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Diferença de retorno do conhecimento

3. CONHECIMENTO

3.3 CUSTOS E RISCOS DA PESQUISA & DESENVOLVIMENTO

3.3.1 Diferença de retorno do conhecimento

O subinvestimento em P&D é resultado de uma falha de mercado, pois os benefícios sociais advindos da produção do conhecimento são infinitamente maiores que os privados. Mesmo que haja um sistema de propriedade intelectual estabelecido, os benefícios que a soci- edade colhe em função da evolução das criações intelectuais são sempre maiores que os co- lhidos pelo seu criador. Para melhor entender o obstáculo da diferença de retorno (entre o social e o privado) do conhecimento gerado, faz-se necessário esclarecer as externalidades positivas geradas pelas atividades de Pesquisa & Desenvolvimento e, ainda, como essas ex- ternalidades, não internalizadas pelos criadores, afeta, ex ante, a estrutura de incentivos relati- va ao processo de invenção de mais conhecimento.

3.3.1.1 Externalidades Positivas Geradas pelas Atividades de P&D

Tratando-se de Pesquisa & Desenvolvimento, a ineficiência gerada pelas externalida- des positivas é ponto fulcral de análise, pois, via de regra, as inovações produzem externali- dades positivas para toda a sociedade muito além daquilo que é demandado por esta. Assim sendo, diante da dificuldade de internalização (apropriação) dessas externalidades positivas

65 Custo afundado (tradução livre de sunk cost, em inglês) é o investimento – não recuperável – realizado com o objetivo de gerar um benefício esperado. Nos casos de Pesquisa & Desenvolvimento, uma vez realizados os investimentos – que, na maioria, são irrecuperáveis e, por isso, compõem o custo afundado – na geração de no- vos produtos ou serviços, não importa se estes vão, ou não, chegar ao mercado e produzir resultados financeiros positivos, os gastos afundados no projeto não podem ser repostos e, por óbvio, esse percentual de perdas entra nas contas do processo de P&D.

geradas por suas atividades, pesquisadores, desenvolvedores e inovadores não são incentiva- dos a investir além daquilo que podem recuperar, seja por meio de um regime de propriedade intelectual, seja por outra maneira qualquer – mantendo o conhecimento em segredo, usando- o como vantagem (dianteira) competitiva no mercado etc.

De qualquer maneira, é crucial que uma afirmação fique clara: a interação entre de- manda e oferta sempre tende ao equilíbrio, ainda que este nunca seja, de fato, atingido. Então, se as externalidades (positivas ou negativas) mexem no preço do conhecimento, assim como fazem com todos os produtos e serviços, elas indiretamente influenciam o equilíbrio de mer- cado desse ativo, reduzindo sua oferta. Para entender essa afirmação, bastaria colocar deter- minado inventor a um ambiente no qual não haja qualquer regime de propriedade intelectual, como ocorrera com Stradivarius (Figura 3). Nesse ambiente hipotético, o criador da tecnolo- gia, por não poder se apropriar de sua tecnologia via DPI, (internalizando parte das externali- dades positivas) manterá o que puder em segredo, para evitar que outros se apropriem de seu invento. De volta à questão da influência das externalidades positivas e levando o exemplo para o campo da biotecnologia, se um produtor de cerveja produzisse um novo tipo da bebida fermentada, por meio de uma rota biotecnológica absolutamente nova (inovação radical), sua criação alteraria (para cima) os parâmetros de produção de cerveja (em termos de tempo, qua- lidade etc.), mas este produtor não conseguiria internalizar as externalidades positivas referen- tes à alteração de parâmetros por ele. Para entender a radicalidade dos benefícios alheios (ex- ternalidades positivas) envolvidos no exemplo aqui colocado, é como se o processo de fabri- cação do precioso líquido estivesse com uma “infecção-produtiva” e, em seguida, o cervejei- ro-inventor criasse a “Penicilina” – por mais benefícios que os DPI possam gerar, a sociedade se beneficiaria além dos lucros do inventor com esses direitos, pois, em teoria, todas pessoas (e não apenas os envolvidas no mercado de cerveja) passariam a ter acesso a um produto de maior qualidade a um preço mais acessível. Como, na hipótese em avento, não haveria DPI, além de manter aquilo que puder em segredo, o inventor-cervejeiro do novo processo irá in- vestir na conclusão deste à proporção que o mesmo cervejeiro-inventor possa ser “ressarcido” pelos seus investimentos, não se movendo nem um milímetro além desse ponto.

Normalmente, é mais simples explicar o que seja externalidade negativa, como no e- xemplo de poluição gerada pela fábrica de chinelos (nota 37), mas, quando o assunto é exter- nalidade positiva, a conceituação fica mais complexa. Na prática, bastaria trocar o sinal da externalidade, que é um custo – ou benefício, dependendo do sinal (negativo ou positivo) –

não suportado pelo fornecedor de um produto, processo ou serviço. No entanto, essa explica- ção baseada na simples troca sinal das externalidades costuma ser tão útil quanto dizer a um estudante do ensino médio que o freio dos automóveis é um acelerador negativo. Então, é prudente colocar mais um exemplo atrelado à externalidades externas de Pesquisa & Desen- volvimento para facilitar a compreensão do problema.

Quando um inventor cria, por exemplo, um processador (chip) que, de tão radical, muda toda a maneira como a indústria do setor se organiza, tornando possível, em continuida- de, a transformação de outros equipamentos (telefones, televisores etc.) em computadores potentes, quais são os benefícios realmente internalizados pelo inventor do processador? Se houver DPI, o inventor receberá, pelo prazo da proteção conferida e conforme seus contratos de transferência de tecnologia, royalties. Mas quais são os benefícios de sua invenção? Se, no exemplo, o chip – processando informações mais rapidamente, ocupando menos espaço e gerando menos calor – alterasse o mercado de maneira radicalmente positiva, não há dúvidas de que essas externalidades positivas, em regra, não seriam internalizadas pelo inventor do processador revolucionário, e, assim, a sociedade (produtores dos novos equipamentos, con- sumidores etc.) beneficiar-se-ia dessas externalidades positivas.

Então, se, para a iniciativa privada, é tão custoso e arriscado investir em P&D, por que não deixar essa ingrata tarefa para o Estado?

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