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2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS: COMPREENSÃO GERAL

2.2.1 Políticas Públicas como instrumento de concretização dos Direitos

2.2.1.2 Processo de discussão, deliberação e escolha das Políticas Públicas:

2.2.1.2.2 Procedimento prático de discussão e deliberação das políticas

Inicialmente importa deixar bem claro que na medida em que a Lei n° 8.069/90 (ECA) exigiu a estruturação dos Conselhos de Direitos da Criança e Adolescente para a formulação e controle de políticas públicas, suas decisões serão verdadeiras manifestações estatais de mérito, adotadas por um órgão público, visando interesse público. Assim, a escolha ou opção pública, discricionariedade administrativa, no que se refere à deliberação das políticas públicas garantidoras dos direitos infanto-juvenis, foi integralmente transferida dos Poderes Executivo e Legislativo para os Conselhos de Direitos, não podendo os integrantes dos referidos poderes interferir no mérito relativo às deliberações dos Conselhos de Direitos.

Com a transferência do local de formulação e controle de políticas públicas para os Conselhos de Direitos, através do Estatuto da Criança e Adolescente, foi criado pela Lei nº 8.242, de 12 de outubro de 1991 o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA163, em obediência ao estabelecido no art. 88, inciso II, da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - ECA, sendo, portanto, considerado como órgão deliberativo e controlador da política de promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente em âmbito nacional.

Devem os Conselhos nacional, estaduais, distrital e municipais, acompanhar a

162 Ibidem, p. 88.

163 Em razão do princípio da simetria, que deve ser aplicado na Administração Pública, as diretrizes relativas ao Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e Adolescentes devem ser obedecidas também em âmbito estadual e municipal, ficando claro, portanto, que a legislação criadora dos Conselhos em âmbito estadual e municipal deve usar como parâmetro a nacional, com as adaptações relativas à especificidade de cada ente da

elaboração do Plano Plurianual (PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA), bem como a execução do Orçamento, com o estabelecimento das diretrizes a seguir de acordo com o Plano de Ação e Plano de Aplicação, tudo com o objetivo de concretizar a promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente. Ressalte-se, por oportuno, que a obediência às diretrizes dos Conselhos de Direitos, que visam estabelecer as políticas públicas concretizadoras dos direitos das crianças e adolescentes, não é ato discricionário da Administração Pública, mas sim obrigação legal, de acordo com os princípios da participação e exigibilidade, como destacado por Edson Sêda:

O Estatuto não parte da ideia de que essas políticas atendam a esses beneficiários da norma constitucional “se quiserem”. Não! Parte de dois princípios: 1) o da participação – pelo qual o cidadão tem em suas mãos o poder constitucional de cobrar, pela via administrativa ou pela via judicial, que as políticas públicas cumpram com o seu dever; 2) o da exigibilidade – pelo qual essa cobrança, por essas duas vias, torna exigível que a autoridade em situação irregular (peticionada por um cidadão ou uma entidade representativa; requisitada pelo Conselho Tutelar ou sentenciada pela autoridade judiciária) corrija o rumo dessa política, seja pela via do

caso a caso, seja através de medidas de ordem geral que alterem o rumo subsequente da política falha ou inexistente.164

Nesse intento de discutir e deliberar o rumo da política pública infanto-juvenil, devem os Conselhos de Direitos elaborar um diagnóstico da situação das crianças e adolescentes de determinado município, para em seguida partir para a elaboração do Plano de Ação e, finalizando o primeiro ciclo, do Plano de Aplicação. Para facilitar o presente estudo, o Município de Jucurutu, localizado no Estado do Rio Grande do Norte, será utilizado de forma imaginária, para a elaboração prática dos caminhos a seguir por parte dos municípios brasileiros, ressaltando, porém, que nos termos da Resolução do CONANDA n° 105 de 15 de junho de 2005, em seu art. 4°, caput, cabe à administração pública, no nível correspondente, fornecer recursos humanos e estrutura técnica, administrativa e institucional necessários ao adequado e ininterrupto funcionamento do Conselho de Direitos, devendo para tanto instituir dotação orçamentária específica sem ônus para o Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Destaque-se, ainda, que nos termos dos §§ 1° e 2° da referida resolução, a dotação orçamentária a que se refere o caput do art. 4° deverá contemplar os recursos necessários ao custeio das atividades desempenhadas pelo Conselho dos Direitos da Criança e do

Federação.

Adolescente, inclusive para as despesas com capacitação dos conselheiros, devendo os Conselhos contar com todos os recursos necessários e espaço físico adequado para o seu regular funcionamento, cuja localização será amplamente divulgada.

Dotado de recursos humanos e estrutura técnica, administrativa e institucional necessários ao adequado e ininterrupto funcionamento, o Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente deverá elaborar o diagnóstico da situação da infância e juventude de determinado município, com o objetivo de integrar o Plano de Ação elaborado pelo Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente. Para facilitar a compreensão, importa conceituar o diagnóstico como um instrumento esclarecedor da situação de determinado município, indicando os setores mais vulneráveis e que necessitam de maior atenção, como forma de orientar o Poder Executivo na alocação de recursos orçamentários suficientes para o desenvolvimento de políticas públicas capazes de modificar positivamente a situação das crianças e adolescentes referidas no diagnóstico.

Na situação hipotética referente ao município de Jucurutu, restou constatado no diagnóstico que inexistiam estrutura física e de pessoal para o acompanhamento das medidas socioeducativas; os conselheiros de direitos em sua maioria não compreendiam as funções dos Conselhos dos Direitos das Crianças e Adolescentes; o Conselho Tutelar não estava dotado de estrutura física e material para o atendimento da sociedade, tendo ficado constatada, como principal problema violador dos direitos dos pequenos, a crítica situação vivida pelas crianças e adolescentes envolvidos com drogas, principalmente o crack. Ficou constatada, também, a omissão do Poder Público em várias outras áreas, como, por exemplo, no caso de acesso à cultura.

Diante de tal situação, o Conselho de Direitos, através de Resolução, deve elaborar o Plano de Ação165, definindo os objetivos e metas a alcançar, ressaltando as prioridades definidas pelo referido órgão. No caso hipotético do município de Jucurutu, foi elaborado o Plano de Ação, com os seguintes objetivos e metas: a) organizar a estrutura física e de pessoal para o acompanhamento das medidas socioeducativas; b) capacitar os conselheiros de direitos para que os mesmos possam compreender as funções dos Conselhos de Direitos; c) estruturar o Conselho Tutelar, inclusive no que se refere à organização do local para atendimento da população; d) implementar políticas públicas de apoio às crianças, adolescentes e famílias

165 O Plano de Ação é mais abstrato que o Plano de Aplicação, ou seja, é o documento que define os objetivos e metas da política de atendimento infanto-juvenil, de acordo com as deliberações do Conselho de Direitos respectivo, devendo no referido documento ser especificas as prioridades de determinada comunidade, com a inclusão de todas as necessidades do público infanto-juvenil de determinado município, por exemplo.

envolvidos com o uso de drogas; e) implementar políticas públicas de apoio à cultura.

Após a elaboração do Plano de Ação, com a definição de metas e objetivos, deve o mesmo, juntamente com o diagnóstico, ser encaminhado ao Poder Executivo pelo menos dois meses166 antes do Projeto de Plano Plurianual ser encaminhado ao Legislativo por parte do Executivo. Como o prazo para o encaminhamento pelo Executivo ao Legislativo é de quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro do mandato (31 de agosto de 2013 – mandato 2013/2016)167, deve o Plano de Ação ser encaminhado ao Executivo dois meses antes do citado prazo (30 de junho de 2013 – mandato 2013/2016).

Ressalte-se, por oportuno, que além do encaminhamento anterior à elaboração do Plano Plurianual, deve o Plano de Ação ser enviado anualmente ao Executivo, pelo menos dois meses antes de 15 de abril de cada ano168 (prazo final de envio ao Legislativo, pelo Executivo, da Lei de Diretrizes Orçamentárias). Dessa forma, anualmente deve o Conselho de Direitos enviar o Plano de Ação, também até o dia 15 de fevereiro de cada ano169, isso como forma de possibilitar ao Executivo a inclusão das diretrizes estabelecidas no Plano de Ação, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Após a sanção da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), deve o Conselho de Direitos elaborar o Plano de Aplicação170, com a deliberação de quais as políticas públicas deverão ser incluídas na Lei Orçamentária Anual (LOA), indicando as fontes de receita, de acordo com os recursos previstos na LDO. Importa esclarecer que a LDO deve prever todas as receitas e despesas públicas programadas, para após ter conhecimento de tais números, o Conselho de Direitos elaborar o Plano de Aplicação.

No caso hipotético do município de Jucurutu, o Conselho de Direitos, após conhecimento de que R$ 900.000,00 (novecentos mil reais) estavam destinados ao atendimento de políticas públicas intersetoriais concretizadoras dos direitos das crianças e adolescentes (Fundo da Infância e Adolescência), deliberou que os recursos indicados na Lei das Diretrizes Orçamentárias deveriam ser aplicados da seguinte forma, de acordo com as prioridades:

166 Não existe previsão legal, mas dois meses é um prazo suficiente para que o Executivo inclua no Plano Plurianual o que foi deliberado pelo Conselho de Direitos, através de resolução.

167 De acordo com o art. 35, §2°, I, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. 168 De acordo com o art. 35, §2°, II, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

169 Não existe previsão legal, mas dois meses é um prazo suficiente para que o Executivo inclua na Lei de Diretrizes Orçamentárias o que foi deliberado pelo Conselho de Direitos, através de resolução.

170 O Plano de Aplicação, de natureza técnica, é um documento mais complexo e completo de planejamento, onde o Conselho de Direitos, após tomar conhecimento da Lei de Diretrizes Orçamentárias, delibera quais as políticas públicas que deverão ser incluídas na Lei Orçamentária Anual, indicando as fontes de receita, de

a) implementar políticas públicas de apoio às crianças, adolescentes e famílias envolvidos com o uso de drogas – atendimento de projetos esportivos sociais e criação de política de apoio, R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais);

b) organizar a estrutura física e de pessoal para o acompanhamento das medidas socioeducativas – ampliação e/ou reforma de unidade de atendimento a adolescentes em conflito com a lei (semiliberdade, liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade), R$ 300.000,00 (trezentos mil reais);

c) estruturar o Conselho Tutelar, inclusive no que se refere à organização do local para atendimento à população – aquisição de equipamentos e material permanente para os Conselhos Tutelares, objetivando a Implantação do SIPIA (Sistema de Informação Para a Infância e Adolescência), R$ 100.000,00 (cem mil reais);

d) capacitar os conselheiros de direitos e tutelares para que os mesmos possam compreender as funções dos Conselhos de Direitos e Tutelares – capacitação e produção de material didático destinados aos conselheiros de direitos e tutelares, sobre o SIPIA, bem como acerca das funções do Conselho Municipal de Direitos da Criança e Adolescente (CMDCA) e Conselho Tutelar, R$ 60.000,00 (sessenta mil reais);

e) implementar políticas públicas de apoio à cultura – atendimento de projetos culturais de música – Fundação da Filarmônica de Jucurutu, R$ 40.000,00 (quarenta mil reais).

Finalizado o Plano de Aplicação de acordo com os critérios definidos acima, deve o mesmo ser encaminhado ao Poder Executivo, até 30 de junho de cada ano171, ou seja, dois meses antes de 31 de agosto172, prazo que tem o Executivo para encaminhar ao Legislativo a Lei Orçamentária Anual, que nos termos do art. 2° da Lei n° 4.320/64, conterá discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo.

Após o cumprimento do papel dos Conselhos de Direitos da Criança e Adolescente no sentido de garantir a concretização dos direitos fundamentais infanto-juvenis com as elaborações dos Planos de Ação e Aplicação, bem como acompanhamento da formulação do Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual, importa analisar a forma de escolha das políticas públicas garantidoras dos direitos infanto-juvenis.

acordo com os recursos previstos na LDO.

171 Não existe previsão legal, mas dois meses é um prazo suficiente para que o Executivo inclua na Lei de Diretrizes Orçamentárias o que foi deliberado pelo Conselho de Direitos, através de resolução.

2.2.1.2.3 Processo de escolha das políticas públicas garantidoras dos direitos das