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3.3 CONSELHOS DE DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE

3.3.2 Plano de atuação prática: Conselhos Municipais de Direitos da Criança

Inicialmente importa deixar bem claro que ao mesmo tempo em que a Lei n° 8.069/90 (ECA) exigiu a estruturação dos Conselhos de Direitos da Criança e Adolescente para a formulação e controle de políticas públicas, suas decisões passaram a ser verdadeiras manifestações estatais de mérito, adotadas por um órgão público, visando o interesse público. Assim, devem os Conselhos acompanhar, fiscalizar e opinar durante a elaboração do Plano Plurianual (PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA), bem como a execução do Orçamento229. Os conselhos devem estabelecer as diretrizes a seguir por parte dos entes da federação, com a elaboração dos Planos de Ação e Aplicação, tudo com o objetivo de concretizar a promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente.

Nesse intento de discutir e deliberar o rumo da política pública infanto-juvenil, devem os Conselhos de Direitos elaborar um diagnóstico da situação das crianças e adolescentes de determinado município, para em seguida partir para a elaboração do Plano de Ação e, finalizando o primeiro ciclo, do Plano de Aplicação, isso nos prazos referidos tópico

229 Inclusive com a possibilidade de participar ativamente na seleção das entidades, governamentais e não governamentais, responsáveis pela execução das políticas públicas concretizadoras dos direitos infanto- juvenis.

denominado “plano de atuação prática dos Municípios – cronograma”, onde são estabelecidos todos prazos para apresentação dos Planos de Ação e Aplicação.

Caso não sejam obedecidas as deliberações estabelecidas nos Planos de Ação e Aplicação, no que se refere às leis orçamentárias, devem os Conselhos de Direitos apresentar representação ao Ministério Público, à Defensoria Pública ou mesmo às entidades que incluem entre os seus fins a tutela dos direitos infanto-juvenis, isso com o objetivo de ser ajuizada a medida cabível com o fim de concretizar o estabelecido pelos Conselhos através de resolução.

Para facilitar a elaboração do presente plano de atuação prática, o Município de Jucurutu, localizado no Estado do Rio Grande do Norte, será utilizado de forma exemplificativa para a elaboração prática dos caminhos a seguir por parte do CMDCA. Destaque-se que o Conselho deverá estar dotado de recursos humanos e estrutura técnica, administrativa e institucional necessários ao adequado e ininterrupto funcionamento, tudo nos termos da Resolução do CONANDA n° 105 de 15 de junho de 2005.

Caso o Conselho de Direitos não esteja dotado da estrutura necessária, nos termos da resolução do CONANDA referida, deve ser oferecida representação, mais uma vez, às entidades com legitimidade para o ajuizamento de ações, como a ação civil pública230, com o fim de compelir ao Poder Público a dotar o Conselho de Direitos da estrutura necessária para o exercício de suas funções.

Dessa forma, preliminarmente, o Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente deverá elaborar o diagnóstico da situação da infância e juventude de determinado município, com o objetivo de integrar o Plano de Ação. Para facilitar a compreensão, importa conceituar o diagnóstico como um instrumento esclarecedor da situação de determinado município, indicando os setores mais vulneráveis e que necessitam de maior atenção, como forma de orientar o Poder Executivo na alocação de recursos orçamentários suficientes para o desenvolvimento de políticas públicas capazes de modificar positivamente a situação das crianças e adolescentes referidas no diagnóstico.

Na situação hipotética referente ao município de Jucurutu, restou constatado no diagnóstico que inexistiam estrutura física e de pessoal para o acompanhamento das medidas socioeducativas; os conselheiros de direitos em sua maioria não compreendiam as funções dos Conselhos dos Direitos das Crianças e Adolescentes; o Conselho Tutelar não estava dotado de

230 Em regra, o Ministério Público é a única entidade que tem exercido a sua obrigação legal de defender, em Juízo, os direitos das crianças e adolescentes.

estrutura física e material para o atendimento da sociedade, tendo ficado constatada, como principal problema violador dos direitos dos pequenos, a crítica situação vivida pelas crianças e adolescentes envolvidos com drogas, principalmente o crack. Ficou constatada, também, a omissão do Poder Público em várias outras áreas, como, por exemplo, no caso de acesso à cultura.

Diante de tal situação, o Conselho de Direitos, através de Resolução, deve elaborar o Plano de Ação231, definindo os objetivos e metas a alcançar, com destaque para as prioridades definidas pelo referido órgão. No caso hipotético do município de Jucurutu foi elaborado o Plano de Ação, com os seguintes objetivos e metas:

a) organizar a estrutura física e de pessoal para o acompanhamento das medidas socioeducativas, em âmbito municipal;

b) capacitar os conselheiros de direitos para que os mesmos possam compreender as funções dos Conselhos de Direitos;

c) estruturar o Conselho Tutelar, inclusive no que se refere à organização do local para atendimento da população;

d) implementar políticas públicas de apoio às crianças, adolescentes e famílias envolvidos com o uso de drogas;

e) implementar políticas públicas de apoio à cultura.

Após a elaboração do Plano de Ação, com a definição de metas e objetivos, deve o referido plano, juntamente com o diagnóstico, ser entregue ao Poder Executivo pelo menos dois meses232 antes do Projeto de Plano Plurianual ser encaminhado ao Legislativo por parte do Executivo. Como o prazo para o encaminhamento pelo Executivo ao Legislativo é de quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro do mandato (31 de agosto de 2013 – mandato 2013/2016)233, deve o Plano de Ação ser encaminhado ao Executivo dois meses antes do citado prazo (30 de junho de 2013 – mandato 2013/2016).

Ressalte-se, por oportuno, que além do encaminhamento anterior à elaboração do Plano Plurianual, deve o Plano de Ação ser enviado anualmente ao Executivo, pelo menos

231 O Plano de Ação é mais abstrato que o Plano de Aplicação, ou seja, é o documento que define os objetivos e metas da política de atendimento infanto-juvenil, de acordo com as deliberações do Conselho de Direitos respectivo, devendo no referido documento ser especificas as prioridades de determinada comunidade, com a inclusão de todas as necessidades do público infanto-juvenil de determinado município, por exemplo.

232 Não existe previsão legal, mas dois meses é um prazo suficiente para que o Executivo inclua no Plano Plurianual o que foi deliberado pelo Conselho de Direitos, através de resolução.

dois meses antes de 15 de abril de cada ano234 (prazo final de envio ao Legislativo, pelo Executivo, da Lei de Diretrizes Orçamentárias), ou seja, anualmente deve o Conselho de Direitos enviar o Plano de Ação até o dia 15 de fevereiro de cada ano235, isso como forma de possibilitar ao Executivo a inclusão das diretrizes estabelecidas no Plano de Ação na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Após a sanção da Lei de Diretrizes Orçamentárias, deve o Conselho de Direitos elaborar o Plano de Aplicação236, com a deliberação de quais as políticas públicas deverão ser incluídas na Lei Orçamentária Anual (LOA), indicando as fontes de receita, de acordo com os recursos previstos na LDO. Importa esclarecer que a LDO deve prever todas as receitas e despesas públicas programadas, para após ter conhecimento de tais números, o Conselho de Direitos elaborar o Plano de Aplicação.

No caso hipotético do município de Jucurutu, o Conselho de Direitos, após conhecimento de que R$ 900.000,00 (novecentos mil reais) estavam destinados ao atendimento de políticas públicas intersetoriais concretizadoras dos direitos das crianças e adolescentes (Fundo da Infância e Adolescência), deliberou que os recursos indicados na Lei das Diretrizes Orçamentárias deveriam ser aplicados da seguinte forma, de acordo com as prioridades:

a) implementar políticas públicas de apoio às crianças, adolescentes e famílias envolvidos com o uso de drogas – atendimento de projetos esportivos sociais e criação de política de apoio, R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais);

b) organizar a estrutura física e de pessoal para o acompanhamento das medidas socioeducativas – ampliação e/ou reforma de unidade de atendimento a adolescentes em conflito com a lei (semiliberdade, liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade), R$ 300.000,00 (trezentos mil reais);

c) estruturar o Conselho Tutelar, inclusive no que se refere à organização do local para atendimento à população – aquisição de equipamentos e material permanente para os Conselhos Tutelares, objetivando a Implantação do SIPIA (Sistema de Informação Para a Infância e Adolescência), R$ 100.000,00 (cem mil reais);

234 De acordo com o art. 35, §2°, II, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

235 Não existe previsão legal, mas dois meses é um prazo suficiente para que o Executivo inclua na Lei de Diretrizes Orçamentárias o que foi deliberado pelo Conselho de Direitos, através de resolução.

236 O Plano de Aplicação, de natureza técnica, é um documento mais complexo e completo de planejamento, onde o Conselho de Direitos, após tomar conhecimento da Lei de Diretrizes Orçamentárias, delibera quais as políticas públicas que deverão ser incluídas na Lei Orçamentária Anual, indicando as fontes de receita, de acordo com os recursos previstos na LDO.

d) capacitar os conselheiros de direitos e tutelares para que os mesmos possam compreender as funções dos Conselhos de Direitos e Tutelares – capacitação e produção de material didático destinados aos conselheiros de direitos e tutelares, sobre o SIPIA, bem como acerca das funções do Conselho Municipal de Direitos da Criança e Adolescente – CMDCA e Conselho Tutelar, R$ 60.000,00 (sessenta mil reais);

e) implementar políticas públicas de apoio à cultura – atendimento de projetos culturais de música – Fundação da Filarmônica de Jucurutu, R$ 40.000,00 (quarenta mil reais).

Finalizado o Plano de Aplicação de acordo com os critérios definidos acima, deve o mesmo ser encaminhado ao Poder Executivo, até 31 de julho de cada ano237, ou seja, um mês antes de 31 de agosto238, prazo que tem o Executivo para encaminhar ao Legislativo a Lei Orçamentária Anual.

Após o cumprimento do papel dos Conselhos de Direitos da Criança e Adolescente no sentido de garantir a concretização dos direitos fundamentais infanto-juvenis com as elaborações dos Planos de Ação e Aplicação, bem como com a efetiva participação na elaboração do Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual, importa ressaltar que caso as deliberações oriundas dos Conselhos não forem obedecidas pelo Executivo e Legislativo, deve ser o fato imediatamente comunicado ao Ministério Público ou mesmo à Defensoria Pública, com o fim de adotar as medidas necessárias para a concretização dos direitos das crianças e adolescentes, eis que o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento pacífico no sentido de que as deliberações dos Conselhos de Direitos têm caráter vinculativo239.

237 Não existe previsão legal, mas dois meses é um prazo suficiente para que o Executivo inclua na Lei de Diretrizes Orçamentárias o que foi deliberado pelo Conselho de Direitos, através de resolução.

238 De acordo com o art. 35, §2°, III, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

239 ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – ATO ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO: NOVA VISÃO. 1. Na atualidade, o império da lei e o seu controle, a cargo do Judiciário, autoriza que se examinem, inclusive, as razões de conveniência e oportunidade do administrador. 2. Legitimidade do Ministério Público para exigir do Município a execução de política específica, a qual se tornou obrigatória por meio de resolução do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. 3. Tutela específica para que seja incluída verba no próximo orçamento, a fim de atender a propostas políticas certas e determinadas. 4. Recurso especial provido. (Resp 493.811/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/11/2003, DJ 15/03/2004, p. 236).