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Deixa de ser necessário se debruçar com afinco matemático nas estatísticas e dissecá-las em profundidade para tomar ciência da realidade do Judiciário brasileiro. A consciência de algumas questões mais importantes permite traçar possibilidades de aperfeiçoamento.

O primeiro ponto é que a média dos magistrados brasileiros trabalha próxima do limite da exaustão, e que há espaço para o incremento da produtividade nos tribunais. Os magistrados brasileiros solucionam, em média, 1.564 casos por ano (figura 1), o que equivale a 4,2 casos por dia, contando férias, sábados, domingos e feriados. Esta média está longe da realidade de parcela significativa dos tribunais brasileiros, sendo que em alguns casos não se alcança a metade da média nacional. Se todos os tribunais que estão abaixo da média nacional da produtividade produzissem nesse patamar dos juízes singulares, haveria um incremento de 3,2 milhões de julgados por ano, dando início à redução do acervo.

O caminho óbvio de aumentar o número de juízes enfrenta resistência, inclusive por restrições orçamentárias; porém, há que se ter em mente que existem atualmente 5.216 cargos vagos de magistrado,85 ou seja, cargos criados por lei e não providos.

O provimento desses cargos pode representar um decisivo aumento de produtividade e redução de acervo. Se cada novo magistrado julgasse dentro da média nacional, haveria aumento de 8,2 milhões de casos julgados por ano, fato que diminuiria bastante o estoque atual de processos.

Aqui é preciso salientar que, pelos dados apresentados por Curado,86 já foi criado por lei número suficiente de cargos de magistrados e não há, segundo o autor, óbice orçamentário ao seu provimento. Tal medida, sozinha, só tende a melhorar o cenário atual.

Outra necessidade é otimizar a atuação dos servidores existentes, com atenção aos segmentos mais congestionados, haja vista que administrar implica

85 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. VIII Encontro Nacional do Judiciário. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/destaques/arquivo/2015/04/4779a5fdc7a693481a19b5c1d76fa45 2.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2016.

planejar e, principalmente, controlar o uso dos recursos organizacionais para alcançar objetivos de maneira eficiente e eficaz.

5.4.1 Primeiro Grau

O CNJ instituiu, em 2014, a Política Nacional de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau de Jurisdição, através da Resolução CNJ 194, que fomenta e direciona recursos (pessoal, orçamento, infraestrutura e tecnologia) e esforços para a primeira instância, na proporção da demanda de processos.

Prevê nove linhas de atuação: 1. Alinhamento ao plano estratégico; 2. Equalização da força de trabalho; 3. Adequação orçamentária; 4. Infraestrutura e tecnologia; 5. Governança colaborativa; 6. Diálogo social e institucional; 7. Prevenção e racionalização de litígios; 8. Estudos e pesquisas; e 9. Formação continuada.

Aqui o destaque é o item que trata da equalização da força de trabalho; não apenas com a distribuição de servidores entre primeiro e segundo graus proporcionalmente à demanda de processos, mas com a alocação correspondente de cargos e funções de confiança.

A Resolução CNJ 195 estabelece diretrizes para a distribuição equitativa de orçamento entre primeiro e segundo graus. Assim, as parcelas de recursos destinados a cada grau de jurisdição devem estar previstas e identificadas nas propostas orçamentárias, com critérios previamente estabelecidos, entre eles a demanda processual; devendo haver, ainda, a respectiva publicação nos sites de demonstrativos da execução orçamentária, garantindo a imprescindível transparência e prestação de contas.

Outro ponto estabelecido pelo CNJ foi a governança colaborativa como caminho decisivo para a melhoria institucional e como mecanismo essencial de descentralização administrativa, democratização interna e comprometimento com os resultados institucionais. Pretende-se como conceitos estáveis e duradouros no Judiciário a democracia, a transparência, a prestação de contas e a cultura de resultados.

5.4.2 Metas nacionais como instrumentos de gestão

Bastante mal compreendidas pelo Judiciário, as metas nacionais foram instituídas pela primeira vez em 2009 como elemento essencial do plano estratégico. O principal objetivo, entre outros, é indicar os principais problemas enfrentados pelos órgãos da Justiça, bem como operacionalizar conforme as necessidades verdadeiras políticas judiciárias. Para o ano de 2015 foram estabelecidas sete metas, no VIII Encontro Nacional do Poder Judiciário.87 São elas:

META 1 – Julgar mais processos que os distribuídos (todos os segmentos)

 Julgar quantidade maior de processos de conhecimento do que os distribuídos no ano corrente.

META 2 – Julgar processos mais antigos (todos os segmentos). Identificar e julgar, até 31 de dezembro de 2015, pelo menos:

 No Superior Tribunal de Justiça, 99% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2010 e 90% dos processos distribuídos em 2011;

 No Tribunal Superior do Trabalho, 90% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2012;

 Na Justiça Militar da União, 90% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2013, nas Auditorias Militares, e 95% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2013, no STM;

 Na Justiça Federal, 100% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2010, no 1º e no 2º grau, e 100% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2011 e 70% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2012, nos Juizados Especiais e Turmas Recursais Federais;

 Na Justiça do Trabalho, 90% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2013, no 1º e no 2º grau;

 Na Justiça Eleitoral, 90% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2012;

87 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Metas 2015. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/gestao-e- planejamento/metas/metas-2015>. Acesso em: 15 jun. 2016.

 Nos Tribunais de Justiça Militar Estaduais, 95% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2013, nas Auditorias Militares, e 95% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2014, no 2º grau; e

 Na Justiça Estadual, 80% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2011, no 1º grau, e até 31 de dezembro de 2012, no 2º grau, e 100% dos processos distribuídos até 31 de dezembro de 2012, nos Juizados Especiais e Turmas Recursais.

Têm as metas 1 e 2 o claro objetivo de reduzir o acervo de 67 milhões de casos pendentes.

META 3 – Aumentar os casos solucionados por conciliação (Justiça Federal e Justiça Estadual)

 Justiça Federal: aumentar o percentual de casos encerrados por conciliação em relação ao ano anterior.

 Justiça Estadual: impulsionar os trabalhos dos CEJUSCs e garantir aos Estados que já o possuem que, conforme previsto na Resolução CNJ 125/2010, homologuem acordos pré-processuais e conciliações em número superior à média das sentenças homologatórias nas unidades jurisdicionais correlatas. Aos que não o possuem, a meta é a implantação de número maior do que os já existentes.

Tem a terceira meta o objetivo de incrementar a política de conciliação; incrementar a cultura de pacificação consensual dos conflitos.

META 4 – Priorizar o julgamento dos processos relativos à corrupção e à improbidade administrativa (STJ, Justiça Federal, Justiça Estadual e Justiça Militar da União e dos Estados). Identificar e julgar até 31 de dezembro de 2015:

 Na Justiça Estadual, pelo menos 70% das ações de improbidade administrativa e das ações penais relacionadas a crimes contra a administração pública distribuídas até 31 de dezembro de 2012;

 Na Justiça Federal, pelo menos 70% das ações de improbidade administrativa distribuídas até 31 de dezembro de 2013;

 Na Justiça Militar da União e dos Estados, as ações penais relacionadas a crimes contra a Administração Pública distribuídas até 31 de dezembro de 2013; e

 No Superior Tribunal de Justiça, 90% das ações de improbidade administrativa e das ações penais relacionadas a crimes contra a Administração Pública distribuídas até 31 de dezembro de 2012 e 60% das distribuídas até 31 de dezembro de 2013.

Trata-se aqui do problema da morosidade das ações penais relacionadas a crimes contra a Administração Pública, na certeza de que o Judiciário tem relevante papel, inclusive pedagógico.

META 5 – Impulsionar processos à execução (Justiça do Trabalho e Justiça Federal). Baixar em 2015:

 Na Justiça Federal, quantidade maior de processos de execução não fiscal do que o total de casos novos de execução não fiscal no ano corrente; e

 Na Justiça do Trabalho, quantidade maior de processos de execução do que o total de casos novos de execução no ano corrente.

Esta meta visa impulsionar os processos de execução da Justiça Federal e do Trabalho, para tentar reduzir o esforço do acervo que, como explicado anteriormente, representa o maior problema do Poder Judiciário.

META 6 – Priorizar o julgamento das ações coletivas (STJ, Justiça Estadual, Justiça Federal e Justiça do Trabalho):

 Identificar, a partir de 2015, no Superior Tribunal de Justiça, os recursos oriundos de ações coletivas e priorizar o seu julgamento;

 Identificar e julgar, até 31 de dezembro de 2015, as ações coletivas distribuídas: o Na Justiça Estadual, até 31 de dezembro de 12012, no 1º grau, e até 31

de dezembro de 2013, no 2º grau;

o Na Justiça Federal, até 31 de dezembro de 12012, no 1º grau, e até 31 de dezembro de 2013, no 2º grau;

o Nos Tribunais Regionais e Juízes do Trabalho, até 31 de dezembro de 2012, no 1º grau, e até 31 de dezembro de 2013, no 2º grau; e

o No Tribunal Superior do Trabalho, até 31 de dezembro de 2012.

META 7 – Priorizar o julgamento dos processos dos maiores litigantes e dos recursos repetitivos (STJ, Justiça do Trabalho e Justiça Estadual):

 No Superior Tribunal de Justiça, reduzir o tempo médio da afetação à publicação do acórdão dos recursos repetitivos para 180 dias;

 Nos Tribunais Regionais e Juízes do Trabalho e no Tribunal Superior do Trabalho, identificar e reduzir em 1,5% o acervo dos dez maiores litigantes em relação ao ano anterior; e

 Nos Tribunais de Justiça Estaduais, gestão estratégica das ações de massa com identificação e monitoramento do acervo de demandas repetitivas.

As últimas duas metas procuram atacar as principais causas de litigiosidade, buscando uma racionalização do enfrentamento de conflitos, incentivando as ações coletivas e refreando as ações repetitivas para diminuir o desperdício de esforços na repetição burocrática de atos judiciais.

A decisão de traçar metas deve ser entendida como uma tentativa de autoconhecimento do próprio poder para que, na esperança de se auto-organizar, consiga aprimorar seu sistema, composto de 91 tribunais, 16 mil magistrados e cerca de 300 mil servidores. Não se trata de garantir resultados suficientes, mas um passo no caminho de superar seus problemas.

A título de ilustração, tem-se no site “CNJ: Metas 2015”88 os resultados parciais atualizados em 25 de fevereiro de 2016.

5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E AS TRAZIDAS PELO PRÓPRIO RELATÓRIO