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O cenário atual da Educação a Distância no ensino superior

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1 A Educação a Distância no Brasil

1.4 O cenário atual da Educação a Distância no ensino superior

A necessidade de atualização constante, promovida pelo ritmo acelerado com que têm ocorrido as transformações sociais, favoreceu o crescimento da Educação a Distância em nosso país. Apesar das resistências ao novo e do conservadorismo, muito presentes em nossa sociedade, este crescimento foi exponencial nos últimos anos, tanto na oferta de cursos, quanto na produção científica e de recursos para esta modalidade de ensino.

No cenário em que se vive, nestes últimos anos, acentuou-se a marca de uma educação permanente, da participação, do papel da tecnologia, da importância da formação para a cidadania. Diante da informatização da sociedade e da obsolescência do conhecimento, foram evidenciadas as novas exigências para a escola e para o professor: o papel da inovação educacional. Procurou-se demonstrar ainda, o esgotamento dos paradigmas clássicos, tanto para explicar o cenário em que se vive, quanto para a invenção do futuro. Paulo Freire nos ensinou que “mudar é difícil, mas é possível e urgente”. A escola pode fazer algo, principalmente, resgatando a solidariedade e conquistando a sua autonomia. (GADOTTIi, 2000, p.10)

Como afirma Gadotti, a obsolescência do conhecimento, decorrente do ritmo acelerado da troca de informações, dos inúmeros avanços tecnológicos e a consequente necessidade de adequação às estas novas exigênciais sociais levam, indubitavelmente, a um novo tipo de escola. Esta escola deverá buscar a autonomia dos seus discentes e a construção de saberes de forma contínua e permanente.

Diante deste cenário, o ensino superior não poderia ficar à margem das mudanças, fazendo-se necessária uma reestruturação também neste nível de ensino, e observamos que isso já vem ocorrendo.

Com a portaria do MEC nº. 4059 de 2004, que regulamentou a oferta de 20% da carga horária de cursos de graduação presenciais, através da educação a distância, houve o início das mudanças no formato dos cursos superiores em nosso país. Essa portaria foi o primeiro passo para que a Educação a Distância passasse a fazer parte do ensino superior, com a ampliação do uso das tecnologias e da internet na oferta das aulas, promovendo maior flexibilidade e mais autonomia para professores e alunos e modificando, consideravelmente, o processo de ensinar e aprender.

Depois desta experiência com as disciplinas a distância em cursos presenciais, muitas instituições passaram a ser credenciadas para a oferta de cursos de graduação a distância. Vale lembrar que em nosso país não existem cursos totalmente a distância neste nível de ensino, sendo obrigatórios os encontros presenciais e as avaliações oficiais escritas, que também são realizadas presencialmente.

Temos observado um crescimento significativo na oferta de cursos de graduação e pós-graduação lato-sensu a distância, lembrando que ainda há uma certa resistência do poder público para o credenciamento de cursos stricto-sensu nesta modalidade.

De acordo com o CensoEAD.br (2009), o crescimento do número de cursos de graduação a distância em nosso país é expressivo: passou de 10 em 2000, para para 408 em 2007. A procura de alunos por cursos de graduação a distância também cresceu, registrando um aumento substancial no número de matrículas: em 2000, havia 1682 alunos matriculados nestes cursos, e em 2007 foram registradas 369.766 matrículas.

Sabemos que quantidade nem sempre significa qualidade, e que muito ainda precisa ser feito nesta área, para que possamos atingir os níveis de atendimento e qualidade desejados, entretanto, acreditamos que a Educação a Distância no Brasil está sendo implantada com seriedade e que vem sendo traçado um caminho em direção a um modelo de atendimento amplo, que mostre esta qualidade, tão necessária aos processos educacionais eficazes.

Apesar de ainda enfrentarmos muitos entraves, preconceitos e resistências, os resultados positivos já começam a aparecer: se antes o uso da modalidade era limitado a projetos experimentais e laboratórios de pesquisa nas universidades, hoje é uma modalidade de ensino reconhecida e amplamente utilizada em todo o país.

Em uma reportagem do jornal A Folha de São Paulo48, do dia 10/9/2007, foi apresentado o comparativo feito pelo prof. Dilvo Ristoff, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP - órgão de avaliação e pesquisa do MEC), mostrando que os alunos vindos de cursos a distância se

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Reportagem na íntegra , disponível em

saíram melhor no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2006 do que os alunos de cursos presenciais, em sete das treze áreas pesquisadas.

A educação a distância, no Brasil, ainda é vista com desconfiança por boa parte da sociedade. Os primeiros resultados no Enade (exame do MEC que avalia o ensino superior) dos alunos que ingressaram em cursos superiores com essa modalidade de ensino, no entanto, mostram que, na maioria das áreas, eles estão se saindo melhor do que os estudantes que fazem o mesmo curso, mas da maneira tradicional.

Pela primeira vez desde a criação do Enade (2004), o Inep (órgão de avaliação e pesquisa do MEC) comparou o desempenho dos alunos dos mesmos cursos nas modalidades a distância e presencial. Em sete das 13 áreas onde essa comparação é possível, alunos da modalidade a distância se saíram melhores do que os demais. Quando a análise é feita apenas levando em conta os alunos que ainda estão na fase inicial do curso - o Enade permite separar o desempenho de ingressantes e concluintes-, o quadro é ainda mais favorável ao ensino a distância: em nove das 13 áreas o resultado foi melhor. (Jornal A Folha de São Paulo, 10/09/2007)

O quadro abaixo apresenta o resultado deste estudo, realizado pelo prof. Dilvo Ristoff (2007), que comprova a qualidade do aprendizado dos alunos que realizam cursos em EAD.

Quadro 3 – Comparação entre o desempenho de alunos presenciais e de EAD no ENADE.

Área Presencial EAD

Administração 37,71 37,99 Biologia 32,67 32,79 Ciências Contábeis 34,97 32,59 Ciências Sociais 41,16 52,87 Filosofia 32,50 30,36 Física 32,50 39,62

Formação de Professores (Normal Superior) 42,82 41,52

Geografia 39,04 32,58 História 38,47 31,60 Letras 35,71 33,05 Matemática 31,68 34,16 Pedagogia 43,35 46,09 Turismo 46,34 52,26 Fonte: AbraEAD 2008, p.17.

Este estudo confirma aquilo em que os estudiosos e entusiastas da EAD já acreditavam: a modalidade pode ter qualidade igual ou superior aos cursos presenciais, se trabalhada com boa qualidade e seriedade.

Muitos podem ser os fatores que levam a este resultado, mas acreditamos que haja uma relação com o perfil dos alunos que procuram cursos a distância, divulgado pelo Censo EAD.BR, de 2009: os alunos geralmente são mais maduros (30 a 34 anos), casados e trabalhadores, o que pode conferir maior seriedade e dedicação aos estudos.

Geralmente, pessoas mais maduras e trabalhadoras procuram por maior autonomia de aprendizado e necessitam de formação com uma metodologia diferente da tradicional, para que possam estudar no seu ritmo e dentro do tempo que dispõem.

Outro ponto importante que deve ser observado é que, geralmente, o número de leituras e exigências para os alunos que fazem uma graduação ou pós- graduação a distância em uma instituição séria e de boa qualidade são maiores, o que leva à necessidade de uma maior dedicação aos estudos e também pode trazer melhores resultados.

Não há como estudar menos se o curso é bem planejado, rico em material básico e complementar, e se professores, tutores e estudantes participam de várias atividades para construir o conhecimento coletivamente. Numa

pesquisa feita no ano passado com três universidades privadas de Santa Catarina, Santos49 constatou que os alunos a distância liam, em média, 3 mil páginas por ano só de conteúdo básico estruturado (sem contar o material complementar). O estudo feito por Dilvo Ristoff em 2006 também incluía um item sobre o tempo de estudo diário necessário para dar conta dos conteúdos propostos. A média ficou em mais de três horas por semana. Sem um professor ao lado diariamente para dar resposta a suas dúvidas na hora, como ocorre normalmente em uma aula presencial, os alunos precisam se dedicar à pesquisa. Consultar várias fontes é essencial para que eles possam seguir adiante em suas atividades até que o tutor retome com ele o conteúdo. (Revista Nova Escola/Novembro-2009)50

O aluno de EAD não pode deixar acumular leituras, nem passar dúvidas, do contrário, não conseguirá acompanhar a turma, nem realizar as atividades propostas pelo curso. Mesmo que o acompanhamento do professor seja freqüente, a autonomia e a dedicação do aluno são fundamentais para o sucesso do aprendizado a distância.

Embora saibamos que o número atual de instituições credenciadas para a oferta de cursos em Educação a distância ainda é pequeno para um país imenso e repleto de demandas educacionais como o nosso, podemos afirmar que o desenvolvimento da modalidade foi bastante grande nos últimos anos. Segundo o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (AbraEAD 2008), 972.826 brasileiros estavam matriculados em cursos de graduação a distância, em

49 João Vianney Valle dos Santos – autor de diversos livros sobre o tema e atual diretor da Unisul Virtual. 50http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/vale-pena-entrar-nessa-educacao-distancia- diploma-prova-emprego-rotina-aluno-teleconferencia-chat-510862.shtml?page=3 – Acesso em Nov/09

2007 e cerca de 2,5 milhões estudaram a distância, considerando todos os níveis educacionais.

Entre 2004 e 2007, houve um crescimento de 54,8% no número de instituições credenciadas para a oferta de EAD em graduação e pós graduação, e de 213,8% no número de alunos matriculados nestes cursos, como mostra o quadro abaixo:

Quadro 4 - Crescimento do número de instituições autorizadas a praticar EAD e do número de alunos entre 2004 e 2007.

2004 2005 2006 2007 Crescimento 2004-2007 Número de instituições autorizadas ou com cursos credenciados 166 217 225 257 54,8% Número de alunos nas instituições 309.957 504.204 778.458 972.826 213,8%

Fonte: Abraead/2008 e CensoEAD.BR/2009

Ainda de acordo com o CensoEAD.BR de 2009, o estado de São Paulo registra 30% do número de matrículas do país, superando as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que juntas, educam 22% dos brasileiros em EAD.

O nosso país conta com 2531 IES e destas, apenas 8,2% estão credenciadas para a oferta de cursos a distância, o que representa um número muito pequeno diante da necessidade educacional do nosso país e da potencialidade que esta modalidade pode oferecer no sentido de atender a esta demanda.

Hoje51 temos 208 instituições credenciadas para a oferta de cursos a distância e 5.632 pólos de apoio presencial, em todo o território nacional, com a seguinte distribuição nas diferentes regiões do país:

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Tabela 3 – IES e Pólos credenciados para EAD por região. Região Número de Instituições Número de pólos de apoio presencial Total Região Norte 16 391 407 Região Nordeste 42 1.293 1.335 Região Centro-Oeste 19 580 599 Região Sudeste 88 2.133 2.221 Região Sul 43 1.235 1.278 Total 208 5.632 5.840

Fonte: < http://siead.mec.gov.br/novosiead/web/site/# > Acesso em nov.2009.

Comparando os dados desta pesquisa, com os números do AbraEAD 2008, podemos afirmar que o número de IES credenciadas hoje para a oferta de EAD no país está menor: eram 257 em 2007, contra 208, em 2009.

Essa redução pode ter ocorrido por diversos fatores, mas podemos considerar que algumas instituições não tenham solicitado a renovação do credenciamento, ou o tenham perdido por não atender os requisitos mínimos de atendimento, infra- estrutura e qualidade, exigidos pelo Ministério da Educação.

No 15º CIAED52, o secretário de Educação a Distância do MEC, prof. Carlos Bielchowsky, afirmou que as IES que não atenderem às exigências do MEC serão chamadas para discutirem os pontos a serem acertados. Após esta discussão, deverão concordar com um termo de saneamento e caso continuem a descumprir as exigências, após o prazo determinado no termo, serão descredenciadas e não poderão mais ofertar cursos a distância.

Esta redução do número de IES credenciada pode, portanto, demonstrar a eficácia e a seriedade nos processos de fiscalização, que buscam a melhoria ou a manutenção da boa qualidade na Educação a Distância ofertada do Brasil.

De acordo com dados do INEP, o país conta hoje com 2.533 Instituições de Ensino Superior (IES), distribuídas nas regiões brasileiras, conforme tabela abaixo, elaborada a partir dos dados disponíveis no site do E-mec.

Tabela 4 – Distribuição das IES nos estados brasileiros.

Região Estado IES

Alagoas 28 Bahia 137 Ceará 57 Maranhão 34 Paraíba 39 Pernambuco 101 Piauí 41

Rio Grande do Norte 27

Nordeste Sergipe 15 479 Acre Amapá 11 14 Amazonas 20 Pará 34 Rondônia Roraima 32 8 Norte Tocantins 35 154 Distrito Federal 78 Goiás 84 Mato Grosso 64 Centro-Oeste

Mato Grosso do Sul 47

273 Espírito Santo 104 Minas Gerais 345 Rio de Janeiro 148 Sudeste São Paulo 618 1215 Paraná 197

Rio Grande do Sul 111

Sul Santa Catarina 104 412 Total no país 2533 Fonte: E-MEC, 200953 53

Com estes dados, verificamos que apenas 8,2% destas instituições têm credenciamento para ministrar cursos a distância, o que representa um número muito pequeno para o nosso país e para as necessidades educacionais que ele apresenta.

Abaixo, fazemos um comparativo com a distribuição das IES credenciadas para EAD nas regiões brasileiras e o percentual que elas representam em relação ao número total de IES em cada região.

Tabela 5 – Percentual de IES credenciadas para a oferta de cursos em EAD por região.

Norte Nordeste Centro-

Oeste Sudeste Sul IES 154 479 273 1215 412 Credenciadas para EAD 16 42 19 88 43 % 10,4% 8,8% 7,0% 7,2% 10,4%

Fonte: E-MEC e SIEAD, 200954.

Podemos observar que o maior número de instituições credenciadas para EAD ocorre na região Sudeste (88), entretanto, pela proporção do número de IES em cada região, verificamos que a maior percentual de credenciamento se dá nas regiões Norte e Sul, que apesar do número menor (16 e 43, respectivamente), tem 10,4% de suas IES credenciadas para a oferta de cursos em EAD, contra 7,2% do total na região sudeste.

De acordo com o E-Mec55, das 208 IES credenciadas para a oferta de cursos a distância no país, 109 são Instituições Privadas e 99 são Instituições Públicas.

54http://emec.mec.gov.br e http://siead.mec.gov.br/novosiead/web/site/#tab=0 – Acesso em nov/09 55

O gráfico abaixo mostra a distribuição das IES credenciadas para EAD nas regiões brasileiras, de acordo com a categoria administrativa.

Gráfico 2 – IES Privadas e Públicas por região.

0 10 20 30 40 50 60 70

Norte Nordeste Centro Oeste Sudeste Sul

IES Públicas IES Privadas

Fonte: E-MEC, 2009

Fica claro que em todas as regiões, com exceção das regiões Sudeste e Sul, o número de IES públicas credenciadas para a oferta de cursos em EAD supera o número de IES Privadas.

Acreditamos que esta superação ocorra, principalmente, pelo envolvimento das instituições públicas no consórcio Universidade Aberta do Brasil e pelo crescimento exponencial deste projeto em nível nacional.

“As tecnologias são pontes que abrem a sala de aula para o mundo, que representam, medeiam o nosso conhecimento do mundo. São diferentes formas de representação da realidade, de forma mais abstrata ou concreta, mais estática ou dinâmica, mais linear ou paralela, mas todas elas, combinadas, integradas, possibilitam uma melhor apreensão da realidade e o desenvolvimento de todas as potencialidades do educando, dos diferentes tipos de inteligência, habilidades e atitudes”

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