• Nenhum resultado encontrado

5.5 Análise e discussão quanto ao decisório na formulação da política de preços

5.6.4 Condições interventoras

Segundo Strauss e Corbin (2008), condições interventoras são aquelas que atenuam, mitigam ou alteram o impacto das condições causais no fenômeno estudado. Como

0 2 4 6 8 10 C.1 Fator Historico C.2 Fator Econômico C.3 Estratégia / MKT C 4. Formato / Localização C.5 Política de Preço C.6 Intuição/ Experiência E7 E6 E5 E4 E3 E2 E1 a E1

184

condições interventoras que surgiram nas análises conduzidas, surgiram a concorrência e o cliente.

Cabe aqui discutir um pouco mais se concorrência e cliente podem intervir ou ser a causa da elaboração da teoria central. Como afirmado anteriormente, esses fatores interagem com as condições causais. Por premissa, a intervenção pode atenuar ou alterar a causa e, por efeito, a categoria central em estudo.

A intervenção da concorrência fica evidente na análise do discurso dos supermercadistas. Notadamente, eles, em maioria, relacionam as ações da concorrência no processo da política de preços em que pese a esta estar alinhada ao formato da loja, conforme GRAF. 3.

Gráfico 3 - Predominância da política de preços

Fonte: Dados da pesquisa e resultados obtidos com aplicação do ATLAS/ti.

A intervenção do cliente também se evidencia por meio das transformações do hábito de consumo desse agente que mitiga e altera fatores econômicos e a própria concorrência. As condições socioeconômicas, os aspectos geográficos constituem fortes elementos para o processo de decisão do supermercadista. Como exemplo, E1 aponta como fundamental uma boa área de estacionamento para viabilizar a implantação de um supermercado. Na mesma direção, infere que o fator preço não constitui o primeiro fator da decisão de compra de seu cliente.

0   1   2   3   4   5   6   7   8   9   10  

EVLP   HiLo   Hybrido   Ofertas  

E1   E1  A   E2   E3   E4   E5   E6   E7  

185

6.6.5 Condições contextuais

Por definição, Strauss e Corbin (2008) apontam que as condições contextuais representam os conjuntos específicos de condições que se cruzam dimensionalmente em determinado momento e determinado local para identificar as circunstâncias e/ou de problemas aos quais as pessoas respondem por meio de ações ou interações.

Especificamente no formato desta tese, as condições causais – fatores históricos, fatores econômicos, características pessoais e fatores familiares – compartilham espaços com as condições interventoras – concorrência e cliente. A partir dessa combinação, foram identificados dois tipos de comportamento que fundamentam a categoria central da tese: a intuição e a ação emergente provocada pela mudança no curto prazo, sendo que sobre esta ação emergente, a “intuição, o sentimento, o feeling” predominam na análise do discurso.

Um contraponto à percepção dos fatores causais – históricos, econômico, características pessoais e familiares – aparece com certa nuance quando se triangula o discurso à idade e à escolaridade do entrevistado. Quanto mais jovem o entrevistado, mais se pode perceber a menção ao uso de instrumentos formais de pesquisa para dar suporte à decisão sobre localização, formato e política de preço.

TABELA 3

Idade e formação dos entrevistados

Fonte: Elaborada pelo autor.

ENTREVISTADO IDADE APROXIMADA ESCOLARIDADE

E1 40 SUPERIOR E1a 40 SUPERIOR E2 55 1 GRAU E3 50 1 GRAU E4 45 1 GRAU E5 55 2 GRAU E6 65 2 GRAU E7 70 1 GRAU

186

Sem constituir um elemento conclusivo de parte da análise das entrevistas, percebeu-se certa congruência entre as idades e formação dos entrevistados com a propensão em se servir de pesquisas estruturadas para o suporte de decisão. Ou seja, no discurso de E1, E1a, E5 e E6, aparece com maior frequência o termo “fazer ou utilizar pesquisa”.

Uma pergunta pode emergir dessa observação: Existe correlação entre a idade e a

formação do supermercadista com a propensão para o uso de ferramentas estruturadas (pesquisa de marketing) para definir localização, formato e política de preço? O que

nos parece é que, quanto mais atualizado e instruído, academicamente falando, com mais simpatia o supermercadista vê a ferramenta de pesquisa para suporte à sua decisão.

Na mesma linha, outra questão relevante diz respeito à descentralização do processo decisório, bem como quanto à existência de um maior número de gestores intermediários que participam do processo decisório. Argui-se: Existe correlação direta

entre a divisão de poderes e a descentralização administrativa no ambiente de empresa supermercadista que propicia o uso de ferramentas estruturadas de marketing para suportar a decisão de onde localizar um supermercado, definir seu formato e estabelecer a política de preços?

A presente pesquisa não reúne elementos para responder à questão acima em relação aos fatores localização e formato. No que tange à categoria “Política de Preço”, esta sofre maior oscilação por conta da concorrência local e periférica. Assim, o processo decisório do supermercadista, tanto de pesquisa quanto de mudança da política de preços, torna-se quase “automático”, afastando um pouco o supermercadista do ambiente decisório no dia a dia das atividades.

No GRAF. 4, a seguir, verifica-se, uma menor escala no processo de decisão da política de preço (C5), se comparada ao processo de decisão quanto ao formato e à localização (C4), reforçando a questão acima.

187 Gráfico 4 - Processo de decisão do supermercadista

Fonte: Dados da pesquisa e resultados obtidos com aplicação do ATLAS/ti.

Por fim, nas impressões que afloraram sobre o que se pode contextualizar entre as condições causais e interventoras, uma diz respeito ao “quantum” do processo da tomada de decisão do supermercadista é fundamentada na observação das práticas dos concorrentes. A questão que emerge dessa observação pode estar relacionada ao peso e à proximidade da concorrência para a tomada de decisão do supermercadista. A percepção que se teve na análise do discurso é que a condição interventora “concorrência” atua com menor intensidade quando o supermercadista condiciona sua decisão ao feeling, ao sentimento, à experiência. Surge também dessa impressão o questionamento seguinte: Qual foi o peso das ações da concorrência, no histórico do

supermercadista, para ele se tornar suficientemente experiente, a ponto de alegar a própria experiência como fator de maior relevo em suas decisões? Clarificando:

quando o supermercadista afirma usar sua experiência para tomar uma decisão, as atitudes da concorrência “construíram” a sua própria experiência?