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4 A FEIRA DOMINICAL DO NORDESTE DE AMARALINA

4.2 ORIGEM DA FEIRA DOMINICAL DE AMARALINA

4.2.3 Perfil dos feirantes

Para Santos (2004, p.202), o Circuito Inferior constitui, também, uma estrutura de abrigo para os citadinos, os antigos ou novos desprovidos de capital e de qualificação. Fato verificado ao se analisar grau de escolaridade dos feirantes, observável nos gráficos 10, 11 e 12, a seguir.

Observa-se, na parte Alta da Feira, baixo grau de escolaridade, possivelmente decorrente da faixa etária dos feirantes e da presença marcante dos agentes oriundos da zona rural.

Gráfico 10 – Escolaridade dos feirantes da parte Alta da FDNA

Fonte: ROCHA, 2016

Contudo, de acordo com a declividade existente no circuito da Feira, verifica-se o aumento da escolaridade desses agentes sociais.

Fonte: ROCHA, 2016

Na parte Baixa, registra-se o maior nível de escolaridade entre os feirantes, fato que pode estar associado ao desemprego presente na atual fase pela qual o país atravessa.

Gráfico 12 – Feirantes da parte Baixa da FDNA distribuídos segundo a escolaridade

Fonte: ROCHA, 2016

Ao se examinar os três gráficos, nota-se a baixa escolaridade presente entre os agentes, em particular na parte Alta, onde predominam os feirantes oriundos da zona rural e com mais idade. Muito embora seja visualizado na parte Intermediária e Baixa o aumento do nível escolar dos vendedores, tal acontecimento provavelmente ocorra devido a todos terem acesso à feira, ou seja, a facilidade de ingresso, mesmo os desprovidos de capital.

No Circuito Inferior, de acordo com Santos (2004), as pessoas encontram bem rápido uma ocupação, mesmo que aleatória. Fato que, ao nosso ver, propicia a entrada de pessoas com baixa escolaridade e a manutenção e expansão do circuito da feira. Para o informante n° 36, ele vende na Feira “por ser uma tradição familiar e por ser uma forma de tirar os lucros no final de semana”. Enquanto que para a entrevistada n° 35 é “local onde ela tira o sustento”.

Como já dito, o circuito da Feira apresenta feirantes com diferentes faixas etárias. Vejamos os gráficos13, 14 e 15, referentes à idade dos feirantes.

Fonte: ROCHA, 2016

Na parte Alta, há concentração de feirantes com maior faixa etária, e, como já citado, em sua maioria provenientes da zona rural, emprestando à Feira valores desse universo.

Gráfico 14 – Faixa etária dos feirantes da parte Intermediária da FDNA

Fonte: ROCHA, 2016

Na parte Intermediária, há a presença de diferentes faixas etárias.

Gráfico 15 – Faixa etária dos feirantes da parte Baixa da FDNA

Fonte: ROCHA, 2016

Por sua vez, na parte Baixa, há o predomínio dos agentes entre 25 a 40 anos de idade. No entanto, foi detectada em toda a Feira forte presença de trabalho infantil, seja como ajudante nas exposições comerciais ou como carregadores de compras, possivelmente

revelando o baixo poder aquisitivo e de escolaridade da população local, porém as mesmas não entraram no cômputo dos dados.

Outra observação se deu em por conta da distribuição por sexo, no qual há o predomínio majoritário do sexo masculino na parte Alta e Intermediária, todavia, conforme a declividade, esse percentual vai sendo reduzido.

Embora não tenha havido estudo detalhado sobre esse dado, possivelmente, o aumento do sexo feminino na parte Baixa, sobrevenha em decorrência da mulher na atualidade estar com maior atuação como responsáveis dos domicílios particulares permanentes (CONDER / INFORMS / SEDIG, 2012). Salienta-se que os vendedores nessa parte da feira apresentam maior grau de escolaridade e, em sua maioria, menor faixa etária, conforme visto em gráficos sobre o perfil dos feirantes. Nos países subdesenvolvidos, uma industrialização com alto coeficiente de capital atrai mais e mais pessoas , mas não é capaz de fornecer empregos suficientes (SANTOS, p.71), fato que, ao nosso ver, propicia a entrada de pessoas com baixa escolaridade e a manutenção e expansão do circuito da feira de tudo, um dos elementos que formam a mola propulsora do Circuito Inferior é o dinheiro líquido que assegura a produção e circulação das mercadorias além da expansão do consumo. Para os comerciantes desse circuito, dispor de dinheiro líquido é fugir do intermediário financeiro em busca de lucros maiores. Contudo devido à escassez do capital, esses agentes buscam alternativas para a compra das suas mercadorias utilizando o trabalho intenso como fator essencial.

Um vendedor, afirma que: “Vendo barato, mas vendo”, referindo-se à venda com prejuízo, descrita por Milton Santos como tática para obtenção de crédito para a compra de outras mercadorias.

Notou-se, também, a existência da prática de preços diferenciados: o valor de sábado à tarde, até o domingo por volta das 11h00 é mais alto, a partir desse horário os feirantes, em especial de outros bairros, costumam reduzir os preços, sobretudo se possuem pouca mercadoria e com condição não favorável para a revenda em outra feira.

A esse respeito, Palmeira (apud MOTT, 1975, p. 236) diz que, para o pequeno intermediário que imobilizou um pequeno capital, é preferível vender a qualquer preço e recuperar parte do que gastou, do que ficar com aqueles produtos que ele não tem como guardar.

Porém, essa prática não condiz com o que fazem alguns feirantes antigos da parte alta, pois os mesmos possuem clientela certa, como dono de mercados dentro e fora do bairro. Um dos informantes, vendedor de verduras e legumes relata: “uma dona de uma mercearia costuma no final da feira vir avaliar a mercadoria e compra tudo”. A Sra. Z., que negocia com

bananas, aponta em um canto separado as mercadorias que serão vendidas para um mercado localizado em Sussuarana. Outro feirante de Amargosa ressalta que possui freguesia certa e já traz a mercadoria por encomenda.

Esses varejistas, em sua maioria, não recebem apoio financeiro. Em geral, os comerciantes dos municípios baianos visitam as roças das suas localidades se dirigindo ao pequeno produtor, como forma de comprar mais barato e assim obter maior lucro, o que é chamado por Santos (204, p.235) como comércio triangular.

Porém, a maioria dos entrevistados, quando não dispõem do dinheiro líquido, buscam entre os familiares e vizinhos empréstimos ou utilizam do fiado para a aquisição das mercadorias. Raras exceções usam de empréstimos bancários, pois temem não poder arcar com os pagamentos. Sr. A. diz, “nunca mais na vida”, referindo-se a um empréstimo contraído junto ao Banco do Nordeste, o qual, segundo o informante, os juros eram muito altos.

Concordando com Milton Santos (2004, p. 234), ao afirmar que a “[...] falta ou insuficiência de capital nas atividades do circuito inferior nem sempre é sinônimo de pobreza ou insolvência do agente.”, conforme já descrito, é comum entre os feirantes da parte Alta da Feira ser detentor de bens como roça, casa própria, carro próprio e outros proveitos materiais. Em sua maioria, os feirantes antigos provenientes do interior baiano, veem na FDNA um local para escoamento das suas mercadorias, pois em seus municípios não há consumidor suficiente para tal, enquanto no Nordeste de Amaralina existem condições favoráveis à atividade comercial, tais como “ter muitos compradores”, e “vender tudo”, citado pela maioria dos feirantes ao serem inquiridos.

No entanto, não podemos generalizar. A Feira também serve de abrigo para uma população de desempregados, que buscam sua sobrevivência através dessa prática comercial, daí surgindo os improvisos e uma organização considerada como primitiva.