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Considerações sobre o ensinar

No documento Download/Open (páginas 76-83)

2 Métodos e Estratégias Pedagógicas

2.2 Principais Bases Teóricas que fundamentam a Educação a Distância

2.2.4 Considerações sobre o ensinar

Historicamente, viemos de uma cultura em que o ensinar, sistematizado e inflexível, sempre fundamentou toda a prática educacional.

Tínhamos a figura de um professor, conhecedor de todos os conteúdos necessários e único detentor dos conhecimentos imprescindíveis à boa e completa formação dos indivíduos. Estes conhecimentos deveriam ser transmitidos aos sujeitos, considerados verdadeiras folhas em branco, que deveriam ser preenchidas por “mãos experientes”, de maneira sistemática e eficaz, para que bons resultados fossem alcançados, atingindo assim, os objetivos propostos pela educação formal.

O paradigma tradicional do aprendizado parte do pressuposto de que o indivíduo desenvolve melhor sua atividade como sujeito passivo e espectador

do mundo. O currículo é estabelecido antecipadamente, de modo

linear, seqüencial, e a intencionalidade é expressa com base em objetivos e planos rigidamente estruturados, sem levar em conta a ação do sujeito e sua interação com o objeto, sua capacidade de criar, planejar e executar tarefas. Já uma nova abordagem requer uma nova visão de mundo, uma nova educação e, consequentemente, novos critérios para a elaboração de currículos e o conseqüente aprendizado. Já não se pode partir de existência de certezas, verdades cientificas, estabilidade, previsibilidade, controle externo e ordem como coisas possíveis. (ROSINI, 2007, p.61)

Felizmente, a escola vem sendo transformada, passando a levar em conta todas as especificidades do aprender. Com o passar dos anos e com a evolução tecnológica e social, a prática docente também vem passando por reformulações, para acompanhar este processo de mudança.

Alguns questionamentos surgem com esse novo paradigma: Quais são as características dessa nova escola e desse novo aluno? Como ensinar neste novo cenário?

O professor não é mais o único dono do saber, pois o aluno pode adquirir informações em grande quantidade, através de inúmeros canais de informação e comunicação, em uma velocidade incrível. O sujeito pode, por exemplo, ler inúmeras obras literárias, artigos científicos e outros textos, sem precisar ir a uma biblioteca, bastando para isso, acessar uma biblioteca digital pela internet.

Este sujeito não chega mais à escola “vazio”, esperando passivamente por ser “preenchido” de saberes sistematizados. Ao contrário, já traz consigo uma infinidade de conteúdos e questionamentos, certezas e dúvidas, que precisam de uma direção, uma orientação. Afinal, com esta “avalanche” de informações, muitas vezes o indivíduo não sabe o que fazer com elas e, nesse sentido, o papel de mediação do professor se torna fundamental.

Sabemos que é muito difícil mudar, entregar-se a uma nova prática, mas é imprescindível que se procure vencer as resistências e que se busque uma nova escola para este novo aluno que nos é apresentado.

Neste processo, os sujeitos e a escola devem estar integrados, através de um fazer pedagógico que leve em consideração as diferenças individuais e coletivas, e que busque integrar o sujeito a este novo mundo, globalizado e tecnológico.

Neste contexto, o papel do professor deixa de ser o de mero transmissor de informações e conteúdos, para ser o de um mediador, um orientador, que vai auxiliar e direcionar essas novas aprendizagens.

Ter muita informação não significa ter muito conhecimento ou sabedoria, portanto, o professor é personagem fundamental no processo de aprendizagem, pois vai estimular o seu aluno a refletir sobre tantas informações diferentes e levá-lo a pesquisar, a buscar sentido e a transformar estas informações em novos conhecimentos.

Nesta relação, professor e aluno caminham juntos em busca do conhecer, ensinando e aprendendo mutuamente, trocando informações e experiências e construindo colaborativamente, o que os levará a novas experiências e a novas aprendizagens.

Procuramos apresentar aqui, o contexto da educação atual, para refletirmos um pouco sobre a prática do professor nesta nova escola e pensarmos sobre como isso vai ocorrer na Educação a Distância.

Como fica o papel do professor no contexto da EAD: ele muda, ou continua o mesmo? Como se dá esta relação entre professor e aluno em um contexto educacional mediado pela tecnologia? E quanto às novas funções e colocações profissionais do professor?

É muito importante refletirmos sobre isso, pois não basta simplesmente transpor uma prática, que pode já não ter dado certo, apenas levando-a para o meio

virtual. É necessária uma nova prática, uma nova linguagem para este professor, figura que continua indispensável, também no processo de educação a distância.

No caso da educação, é preciso sublinhar que os conteúdos armazenados na rede ou no computador jamais substituirão a orientação de um professor, ou melhor, a relação professor- aluno. A aprendizagem não é mera assimilação de informações. Para a educação a distância com base na Internet, a interatividade é fundamental, o que significa a presença virtual e real de um professor, de um orientador de estudos.(GADOTTI, 2000, p.255)

Embora a EAD traga novos desafios ao professor, ele continua tendo um importante papel na mediação e na troca interativa com os seus alunos, favorecendo as novas aprendizagens e a construção de saberes.

Entretanto, ele precisará se capacitar, buscar novos conhecimentos para aprender a lidar com as peculiaridades desta nova forma de ensinar e aprender.

Nesta modalidade de ensino, o professor pode ter várias funções ou funções específicas, de acordo com o projeto da instituição:

Professor Conteudista – Este professor cria o conteúdo que será utilizado em um determinado módulo ou disciplina.

Professor Temático – Ministra as aulas temáticas em estúdio, que são transmitidas via satélite para um grande número de alunos, distribuídos em várias regiões do estado ou do país.

Professor Tutor – Realiza a interação no ambiente virtual, avalia atividades, responde dúvidas e presta atendimento on-line aos alunos.

Professor Monitor – Atende aos alunos no pólo de apoio presencial, auxiliando no uso das ferramentas tecnológicas e, em alguns projetos, pode também esclarecer dúvidas sobre o conteúdo trabalhado. Em aulas transmitidas via satélite, esse profissional também irá enviar as dúvidas dos alunos para o estúdio, via internet, para que o professor temático possa respondê-las em tempo real.

Além destas funções o professor pode ainda, desde que esteja capacitado para isso, trabalhar no desenho instrucional do ambiente virtual de aprendizagem, para que as ferramentas utilizadas sejam pedagogicamente pensadas e os objetivos educacionais propostos sejam plenamente atingidos.

Podem existir outras nomenclaturas e outras funções, de acordo com a proposta de cada instituição. O professor poderá ter uma ou mais funções, podendo até mesmo acumular todas elas, tornando-se um “aututor”, como cita Mattar (2007): um professor que é ao mesmo tempo professor e autor dos seus próprios cursos ou disciplinas, acompanhando todo o projeto, do início ao fim.

Para isso, o professor deve apropriar-se de novos conhecimentos além da sua área de atuação e domínio de conteúdos. Ele deve conhecer e saber lidar com as novas tecnologias de informação e comunicação, que tem aplicação direta no processo educacional através da modalidade a distância.

Estas subdivisões têm gerado algumas tensões no meio acadêmico, já que muitas vezes não fica clara a divisão de tarefas entre os envolvidos, o que pode acarretar problemas de aproximação e interação entre os diferentes professores da equipe e o grupo de alunos.

Além disso, algumas modalidades de professor têm sido criadas na EAD para justificar questões financeiras e administrativas, ocasionando a desvalorização do trabalho docente e a sobrecarga de trabalho que muitos professores vêm enfrentando nesta modalidade de ensino.

Sabemos que para lidar com essa modalidade é importante que o professor tenha um número maior de habilidades e uma flexibilidade maior de tempo, entretanto, isso não significa trabalhar em três turnos ou atender a um número gigantesco de alunos ao mesmo tempo.

Portanto, é importante que se encontre o equilíbrio entre esta demanda de um profissional mais dinâmico e multitarefa e a valorização do professor independentemente da modalidade em que atue, para que estas tecnologias tão presentes em nossas vidas possam ser usadas a fim de potencializar aprendizagens, mantendo a essência da educação, sem desmerecer nenhum dos sujeitos envolvidos no processo educacional, sejam alunos ou professores.

As tecnologias são pontes que abrem a sala de aula para o mundo, que representam, medeiam o nosso conhecimento do mundo. São diferentes formas de representação da realidade, de forma mais abstrata ou concreta, mais estática ou dinâmica, mais linear ou paralela, mas todas elas, combinadas, integradas, possibilitam uma melhor apreensão da realidade e o desenvolvimento de todas as potencialidades do educando, dos diferentes tipos de inteligência, habilidades e atitudes” (MORAN, 2007, p.164)

Apropriando-se deste modelo tecnológico, o professor poderá desenvolver um trabalho educacional de boa qualidade, levando a sua sala de aula para o mundo, traçando caminhos ilimitados em direção à construção de novos conhecimentos e desenvolvendo plenamente as capacidades de seus educandos.

Sua atuação neste meio virtual também deverá ser diferenciada e atenta, com uma escuta sensível70, já que estará lidando com diversos alunos, geograficamente distantes, com saberes e culturas regionais também diferenciadas. Essa sensibilidade é fundamental para que o professor possa aperceber-se das situações que ocorrem no ambiente, procurando conhecer os seus alunos, percebendo-os apenas pela escrita, pela atuação e navegação que realizam no ambiente virtual de aprendizagem.

Portanto, quando falamos de uma prática de tutoria séria, não podemos deixar de citar que a distância pode ser somente geográfica, sendo perfeitamente possível a aproximação de alunos e professores em uma comunidade virtual de aprendizagem, na qual existirão laços e afinidades, que poderão contribuir muito para um aprendizado significativo e prazeroso.

Para isso, o professor deverá estar atento às características de cada aluno, ao relacionamento do grupo, interagindo sempre com um olhar atento, com o objetivo de perceber qualquer problema, dispersão, ou afastamento do aluno em relação à turma. Com a distância física, esta atenção deve ser redobrada, pois só com este foco, o professor poderá atender os alunos plenamente, percebendo os problemas, procurando soluções e “resgatando” aqueles que, porventura, venham a se “perder” no processo.

Entretanto, vale lembrar que estar atento não significa “sufocar” os alunos. O professor deve estar sempre muito presente para que o aluno não se sinta sozinho,

70

“Antes de situar uma pessoa em seu “lugar”, comecemos por reconhecê-la em seu ser, em sua qualidade de pessoa complexa, dotada de liberdade e de imaginação criadora.” (BARBIER, 1998, p.187)

mas isso não significa intervenções desnecessárias ou excesso de informações. É importante encontrar o equilíbrio na prática docente a distância, procurando atender a turma em suas reais necessidades. O aluno precisa saber que tem com quem contar, mas ao mesmo tempo, não pode se sentir cobrado o tempo todo, nem ter o processo facilitado, recebendo respostas prontas.

Assim, reafirmamos que o professor que trabalha com educação a distância deve ter, além das competências exigidas a qualquer docente, a facilidade de trabalhar com os meios tecnológicos escolhidos para o projeto; ser um bom comunicador, um bom mediador, que possa facilitar e orientar a aquisição de novas aprendizagens; além de promover a interação e a aproximação entre os participantes do seu curso.

O professor também precisa aprender a aprender, atualizar-se sempre, para que possa ensinar melhor neste novo contexto. Nos dizeres de Moran (2007), quando nos colocamos como aprendizes, podemos ver mais claramente o que o nosso aluno vê e com isso, adequarmos a nossa prática à sua realidade, visando atendê-lo melhor.

Se nos vemos como aprendizes, antes de professores, adotamos uma atitude mais atenta, receptiva e temos mais facilidade de nos colocar no lugar do aluno, de nos aproximar da maneira como ele vê, de modificar nossos pontos de vista. (MORAN, 2007, p.81)

Nos ambientes virtuais de aprendizagem, o professor irá propor diversas leituras, atividades colaborativas e interações por fóruns de discussão ou por chat. Se estas ferramentas forem bem utilizadas pelo professor, poderão promover a criação de verdadeiras comunidades virtuais de aprendizagem, que podem continuar ativas mesmo depois do encerramento do curso ou disciplina, permitindo trocas reais e uma aprendizagem contínua e permanente.

Em relação de igualdade, professores e alunos aprendem juntos, trocando e construindo conhecimentos, na interação entre todos os membros do grupo e deste grupo com o mundo, através da internet, num processo constante de comunicação ativa. Como citava Freire (1996), não há docência sem discência e em EAD,

professores e alunos ensinam e aprendem a todo tempo, num processo constante, dialógico e comunicacional.

A comunicação é o eixo da relação social igualitária e dialogal entre educador e educando. Ocorrendo esta relação, está dada uma condição importante para que a rede, como dispositivo social de comunicação, opere o desenvolvimento de cursos via web e a educação emancipadora em nível planetário. (GOMEZ, 2004, P.55)

Portanto, ensinar hoje significa muito mais do que simplesmente transmitir informações e cobrar resultados. Significa principalmente, levar a escola ao contexto do aluno, aproximando a realidade deste sujeito à realidade da escola, valorizando os saberes pré-existentes e contextualizando as inúmeras informações que o aluno recebe todos os dias, no seu cotidiano. Vale lembrar que, em EAD quando dizemos escola, nos referimos à instituição, ao grupo, e não necessariamente, ao espaço físico.

A atuação do professor deve ser a de um mediador, que contribui com o seu conhecimento e a sua experiência, mas que estimula o aluno a buscar de maneira autônoma a pesquisa e a consolidação de seus próprios conhecimentos.

Essa interação virtual eficaz e de boa qualidade é fundamental para o processo educacional na modalidade a distância.

Filatro (2008), denomina esta interação entre professor e aluno no ambiente virtual de aprendizagem, de diálogo didático e propõe algumas ações para o professor neste espaço de atuação:

- Ativar e focar a atenção do aluno;

- Informar e reforçar os objetivos de aprendizagem; - Manter e aumentar o interesse e a motivação do aluno;

- Apresentar a visão geral das unidades de aprendizagem e recuperar conhecimentos prévios;

- Apresentar informações, exemplos e analogias;

- Usar estratégias de aprendizagem e adequá-las ao perfil e ao desempenho do aluno;

- Monitorar o progresso do aluno e esclarecer dúvidas;

- Oferecer feedback, sugerindo leituras e atividades complementares; - Orientar a prática, enfatizando a aplicação dos conteúdos a novas situações;

O professor tem ainda o papel de questionar, criticar, argumentar, expor conhecimentos e experiências, estando sempre aberto para “ouvir” os seus alunos, levando-os a refletir juntos e participando ativamente do processo educacional.

Não podemos dizer que existe uma receita pronta para a prática docente em Educação a Distância. Existem sim, alguns pressupostos que devem ser adequados a cada público, à cada projeto e que poderão orientar essa prática.

Nos dizeres de Carvalho e Ivanoff (2010):

Ensinar e aprender com tecnologias de informação e comunicação - a rota percorremos com o nosso navegador – não é um percurso fechado. São múltiplos os caminhos que se desvendam, conforme ampliamos e movimentamos os nossos horizontes. (CARVALHO & IVANOFF, 2010, p.148)

Nesse sentido, nós educadores, devemos sempre buscar conhecer novas rotas, novos caminhos, ampliando constantemente nossa forma de ver o mundo e a educação. Somente navegando por mares nunca antes navegados e traçando diferentes rotas, poderemos fazer a diferença em nossa prática e promover uma educação de boa qualidade, seja ela presencial ou a distância.

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