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Considerações sobre o aprender

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2 Métodos e Estratégias Pedagógicas

2.2 Principais Bases Teóricas que fundamentam a Educação a Distância

2.2.5 Considerações sobre o aprender

Nesta chamada Sociedade do Conhecimento, ou Era da Informação e da Comunicação, em que vemos pessoas trocando informações o tempo todo e aprendendo em um ritmo bastante acelerado, por diversos canais, não podemos conceber uma a educação unilateral, passiva e repetitiva.

McLuhan (1972) já previa o fim da linearidade na comunicação e na educação e a formação de uma “aldeia global”, onde o individual seria transformado em coletivo.

Para ele, quando a televisão passou a transformar a comunicação, superou o advento da imprensa, negando a fragmentação da psique humana e a secção do conhecimento e dos sentidos pela impressão, e dando lugar a uma experiência unificada e audiotátil.

Citando seus filhos, já falava em uma geração que fazia várias coisas ao mesmo tempo e que não suportaria uma escola tradicional, com professores

gutenberguianos71 e conhecimentos fragmentados.

Para ele, a tecnologia é uma extensão do corpo, que o molda e o afeta; e com

o fim de especialismos lineares e fixos pontos de vista, o conhecimento compartimentado tornou-se tão inaceitável, quanto sempre fora antes irrelevante.

(MCLUHAN, 1972, p.341)

A educação atual deve promover a essa nova geração de estudantes, uma aprendizagem global e significativa, que ocorra a qualquer tempo, de maneira interativa, em um movimento constante entre o individual e o coletivo.

Os jovens de hoje utilizam o celular e a internet como parte de suas ações cotidianas e ao mesmo tempo em que são atores do processo, são também autores, já que a WEB 2.0 permite a produção de conteúdos e o compartilhamento de informações em tempo real.

Esta realidade favorece a interação entre as pessoas, que aprendem e ensinam a qualquer tempo, de maneira extremamente rápida e dinâmica.

Se pensarmos em um sujeito, que vive nesta realidade dinâmica e interativa, sabemos que dificilmente ele irá aceitar apenas receber informações que sejam desconectadas da sua realidade e pouco úteis, de uma maneira passiva, como os alunos de antigamente, num ensino tradicional e inflexível.

71 Referência à imprensa, invenção de Gutenberg no século XIV, reportando-se à uma geração concentrada na

palavra escrita, a professores que valorizam apenas o impresso, em detrimento de outros canais, de outras experiência sensoriais.

No mundo atual, a informática já faz parte do cotidiano de nossos alunos. Com efeito, a tecnologia está presente nos brinquedos, nas agências bancárias, na TV , no cinema e nos computadores domésticos, levando lazer, serviços, entretenimento e educação. Assim, enquanto usam o computador em seu dia-a-dia, as crianças têm a chance de entrar no mundo da fantasia, superando de forma lúdica as dificuldades de aprendizado dos conceitos de ciências, matemática, física, história etc. Por outro lado, o uso das novas tecnologias permite aos educadores adotarem atitudes não diretivas, aumentando a capacidade criativa dos alunos, tendo em vista que estes passam a caminhar de acordo com sua capacidade de assimilação, escolhendo situações de aprendizagem não delimitadas pelo educador. (Escola do Futuro, USP, 2009)72

Hoje, sabemos que a realidade do aluno precisa estar conectada com a da escola, em uma interação qualitativa, que reconhece a sua leitura de mundo e que produz conhecimento.

Nos dizeres de Belloni (2005, p.27), “talvez ainda sejamos os mesmos

educadores, mas certamente nossos alunos já não são os mesmos (...) tem uma relação diferente com a escola”, e aprendem de maneira diferente.

Reconhecendo esta leitura de mundo, o professor poderá re-significar a aprendizagem de seus alunos, na medida em que utiliza a tecnologia como mediadora entre a sala de aula e o mundo, através de uma comunicação mais aberta e flexível, de uma interatividade mais dinâmica e presente, buscando o desenvolvimento de todas as potencialidades desse educando.

O aluno, por sua vez, precisa ser mais autônomo, ter consciência de sua responsabilidade, como sujeito no processo de aprendizagem, o que nem sempre é fácil, já que nossa cultura é a de que educação só se faz na escola e que o professor é o “condutor oficial” deste processo.

Neste cenário, a escola terá diversos tipos de alunos: aqueles completamente “imersos” na tecnologia, uns com dificuldades e pouco acesso a ela, e ainda outros com resistências e preconceitos, todos com formas muito diversas de aprender. Portanto, além de termos um novo professor, que esteja atento a estas mudanças, precisamos também de um novo aluno, que gerencie a sua aprendizagem, que seja responsável por organizar o seu tempo e que possa “aprender a aprender”, adequando-se a esta nova realidade, tendo uma postura adequada a este (também novo) processo de aprendizagem.

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Citação retirada da página inicial do site da Escola do Futuro da USP. http://futuro.usp.br – Acesso em ago.2009

Em EAD, um conceito bastante difundido atualmente é o de heutagogia, aprendizagem autodirecionada em que o aluno é o gestor e programador de seu processo de aprendizagem – o que nos lembra muito Paulo Freire trazendo a realidade do aluno para dentro do espaço da aprendizagem . A proposta da heutagogia na EAD é que os recursos e tecnologias existentes possibilitem ao aluno essa autonomia no design de sua aprendizagem, contando sempre, é claro, com o suporte de professores especialistas nos assuntos tratados. Espera-se, nesse novo cenário, que o aluno monitore e regule seu próprio estudo. (...) Por isso, as atividades mais importantes, nesse novo modelo de aprendizagem, passam a ser: buscar, encontrar, selecionar e aplicar, e não mais receber e memorizar.” (MAIA e MATTAR, 2007, p.85)

Essa mudança de paradigma, muitas vezes gera algumas resistências nos alunos, principalmente quando a EAD é utilizada como parte de um curso presencial. Nesta situação, a EAD não é uma escolha do aluno e sim uma imposição da instituição, o que dificulta ainda mais o processo.

Na escola tradicional, o aluno muitas vezes recorre ao professor por tudo, por coisas mínimas, que poderia facilmente resolver sozinho. Ele faz isso porque não está acostumado a caminhar de forma autônoma, mas na EAD essa independência é fundamental.

Entretanto, quando o sujeito percebe a riqueza do aprendizado que adquire acrescentando mais autonomia ao processo e ampliando as trocas e construções de maneira colaborativa com seus pares, passa a valorizar muito mais este tipo de ensino. Este reconhecimento e valorização por parte dos alunos já se mostra na grande procura por cursos de graduação a distância.

O Prof Dilvo Ristoff, do INEP, fez um estudo sobre o reconhecimento de alunos de graduação a distância, com relação à qualidade dos cursos e ao aproveitamento dos estudos. Os dados desta pesquisa73, foram apresentados nos gráficos abaixo, publicados no AbraEAD/2008.

73 O anuário apresenta apenas os gráficos e percentuais, mas não informa a amostragem utilizada para esta

Gráfico 4 - Avaliação do currículo feita por alunos de graduação EAD e Presencial.

Como você avalia o currículo do seu curso?

Fonte: AbraEAD2008, p.18

O gráfico mostra que 66,9% dos alunos de EAD consideram que o currículo é bem integrado e há clara vinculação entre as disciplinas, enquanto 51,1% dos alunos do presencial fizeram a mesma consideração.

0 10 20 30 40 50 60 70 EAD Presencial

Gráfico 5 - Horas de estudo semanal informadas por alunos de graduação EAD e Presencial.

Quem estuda mais?

Fonte: AbraEAD2008, p.18

No que tange às horas destinadas ao estudo, 53,9% dos alunos de EAD declararam que estudam mais de 3 horas por semana, em relação a 51% dos alunos do presencial.

Embora não tenhamos dados sobre a amostragem desta pesquisa, ela pode nos indicar a eficiência da educação a distância, na medida em que todos os envolvidos exercem com empenho os seus papéis dentro do processo educacional.

Podemos afirmar que a postura necessária ao educando de hoje é muito diferente de antigamente, pois ele não deve mais esperar a exigência da reprodução de conteúdos prontos e nem ordens inflexíveis em um aprendizado fechado. Esta autonomia de aprendizagem, tão necessária na educação de hoje, irá refletir na sua vida cotidiana, no seu trabalho, na sua forma de organização e em sua tomada de decisões. 49 50 51 52 53 54 EAD Presencial

O homem, ao estar engajado no espaço virtual, que é uma dimensão constitutiva de seu ser, vive uma posição fundamental, que lhe permite captá- lo e transcendê-lo por meio de sua imersão crítica e criadora de textos e relações. A educação, como possibilidade, é uma dimensão constituitiva de seu ser, e está sustentada em uma utopia geral. São elementos básicos para construir essa “trama solidária” ou rede: a linguagem, o diálogo, a

cooperação, a ética, a comunicação, os bens culturais, a biodiversidade, a autonomia, a solidariedade, a libertação e a consciência humana.

O saber-se inacabado e o devir designam o vir-a-ser, o que está em contínuo movimento, o que se converte em algo novo. Nessa dimensão antropológica, as relações sociais, por se darem por correlações de força, estão em

permanente movimento, e o sujeito está em processo de construção. A comunicação, o diálogo e o encontro entre os sujeitos que chegam com suas perguntas, mais que com suas certezas, vão delimitando permanentemente novos espaços de subjetivação e gerando uma cultura particular para a educação acontecer, nesse sentido de possibilidade.

A produção da subjetividade na multiplicidade de devires não é o simples reflexo da objetividade, pois a constituição da subjetividade também é

individual, coletiva, contraditória e, portanto, processual e múltipla. (GOMEZ, 2004, p.92)

Através de uma educação aberta e flexível, o indivíduo passa a atuar ativamente na construção de seus conhecimentos, buscando continuamente o seu “vir a ser”, tornando-se sujeito de suas próprias ações e do seu processo de aprendizagem.

A Educação a Distância traz uma nova concepção de ensinar e aprender, em um contexto de tempo e espaço completamente diferentes do que tínhamos no ensino tradicional.

Moore e Kearley (2007) definem como distância transacional, este novo espaço pedagógico criado pela EAD, que compreende uma nova relação entre os espaços físico e temporal. Assim, professores e alunos podem estar mais ou menos distantes, não pela distância física ou temporal, mas do ponto de vista transacional, ou seja, pelas relações pedagógicas e psicológicas que se estabelecem dentro do ambiente virtual, no contexto dessa nova relação de tempo e espaço.

Neste cenário, o aluno terá melhores resultados na medida em que for mais autônomo. Ele poderá ver e rever os materiais estudados, de acordo com o seu ritmo de estudos, mas vale lembrar que não estará sozinho no processo, pois poderá contar com a intervenção do professor quando precisar.

Para isso, é necessário ter disciplina e motivação, pois em EAD espera-se que o aluno seja o gestor do seu tempo e do seu processo de aprendizagem.

Estudar em rede traz tanto exigências, quanto permissões e o aluno desse novo século, deve saber lidar com esse contexto para desenvolver todas as suas potencialidades.

A Educação a Distância pode romper barreiras geográficas e favorecer uma educação permanente e continuada, que é a premissa para a educação do futuro, em que se estima que o conhecimento será o principal meio de desenvolvimento social e econômico.

Nesse sentido, o principal desafio da EAD é ir muito além da atualização, mas também ensinar a pensar, estimulando a comunicação e a pesquisa; levar o aluno a organizar o seu próprio trabalho, articulando conhecimento e prática, atuando de maneira independente e autônoma.

Em qualquer situação educacional, e muito especialmente em EAD, a aprendizagem efetiva é necessariamente ativa, sabemos disto há muito tempo. (...) embora seja o professor quem realiza o trabalho “observável” de definir e distribuir o currículo, quem realiza a aprendizagem é o aluno. (BELLONI, 2006, p.42).

Pensando no aluno de hoje, que é um ser multitarefa, que realiza muitas coisas ao mesmo tempo e na nossa sociedade, que também está em constante transformação, não podemos deixar de pensar na EAD como uma ferramenta em potencial, que nos permitirá repensar práticas e desenvolver novas formas de ensinar e aprender, que possam atender a estas demandas sociais, de conhecimentos amplos e irrestritos, múltiplas competências, autonomia e trabalho em equipe.

“ Afirmado que o ensino semi-presencial e o ensino a distância exigem maior esforço de aprendizado por parte dos alunos, resulta em que tal modalidade de ensinar acaba por se tornar mais consistente e de qualidade relativamente melhor. O que falta ao aluno brasileiro é o ritmo de aprendizagem, o cumprimento dos horários de estudo e a não satisfação com aquilo que lhe é oferecido como conhecimento básico.”

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Vencendo Resistências na EAD – Uma experiência formativa

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