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O desenvolvimento do ser humano, como espécie, está diretamente atrelado à evolu- ção e utilização do seu conhecimento. Como os sistemas de propriedade intelectual são tecno- logias relativamente novas, se comparadas à evolução da espécie, é possível afirmar que criar faz parte da natureza do ser humano e, portanto, ainda haveria progresso do conhecimento, mesmo diante da inexistência de qualquer sistema de propriedade intelectual. Todavia, neste caso, apenas o nível de inovação seria menor

Mesmo que haja desenvolvimento sem um sistema de PI, o conhecimento é um bem público e, em razão de sua baixa rivalidade de uso e de sua difícil exclusividade de acesso, deveria ser suprido pelo Estado. Contudo, salvo exemplos de pesquisas básicas e pontuais (estratégicas), os Estados não podem assumir os custos e riscos da P&D e, sendo o conheci- mento um bem público, sem o estabelecimento de um sistema de propriedade intelectual, ha- veria uma redução dos incentivos à inovação (subinvestimento) aquém do nível ótimo estabe- lecido pela política (utilitarista ou não) de desenvolvimento tecnológico e econômico de cada sociedade.

Mesmo que haja um sistema de PI, o processo de inovação gera externalidades positi- vas além daquelas que podem ser internalizadas pelos criadores, e isso é, também, um desin- centivo às atividades de Pesquisa & Desenvolvimento, pois essa incapacidade de apropriação da maior parte dos benefícios gerados pelas suas criações conduz o sistema a uma diferença de retorno (entre o social e o privado). Na pratica, as inovações levadas à sociedade geram mais benefícios sociais que aqueles advindos de qualquer estratégia desenvolvida pelos cria- dores para se apropriar de parte das externalidades positivas causadas por suas criações.

Embora incapaz de possibilitar a internalização de todas as externalidades positivas advindas das atividades de P&D, a propriedade intelectual é uma tecnologia jurídica utilizada na solução, ex ante, do problema de falta de incentivos à inovação, transformando conheci- mento público em propriedade (intelectual) privada. Se os papéis dos DPI fossem dispostos em fases, eles ficariam assim: evitar que os criadores desperdicem recursos em atividades de defesa (manutenção de segredo industrial) e de pilhagem (espionagem industrial); evitar a tragédia dos baldios, ainda que somente relacionada com o subinvestimento, por meio dos poderes de gestão que, através do sistema de apropriação privada, são atribuídos ao proprietá- rio; incentivar a acumulação; e, finalmente, facilitar as barganhas, dando mais clareza limites

jurídicos que delimitam os bens incorpóreos (ativos intangíveis), para maior geração de exce- dentes de cooperação – maximização do bem-estar social. Entretanto, apesar de todas as suas utilidades, como toda tecnologia imperfeita, a PI apresenta efeitos colaterais, custos necessá- rios, que limitam sua utilidade.

Dados os custos sociais provenientes do estabelecimento e manutenção de um sistema de propriedade intelectual, com especial atenção à possibilidade iminente de geração de pode- res monopolísticos, cabe ao Estado manter as opções de limitações e exceções permitidas pelo acordo de TRIPS, além de limitar a duração de tais direitos no tempo para mitigar todos os custos sociais envolvidos, inclusive aqueles que não foram expostos no item 4.4.

Para os limites propostos para esta dissertação, a PI é uma subespécie da família pro- priedade e, portanto, não há diferenças entre as análises econômicas, ou jurídicas, para tais modalidades de prerrogativas do proprietário. E é justamente por ser uma subespécie de pro- priedade que a PI, ressalvadas as limitações aplicáveis aos seus efeitos colaterais, carece da mesma proteção conferida aos demais tipos de propriedade.

Tendo superado discussões atuais sobre o tema – como fora o caso do conceito de fun- ção social (sobre o prisma da AED), da PI como subespécie de propriedade e da diferenciação entre exclusividade e monopólio – o trabalho aqui apresentado ambiciona se tornar base para discussões aprofundadas sobre problemas de pesquisa mais específicos. Dentre muitas outras possibilidades, uma questão que, lastreada nas ideias desenvolvidas no âmbito deste estudo, mereceria uma discussão pormenorizada seria, por exemplo, a análise custo-benefício para verificar o prazo ótimo de duração dos direitos de propriedade intelectual, ou, ainda, a expan- são do debate sobre o mercado de ereção (Figura 7) para comprovar, por meio da econometri- a, a diferença entre exclusividade e monopólio.

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No documento A função social da propriedade intelectual (páginas 101-108)

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