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3.1. A falta de preenchimento das condições de entrada elencadas pelo artigo 6.º, por parte de um não beneficiário da liberdade de circulação ao abrigo do direito da União, não acarreta forçosamente a recusa de entrada – que constitui a regra geral – em três hipóteses previstas pelo n.º 5, do mesmo artigo, em termos taxativos.

A primeira verifica-se quando o nacional de país terceiro não beneficiário daquela liberdade estiver na posse de um título de residência ou de um visto de longa duração emitido por um Estado-Membro. Nesta hipótese, a entrada deve ser-lhe autorizada nos Estados- Membros de trânsito, para que possa alcançar o território do Estado-Membro que lhe emitiu um daqueles documentos27, excepto se o seu nome constar da lista nacional de pessoas indicadas, estabelecida pelo Estado-Membro cujas fronteiras externas pretenda passar, e a indicação correspondente for acompanhada de instruções no sentido de recusa de entrada ou de trânsito [alínea a)]28.

27 E também para alcançar os territórios da Suíça e do Liechtenstein, cujas autorizações de residência emitidas a favor dos nacionais de países terceiros sujeitos à obrigação de visto e identificadas pela Decisão n.º 896/2006/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de Junho, devem ser consideradas vistos de trânsito pelo território dos Estados-Membros, válidos por cinco dias. E isto mesmo antes da integração daqueles dois Estados terceiros no espaço regido pelo artigo 77.º, n.º 1, alínea a), do TFUE. Ver, no mesmo sentido, o acórdão do TJ de 2 de Abril de 2009, Rafet Kqiku, C- 139/08, n.º 31.

28 Na versão do CFS anterior a 2013, a disposição desta alínea incluía entre os documentos cuja posse deveria permitir a entrada no território dos Estados-Membros ao nacional de país terceiro que não preenchesse todas as condições previstas pelo artigo 6.º, n.º 1, o “visto de regresso”. Em acórdão

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Sendo este o caso, afigurar-se-ia, porém, mais consentâneo, designadamente com o princípio do reconhecimento mútuo dos documentos emitidos pelos Estados-Membros no contexto em análise e devidamente publicitados junto dos restantes, que a posse, pelo nacional de país terceiro em causa, de um título de residência ou de um visto de longa duração emitidos pelo Estado-Membro para onde pretende dirigir-se constituísse fundamento bastante para o Estado-Membro de trânsito não lhe aplicar, excepcionalmente, as “instruções no sentido de recusa de entrada ou de trânsito”. Consequentemente, na alínea a), do n.º 5, do artigo 6.º, onde se lê “excepto se os seus nomes constarem da lista nacional de pessoas indicadas do Estado-Membro cujas fronteiras externas pretendam passar e a indicação correspondente for acompanhada de instruções no sentido de recusa de entrada ou de trânsito”, deveria ler-se: “mesmo que os seus nomes constem da lista nacional de pessoas indicadas (…) e a indicação correspondente esteja acompanhada de instruções (…)”.

3.2. A segunda hipótese em que a falta de preenchimento de todas as condições de entrada não acarreta a recusa de entrada é aquela em que o nacional do país terceiro não beneficiário da liberdade de circulação ao abrigo do direito da União obtém o visto de curta duração que lhe faltava para “entrar no território dos Estados-Membros”, não no posto consular do seu país de origem, mas na fronteira externa, nos termos do Código de Vistos. Só não se percebe é porque, nessa hipótese, o artigo 6.º, n.º 5, alínea b), utiliza a fórmula “podem

de 14 de Junho de 2012, ANAFE, C-606/10, o TJ, depois de definir tal visto como a autorização emitida por um Estado-Membro ao nacional de país terceiro que não disponha de título de residência, nem de visto, nem de visto com validade territorial limitada, na acepção do Código de Vistos, susceptível de lhe permitir “sair desse Estado-Membro com um determinado objectivo e regressar de seguida a esse mesmo Estado”, decidiu que o então artigo 5.º, n.º 4, alínea a), do CFS devia ser interpretado no sentido de que o Estado-Membro que emite a um nacional de país terceiro um visto de regresso na acepção desta disposição não pode limitar a sua validade unicamente aos postos fronteiriços situados no seu próprio território, com exclusão dos outros Estados-Membros (n.ºs 52 e 56). Em sentido contrário pronunciou-se a advogada-geral VERICA TRSTENJAK, em conclusões apresentadas em 29 de Novembro de 2011 no mesmo processo, com o fundamento de que a disposição em causa “não impõe qualquer obrigação aos Estados-Membros no sentido de autorizar a reentrada através das suas fronteiras externas ou internas”. Esta tese, para além de não encontrar suporte na letra da mesma disposição, na versão então em vigor, não resiste à sua interpretação sistemática e teleológica (ver n.ºs 31 segs. e especialmente n.ºs 40 e 48 das referidas conclusões). O próprio TJ rebate implicitamente a tese da advogada-geral, ao salientar no n.º 35 do acórdão que, na medida em que o CFS suprimiu as verificações de pessoas nas fronteiras internas e deslocou os controlos fronteiriços para as fronteiras externas, as suas disposições relativas à recusa de entrada são, em princípio, aplicáveis a todos os movimentos transfronteiriços de pessoas, mesmo nos casos em que a entrada pelas fronteiras externas de um Estado-Membro vise unicamente a residência neste último.

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ser autorizados a entrar” em vez de “são autorizados a entrar”, como na alínea a). Não se vê fundamento bastante para tal diferenciação.

3.3. O nacional de país terceiro que não preencha uma ou várias das condições estabelecidas no n.º 1, do artigo 6.º, do CFS, pode ainda, numa terceira hipótese, ser autorizado por um Estado-Membro a entrar no seu território por motivos humanitários ou de interesse nacional, ou ainda devido a obrigações internacionais”. Se estiver indicado no SIS para efeitos de não admissão, “o Estado-Membro que o autoriza a entrar no seu território informa desse facto os demais Estados-Membros” [alínea c)].

Nesta hipótese, o nacional de país terceiro terá a sua autorização de permanência obviamente limitada ao Estado-Membro que o acolheu, não podendo circular nos restantes para estadas de curta duração.

4. O “controlo pormenorizado” dos não beneficiários da liberdade de circulação ao

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