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3.4.1 Funções típicas

O Conselho Tutelar, nos termos do art. 131 do ECA “é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente”, sendo importante destacar que de acordo com Liberati e Cyrino o Conselho Tutelar “caracteriza-se por ser um espaço que protege e garante os direitos da criança e do adolescente, no âmbito municipal”, ou seja, é “uma ferramenta e um instrumento de trabalho nas mãos da comunidade, que fiscalizará e tomará providências para impedir a ocorrência de situações de risco pessoal e social de crianças e adolescentes”240.

Merece enfatizar que essa equipe de cidadãos241 eleita pela comunidade para mandato de três anos, permitida uma recondução, deve proteger os direitos das crianças e adolescentes e não está subordinada a Juiz de Direito, Promotor de Justiça, Prefeito Municipal ou mesmo aos Vereadores, eis que é órgão permanente, autônomo e não jurisdicional. Acrescente-se que deve existir um Conselho Tutelar composto de cinco membros, no mínimo, em cada Município, sendo necessária a existência de mais de um Conselho em municípios com grande área territorial e de população, tudo nos termos do art. 132 do ECA.

Outra informação importante é que os atos dos Conselhos Tutelares são atos jurídicos complexos formais, na medida em que são oriundos de um colegiado, ressaltando, porém, a possibilidade da prática de atos isoladamente pelos conselheiros, apenas em hipóteses previstas em lei, sendo passível de validação posterior pelo colegiado.

As atribuições específicas do Conselho Tutelar estão descritas no art. 136 do ECA, sendo importante destacar que para os fins do presente trabalho, ou seja, de buscar formas de concretização das políticas públicas infanto-juvenis, a principal atribuição do Conselho Tutelar é de “assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente” (art. 136, inciso IX, do ECA). Destaque-se, ainda, que a manutenção de dados estatísticos relativos aos atendimentos de crianças, adolescentes e famílias é fundamental para uma real elaboração dos Planos de Ação e Aplicação por parte dos Conselhos Municipais de Direitos da Criança e

240 CYRINO, Públio Caio Bessa. LIBERATI, Wilson Donizete. Op. cit., p. 125.

241 Nos termos do art. 133, incisos I a III, do ECA, são requisitos de elegibilidade ao cargo de Conselheiro Tutelar a reconhecida idoneidade moral; idade superior a vinte e um anos e residência no município.

Adolescente, conforme bem destacado por Liberati e Cyrino242:

A execução e o controle das ações deliberadas pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente serão concretizados e perseguidos no Município pelo

Conselho Tutelar, que é um instrumento nas mãos dos cidadãos na tarefa de promover e zelar, fiscalizar, orientar, encaminhar e tomar providências no sentido de impedir que crianças e adolescentes sejam abandonados, privados do convívio social, explorados, negligenciados, discriminados, vítimas de violência etc.

O Conselho Tutelar, encarregado de receber denúncias acerca de ilegalidades praticadas em detrimento dos direitos das crianças e adolescentes, é o órgão conhecedor das áreas mais vulneráveis na cidade onde exerce suas funções, devendo, assim, fiscalizar a atuação dos Conselhos de Direitos no que se refere ao controle e deliberação das políticas públicas infanto-juvenis. Como órgão integrante do Sistema de Garantia de Direitos mais próximos da comunidade, o Conselho Tutelar deve demonstrar para os demais atores do SGD a real situação de crianças e adolescentes que se encontrem em situação de vulnerabilidade, isso através da apresentação de dados estatísticos relativos aos atendimentos.

No que se refere às políticas públicas básicas, merecem destaque as colocações de Liberati e Cyrino no sentido de que “o Conselho Tutelar, como representante da comunidade na Administração municipal e como órgão de atendimento de crianças, jovens e suas famílias, tem melhores condições de indicar ao Executivo municipal as deficiências de atendimento dos serviços públicos, oferecendo subsídios para o seu aperfeiçoamento”243, facilitando, inclusive, o trabalho do CMDCA ao efetuar o controle das referidas políticas públicas.

Demonstrada a importância do Conselho Tutelar em fornecer dados concretos ao Conselho Municipal de Direitos da Criança e Adolescente, bem como ao Executivo, no sentido de concretizar as políticas públicas de que são credoras as crianças e adolescentes, será elaborado o plano de atuação prática dessa “instituição de direito público, de âmbito municipal, com características de estabilidade e independência funcional, desprovida de personalidade jurídica, que participa do conjunto das instituições brasileiras, estando, portanto, subordinada às leis vigentes no país”244.

242 CYRINO, Públio Caio Bessa. LIBERATI, Wilson Donizete. Op. cit.,. p. 136. 243 Ibidem, p. 194.

3.4.2 Plano de atuação prática

Ao elaborar um plano de atuação prática relativo ao Conselho Tutelar, importa deixar claro que o órgão é o primeiro a ser procurado pela população para apuração de situação violadora de direitos infanto-juvenis, bem como para que seja solucionado o problema administrativamente, o que torna imprescindível a existência de um local de atendimento condigno com as funções do Conselho Tutelar, de acordo com o art. 134 do ECA. Para cumprir com o seu dever o Conselho Tutelar deve elaborar um cronograma de funcionamento do órgão por 24h (vinte e quatro horas), mediante a utilização do sistema de plantão, devendo a lei municipal dispor sobre local, dias e horários de funcionamento, inclusive quanto a remuneração dos conselheiros.

Assim, a primeira ação dos Conselhos Tutelares no sentido de concretizar os direitos das crianças e adolescentes é lutar para garantir ao cidadão um local digno para atendimento e acolhimento245, mesmo que temporário, de crianças e adolescentes vítimas de violação de direitos, ressaltando que além das atribuições administrativas descritas no art. 136 do ECA, o Conselho Tutelar, como lugar de exercício de “poder político”, deve lutar pela garantia de recursos necessários ao seu funcionamento, apresentando os dados estatísticos e as condições reais de trabalho ao Município, bem como ao Ministério Público, Defensoria Pública e Associações que incluam como objetivos a garantia dos direitos infanto-juvenis, que deverão tomar as medidas cabíveis em caso de inobservância, por parte dos Municípios, do estabelecido no parágrafo único no art. 134 do ECA246.

Fica clara, portanto, a necessidade da existência de Conselhos Tutelares localizados em espaços que incentivem o comparecimento da população com o fim de formular denúncias e, também, buscar orientações no que se refere aos direitos infanto-juvenis. Deve o Conselho Tutelar estar bem aparelhado, com computadores conectados à internet, veículo disponível durante 24h (vinte e quatro) horas, máquinas fotográficas e filmadoras, dentre outros tipos de equipamentos necessários ao trabalho cotidiano, devendo ser garantida uma remuneração digna aos conselheiros, isso como forma de possibilitar uma dedicação exclusiva por parte dos representantes do povo na concretização dos direitos infanto-juvenis.

245 O acolhimento ora referido é apenas nos momentos em que o atendimento está acontecendo, eis que em caso de necessidade de acolhimento institucional, nos termos do parágrafo único do art. 136, o Conselho Tutelar deve comunicar o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família.

Nesses termos, como segunda linha de atuação no plano ideal pela garantia dos direitos das crianças e adolescentes, devem os conselheiros tutelares lutar por melhores condições de trabalho e remuneração, mediante a representação aos legitimados para o ajuizamento de ações civis públicas, por exemplo, para que estes possam tomar as medidas legais cabíveis com o escopo de compelir o município a cumprir com suas obrigações legais. Ressalte-se, porém, que devem os conselheiros ter o devido cuidado no exercício das suas verdadeiras funções, eis que a luta por melhores condições de trabalho sem o cumprimento das atribuições legalmente existentes pode representar o enfraquecimento do Conselho Tutelar, como bem observou Nogueira Neto:

O perigo é quando conselheiros tutelares se esquecem do papel político, da missão maior do conselho e se reduzem a uma luta corporativa para criar melhores condições de trabalho para si, colocando a atividade-meio acima da atividade finalística. O fortalecimento burocrático dos conselhos tutelares depende visceralmente de que tenham uma estrutura organizacional pública que lhes dê apoio administrativo.247

Garantida a existência de um local digno para atendimento e acolhimento, mesmo que temporário, de crianças e adolescentes vítimas de violação de direitos, bem como de condições de trabalho e remuneração para os conselheiros tutelares, devem estes manter os bancos de dados estatísticos sempre atualizados, com o envio de relatórios mensais aos Poderes Executivo e Legislativo, bem como aos Conselhos de Direitos, devendo, também, os representantes do Conselho Tutelar comparecer a todas as audiências públicas que tratem de políticas públicas infanto-juvenis, com o escopo de expor a real situação do Conselho Tutelar, especialmente no que se refere aos dados estatísticos relativos às ocorrências verificadas no referido órgão.