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4 A FEIRA DOMINICAL DO NORDESTE DE AMARALINA

4.2 ORIGEM DA FEIRA DOMINICAL DE AMARALINA

4.2.5 Conflitos existentes no Circuito da Feira

Conflitos existem em toda a parte e na FNDA não poderia ser diferente. As principais pelejas diagnosticadas são os furtos que ocorrem, em especial, na parte Alta com os feirantes vindos do interior. Na 28ª Delegacia Territorial - DT, que se encontra ao largo do circuito da feira, o agente entrevistado afirmou que existem poucos episódios. Diz que, no máximo, são registradas duas a três ocorrências ao ano e considera a Feira uma das feiras mais tranquilas de Salvador.

Porém, o depoimento não condiz com a realidade. Em todas as visitas à Feira, foi presenciado esse delito, de forma exacerbada. Chega a ser dolorosa a forma como esses agentes sociais são surrupiados. São pegos cachos de bananas entre outras mercadorias: “no grito e na raça e vão levando mesmo!”, diz moradora. Uma habitante do circuito relata que já houve duas mortes provocadas por arma de fogo com feirantes procedentes de São Felipe.

De acordo com relatos, vários vendedores do interior já deixaram de frequentar a Feira devido a essa falta de segurança. Os negociantes reclamam e argumentam não prestarem queixa por medo das possíveis revanches vindas dos bandidos.

Em questionário, foi realizada a seguinte pergunta: “como é realizada a segurança?”. Trinta e dois feirantes responderam que não há segurança, quinze se referiram à 28ª DT e os sete restantes falaram que pagam a seguranças particulares (morador local ou até mesmo aos próprios “meninos”).

Não obstante, as desavenças não param por aí. Moradores se queixam que se veem prejudicados, trancados em suas próprias casas, pois os espaços de suas calçadas são tomados pelos feirantes que impedem a entrada e a saída das suas residências. Frisam que a desorganização da feira é provocada pelos feirantes recentes locais e de outros bairros que invadiram a Feira, provocando o inchamento e a desordem generalizada, deixando tudo sujo.

Segundo informante, já houve vários abaixo-assinados para a retirada da Feira, porém segundo a entrevistada: “os chefes comunitários, claro que, com politicagem, quer que permaneça. Aqueles que têm bares que fornecem bebida querem que permaneça. Mas os moradores que não se beneficiam com nada, não querem que permaneça”. No discurso, a moradora deixa clara a divergência existente entre a permanência e a não permanência do evento aos domingos.

A retirada do ponto final e a modificação no itinerário do transporte coletivo aos sábados e domingos também suscitaram e continuam gerando polêmicas entre a população.

Ao conversar com pessoas que aguardavam o transporte no domingo, um senhor comentou: “uma hora dessa, eles estão chegando e tomando toda a área”, referindo-se aos feirantes que, segundo seu raciocínio, a qualquer momento podem se estabelecer por todo o

espaço. Porém, seu filho que estava ao lado achou a mudança positiva “engarrafava muito, com a mudança, os ônibus fluem mais rápido, porque não têm mão dupla”. O jovem trata sobre os engarrafamentos que ocorriam nos finais de semana devido à presença da Feira.

Entre os motoristas dos coletivos, também há discordâncias. Ao dialogar com os rodoviários, alguns declaram que o fluxo fica mais rápido, pois os ônibus funcionam como transporte circular, sem paradas longas. Mas outros afirmam que a modificação trouxe vários problemas para a população, que fica sem saber o horário correto da saída dos transportes.

Aproveitam o momento para fazerem reivindicações, alegam que o local destinado as pequenas paradas não possui infraestrutura, não existem banheiros, dificuldade para realizar lanches e afirmam ficarem sem abrigo contra o sol e a chuva. Um motorista passa e grita: “por causa disso aí já tive vários prejuízos”. Não se sabe ao certo, porém, acredita-se que o condutor do veículo estava se referindo a alguma colisão, possivelmente ocorrida devido à grande quantidade de carros e de pessoas que se espalham próximo ao final de linha.

Entre os favoráveis e os desfavoráveis, a Feira permanece e se reestrutura a cada domingo. Embora nem todos concordem coma sua permanência no local em que está inserida, todos concordam que a Feira faz parte da tradição do bairro e se constitui em fonte de emprego e renda para famílias locais e não locais.

A Feira agrega dinamismo à economia do Nordeste de Amaralina. Ela desempenha um importante papel no abastecimento do bairro e adjacências. Essa atividade comercial desenvolvida nesse espaço cria ações e relações em vários âmbitos que se refletem na organização espacial. Centrados nessas ações e relações, são apresentados, na Figura 22, os aspectos positivos mais citados pelos agentes sociais entrevistados.

Fonte: ROCHA, 2016.

A Feira como geração de emprego e renda foi o maior destaque nos três grupos, seguidos pela proximidade de casa e os preços acessíveis, logo ressaltando a importância econômica desse evento para todos os agentes envolvidos. Outrossim, a tradição se firma como pressuposto para a manutenção e permanência da mesma.

Deve-se ponderar, todavia, que o espaço reflete a falta da fiscalização e ou acompanhamento dos órgãos públicos municipais. Segundo depoimento dos negociantes, a única assistência realizada pela Prefeitura Municipal é a limpeza após o término da Feira.

Seguindo a sua própria lógica, os feirantes se estabelecem sem levar em conta as normas preconizadas pelo Regulamento das feiras livres do município de Salvador. Essa ação, em conjunto com a ausência do poder público municipal, cria situações desfavoráveis, vistos pela maioria como desorganização do espaço, respaldando a intenção para a retirada da Feira. Citemos alguns exemplos negativos listados pelos informantes.

Fonte: ROCHA, 2016.

A desorganização é vista pelos três grupos, como falta de controle, ou seja, feirantes espalhados por todo o lado, mercadorias expostas no chão e próximas ao lixo, carro de passeio passando por cima dos produtos e atrapalhando o fluxo dos pedestres, lixo acumulado se misturando com as mercadorias, entretanto, de todos os aspectos citados, o que mais chama a atenção é a falta de segurança, referida em todos os questionários aplicados.

Assim sendo, a FDNA é uma experiência peculiar do uso de um espaço público por uma população com poucos recursos, voltada para a atividade econômica. Contudo, verificam-se os embates provavelmente decorrentes de precária atuação do poder público. 4.3 ARTICULAÇÕES TERRITORIAIS

A evolução dos transportes, assim como o alastramento das estradas terrestres no Estado da Bahia, a partir da década de 1960, teve grande influência para o movimento pendular que ocorre aos domingos no Nordeste de Amaralina. Como referenciado em capítulos anteriores, o bairro, desde os anos de 1970, recebe aos domingos feirantes oriundos de vários municípios baianos e de diversos bairros de Salvador, que se deslocam a centenas e dezenas de quilômetros para comercializar seus produtos nesse espaço geográfico.

Esse movimento propicia formação de circuitos e fluxos que ativam a economia e dinamizam o espaço local. Através de dinâmicas territoriais e sociais, articulações internas e externas abrangem a circulação, distribuição e consumo de mercadorias, em especial os hortifrutigranjeiros. Esses produtos chegam até a população local, não local, pequenos

estabelecimentos comerciais do bairro e suas localidades, atingindo até mesmo outros bairros de Salvador, por meio de caminhões, carro de frete, carro de passeio, kombi e outros meios de transportes utilizados por esses agentes sociais.

Essas mercadorias se originam de três principais centros distribuidores, que se diferenciam segundo a espacialização e origem dos feirantes, conforme detectado em pesquisa e apresentado em gráficos.

Na parte alta, temos como principal centro distribuidor regional o município de Amargosa, destacando-se o Distrito de Corta Mão, como principal produtor e distribuidor de bananas verdes para a FNDA. Nota-se que os feirantes de Amargosa só se localizam na parte alta da Feira, constituem um grupo unido e homogêneo e são conhecidos em sua região como Baganeiros.

Outros municípios baianos aparecem como abastecedores, tais como: São Felipe, Cruz das Almas, Nazaré, Maragogipe, Lauro de Freitas, Simões Filho, entre outros (vide mapa ilustrativo da moradia dos feirantes da FNDA). Esses vendedores trazem suas mercadorias das suas propriedades rurais ou as compram em pequenas roças e feiras do seu município, em caminhões locados, pagando determinado valor por volume. Como exemplo um informante de São Felipe diz que paga R$ 8,00 (oito reais) por saca com cem laranjas.

Na parte Intermediária, figura, como centro distribuidor, principal a CEASA, localizada no CIA, embora também se encontrem vendedores produtores, enquanto que na parte Baixa, em sua maioria, destaca-se a Feira de São Joaquim como núcleo de compras desses varejistas. Em geral, são utilizados carro de frete, Kombi e carro de passeio como forma de transportar os produtos.

Verifica-se que a espacialização desses agentes sociais, que se localizam na parte Baixa da Feira, é mutável e circunstancial (SANTOS, 1988, p. 73), notadamente para os feirantes mais recentes. Outra observação é que podem ser encontrados na parte alta negociantes antigos que compram produtos na Ceasa e em São Joaquim, e nas partes intermediária e baixa, possam ser vistos feirantes recentes, oriundos do interior baiano.

Os dois mapas a seguir retratam a procedência dos feirantes que circulam no Circuito, compondo os fluxos de pessoas e de mercadorias.

Figura 24 – Residência dos feirantes da FDNA, por municípios baianos

Figura 25 - Residência dos feirantes da FDNA, por bairros de Salvador

Ressaltando que foram encontrados vendedores de diversos municípios baianos e de outros bairros de Salvador, porém com menor frequência e ou tempo de atuação na feira, portanto não mencionados no mapa. Desse modo, exemplificam-se os feirantes oriundos dos seguintes municípios: Seabra, Governador Mangabeira, Mata de São João, Valença, Castro Alves, Santo Estevão, Dias D’ávila, Alagoinhas, Amélia Rodrigues, Governador Mangabeira, entre outros. Quanto aos bairros menciona-se: Liberdade, Baixa do Fiscal, Iapi, Santa Mônica, Mussurunga.

Tendo em vista, as articulações territoriais existentes serão descritos os principais centros distribuidores de hortifrutigranjeiros para a FDNA