias suficientes para fazer frente às obrigações de pagamento decorrentes do contrato de licença de uso da respectiva marca [...]

Essas bandeiras definem as estratégias de utilização dos cartões, dão suporte à sua publicidade e uniformizam os procedimentos das instituições financeiras locais a quem cedem licença para utilização da marca. Como detêm os direitos de uso da marca, estabelecem os padrões e as regras para ingresso na sua rede. Auferem receita das tarifas de uso do sistema pelas emissoras e credenciadoras. As bandeiras são responsáveis pela rede de credenciamento e tecnologia envolvida. Dessa forma, as empresas administradoras ou os bancos emissores pagam royalties pelo uso da bandeira e sua tecnologia. As principais bandeiras de cartão de crédito são: Visa, Master Card, American Express (SOUZA, 2013).

Por sua vez, as empresas administradoras são responsáves pela administração dos cartões de crédito, definindo limites, fazendo a análise de crédito, enviando faturas, definindo a cobrança de taxas, anuidades e atendendo o usuário do cartão pela central de atendimento. São exemplos de administradoras de cartão

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de crédito: Itaucard, Bradescard, Ourocard, assim comodiversas instituições financeiras.

As principais modalidades de cartão de crédito são: de credenciamento, stricto sensu, bancário, não bancário e internacional, dentre outros, com suas diversas bandeiras.

Os cartões de credenciamento não são muito utilizados no comércioatualmente, não sendo considerados os verdadeiros cartões de crédito. São aqueles emitidos por uma empresa, no benefício de seus clientes, dando-lhes o direito de adquirir produtos e serviços em um pagamento posterior. No sistema deste cartão, existem somente dois elementos que formam a relação jurídica, o emissor, que é também o vendedor e o beneficiário. As operações realizadas na utilização desses cartões são vendas a prazo ou a crédito, sendo o emissor o credor do comprador na consequência da venda. As relações jurídicas entre as partes reduzem-se a uma venda a termo (SOUZA, 2013).

Os cartões de crédito stricto sensu são considerados os verdadeiros cartões de crédito. Esses dão aos usuários a opção de adquirir produtos ou serviços em diversos estabelecimentos que são filiados ao sistema do cartão. É de se destacarque a relação jurídica entre elespossui três elementos: o titular, o fornecedor e o organismo emissor. Um método sedicioso, que faz com que esses cartões sejam os mais utilizados pelos usuários, facilitando muito as transações comercias. Podem ser emitidos por estabelecimentos bancários e não bancários. Desse modo, são essas duas modalidades de cartões verdadeiros, uma conta com a participação bancária e a outra não (MARTINS, 2010).

Os cartões de créditos não bancários foram os primeiros a surgir. Eles facilitam muito para os usuários no sentido de ativar as compras, sendo emitidos por fornecedores não bancários. Possuem recursos próprios, que assumem a posição de intermediários na relação jurídica. Nessa modalidade de cartões, a empresa emissora tem a responsabilidade em seus recursos privados nos gastos efetuados pelos usuários dos cartões junto aos fornecedores. São raros hoje os cartões de crédito não bancários (MARTINS, 2010).

Os cartões de crédito bancários são os mais usados e contam com a participação direta ou indiretada colaboração bancária. Esses se caracterizam pelo

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fato das instituições bancárias participarem do organismo emissor dos cartões. Os bancos possuem a relação de emitir os cartões, ou podem criar uma sociedade para administrar a emissão dos mesmos, com a obrigação de as operações estarem ligadas aos bancos, sendo assim, tituladas como operações bancárias (MARTINS, 2010).

Os cartões de crédito internacionaisapresentam-se com características semelhantes ao processo de funcionamento do cartão do próprio país. O usuário do cartão faz os gastos em lugares que operam esse sistema, sendo extraídos dois comprovantes referentes à venda - um fica com o compradore o outrocom o estabelecimento. No prazo de vencimento, o fornecedortransmite uma guia de comprovantes de gastosao sistema que é filiado, para que o mesmo possa retornar com a importância da aquisição.A empresa credora transfere a nota a sua congênere brasileira, onde é cobrado do usuário o valor da nota, transformando em moeda brasileira ao câmbio do dia do pagamento. Assim, o cartão de crédito internacional vem suprindo a moeda do país em que o gasto é feito e facilita, grandemente,para os usuários, que, para viajar, levam apenas o próprio cartão, sem preocupações em como e onde guardar uma quantia maior de dinheiro em espécie (MARTINS, 2010).

2.4 ELEMENTOS E RELAÇÃO JURÍDICA CONTRATUAL

O sistema de cartão de crédito conta com os seguintes elementos: o organismo emissor, o titular do cartão e o fornecedor ou vendedor, conforme Martins (2010).

O emissor é a pessoa jurídica que serve de intermediária entre o titular do cartão (comprador) e o fornecedor (vendedor)para que ambos realizem uma operação de compra e venda ou uma prestação de serviços. O que distingue o método de negociação por cartões de crédito é o fato de o emissor ser apenas um intermediário na relação, ele apenas facilita a venda, emitindo os cartões para que o o titular possa adquirir produtos ou serviços de que necessite junto a um terceiro, o fornecedor. Naturalmente, ele ganha lucros com isso, mastambém assumepesadas

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obrigações, entre as quais a de pagar ao fornecedor as compras feitas pelo titular, correndo o risco de não receber as importâncias desembolsadas.

O titular do cartão é o beneficiário, usuário ou portador, que é a pessoa credenciada pelo emissor a fazer as aquisições junto ao fornecedor. Pode um cartão ser emitido para uso de outra pessoa com a responsabilidade do titular, comoocorre quando o marido emite um cartão para a esposa ou seus dependentes. Perante o emissor, a responsabilidade fica daquele que pediu o cartão, não de quem usou, regulada por meio de contrato entre emissor e titular.

O fornecedor ou vendedor é uma pessoa física ou jurídica que está habilitada a vender mercadorias ou prestar serviços. Existe entre o emissor e o fornecedor um contrato, chamado de contrato de filiação, onde o emissor obriga-se a pagar ao fornecedor antes mesmo de receber do titular do cartão (usuário) as operações que foram efetuadaspor ele.

O que diferencia as operações feitas pelo fornecedor com o titular do cartãoé que, enquanto no direito usual quem compra deve pagar ao vendedor, o que acontece também nas prestações de serviços, nas compras realizadas com cartões de crédito o titular (comprador) deve pagar ao emissor, não se considerando, assim, devedor do fornecedor ou vendedor. Essa constitui a maior facilidade das transações comerciais, realizadas através do cartão de crédito.

Nesse sistema triangular, o papel principal é do emissor, pois é esse quem escolhe e credencia o titular do cartão de crédito (usuário), quem recebe o valor da compra efetuada pelo usuário e quem paga o fornecedor. Dessa forma, impulsiona um sistema de cartão de crédito. O sucesso do empreendimento dependequase queexclusivamentedele, já que seleciona os portadores dos cartões e os fornecedores de bens ou serviços a esses usuários.

2.5 CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO

O contrato usado no sistema de cartões de crédito é o contrato de adesão, que estabelece relação entre a emissora do cartão de crédito e o estabelecimento que fornece produtos ou serviços, e cria obrigações para ambas as partes.

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O Código do Consumidor dispõe acerca do contrato de adesão, como sendo “aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas, unilateralmente, pelo fornecedor de produtos e serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo” (Art. 54, CDC ) (BRASIL, 1990). Além disso, referido diploma legal, apoiando com a doutrina, determina que a inserção de simples cláusula no formulário não descaracteriza o contrato de adesão, permitindo a cláusula resolutória alternativa, “deixando a escolha entre a resolução ou manutenção do contrato ao consumidor” (Art. 54, §§ 1º e 2º, CDC) (BRASIL, 1990). Por último, aplica-se o princípio da legibilidade das cláusulas contratuais, objetivando possibilitar ao consumidor o conhecimento do “conteúdo do contrato pela simples leitura”, determinando, ainda, que as cláusulas contratuais que limitam o direito do consumidor devem ser destacadas no corpo do contrato (Art. 54, §§ 3º e 4º, CDC) (BRASIL, 1990)(FIGUEIREDO, 2006).

Marques (1999 apud FIGUEIREDO 2006) sustenta que contrato de adesão “é aquele cujas cláusulas são preestabelecidas, unilateralmente, pelo parceiro contratual, economicamente, mais forte (fornecedor), isto é, sem que outro parceiro (consumidor) possa discutir ou modificar, substancialmente, o conteúdo do contrato escrito”. Assim, o contrato de adesão caracteriza-se pela desigualdade econômica, pela oferta ao público em geral, pelas cláusulas preestabelecidas e sua elaboração unilateral, cuja aceitação opera-se no momento em que o consumidor adere ao esquema contratual.

Nesse contexto, a formação do contrato de adesão ocorre somente com a aceitação do consumidor, enquantoo mesmo não expressa sua vontade, não há de se falar em efeito jurídico. Assim, o contrato de adesão consuma-se com a aceitação formal de um esquema contratual preestabelecido por uma das partes contraentes(FIGUEIREDO, 2006).

Os contratos utilizados através do sistema de cartões de crédito, sem exceção, são de adesão, em especial os constituídos entre o consumidor (titular do cartão) e a administradora (emissora do cartão).

A interpretação, na prática, adota o contrato de adesão como regra geral, segundo a qual devem as cláusulas ser interpretadas a favor do contraente que ficou responsável pelo contrato, prevalecendo, ainda, as cláusulas que forem acrescentadas ao contrato sobre as cláusulas impressas e uniformes. Marques(1999

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apud FIGUEIREDO 2006) assevera que, se alguma cláusula estiver escrita a mão ou digitada, esta deve prevalecersobre as cláusulas uniformes do formulário padrão, cuja admissão não desconfigura o contrato de adesão, por força do parágrafo primeiro do art. 54 do Código do Consumidor, como já se mencionou nesse trabalho. De qualquer maneira, a interpretação dos contratos deve ser feita com base no Código Consumerista, ou seja, o inteiro conhecimento do contrato, a obrigatoriedade de que os contratos sejam escritos em termos claros, e com caracteres ostensivos e legíveis, com objetivo de melhorar a compreensão do consumidor, para que o mesmo não possua dúvidas acerca do teor do contrato.

Por outro lado, a sociedade atual deve refletir quanto à possibilidade de se buscar, intensamente, a proteção de determinados interesses sociais e oequilíbrio contratual, na valoração da confiança, oriunda do vínculo entre os contratantes e na boa fé dos mesmos, pois a concepção social do contrato deverá analisar os efeitos contratuais, em especial as sociais e econômicas das partes, ou seja, a necessidade de impor limites à própria autonomia da vontade, não com objetivo de sua extinção, maspara mitigá-las e adaptá-las às relações jurídicas atuais (FIGUEIREDO, 2006).

De modo geral, o cartão de crédito é um negócio jurídico tripartite, de modo que ambos possuem relações jurídicas entre si. É necessário que as partes entre elas pactuem a boa fé, que consiste, segundo Marques, 1999 apud Figueiredo, 2006,em regra de conduta de interesse social e de segurança nos negócios jurídicos, objetivando que as partes comportem-se com lealdade, confiança recíproca e cooperação entre os contratantes, para execução, cumprimento e objetivo do contrato.Com a boa fé é assegurado ao consumidor o direito de informação, objetivando garantir a igualdade entre o usuário e a administradora de cartões de crédito, para que ocorra a possibilidade de o consumidor estar sempre seguro acerca das informações, nos moldes dos contratos e da publicidade enganosa.

Dentre as principais cláusulas que definem as obrigações das partes no contrato de cartão de crédito, estão as que se passam a expor, segundo Marques, 1999 apud Figueiredo, 2006.

É responsabilidade do emissor do cartão de crédito efetuar o pagamento das operações realizadas por seu titular, arcando com o risco de não pagamento e de insolvência do comprador. Se o usuário não efetuar o pagamento no vencimento

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da fatura, o fornecedor não deixa de receber pela operação realizada entre ele e o usuário, na realização de compra de produtos ou serviços. O emissor, desta forma, deverá buscar satisfação do créditojunto ao usuário. Para os estabelecimentos, é vantajoso realizar vendas com o uso do cartão de crédito, pelo motivo de ter a certeza do recebimento de determinado valor pelo emissor. Para essa, também é proveitoso, pelo cabimento da taxa de administração cobrada em cada operação realizada.

Já a obrigação entre titular e fornecedor configura-se na cessão de crédito do fornecedor para o emissor, uma vezque a responsabilidade do pagamento do débito realizado pelo titular do cartão é da instiuição emissora do cartão. Essa relação entre o titular e o emissor do cartão se dá pelo contrato de adesão formalizado, mediante análise dos dados fornecidos e comprovados pelo usuário, que deseja adquirir o cartão de crédito.

As administradoras desse sistema de cartão de crédito vêm estipulando cláusulas uniformes, com objetivo de racionalizar ao máximo a gestão empresarial, afetando de forma claraa liberdade dos consumidores de contratar e condicionando o consumidor aos prazos, forma de pagamento, encargos contratuais, taxas, multas e juros de mora, em troca da segurança do vendedor e da praticidade no pagamento em relação ao comprador (FIGUEIREDO, 2006).

Por sua vez, o Código de Defesa do Consumidorenumerou um rol exemplificativo de cláusulas abusivas, com a inovação da visão clássica, liberal e individualista do Direito clássico na esfera do direito das obrigações, acabou por impor certos limites ao dogma da autonomia de vontade. Isto quer dizer que, ocorrendo falta de equilíbrio entre as partes ou contrárias ao princípio da boa fé, poderá o magistrado declarar em relação a essas cláusulassua nulidade absoluta.

Nesse sentido, no sistema do cartão de crédito, podem-se considerar como abusivasas seguintes cláusulas, conforme ensina Figueiredo(2006): cláusulas de declaração ficta, cláusulas de transferências de riscos, cláusula que permite a alteração unilateral do contrato ou a cumulação da comissão de permanência com a correção monetária, cláusula que permite a cobrança de juros capitalizados. Dentre essasclaúsulas, destaca-se a cláusula de declaração ficta, que, no sistema de cartão de crédito, consiste no silêncio do usuário no reconhecimento de seus gastos, impedindo-o de discuti-lajunto ao Poder Judiciário, haja vista que as faturas mensais

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da administradora de cartão de crédito devem estar de acordo com o valor real do débito, não se admitindo extratos com vícios ou que apresentam a dívida com juros, multas e encargos muitas vezes abusivos.Incidindo esse desequilíbrio contratual entre as partes, acaba causando desvantagem demasiada ao consumidor e conflito de interesses.Parecida com a cláusula de declaração ficta, tem-se a cláusula-mandado, que consiste na outorga do titular do cartão do autofinanciamento do saldo devedor de forma automática, aplicando-se sobre o saldo devedor remanescente, o custo de financiamento, juros, multas e demais encargos, não possibilitando muitas vezes a discussão dos valores e a prestação de contas pela administradora.

2.6 EMISSÃO, PERDA, ROUBO, FURTO, CLONAGEM E EXTRAVIO DO CARTÃO

O titular obriga-se a informarimediatamente à administradora o extravio, perda, furto ou roubo do cartão, por intermédio da Central de Atendimento da Administradora. Deverá ainda, no caso de extravio ou perda, ratificar mencionada comunicação por escrito e, na hipótese de furto e roubo, encaminhar à administradora o respectivo boletim de ocorrência.

Esta cláusula específica é denominada de transferência de risco, sendo que são através dessas cláusulas, inseridas no corpo do contrato, que são transferidos e cientificados ao consumidor os riscos que o mesmo pode vir a sofrer em obter esse sistema de cartão de crédito. A cláusula estabeleceque, em caso de perda, roubo, furto ou extravio, deve o titular do cartão informar o ocorrido, imediatamente, à administração junto à central de atendimento da mesma, exigindo, em algumas hipóteses, a confirmação por escrito da ocorrência.

Para Branco (1998), o cartão de crédito não passa de um documento auxiliar de identificação de indivíduos que participam do sistema, ou seja, o cartão é um documento de identificação, sem necessidade de apresentação do contrato ao estabelecimento empresarial onde estiver efetuando determinado pagamento. O titular do cartão não será responsabilizado pelo extravio ou furto do cartão, independentementede ter infomado ou não à administradora. Por isso, o estabelecimento que aceita o pagamento através de cartão deve identificar o titular,

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antes de concretizar uma operação, recolhendo dados e informações da pessoa portadora desse, para poder ter a certeza de que essa pessoa é a titular do cartão e depois concluir a transação.

Com efeito, transferindo-se a responsabilidade pelas operações efetuadas dos cartões extraviados, roubados ou furtados ao consumidor, sendo a parte mais fraca do contrato, além de ser favorável às administradoras, nega vigência ao princípio da boa fé e desequilibra os direitos e obrigações das partes. Nesse sentido, os bancos, que são proprietários das seguradoras,deveriam assumir este risco através de seguro que dê cobertura do valor, entre o extravio e a comunicação do consumidor (FIGUEIREDO, 2006).

Por outro lado, parte da jurisprudência tem entendido que a responsabilidade pela guarda do cartão é do consumidor, assim comoa comunicação imediata do furto, roubo ou extravio. Desta forma, responde o consumidor pelas transações efetuadas por terceirose não ocorrer essa comunicação de imediato, tratando-se, porém, de uso indevido após a comunicação do consumidorà emissora do cartão, a jurisprudência é unânime em responsabilizar a administradora, como se destaca no entendimento, que segue:

APELAÇÃO CÍVEL - CARTÃO DE CRÉDITO - EXTRAVIO, FURTO OU ROUBO - SENHA PESSOAL E INTRANSFERÍVEL - RESPONSABILIDADE DO TITULAR ATÉ A COMUNICAÇÃO DO FATO À ADMINISTRADORA. Ao constatar o extravio, furto ou roubo de cartão de crédito que se encontra vinculado à senha eletrônica pessoal e intransferível, cabe ao seu titular comunicar, imediatamente, à administradora sobre o ocorrido, sob pena de se responsabilizar pelas transações realizadas até a comunicação.(TJ-MG - AC: 10145084733099001 MG, Relator: Maurílio Gabriel, Data de Julgamento: 30/04/2014, Câmaras Cíveis / 15ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 09/05/2014) (BRASIL, 2014) (ANEXO A).

Entretanto, parte da jurisprudência não reconhece a culpa exclusiva do consumidor, mesmo que não tenha realizado comunicação de furto, roubo ou extravio, transferindo esta responsabilidade para a emissora do cartão ou para o fornecedor, reconhecendo a potestatividade desta cláusula e a sua nulidade, pois deixa a cargo da emissora estabelecer o momento em que cessa a responsabilidade do consumidor(FIGUEIREDO, 2006). No mesmo sentido, Branco (1998, p. 153)entende que a responsabilidade será sempre da emissora ou do fornecedor, ilustrando as seguintes ponderações:

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As características do moderno sistema comercial e a necessidade de uma justa divisão de riscos e proteção dos pólos mais fracos na relação contratual devem fulminar essa modalidade de cláusula que trata do extravio ou furtos de cartões. Se o titular tem o dever de bem guardar o cartão e comunicar a forma mais rápida possível o seu desapossamento, pode ele ser penalizado com multa ou afastado do sistema, mas, em hipótese alguma, obrigado a responder por negócios jurídicos dos quais não participou.

Dessa forma, o titularagindo com precaução, informando o furto, perda, roubo ou extravioimediatamenteà emissora do cartão de crédito, a partir dessa comunicaçãoficará isento de qualquer responsabilidade pelo uso indevido do que vier a acontecer.

2.7 JUROS, MULTA E ENCARGOS

Os débitos lançados na fatura mensal do consumidorcorrespondem aos juros e à multa moratória, em decorrência de possível atraso ou de pagamento inferior ao valor mínimo na data do vencimento. Jáo financiamento do saldo devedor pelo titular do cartão correspondeaos encargos contratuais, os quais são compostos pelo custo do financiamento e pela remuneração da garantia efetuada pela emissora do cartão.

Quando não convencionados, a falta de pagamento ou os juros por atrasoserão fixados de acordo com a taxa em vigência para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Incluído sobre o saldo devedor pelo critério pro rata temporis,os juros são acertados em 1% (um por cento) ao mês.

Com isso, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça manifestou-se acerca das taxas de juros moratórios, da seguinte forma:

“A taxa de juros, em caso de mora, poderá ser elevada no máximo em um por cento. Trata-se de norma de obediência obrigatória, não se podendo pactuar alteração que supere aquele teto”.A multa moratória “é aquela imposta face à mora, ou seja, a falta de cumprimento de uma obrigação em determinada época, sendo que seu termo inicial deve ser fixado a partir do vencimento da obrigação de pagamento em dinheiro” (RJTMAMG 66/301) (PARIZATTO, 1998 apud FIGUEIREDO, 2006, p. 32).

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Em relação à multa moratória, assim entende Parizatto (1998) apud Figueiredo (2006, p.32):

A multa moratória é de 2% (dois por cento) sobre o saldo devedor, por atraso ou insuficiência de pagamento. Nisso, o Código de Defesa do Consumidor estabelecia em seu artigo 52, parágrafo primeiro, que as “multas de mora decorrentes do inadimplemento da obrigação, no seu termo não poderão ser superiores a dez por cento do valor da prestação”. Todavia a Lei 9.298, de 01.08.1996, alterou a redação do parágrafo primeiro do artigo 52 do Código de Defesa do Consumidor, estabelecendo que “as multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação”.

Ao se verificar a rescisão contratual ou o cancelamento do cartão de crédito, por inadimplemento contratual ou de quaisquer obrigações do usuário, é inserido sobre o saldo devedor do titular do cartãomulta convencional ou compensatória.As cláusulas contratuais que previam multas convencionadas foram retiradas dos contratos de cartões de crédito, pois foram declaradas “nulas de pleno direito” pelo despacho do Diretor da Secretaria de Direito Econômico do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (FIGUEIREDO, 2006).

Com isso, as administradoras de cartões de crédito, acatando à determinação da Secretaria de Direito Econômico em queestão substituindo os contratos firmados com os consumidores, suprindo as cláusulas que preveem multas convencionais de: a) até 20% (vinte por cento), incidentes sobre o saldo devedor, aplicáveis cada vez que ocorrer o inadimplemento de qualquer cláusula ou condição que dê causa à rescisão do contrato; b) de 50% (cinquenta por cento) incidentes sobre o valor da obrigação, por descumprimento das normas determinadas pelo Banco Central, bem como os honorários advocatícios fixados unilateralmente nos contratos anteriores(FIGUEIREDO, 2006).

De acordo com a estipulação contratual, os encargos são compostos do custo do financiamento e remuneração de garantia.Toda vez que o valor do saldo devedor não for, integralmente, pago pelo titular ou deixar de ser quitado, dá-se origem ao custo do financiamento, constituindo quando o usuário efetua o financiamento do seu saldo devedor.A remuneração de garantia nasce do aval que a administradora fornece ao obter o empréstimo ou financiamento, pois a mesma, de acordo com o contrato, será fiadora e principal pagadora dos valores financiados, como explica Figueiredo (2006).

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Não é informado ao consumidor e nem previsto no contrato o valor da remuneração da garantia fornecida pela emissora do cartão. Após, transforma-se em percentual a sua remuneração, sendo obrigação da administradora repassar mensalmente o valor desta garantia, que é acrescida ao custo de financiamento, e passa a um percentual (taxa de juros) que na fatura mensal se incidirá constantemente sobre valor do saldo devedor, conforme Figueiredo (2006).

Com isso, os encargos que passarem a incindir sobre o saldo devedor do titular, com base no contrato, quando solicitado pelo usuário, sempre será informado, bem como o comprometimento da emissora do cartão em informar esses percentuais de encargos, os custos de financiamento e remunerações de garantiapara o mês subsequente. Nesse sentido, os encargos consistem na remuneração do empréstimo ou financiamento auferido, indiretamente, pelo titular do cartão,os encargo são taxas de juros reais praticadas pelas administradoras, de acordo com Figueiredo (2006).

2.8 COBRANÇA DO SALDO DEVEDOR DO CARTÃO DE CRÉDITO

Acontece a cobrança com base na análise de crédito. Mesmo após ter passado em vários testes, consentindo com todos os requisitos necessários para fazer determinada aquisição do crédito, se o contratante entra no nível de inadimplência, o setor responsável pela cobrança poderá entrar em contato com a pessoa em questão para tratar de negociações acerca da dívida.A cobrança de crédito pode ser realizada de forma extrajudicial ou judicial.

O processo de cobrança extrajudicialou administrativo consiste em propostas feitas pelo credor ao devedor, através de acordos estabelecidos por meio de ligações telefônicas, cartas de cobrança ou notificações extrajudiciais. Geralmente, após determinado tempo, o credor que busca a satisfação do crédito em face do devedorregistra a dívida no Cartório de Protesto de Títulos, configurando a notificação extrajudicial, ato que possibilita que o documento tenha eficácia jurídica. Nessas tentativas, o credor tende a cobrar o saldo devedor, propondo a renegociação do contrato original, buscandoresolver as pendências financeirasem

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face do devedor, geralmenteutilizando-setambémda aplicação de formas restritivas de crédito.

A cobrança judicial é aquela realizada por intermédio do Poder Judiciário, através de ações judiciais. Configura-se em uma relação trilateral, envolvendo o credor, o devedor e o Juiz que irá julgar o caso. Esse tipo de cobrança divide-se em três espécies de cobrança, o que irá determinar qual ação será proposta, será de acordo com os documentos que o credor possuir, ou seja, é através dos próprios documentos que se definirá o tipo de ação a ser interposta contra o devedor.São essas as ações: ação de execução de título extrajudicial, ação monitória, ação de cobrança através do procedimento comum.

Aação de execução de título extrajudicial pode ser proposta com base em títulos de crédito executivos, judiciais, configurados pelas sentenças judiciais, ou extrajudiciais, comocheque, nota promissória, duplicatas, confissão de dívida e alguns contratos com cláusulas específicas que o transformam em um título executivo extrajudicial. Esse tipo de ação judicial é caracterizado por maior facilidade e agilidadediante das demais ações, pois, feita a intimação judicial, o devedor tem três dias para pagar o débito, depositar o valor ou oferecer bens à penhora. Se não cumprir com o que foi determinado pela justiça, o devedor sofrerá penhora on-line, com bloqueio de valor na sua conta bancária ou do valor percentual de sua renda, como tambémbloqueio de bens móveis e imóveis, visando garantir a satisfação do crédito junto ao credor. Além disso, tal ação tem como consequência o apontamento nos órgãos de proteção de crédito e ainda redução no score bancário (BENEVIDES, 2017).

A ação monitória é utilizadaquando o título de crédito perde sua força executiva, comoos cheques prescritos, quando acionados após o prazo de seis meses contados da data da apresentação, ou as duplicatas emitidas por indicação, em que faltam documentos necessários para configuração de um título executivo extrajudicial. Essa ação é usada quando o título de crédito não resta configuradocomo tal.

A ação de cobrança, de procedimento comum, é utilizada nos casosem que o credor não possui documentos suficientes, ou poucos documentos, que possam comprovarque o serviço foi prestado ou vendido para o devedor, casosem que é preciso discutir e provar a relação causalpara se obter a sentença judicial que

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configura título de crédito executivo. Nesse tipo de ação, os prazos são mais lentos e as possibilidades de defesa mais escassas.

A cobrança do saldo devedor do cartão de crédito pode decorrer de forma judicial ou extrajudicial. Judicialmente, para ter satisfeito o crédito proveniente de saldo devedor originado por uso de cartão de crédito, a ação cabível do credor em face do devedor é a ação de cobrança, de procedimento comum. Dessa forma, não havendo condições de renegociação do referido saldo devedor, resta ao credor ingressar com tal ação de cobrança visando satisfazer o crédito em face do titular do cartão de crédito (devedor inadimplente). Para tanto, constituem documentos necessários à propositura da ação de saldo devedor de cartão de créditoo contrato de adesãofirmado entre as partes e o demonstrativo de evolução do débito, conforme exposto em decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, como segue:

Ementa: APELAÇÃOCÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE COBRANÇA. CARTÃO DE CRÉDITO PETIÇÃO INICIAL INSTRUÍDA APENAS COM EVOLUÇÃO DO SALDO DEVEDOR. AUSÊNCIA DE DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA AÇÃO. - A inicial de ação de cobrança de saldo devedor de cartões de crédito dever vir instruída com o contrato padrão e o demonstrativo de evolução do débito. - In casu, ausente o contrato padrão mesmo após a intimação da parte autora para emendar a inicial, é de ser mantida a sentença de extinção do feito, com fulcro nos art. 283, 284, parágrafo único c/c art.267, I do CPC. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. (Apelação Cível Nº 70056902638, Vigésima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Paula Dalbosco, Julgado em 29/04/2014. Publicação: Diário da Justiça do dia 07/05/2014) (BRASIL, 2014b) (ANEXO B).

Extrajudicialmente, o cartão de crédito pode ser cobrado através de renegociação da dívida. Destaca-se que, no ano de 2018, o Conselho Monetário Nacional (CNM) publicou certas regraspara não deixar o usuário utilizando o crédito rotativo referente ao uso do cartão de créditopor mais de trinta dias. Após esse período, a instituição tem a obrigação de oferecer possibilidades para melhorar a condição que se encontra o consumidor. Diante disso, cada banco criou as suas formas de fazer o pagamento, ou seja, podem ser aplicadas várias maneiras de parcelar o débito que se encontra na fatura. Em todos os bancos, hojeo consumidor precisa pagar pelo menos 15%(quinze por cento) do valor da fatura do seu cartão de créditopara não ficar inadimplente. Após entrar o pagamento, o restante ficará no

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crédito rotativo, para ser pago na fatura do mês seguinte. O cliente pode pagar sempre o mínimo em cada mês ou também parcelar o total da fatura, o que precisa ser avaliado para que o consumidor não seja prejudicado com as taxas de juros cobradas nesse parcelamento.

Feitas essas consideração acerca do cartão de crédito, passa-se ao capítulo seguinte, onde se abordarão os aspectos destacados sobre o título de crédito.

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3 ASPECTOS DESTACADOS SOBRE O TÍTULO DE CRÉDITO

Esse capítulo apresenta os aspectos destacados sobre o título de crédito, como se passa a expor:

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E FUNÇÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO

O termo crédito deriva do latim creditum, que tem como fundamento a confiança. O crédito dispõe um certo poder de compraa quem não dispõe de recursos, é a troca da presente prestação pela futura. É uma maneira de permitir que o pagamento seja efetuado depois da realização da operação. Com isso, o título de crédito constitui o instrumento mais adequado ao desenvolvimento do crédito e na realização das trocas econômicas (FAZZIO JUNIOR, 2004; DAMIAN, 2015).

Durante a Idade Média, não era aceitável a circulação dos direitos de crédito, pelo fato da obrigação do devedor constituir um vínculo pessoal e não patrimonial, uma submissão do devedor ao credor. Eram grandes dificultadores, a falta de proteção do terceiro adquirente do crédito e as regras do direito comum. Somente em 428 a.C, Alex PoeteliaPapiriaatribuiu natureza pratrimonial à obrigação, proibindo os direitos do credor sobre a pessoa do devedor, substituindo a execução da pessoa do devedor pela execução dos seus bens (ROSA JÚNIOR, 2007).

O Direito Cambiário que se originou na Idade Médiaera constituído pelas normas que regulam os títulos de crédito. Até então, existiam apenas regras de Direito comum, utilizadas para disciplinar a circulação de bens. De forma indireta, o Direito Romano chegou à ideia de cessão de crédito, por meio de poderes em causa própria. No Direito Cambiário, pode-se dividir a evolução da história em quatro fases: período italiano, francês, germânico, e do Direito uniforme, como explica Damian (2015).

Operíodo italiano, que se estendeu até 1650, destacou-se pela influência dos mercadores italianos na evolução dos títulos de crédito, pois os centros mercantis estavam localizados nas cidades da Itália. Nesses centros mercantis, eram realizadas as operações de câmbio que deram origem à nota promissória e à letra de câmbio. Jáo período francês, que durou aproximadamente até 1848, teve

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como destaque o surgimento da cláusula à ordem e do endosso, que vieram para facilitar a circulação e o desenvolvimento dos títulos de crédito. Esses elementos possibilitaram aletra de câmbiocircular dentro dos limites de uma cidade, deixando de ser emitida somente para facilitar a condução do dinheiro entre os locaispara se tornar instrumento de crédito.

Operíodo alemão, que se estendeu entre 1848 e 1930, teve como característica o nascimento da Ordenação Geral do Direito Cambiário na Alemanha, que concretizou a função da letra de câmbio e do próprio título como instrumento de crédito capaz de realizar a circulação de direitos. Pela consagração da abstração cambiária, a letra de câmbio desvinculou-se de sua causae o título de crédito passou a satisfazero documento constitutivo de Direito Cartular, deixando de ser simples documento probatório. O título passou a ser regido e sujeito pelo princípio que atua na circulação de bens e também a ser considerado como bem móvel na relação causal.

A fase do Direito uniforme caracterizou-se pela padronização da legislação cambiária, com a aprovação da Lei Uniforme de Genebra (LUG), sobre a letra de câmbio e a nota promissória, em 1930, e sobre o cheque, em 1931. Essa Lei decorreu das Convenções de Genebra, realizadas entre 13 de maio e 7 de junho de 1930, com 31 países, inclusive o Brasil, que unificaram a legislação relativa à letra de câmbio e à nota promissória, marcandoum novo período na evolução histórica dos títulos de crédito.

A LUG disciplina a letra de câmbio, a nota promissória e o cheque por serem títulos de crédito mais utilizados nas operações internacionais de crédito, aplicando de forma acessóriaa duplicata e a triplicata dos dispositivos sobre emissão, circulação e pagamento da letra de câmbio, que tem a mesma estrutura. A partir da Convenção de Genebra, os títulos de crédito, especialmentea letra de câmbio, a nota promissória e o cheque, passaram de forma uniforme a serem regulados, sendo que o Brasilparticipou da Convenção e manifestou sua adesão, introduzindo as normas estabelecidas pela LUG no direito interno brasileiroem 1966, através dos Decretos: 57.663/1966 (sobre letra de câmbio e nota promissória) e 57.995/1966 (sobre cheque), esse último, posteriormente, revogado pela Lei 7.357/1985 (DAMIAN, 2015).

Referências

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