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4 O ÓRGÃO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS EM QUESTÕES AMBIENTAIS

4.3 Implementação das decisões em matéria ambiental

O Órgão de Solução de Controvérsias da OMC possui um eficiente mecanismo para a implementação das decisões, tendo em vista que a maior parte dos sistemas existentes não dispõem de instrumentos para a implementação de suas resoluções, fato esse que possibilita ao OSC atrair diversas controvérsias, inclusive de contenciosos ambientais, tais como os apresentados anteriormente.

A fase de implementação é pós-jurisdicional e objetiva o cumprimento das decisões proferidas pelo OSC, não possuindo então caráter reparatório ou de penalização, mas tão somente para que o membro vencido revogue a medida objeto da controvérsia ou altere sua legislação interna para que se torne compatível com o direito da OMC92.

A internalização das decisões pelo Estado ocorre por meio de soluções alternativas. Após o proferimento da decisão e sua aprovação pelo Conselho Geral do OSC, mediante a confirmação da violação pelo Estado demandado, este terá até 30 dias para relatar se adotará as prescrições determinadas, bem como o modo e em que prazo irá cumpri-las, o que tem de ser aprovado e executado no prazo máximo de 18 meses.93

A fase de implementação das decisões é extremamente crítica, pois as medidas compensatórias devem obedecer proporcionalidade ao agravo sofrido. Caso não haja implementação da decisão e se a medida não for alterada, devem ser iniciadas consultas entre os Membros reclamante e reclamado, buscando estabelecer uma compensação aceitável. Se não houver acordo quanto a essa compensação, o reclamante pode buscar a autorização do OSC para realizar retaliações (suspender concessões), ou seja, retirar vantagens negociadas no âmbito da OMC, sobretudo vantagens tarifárias, aplicáveis aos produtos oriundos do

92 ESC, Art. 22:1 93 ESC, Art. 22:2

território do Membro reclamado.94

Se o reclamado objetar ao montante das suspensões propostas pelo reclamante, a questão deverá ser submetida à arbitragem para avaliar o valor devido da suspensão. O árbitro deve decidir se o grau da suspensão de concessões proposto é equivalente ao grau de anulação ou prejuízo causado ao Membro reclamante pela medida considerada ilegal. Caso não se chegue a uma conclusão acerca do nível da suspensão de concessões ou outras obrigações, os árbitros definirão a equalização entre prejuízo do demandante e a aplicação da retaliação.95

Pode-se afirmar que a fase de implementação é o momento mais crítico na OMC para o legalismo nas relações internacionais. Se o ESC foi um avanço fundamental em direção a um sistema mais regidos por normas, este avanço é mais perceptível na fase jurisdicional, perante os painéis e órgão de apelação, do que na fase de execução, em que ainda falta maior grau de legalismo.96

No entanto, na prática, observa-se que algumas questões merecem uma atenção especial quando se almeja um melhor funcionamento dessa fase, a exemplo do “período razoável de tempo” para implementar a decisão do OSC, que muitas vezes esbarra com impeditivos constitucionais e legislativos dos Membros, além do financeiro, principalmente em se tratando de países em desenvolvimento.

[...] em alguns casos, a autorização para suspender concessões não tem qualquer efeito sobre o Membro reclamado se o Membro reclamante não tiver poder de mercado suficiente para afetar as exportações oriundas do território do Membro reclamado. Isto evidentemente ocorre, sobretudo, com países em desenvolvimento, cuja participação no comércio internacional é por vezes ínfima, e cujo poder econômico para forçar uma potência a cumprir uma decisão do OSC pode ser absolutamente negligenciado.97

No que diz respeito ao acesso e à atuação desses países no sistema, vez que limitados pela escassez de recursos financeiros e pela falta de material humano qualificado, que muitas vezes esbarra no custo político, a decisão de

94 ESC, Art. 22:6

95 ESC, Art. 22:7

96 KLOR Adriana Dreyzin de. et al. Solução de controvérsias: OMC, União Européia e

Mercosul. Rio de Janeiro: Konrad-Adenauer-Stiftung, 2004, p. 44.

submeter um caso ao OSC contra uma grande potência, ou mesmo de implementar uma decisão, envolve uma decisão também política, de estratégia governamental.98

Logo, tendo em vista que algumas medidas reparatórias chegam a ser negativas para o crescimento econômico do país vencido, principalmente no âmbito dos contenciosos ambientais, a exemplo das retaliações econômicas em razão de um não cumprimento de padrões ambientais, deve-se existir uma previsão de tratamento diferenciado para essas implementações. 99

O Princípio do Tratamento Especial e Diferenciado, previsto no próprio Ato Constitutivo da OMC, trata de evitar que se exijam contrapartidas muito gravosas a determinados países, de modo que possam vir, em última instância, a distorcer do cenário internacional e ir de encontro à proposição da organização de promover o progresso mundial e o desenvolvimento de seus países-membros. Para tanto, o TED visa a prover uma maior flexibilidade aos países em desenvolvimento, tanto no que se refere aos acordos firmados quanto ao processo de solução de controvérsias, estabelecendo medidas especiais, previsão de prazos mais flexíveis para adaptação dos acordos ratificados, extensão de prazos para implementação das decisões, além de medidas de assistência técnica e educativa.100

Não é fácil conciliar interesses diversos, principalmente no sistema de solução de controvérsias da OMC. Todo contencioso vem com novas prerrogativas e novos problemas, de forma que as decisões e suas implementações serão inevitavelmente mais benéficos para um grupo específico de países do que para outros, sejam eles desenvolvidos, seja ou não. Nos contenciosos envolvendo as temáticas ambientais, a busca por uma decisão mais justa e equânime se torna ainda mais dificultosa, vez que carece o sistema, para esses casos, de adequações materiais, no seu corpo normativo, e formais, em seus aspectos principiológicos e interpretativos.