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Da análise evolutiva do direito internacional e dos fenômenos que geraram a sua fragmentação, percebe-se o aparecimento de normas e instituições jurídicas especializadas e relativamente autônomas que se dedicam a regular certos ambientes da seara global nunca antes regulados, dentre eles o comércio internacional e o meio ambiente

Como reflexo dessa fragmentação, os novos acordos e subsistemas internacionais, por terem uma sistemática normativa e principiológica heterogênea e conflitante, acabam não sendo respeitadas por alguns Estados, dando início à conflitos e resultando, indubitavelmente, em uma diminuição da almejada segurança jurídica, que deveriam ser solucionadas por meios pacíficos e multilaterais.

Dessa necessidade de solução pacífica das divergências e da tentativa de unificar esses subsistemas na seara comercial, criou-se, no âmbito da OMC, um sistema de solução de controvérsias, espinha dorsal do seu ato constitutivo e principal responsável pela coordenação das políticas econômicas multilaterais.

Juntamente com o Direito Internacional, o Órgão de Solução de Controvérsias da OMC teve que passar por uma série de construções/desconstruções normativas a fim de se adaptar e coordenar os diferentes conflitos internacionais que foram surgindo e/ou tomando diferentes proporções ao longo dos anos, dentre eles o aumento do interesse global pelas temáticas ambientais.

O tratamento do meio ambiente e a sua proteção inserem-se assim como uma exceção à livre circulação de mercadorias e serviços, adquirindo previsão expressa no ordenamento interno da OMC no artigo XX, alíneas b) e g). A Jurisprudência do OSC, portanto, com o passar dos anos, desde a sua criação, tem atentado para essas exceções e conseguiu desenvolver, após decisões muitas vezes contraditórias, uma jurisprudência considerada satisfatória pela comunidade internacional.

Logo, a relação entre comércio e meio ambiente aos poucos vai se consolidando, adquirindo um entendimento comum e garantindo a possibilidade de proteção ambiental em alguns contenciosos, a exemplo do caso Estados Unidos – Camarões.

Na fase de implementação das decisões, a velocidade dos julgamentos e seu alto grau de efetivação das medidas também demonstram a efetividade desse Órgão de Solução de Controvérsias, mesmo que algumas questões ainda mereçam uma atenção especial, a exemplo do “período razoável de tempo” para implementar a decisão do OSC, que muitas vezes esbarra com impeditivos constitucionais e legislativos dos Membros, além do financeiro, principalmente em se tratando de países em desenvolvimento.

Outras problemáticas ainda se encontram carentes de resolução, a exemplo da ambiguidade e inexatidão de alguns artigos do GATT que abordam a problemática ambiental, dentre eles o artigo XX e suas alíneas, assim como a própria inconsistência em algumas decisões do OSC, que muitas vezes insistem realizar uma análise interpretativa limitada dos contenciosos que a ele são direcionados.

Das soluções apresentadas para a resolução desses quesitos, identificamos, dentre outras, a valorização do caráter ambíguo e flexível das exceções gerais do artigo XX, deixando que o sistema de solução de controvérsias resolva os litígios caso a caso; a realização de uma emenda ao artigo XX do GATT que garanta uma análise sistemática das normas e princípios normativos dos acordos ambientais; a criação, no âmbito da OMC, de um acordo específico para as questões ambientais e por último, não tão interessante, a criação de uma organização internacional do meio ambiente.

Por fim, conclui-se que, apesar de apresentar falhas e necessitar de modificações tanto na sua estrutura normativa e operacional, quanto na sua parte prática de implementação de suas decisões, o sistema de solução de controvérsias da OMC trouxe maior grau de previsibilidade e estabilidade das relações econômicas internacionais e conseguiu coordenar, de forma satisfatória, as relações entre comércio e meio ambiente.

Dessa forma, a solução principal para a resolução dos conflitos ambientais consiste em encontrar um meio de integração dos acordos e princípios do direito internacional ambiental com as normas e princípios do direito internacional econômico, mais especificamente aquelas que regem as relações comerciais.

O Direito Internacional constitui um sistema legal que se pressupõe sempre como uma interdependência complexa, com regras e princípios em

constante relação, logo, não pode ser tratado como se fosse um conjunto aleatório de normas. Deve prevalecer, portanto, uma harmonização e colaboração jurídica em um cenário internacional mais amplo, qual seja, o de negociações multilaterais.

Assim, diante de um conflito normativo entre duas sistemáticas diferentes, deve-se partir do pressuposto de que não há, no direito internacional, apenas uma impossibilidade de conciliação dos diversos subsistemas existentes, mas sim a necessidade de se encontrar a melhor interpretação hermenêutica com base no ordenamento como um todo, dessa forma, torna-se possível resolver quaisquer litígios e pôr fim às controvérsias que confrontem proteção do meio ambiente e liberalismo comercial.

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