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Considerações finais e as trazidas pelo próprio relatório

trabalho foi traçar um quadro confiável, através da consulta a dados obtidos por meio de técnicas estatísticas hábeis para apresentar de forma fidedigna uma radiografia da

tão propalada realidade do Poder Judiciário.89 Ainda que se tenham trazido também muitas opiniões divergentes, no sentido de entender que se pretende controlar e otimizar o Judiciário como fazem as empresas privadas, foi preciso que algo fosse feito para buscar seu aprimoramento, mesmo sob duras críticas.

A opinião corrente dos operadores do Direito, da qual aqui compartilhamos, principalmente no tocante às metas, é ponto de cumprimento complexo. São infinitas as complicações a ela intrincadas; não há que se resolver questão tão complexa como o deslindar de um processo impondo rígidos limites por vezes inalcançáveis, mas é fato que, ao se tomar conhecimento da real dimensão do conteúdo, há que se olhar a questão por um outro prisma, mesmo sendo ele pouco confortável na imperiosa necessidade urgente de adotar, se não uma solução imediata, uma forma de não permitir que a situação ainda se agrave mais pela negligência.

Saber de um problema e não ter como resolvê-lo difere de saber que se tem um problema e ignorá-lo ou agir para que se agrave.

A jurimetria se faz necessária na medida que ultrapassa o quadro da intuição e permite um planejamento buscando um caminho no sentido da resolução de uma questão colocada.

Não existe consideração mais apropriada para tratar do Relatório, seus objetivos e números que a própria conclusão presente às p. 392-393, transcrita nas próximas linhas, posto que é precisa no objetivo pretendido. Não há como não a reproduzir para encerramento da questão dos dados.

O Anexo 3 desta dissertação traz, para conhecimento do que pensam os seus idealizadores, a transcrição da conclusão do Relatório “Justiça em números: 2014”.

89 Esta dissertação presume que os dados trazidos pelo CNJ foram obtidos de acordo com metodologia cientifica adequada.

6 AINDA ALGUMAS POSSÍVEIS SOLUÇÕES

No sistema federativo brasileiro, os tribunais exercem importante função, a ponto de o Supremo Tribunal Federal exercer o papel de “guardião da Constituição”. Assim, a questão de mérito propriamente dita se limita à possibilidade de entrada e acesso ao Judiciário, tornando-se o problema da justiça mero coadjuvante.

Em razão dos novos tempos enfrentados pelo Judiciário, a resolução dos conflitos muitas vezes está em outros caminhos que não a via judicial; é preciso que se instrua o uso de outras vias — como a mediação, a conciliação e a arbitragem — como métodos mais adequados, em muitos casos, para a resolução dos conflitos, uma vez que são voltados para demandas que apresentam melhores condições e benefícios mútuos se resolvidas com os acordos ou pré- ou extrajudiciais.

Como mostrado mais adiante, o Conselho Nacional de Justiça editou e promulgou a Resolução n. 125/2010, a fim de instituir a política judiciária nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses. O objetivo é promover mais eficiência operacional ao Poder Judiciário e expandir os meios de acesso à Justiça; inclusive, em seu primeiro artigo ficou prevista a obrigação dos órgãos judiciários de oferecerem mecanismos de solução de controvérsias, em especial os consensuais, como a mediação e a conciliação. Evidencia-se a dimensão social e política da Justiça. Torna-se preciso superar o formalismo dos atos processuais, que tantas vezes agravam os conflitos, em razão do acúmulo de processos gerado pela burocratização excessiva.

O acesso à Justiça não se limita nem se confunde com acesso ao Judiciário, pretende a inclusão de todos os jurisdicionados ao sistema. Implica a promoção da educação do cidadão para aprender a buscar a resolução de conflitos por meio de interação eficaz. Assim, será possível a transformação da estrutura judicial, a desburocratização dos tribunais e dos procedimentos, com mudanças significativas de mentalidade e valores do operador do Direito.

A questão da sobrecarga do Judiciário, a ser vencida, apresenta aspectos distintos. Pode-se observar um tratamento para aprimorar o Judiciário sob aspectos externos e internos ao processo.

Uma frente permite que se abram oportunidades para que se obtenha mais rapidamente a contraprestação pretendida do Estado na satisfação do direito buscado por caminhos fora da judicialização da questão. Esta solução é vista com bons olhos

por trazer a imagem de uma sociedade organizada e independente, capaz de conduzir suas questões fora do manto estatal.

De outra ponta, deve-se pensar uma forma de aprimorar o próprio caminho a ser percorrido pelo processo, tornando-o mais eficiente através de incrementos na legislação e na forma de interpretá-la para a obtenção da contraprestação pretendida, como tratado adiante.

Além de haver a garantia constitucional de que nenhuma lesão ou ameaça a direito poderá ser excluída da apreciação do Poder Judiciário, é necessário propiciar formas eficazes de solucionar o conflito. É sabido que uma prestação jurisdicional tardia, inadequada, não garante o acesso à justiça.

Constatada a sobrecarga na prestação jurisdicional, existe o caminho de buscar a realização da justiça fora da cobertura do Estado. Sendo assim, a negociação, a conciliação, a mediação e a arbitragem aos poucos têm deixado de ser uma segunda opção como via de acesso à justiça.

O implemento de núcleos de conciliação prévia, núcleos de práticas jurídicas e balcões de justiça e cidadania comprovam que os chamados “meios alternativos” têm se tornado meios indispensáveis e essenciais na solução de conflitos e, portanto, no acesso à justiça. Tais modos alternativos devem proporcionar agilidade e confiabilidade a um custo adequado e previsível, com duração razoável, e devem as partes preferencialmente escolher o modo apropriado, bem como as pessoas e instituições que os conduzirão. A construção desses meios alternativos deve produzir resultados positivos em relação à judicialização.

No caso específico da Administração Pública que litiga, já que o Poder Público é assídua presença no número de lides levadas aos tribunais, um caminho seria a lei (ordinária, em regra) abstratamente dar o modo e a competência para realizar essa composição ou para determinar a solução do conflito, quando então a judicialização restaria como um outro caminho à disposição da Administração Pública no momento da escolha do meio de solução do litígio. É perfeitamente adequada ao ordenamento constitucional a previsão de lei ordinária que atribua à Administração Pública a possibilidade de escolher o modo de solução do conflito alternativo à judicialização.

Conforme relembra José Carlos Francisco:

é claro que a construção desses meios alternativos deve produzir resultados positivos quando comparados à

judicialização, preferencialmente com a participação dos interessados na escolha do modo e das pessoas ou instituições que conduzirão os modos alternativos à judicialização [...] contudo [...] os modos alternativos dependem de pessoas que ostentem padrões de independência e de imparcialidade adequados. [...] Reunindo estas qualidades há grande rol de possibilidades [...] sobretudo em experiências estrangeiras com destaque:

a) Adjudicador: especialistas escolhidos pelas partes antes do litígio;

b) Tribunal executivo: executivos das corporações envolvidas, com ou sem formação jurídica, e o processo pode ou não ter confidencialidade;

c) Mediação: modo voluntário de solução de conflitos; trata-se modo extrajudicial de autocomposição entre as partes;

d) Junta de resolução de disputas: junta de especialistas indicados pelas partes que produz decisões que obrigam litigantes;

e) Arbitragem: vantajosa economicamente quando comparada à judicialização, há árbitro escolhido que decide o litígio.90

6.1 OS JUIZADOS E AS ALTERNATIVAS À JUDICIALIZAÇÃO TRADICIONAL