• Nenhum resultado encontrado

2 - SISTEMATIZAÇÃO DE CONCEITOS E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O CONCEITO DE PAISAGEM – DISCUSSÃO COM RECURSO À ABORDAGEM ONTOLÓGICA

A QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEMA FITOSSOCIOLOGIA E A SUA UTILIDADE COMO FERRAMENTA DE ESTUDO E GESTÃO DA PAISAGEM

4 - A PAISAGEM VEGETAL DO SUDOESTE ALENTEJANO 3 - QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM

DO SUDOESTE ALENTEJANO

ESTUDO DA QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM COM RECURSO À METODOLOGIA Q-SORTCARTA DE QUALIDADE VISUAL DA

PAISAGEM DO SUDOESTE ALENTEJANO

SÍNTESE DA PAISAGEM VEGETAL DO SUDOESTE ALENTEJANOQUALIDADE ECOLÓGICA DA

PAISAGEM DO SUDOESTE ALENTEJANO

5 - RELAÇÕES ENTRE QUALIDADE VISUAL E FITODIVERSIDADE DO SUDOESTE ALENTEJANO – CONTRIBUTO PARA O ORDENAMENTO E GESTÃO DE ÁREAS

COSTEIRAS DE ELEVADO VALOR NATURAL E PAISAGÍSTICO

QUESTÕES RELEVANTES IDENTIFICADAS PELO ESTUDO DE CASOIMPORTANCIA DA DEFINIÇÃO DE PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO

6 - CONCLUSÕES E PROPOSTA DE TRABALHOS FUTUROS 1 - INTRODUÇÃO

2 - SISTEMATIZAÇÃO DE CONCEITOS E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O CONCEITO DE PAISAGEM – DISCUSSÃO COM RECURSO À ABORDAGEM ONTOLÓGICA

A QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEMA FITOSSOCIOLOGIA E A SUA UTILIDADE COMO FERRAMENTA DE ESTUDO E GESTÃO DA PAISAGEM

2 - SISTEMATIZAÇÃO DE CONCEITOS E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O CONCEITO DE PAISAGEM – DISCUSSÃO COM RECURSO À ABORDAGEM ONTOLÓGICA

A QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEMA FITOSSOCIOLOGIA E A SUA UTILIDADE COMO FERRAMENTA DE ESTUDO E GESTÃO DA PAISAGEM

4 - A PAISAGEM VEGETAL DO SUDOESTE ALENTEJANO 3 - QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM

DO SUDOESTE ALENTEJANO

ESTUDO DA QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM COM RECURSO À METODOLOGIA Q-SORTCARTA DE QUALIDADE VISUAL DA

PAISAGEM DO SUDOESTE ALENTEJANO

SÍNTESE DA PAISAGEM VEGETAL DO SUDOESTE ALENTEJANOQUALIDADE ECOLÓGICA DA

PAISAGEM DO SUDOESTE ALENTEJANO

4 - A PAISAGEM VEGETAL DO SUDOESTE ALENTEJANO 3 - QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM

DO SUDOESTE ALENTEJANO

ESTUDO DA QUALIDADE VISUAL DA PAISAGEM COM RECURSO À METODOLOGIA Q-SORTCARTA DE QUALIDADE VISUAL DA

PAISAGEM DO SUDOESTE ALENTEJANO

SÍNTESE DA PAISAGEM VEGETAL DO SUDOESTE ALENTEJANOQUALIDADE ECOLÓGICA DA

PAISAGEM DO SUDOESTE ALENTEJANO

5 - RELAÇÕES ENTRE QUALIDADE VISUAL E FITODIVERSIDADE DO SUDOESTE ALENTEJANO – CONTRIBUTO PARA O ORDENAMENTO E GESTÃO DE ÁREAS

COSTEIRAS DE ELEVADO VALOR NATURAL E PAISAGÍSTICO

QUESTÕES RELEVANTES IDENTIFICADAS PELO ESTUDO DE CASOIMPORTANCIA DA DEFINIÇÃO DE PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO

5 - RELAÇÕES ENTRE QUALIDADE VISUAL E FITODIVERSIDADE DO SUDOESTE ALENTEJANO – CONTRIBUTO PARA O ORDENAMENTO E GESTÃO DE ÁREAS

COSTEIRAS DE ELEVADO VALOR NATURAL E PAISAGÍSTICO

QUESTÕES RELEVANTES IDENTIFICADAS PELO ESTUDO DE CASOIMPORTANCIA DA DEFINIÇÃO DE PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO

6 - CONCLUSÕES E PROPOSTA DE TRABALHOS FUTUROS

2 SISTEMATIZAÇÃO DE CONCEITOS E REVISÃO

BIBLIOGRÁFICA

A actual definição da profissão de arquitecto paisagista estabelece que “o Arquitecto Paisagista investiga e intervém no planeamento, concepção e gestão do ambiente exterior, tanto dentro como fora de espaços construídos, visando a sua conservação e desenvolvimento sustentável.” (t.a.) (International Federation of Landscape Architects (IFLA) 2003, p. 1). A organização responsável pela definição acima transcrita estabelece ainda que ao arquitecto paisagista compete, entre outras actividades, realizar avaliações de qualidade da paisagem, quer na perspectiva ambiental (i.e., ecológica) quer na perspectiva visual, com vista ao desenvolvimento de políticas de gestão ou projectos de desenvolvimento1. Consequentemente, ao arquitecto paisagista é exigido o domínio de uma vasta gama de conceitos nos quais se incluem, antes de mais, o próprio conceito de ‘paisagem’, mas também conceitos relacionados com a ‘qualidade visual da paisagem’ e a ‘qualidade ecológica da paisagem’, cuja discussão se apresentará nos capítulos 2.1, 2.2 e 2.3, respectivamente. A discussão apresentada pretende ainda contribuir para o estudo interdisciplinar da paisagem, facilitando a comunicação entre diversas áreas de conhecimento (sem prejuízo da especificidade científica e metodológica de cada disciplina), na convicção de que daí resultará mais e melhor conhecimento, logo, mais e melhor ciência.

2.1 O CONCEITO DE PAISAGEM – DISCUSSÃO COM RECURSO À ABORDAGEM ONTOLÓGICA

“Landscape is at once an old and pleasant word in common speech and a technical term in special professions. As (…) [people] become more conscious of and concerned about their visible surroundings – their environment – it is going to crop up more frequently in both realms of conversation and it may be useful occasionally to consider a difficulty that almost inevitably arises as soon as we attempt to communicate beyond very narrow professional circles.”

(Meinig 1979, p. 33)

1 De acordo com o especificado na alínea f) da lista de competências profissionais do arquitecto paisagista, enunciada no referido documento.

A questão levantada por Meinig no texto acima reproduzido afecta não apenas o diálogo entre leigos e grupos de profissionais especializados, mas também entre distintos círculos profissionais: tradicionalmente, o conceito de paisagem tem sido apropriado pelas diferentes áreas do conhecimento (Arte, Filosofia, Geografia, Ecologia e Arquitectura Paisagista) tomando distintos significados e sem nunca existir uma preocupação de procurar um significado consensual sobre o termo2. Meinig defende que esta questão sempre existirá e que se deve ao facto de que a paisagem existe “não apenas à nossa frente, mas também nas nossas mentes”, querendo com essa afirmação evidenciar que o conceito de paisagem é um conceito marcado pela cultura e experiência de cada um de nós. Para ilustrar a diversidade de versões de um

mesmo cenário que podem resultar dessa ‘observação enviesada pela cultura’3,

o autor apresenta de forma sistematizada dez formas diferentes de interpretar uma paisagem:

1. A paisagem como Natureza: assim entendida por aqueles para quem a obra humana não é comparável ao meio natural, primário, fundamental, dominante, persistente;

2. A paisagem como Habitat: para quem vê no planeta a sua casa e o seu sustento, que há que explorar, ‘domesticando’;

3. A paisagem como Artefacto: para quem vê em cada lugar a marca da mão humana, mesmo nos lugares mais remotos, afectados pelos processos de ‘alteração global’ em curso;

4. A paisagem como um Sistema: para os que vêm o ambiente como um imenso e intrincado ‘sistema de sistemas’;

5. A paisagem como [um] Problema: para quem olha para o planeta e vê, sobretudo, os danos ambientais produzidos e a forma como esses danos nos afectam, ou virão a afectar;

6. A paisagem como [fonte de] Riqueza: para quem vê em todas as coisas um valor monetário, um recurso a explorar com o objectivo de obter lucro;

2 A mesma discussão foi suscitada por Farina & Hong (2004), no caso da Ecologia da Paisagem.

3 Entenda-se por ‘cultura’ a complexa trama de experiências pessoais e profissionais inerente a cada indivíduo.

7. A paisagem como Ideologia: [ou Produto Ideológico]: para os que, observando a paisagem, reconhecem os símbolos, a filosofia e a expressão das relações sociais e da governança dos Povos;

8. A paisagem como História: para quem vê na paisagem a expressão cumulativa da passagem do tempo, dos processos naturais e das intervenções antrópicas;

9. A paisagem como Lugar: para quem vê em cada paisagem uma peça individual de um grande e infinitamente variado mosaico global; 10. A paisagem como [Entidade] Estética: para quem busca em cada

cenário ou experiência de um lugar a sua ‘qualidade artística’, prestando atenção à composição, cor, harmonia, textura, tensão ou simetria dos seus elementos.

A Arquitectura Paisagista é uma profissão de charneira, trabalhando na intersecção das diversas áreas do conhecimento científico (Caldeira Cabral 1993), mediando a comunicação entre os técnicos e o público, intervindo na paisagem com objectivos estéticos, técnicos e de conservação dos recursos naturais. Daí que seja imperativo obter uma definição operativa de paisagem, que facilite o diálogo entre os grupos de profissionais envolvidos no ordenamento e gestão do território, que possa também servir para melhorar a comunicação entre estes e o público em geral. O presente capítulo procurará atingir esse objectivo, baseando-se numa abordagem ontológica ao conceito.

A abordagem etimológica do conceito e da forma como o seu significado evoluiu no tempo pode ser encontrada no corpus nacional e internacional das escolas de Arquitectura Paisagista, pela mão de várias gerações de Arquitectos Paisagistas (Andresen 1992; Caldeira Cabral 1993; Telles 1994; Magalhães 2001; Barreiros 2005; Magalhães 2007; Magalhães et al. 2007; Batista 2009; Nunes 2010; Mendes 2010).

Consequentemente, mais do que fazer uma abordagem clássica ao estudo do conceito, importa restringir o seu âmbito, buscando maior objectividade através da redução à sua realidade material, isto é, excluindo do âmbito desta discussão o fenómeno da percepção da paisagem. Esta questão será tratada no Capítulo 2.2.1.2.

Tomar-se-á como ponto de partida a seguinte premissa: a Paisagem é uma entidade autónoma, com existência própria e independente da

existência de um observador. Existem argumentos de natureza lógica e filosófica para suportar esta afirmação:

1. de um ponto de vista lógico, admitindo que da paisagem fazem parte os elementos que se materializam na superfície física do lugar, ou seja, no caso da Terra, a geosfera, hidrosfera e atmosfera e que o aspecto actual da referida superfície física resulta da interacção (ao longo de várias centenas de milhões de anos) desses constituintes, então teremos de admitir que antes da existência de qualquer forma de vida inteligente (um observador, portanto) já existiria ‘uma paisagem’ (Figura 2), independentemente das diferenças que possam existir entre essa paisagem e a actual. O mesmo raciocínio é também aplicável à biosfera;

Figura 2 – Representação hipotética de uma paisagem do período Devónico Inferior (408-390 M.a.) elaborada por M. Parrish (Department of Paleobiology,

Smithsonian Institute), apud Hueber (2001).

As estruturas colunares representam indivíduos de megafungos lenhosos atribuídos ao género Prototaxites (família Prototaxaceae, classe Basidiomycota, reino Fungi), os maiores e mais altos elementos da flora (s.l.) terrestre do período Devoniano (Hueber 2001), entretanto extintos.

2. por outro lado, de um ponto de vista filosófico4, há uma clara separação entre o objecto e a sua apreciação estética. Esta premissa é claramente exposta por Lothian (1999):

4 Mais precisamente no âmbito da corrente filosófica que tem por objeto o estudo da natureza do belo e que se designa por «Estética».

“Aesthetics has been a subject of philosophy since at least the time of Socrates (469-399 B.C.). Up to the 18th century the focus of inquiry was beauty but following the invention of the term aesthetics by the German philosopher, Alexander Baumgarten in about 1750, philosophy broadened its inquiry to encompass this more inclusive term. Philosophers distinguish between the aesthetic object, the aesthetic recipient and the aesthetic experience. The aesthetic object is that which stimulates an experience in the recipient. Landscape is but one of many aesthetic objects which philosophy has considered. Regarding human interaction with aesthetic objects, whether music, art, sculpture, human faces, architecture, poetry, or landscapes, philosophers have sought to identify the common principles which operate and which determine the nature of the aesthetic experience.”

(Lothian 1999, p. 181) Analisada esta perspectiva, reforça-se também a convicção de que o fenómeno da percepção é um processo externo ao conceito de paisagem, pelo que o conceito de paisagem deve omitir referências à forma como a paisagem é percepcionada, bem como evitar considerar a paisagem de uma perspectiva meramente cénica, ou visual (e.g. “landscape is (...) the appearance of the land” (Brabyn 2009, p. 301); “Extensão de terreno abarcada pelo campo de visão constituindo um quadro panorâmico” (Casteleiro 2001, p. 2717)).

Circunscrito o âmbito do conceito, buscou-se uma metodologia que permitisse discutir de forma objectiva o seu significado. Optou-se pelo uso da abordagem ontológica, opção que não sendo inédita (vd. Lepczyk, Lortie & Anderson (2008)) se afigura como promissora pela forma como organiza e apresenta o conhecimento, relaciona conceitos afins e permite inferir características não explícitas no conceito visado mas transmitidas a partir de entidades com que este se relaciona de forma hierárquica. Para melhor se compreender a referida abordagem, apresenta-se no próximo capítulo uma reflexão sobre os aspectos mais relevantes da abordagem ontológica.

2.1.1 As ontologias como ferramentas de organização de conhecimento

“Ontology is a formal way of representing knowledge in which concepts are described both by their meaning and their relationship to each other.”

O conceito de «ontologia» tem sido frequentemente investigado nas últimas décadas, nomeadamente no âmbito da investigação científica em Sistemas Periciais5, no entanto o termo não é exclusivo desta área de conhecimento pelo que se apresenta um conjunto de outros significados para o termo publicados por R. Mizoguchi (2003).

1. Do ponto de vista da filosofia, ontologia é “o estudo da existência”. Através dela busca-se explicação para a natureza do ‘ser’, da realidade, da existência dos entes e das questões metafísicas em volta destes. 2. Do ponto de vista da Inteligência Artificial, uma ontologia é

definida como "a especificação explícita de uma conceptualização". 3. Do ponto de vista do Raciocínio Baseado em Casos, uma ontologia

é definida como "um sistema de conceitos (vocabulário) usado como blocos de construção de um sistema de processamento de informação". Consequentemente, as ontologias são “acordos sobre conceptualizações consensuais”. Estas constituem quadros de referência que permitem modelar conceitos em domínios de conhecimento (áreas científicas) específicos. De um modo geral, as ontologias consistem de conceitos (‘Entidades’ [ou ‘Indivíduos’], que se podem organizar em ‘Classes’), relações hierárquicas entre conceitos (do tipo: ‘é-um’ e ‘parte-de’) e outras relações ou axiomas para formalizar as definições e relações.

Para ilustrar o exposto apresenta-se um pequeno exemplo de uma definição ontológica, com base em entidades taxonómicas e relações entre estas (entidades apresentadas em letra maiúscula e relações entre parêntesis): ÁRVORE > (é-uma) > PLANTA > (é-um) > SER VIVO

SER VIVO > (parte-de) >POPULAÇÃO > (parte-de) >COMUNIDADE

Torna-se evidente que se pode deduzir um conjunto de características a partir desta forma de organizar conhecimento, por exemplo: ‘uma árvore é um ser vivo’, ou ‘uma comunidade contém seres vivos’. Por outro lado, é

5 A área de investigação em Sistemas Periciais procura utilizar sistemas informáticos na representação e resolução de problemas normalmente resolvidos por humanos, utilizando conhecimento expresso por peritos no assunto (Jackson 1998).

igualmente útil a informação obtida pela não verificação das relações estabelecidas entre conceitos: ‘um ser vivo não é uma população’. É de referir que cada um dos conceitos que integra uma ontologia deve também ser devidamente descrito num glossário expressamente construído para o efeito. Pelo acima exposto o recurso a ontologias para organizar conhecimento e aumentar a objectividade dos conceitos tem vindo a observar-se em muitas áreas de conhecimento. Relativamente à Biologia, Bard & Rhee (2004) identificaram 32 websites contendo ontologias ou recursos para a criação de ontologias naquela área de conhecimento. Como exemplos célebres destas, referem-se os casos do ‘Gene Ontology (GO) Consortium’ [www.geneontology.org] (Ashburner et al. 2000) e do ‘Plant Ontology (PO) Consortium’ [www.plantontology.org] (Jaiswal et al. 2005), os quais se propõem elaborar vocabulários controlados que uniformizem conceitos no âmbito das temáticas sobre as quais incidem. Finalmente, a opção pela abordagem ontológica foi reforçada após a consulta dos trabalhos de Madin et al. (2008), que defendem o uso da abordagem ontológica como forma de vencer a ambiguidade gerada pelo uso transdisciplinar de conceitos ecológicos.

Lepczyk, Lortie & Anderson (2008), que propuseram uma ontologia para o conceito de ‘Paisagem’ (Figura 3), como forma de: a) promover a interacção entre diversas perspectivas ‘ecológicas’ de estudo da paisagem; b) fornecer um esquema inicial para a discussão ontológica do conceito, visando a sua melhoria; c) constituir um quadro de referência para estudos ecológicos à escala da paisagem.

Analisada a ontologia proposta, tornou-se evidente que haveria a possibilidade de propor alterações de modo a torná-la mais próxima da perspectiva da arquitectura paisagista, nomeadamente nos seguintes aspectos:

ƒ Atenuar a predominância da ‘visão biológica’ da paisagem, colocando a par dos conceitos relativos à sua componente biótica outros conceitos, nomeadamente os que dizem respeito à sua componente abiótica e também às alterações antrópicas da paisagem. Embora alguns termos relevantes para a presente questão estejam presentes na ontologia em causa (e.g. ‘climate’, ‘abiotic properties’, ou ‘land use’), eles encontram-se descritos

como ‘propriedades inerentes’ aos conceitos apresentados. Entende-se que estes também devem ser formalizados como conceitos;

ƒ Por outro lado, discorda-se da inclusão do conceito de ‘sampling protocol’ nesta ontologia pois considera-se que este deve ser identificado como um procedimento (de estudo da paisagem) e não como um conceito relativo a uma entidade relevante e necessária para a representação ontológica da paisagem.

Figura 3 – Representação (teórica) gráfica da ontologia de paisagem proposta por Lepczyk, Lortie & Anderson (2008)

2.1.2 Mapas conceptuais

No seguimento da opção pela abordagem ontológica, foi iniciada a pesquisa de ferramentas de suporte à construção de ontologias, aplicáveis às ciências ecológicas e da vida. Apesar da diversidade de oferta de aplicativos (vide Bard & Rhee (2004)), foi feita a opção de formalização do conceito de paisagem utilizando um software de criação de ‘Mapas Conceptuais’. Um «mapa conceptual» pode ser considerado como um precursor de uma ontologia dado que opera num nível superior de abstracção e que, trabalhando com o mesmo tipo de entidades fundamentais [i.e., conceitos e relações], gera representações gráficas que explicitam conhecimento. Para tal, foi utilizado o aplicativo CMap Tools 5.04, do Institute for Human & Machine Cognition

(IHMC), o qual pode gerar outputs no formato OWL, um formato standard para representação formal de conhecimento e para comunicação entre sistemas informáticos distintos [i.e., um standard ontológico].

Novak & Cañas (2008) caracterizam o processo de criação de mapas conceptuais do seguinte modo:

“(…) concepts and propositions are the building blocks for knowledge in any domain. We can use the analogy that concepts are like the atoms of matter and propositions are like the molecules of matter. There are only around 100 different kinds of atoms, and these make up an infinite number of different kinds of molecules. There are now about 460,000 words in the English language (most of which are concept labels), and these can be combined to form an infinite number of propositions. (…) As people create and observe new or existing objects or events, the creative people will continue to create new concepts and new knowledge. Creating new methods of observing or recording events usually opens up new opportunities for new knowledge creation.”

(Novak & Cañas 2008, p. 11) A opção pelo uso dos mapas conceptuais foi também tomada com o intuito de não incorrer em erros correntemente apontados a ontologias elaboradas no âmbito das ciências biológicas ou ecológicas, tais como os apontados por Soldatova & King (2005). Neste trabalho os autores tomaram para estudo de caso o ‘Microarray Gene Expression Society (MGED) Ontology’ [http://mged.sourceforge.net/ontologies/index.php] (Whetzel et al. 2006) de modo a poder enunciar alguns erros comuns na elaboração de ontologias, designadamente:

1. Existência de classes incorrectamente caracterizadas: todos os membros de uma classe devem partilhar pelo menos uma ‘propriedade intrínseca’, o que nem sempre acontece;

2. Uso desaconselhável do mesmo nome em diferentes níveis hierárquicos: a utilização de uma subclasse com o nome de ‘Indivíduo’ gera confusão entre elementos desta subclasse e o conceito de indivíduo da própria ontologia;

3. Alguns conceitos parecem ter nomes incorrectamente atribuídos: o nome de um conceito incluído na classe ‘Tipos de experiencias’ inclui o

termo ‘Comentário’, que por sua vez corresponde a uma outra classe da ontologia. Tal situação gera confusões desnecessárias;

4. Alguns conceitos parecem ter nomes inapropriados: utilizar nomes claramente provenientes do jargão de outras áreas de conhecimento científico, difícil de compreender ou incompreensível para os não iniciados, é também desaconselhável. Assim, termos como ‘Package’ (proveniente da gíria informática) não deve constar numa ontologia do domínio das ciências biológicas;

5. Existência de classes com nomes incorrectamente atribuídos: é incorrecto atribuir a designação de ‘Protocolo’ a fenómenos que são, claramente, processos físicos [problema que pode estar relacionado com o erro enunciado no ponto 3];

6. Existência de definições pouco claras: algumas definições indicam, de forma abusiva ou incorrecta, igualdade entre conceitos (e.g. "Uma experiência é, frequentemente, uma publicação") ou descrevem uma classe ou indivíduo de duas ou mais formas, sem que estas sejam compatíveis uma com a outra.

7. Confusão entre conceitos e procedimentos: a apresentação de procedimentos informáticos (e.g. ligação a outras ontologias através de um ou mais conceitos comuns) sob a forma de classe é incorrecta;

8. Erro na distinção entre classe e indivíduo: erros que podem dificultar o raciocínio e a compreensão dos conceitos envolvidos [erros possivelmente relacionados com os enunciados nos pontos 1 e 5];

9. Herança múltipla de conceitos: o facto de alguns indivíduos poderem pertencer a mais de uma classe (o que pode, de facto, acontecer) pode causar a herança de características mutuamente exclusivas. Tais situações devem ser devidamente previstas e acauteladas, caso contrário resultam em ambiguidade ou impossibilidade;

10. Relações entre conceitos mal definidas: de um total de 109 relações explicitadas, cerca de 104 começam por ‘tem-‘, o que quer dizer que estas poderiam ser modeladas por apenas duas relações, a saber: ‘parte-de’ e ‘propriedade-de’. A drástica redução de relações a explicitar na ontologia